Changeling os Perdidos - Interpretação parte 1  

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Changeling: Os Perdidos


Parte 1 - Natureza Feérica



Todos nós crescemos com contos de fadas. Nossa primeira exposição a eles nos dias de hoje são de certa forma leve, para as crianças. As fadas boas abençoam os heróis para que eles possam sobrepujar seus desafios e para que as maldições das fadas más no final das contas não deem em nada. Todos vivem felizes para sempre.

Mas quando começamos a descobrir os contos de fada na sua forma original, as coisas ficam diferentes. Sangue e sexo se esgueiram nos contos. As pessoas não terminam felizes. Essas histórias foram contadas para crianças não para confortá-las no sono, mas como contos de aviso. Avisos para não irem muito longe de casa. Para não irem às florestas escuras. Para não ficarem nas estradas à noite. Fiquem em casa, sejam bonzinhos e bem educados... ou algo de ruim vai acontecer com você. O Povo Belo pode vir e pegar você.

Changeling: Os Perdidos é um jogo sobre o que acontece quando essas histórias se mostram verdadeiras. Faerie vem para pegar as pessoas, levando-as a terra de fadas que é tão pesadelo quanto sonho. Arrancados do mundo mortal, esses humanos abduzidos gradualmente se tornam mais e mais como seus captores, se perdendo na suas novas vidas. Mas alguns desses eventualmente escapam de volta para o local que nasceram. Mudados em forma e traços, com cicatrizes feitas em suas prisões, alguns até mesmo conseguem voltar.



Um jogo de Bela Insanidade



Os protagonistas desse conto de fadas moderno são os changelings, ou como eles costumam se chamar, os Perdidos. Roubados de suas vidas humanas quando crianças ou adultos, eles passaram o que pareciam ser anos ou até mesmo séculos em Faerie, bens móveis para belos lordes e damas, porém, inumanos. Alimentados com comida e bebida de fada, eles gradualmente se tornaram mais fadas eles mesmos, os seus corpos mudando um pouco para refletir seus papéis. Alguns, no entanto,conseguiram escapar. Se prendendo às suas memórias de casa, eles encontraram seu caminho através dos tortuosos espinhos da Vizinhança, a barreira entre o mundo mortal e a Faerie atemporal.

O retorno deles, no entanto, foi muito agridoce. Alguns voltaram 20 anos depois de terem desaparecido, mesmo não parecendo tanto tempo assim em Faerie. Outros que ficaram adultos em Arcádia se encontraram de volta apenas algumas horas depois de sua abdução. E quase todos descobriram, como se não fosse horrível o suficiente, que ninguém sentiu a falta deles. As Fadas pensaram em tudo. Deixados no lugar dos changelings abduzidos havia uma réplica , um simulacro, uma coisa que parecia com eles – mas não era. Agora, com estranhos inumanos vivendo suas vidas, e sem lugar para ir, os Perdidos devem encontrar seu próprio caminho em um mundo que os fora roubado.

Changeling lida com as lutas e sonhos de pessoas que não são mais o que eram, a sua carne mortal entrelaçada com mágica de fadas. Uma ilusão chamada a Máscara obscurece seu novo corpo físico, permitindo com que eles se passem por humanos – uma palavra que não se aplica mais para eles. O contraste entre a realidade do mundo mortal e a não-realidade de Faerie colore suas histórias, de maneiras que geralmente se expressam como beleza, loucura ou ambos.

A beleza referida se faz praticamente óbvia. Faerie é bela. Não é boazinha, ou cuidadosa ou benevolente, mas é maravilhosamente bela. O mesmo é verdade para suas crianças, tanto aquelas que nasceram de sua matéria irreal e para aqueles mortais que foram abduzidos e educados na sua magia. Até mesmo um Ogro horrendo tem uma certa arte estranhamente trinchada em seus traços assimétricos, e até mesmo um Obscuro de aspecto perturbador pode ter uma graça elegantemente hipnótica, ou uma sexualidade fria e franca. Mas conforme os Perdidos se movem entre o mundo mortal, tentando recuperar suas vidas ou retirando Glamour o suficiente para se sustentar, eles tomam conhecimento das coisas belas que os mortais geralmente têm como certo. Para o changeling, existe beleza nopesar que paira num funeral de um homem bondoso, ou na maneira desajeitada que uma jovem mexe suas mãos em uma dança na escola. Eles vêem coisas que ninguém mais vê – não simples mente porque eles podem, mas porque eles tentam.

A loucura inerente na existência de um changeling
também tem dois lados. Parte é externa. Changelings cruzam com muita frequência o caminho de coisas de Faerie ou da Vizinhança – coisas estranhas e pavorosas que não deveriam existir, que desafiam a racionalidade humana. Os Outros mesmos só podem ser descritos como "loucos", pois claramente eles não pertencem a nenhuma definição mortal de sanidade. Mas uma igualmente grande ameaça vem de dentro. O limiar entre o sonho e a realidade, entre Faerie e a mortalidade, é facilmente rompido... e um changeling nem sempre sabe de que lado do limiar ele está.


Tema

O tema prevalecente de Changeling é a busca do caminho de casa. Para alguns, isso pode significar clamar da melhor forma possível por suas vidas mortais que lhes foram. Para outros, isso significa encontrar um novo lar entre as propriedades livres e Cortes dos Perdidos. Alguns esperam ter s orte e determinação suficiente para ter os dois, mantendo um pé no mundo mortal e outro entre os seus familiares fadas. Até mesmo os novelos emaranhados da intriga e da ambição que sustentam muitas propriedades livres têm suas raízes traçadas por changelings que estão determinados a encontrar o caminho deles para um lugar que estejam dispostos a chamar de "lar". Não é uma jornada simples, e as histórias de cada crônica se desdobram em volta de desafios nessa estrada. Em quem você pode confiar? Qual é o desejo de seu coração, seu lar ideal? Qual é o preço que você terá que pagar para alcançá-lo?

O tema secundário do jogo reflete a natureza das fadas. Uma marca comum para lendas que retratam coisas que nós pensamos como "fadas", de fato a característica que pode definir uma entidade sobrenatural como "fada" ou não, é um certo tema de farsa e desonestidade. Em algumas histórias, as fadas são aquelas que enganam os mortais, aparentando serem coisas que não são, substituindo seus próprios jovens por crianças humanas ou guiando os errantes para longe. Em outras, os humanos são aqueles que quebram uma espécie de contrato social com as fadas, mesmo na maioria das vezes não sabendo que tal contrato está em vigor, e são punidos severamente pelas fadas pela sua "deslealdade". Os temas de farsa e desconfiança estão em muitas histórias de Changeling, pois os Perdidos devem se esconder de amigos e família para manter distantes os olhos dos inimigos. Promessas e juras são o morteiro que mantêm os changelings juntos, a única maneira que os Perdidos têm como saber em quem confiar e a quem evitar. Changelings estão mais poderosos quando eles podem refinar seus caminhos para uma posição vantajosa sobre seus inimigos, e são mais restritos quando eles precisam dar suas palavras. Nisso, eles são muito como as fadas das lendas, e os "contos de fada" de suas vidas tem um refrão assustadoramente familiar.


Clima

O clima de uma crônica de Changeling pode mudar várias vezes, refletindo a natureza caprichosa das fadas. O clima que prevalece, no entanto, é agridoce. Os perdidos andam através de um mundo invisível de maravilhas, tingido com perigo e mentiras. A beleza das fadas é muitas vezes sinistra. A Vizinhança é sedutora, e oferece tanto auxílio quanto perigo. A mágica que changelings fazem é maravilhosa, mas tem custos e pegadinhas estranhas. E mesmo assim, com todo o medo dos Outros, a suspeita de traição e a dor de mentiras necessárias, os Perdidos ainda sentem a glória da emoção intensa e vêem as vívidas cores da mágica das fadas. Tanto o amargor quanto a doçura são essenciais para esse mundo. Sem o amargor, as fadas são coisas sem dente, tão fracas e aguadas quanto às fábulas Vitorianas criadas para abrigar as crianças de qualquer coisa que possa dar uma dica de que o mundo é menos do que perfeito. Sem doçura, o cenário é um lugar atrofiado e sem valor, mais próximo da visão de universo rabugenta de um niilista do que o lugar que realmente é. Para todo o horror também há a maravilha. Para toda a beleza, há também a loucura.


Entre Mundos

Os Perdidos têm o potencial de serem quase tudo. Suas raízes humanas são fortes o suficiente para mostrar a eles o caminho para casa de Faerie, e alguns changelings tomam parte do mundo mortal o tanto quanto possível no seu retorno. Para alguns, a possibilidade de retomar as suas vidas anteriores ou se ligar mais uma vez com seus amados é a maior aspiração. Outros desistem de suas identidades anteriores e forjam uma vida mortal inteiramente nova para eles mesmos, em áreas onde eles podem prosperar sem muito escrutínio. Eles podem se tornar negociantes de arte, donos de clubes, lordes do crime. E os Perdidos podem usar seus dons de fada para protegerem aqueles importantes para essas novas vidas, extraindo o melhor de suas transformações.

Mas os changelings indubitavelmente não são mais o que eles eram, e muitos abraçam essa mudança da melhor forma que podem. Eles usam as marcas de seu cativeiro com orgulho, fortalecem o poder de sua Wyrd e focam nas suas identidades como cidadãos da sociedade dos Perdidos. Para esses orgulhosos sobreviventes, o mundo humano é onde eles jogam com a mortalidade e ganham força. Eles estão mais confortáveis entre propriedades livres e Cortes, e juram pactos da mais profunda amizade e amor para com seus irmãos changelings.

A vida de nenhum é superior a de outro. Para
manter uma perspectiva limpa entre a solidez mortal e a loucura onírica das fadas, os Perdidos devem reconhecer os dois lados de sua natureza. Mixórdias se unem por amizade e juram ajuda uns aos outros para reconstruir suas vidas mortais, assim como eles prometem apoiarem uns aos outros para alcançar posição, poder e segurança entre as cortes changelings. Os comos e os porquês de suas jornadas, as vidas que eles irão forjar ou re-forjar para si mesmos – essas são as histórias que irão de desdobrar em Changeling: Os Perdidos.




Arcadia - O Crepúsculo Perpetuo



Arcádia é terra de realmente de tirar o fôlego, mas sua beleza também aterroriza. É uma terra de alegria sem morte em jardins retorcidos, e de montanhas construídas de ossos meio mastigados. Em Faerie, (pois assim também é chamada), florestas, escuras e primitivas se contorcem entre selvas de concreto espessas com metais dobrados artisticamente e flocos de neve delicados de vidro quebrado. Mansões quase Vitorianas se estendem entre costas que são amontoadas espessamente com carcaças de milhares de veleiros, tudo isso com fronteiras grossas com os labirintos da Vizinhança. Arcádia é todas essas coisas, ou talvez nenhuma delas. Talvez tudo que se "saiba" sobre Arcádia sejam apenas as visões febris daqueles que perderam a habilidade de discernir a realidade da fantasia e a verdade do sonho.

Por causa da natureza de Faerie, até mesmo
testemunhas diretas da terra são inerentemente distorcidas. Aqueles que viajaram para lá e escaparam para contar a história, se encontram profundamente alterados pelas suas experiências. Muitos parecem não mais saber ao certo a realidade do mundo em volta deles, muito menos a realidade alienígena que eles acabaram de deixar para trás. Alguns, talvez os sortudos, se lembram pouco ou nada do tempo que passaram em Arcádia, mesmo que décadas tenham se passado em sua ausência. Viajar pela espinhenta Vizinhança que cerca Arcádia dilacera tanto o corpo quanto a sanidade de qualquer um a não ser os habitantes nativos, e existem boatos de que eles não são nada mais do que manifestações da própria terra – imunes ao, ou talvez apenas sintomas do seu poder dilacerador de realidade. Eles são Faerie, e a terra é Faerie.

O pouco que é sabido de Faerie vem de relatos
daqueles que a visitaram e escaparam com alguma medida de sua sanidade intacta. Por causa disso, não é certo se as contradições que eles relatam são percepções obliquas ou se a realidade, de fato, se contradiz grosseiramente no reino das fadas. Qualquer fato relatado sobre Faerie ou sobre aqueles que vivem em suas fronteiras é suspeito, na melhor das hipóteses. E mesmo se for a verdade absoluta no horário e local onde foi testemunhada, pode ser uma completa falsidade em qualquer outro local e horário.

Entre as histórias ditas por aqueles que tiveram o infortúnio de visitar Arcádia (e a sorte de voltar), estão essas:

•Faerie é o pesadelo do qual não se acorda. A realidade, pelo menos como a humanidade conhece, não existe lá. As leis "naturais" de Faerie não são as da ciência, do espírito e nem mesmo da magia como os mortais compreendem, mas uma tapeçaria complexa de acordos e escapatórias sem rima ou razão inteligíveis para a mente humana. Os habitantes, por causa disso, são ligados, e se ligam, em constantes mudanças nas camadas de poder e manipulação que não somente determinam a estrutura e hierarquia social da população consciente, mas também muda a própria natureza da verdade.

•Faerie é cheia de habitantes sobrenaturais que possuem um poder quase irrestrito dentro de sua própria alçada – ou assim eles dizem. Certamente suas habilidades estão muito além daquelas vistas no reino mortal, não deixando nenhuma dúvida do porque eles eram tidos como deuses ou os mais poderosos espíritos nas civilizações humanas mais primitivas. A habilidade dessas criaturas de forçar a própria vontade no mundo envolta delas é manifestada na forma de Contratos jurados – alguns antigos, alguns recém pronunciados – com os quais eles podem mudar a própria natureza da realidade, unindo o tempo e o destino ao seu bel prazer. Pensa-se que os mais antigos Contratos datam do início dos tempos, e através deles as Fadas mantêm absoluto domínio sobre sua terra natal – e aqueles humanos desgraçados o suficiente para viajar até lá.

•A única maneira física para um humano entrar em Faerie propriamente é ter sido levado pelas Fadas. Enquanto outras maneiras sobrenaturais podem dar entrada à Vizinhança, Arcádia é o domínio das Fadas, e a entrada lá é apenas para eles. Rumores existem daqueles que, de uma maneira ou de outra, encontraram a estrada tortuosa para Faerie; no entanto, nem mesmo lendas falam de alguém que voltou, tirando aqueles que foram levados ao reino das Fadas pelos Gentis em pessoa. Talvez seja uma simples impossibilidade, e a estrada para Faerie não é acessível para nenhum, exceto aqueles recebidos pelas Fadas. Talvez exista uma chave para entrarem Arcádia que nenhum mortal possa segurar. Ou talvez o Povo Belo simplesmente não aprecie visitantes não esperados e façam que o seu desprazer letal seja sentido naqueles que chegam sem convite.

Se até mesmo uma pequena parte das histórias daqueles que viajaram até lá forem verdade, o reino, assim como aqueles que o fazem seu lar, é um local de extremos e possibilidade desconhecidas. Dentro das fronteiras circundadas pela Vizinhança existe o potencial para tanto maravilha utópica quanto tormento infernal. A mente humana, no entanto, parece basicamente incapaz de compreender a natureza vastamente paradoxal do local, assim como a mente humana é incapaz de entender de verdade a inteira natureza alienígena daqueles que o tomam como seu lar. Para a mente humana, é tudo borrado como um sonho.



As Fadas


Os habitantes do Sonho já tiveram muitos nomes através dos séculos, pois a humanidade, amedrontada pelo encontro com os outros alienígenas, tenta lutar contra o medo do desconhecido com o poder da nomeação. Enquanto os nomes dados são infinitos, aqueles que habitaram em seus salões e calabouços, que serviram em suas cozinhas e salas de julgamento e banheiros, os chamam de "os Gentis" ou simples mente "as Fadas".

A palavra "fada" foi esterilizada nos anos recentes. A idéia por detrás da palavra foi tão separada do
sentido original que chega a ser completamente não relacionada, assim como as imagens inocentes de mulheres minúsculas e aladas sejam completamente díspares da realidade das Fadas. Originalmente a palavra "fada" veio de fatum, um nome em Latim vulgar para as Deusas do Destino – forças capazes de expandir ou exterminar a vida humana com o menor dos esforços. Os Destinos eram todo-poderosos e desconhecidos para as mentes mortais. E, de fato, para aqueles mortais desafortunados o suficiente para cruzar o caminho delas, as Fadas personificam o termo muito bem.

Elas podem tomar uma criança de sua vida passada tão bem quanto ela corta a corda de uma tapeçaria, deixando apenas fiapos descosturados no seu lugar. E até mesmo para aqueles que passaram décadas como seus servos, escravos, amantes ou bichinhos de estimação, as Fadas estão além da compreensão. Apesar de uma fada poder ser, na teoria quente ou fria, brilhante ou escura, ou até mesmo boa ou cruel, cada uma é unida por um mesmo defeito – elas não têm noção de compaixão ou empatia, não possuem habilidade de compreender ou se relacionar com a dor de um ser humano. Até mesmo a "bondade" delas pode fazer sangrar, e o favor delas é como uma prisão fria e elegante. Serve de pouco consolo aos Perdidos o fato que, por outro lado, as Fadas também não são capazes de malícia verdadeira, sendo incapazes de compreender a noção de "outro". Suas ações são vindas de pura e simples vontade, ímpeto, impulso. Para outros a Fada pode parecer boa ou má, gentil ou cruel, mas para ela, ela apenas é.

O termo "fada" foi dado para bruxas e demônios, espíritos e monstros, fantasmas e goblins. Alguns associam o termo com os humanoides altos e elegantes que os Celtas chamavam de sidhe. Para outros, as fadas podem ser criaturas em miniatura com asas delicadas, ou cavalos de água com cascos de aço, ou fantasmas astutos que predizem a morte com sua presença. Todas essas criaturas podem ter sido inspiradas pelas Fadas, enquanto que nenhuma delas tem uma porção significante da verdade. No seu reino natal algumas tem formas de elfos, gigantes, dragões, anjos, robôs, monstros marítimos, ou qualquer outra coisa. Algumas parecem ser pequenas em escopo e poder, facilmente "compreendidas" para o estado de mente apropriado, outras são tão poderosas e incompreensíveis quanto deuses, ou assim dizem os changelings que foram obrigados a servirem-nas.

Até mesmo quando as Fadas andam no mundo mortal, qualquer breve observação captura apenas uma simples face em uma terrível e bela jóia Feérica. Aqueles que apenas dão uma olhadela nelas ficam boquiabertos pela beleza, poder e estranheza que as cercam. E aqueles que ousam chegar mais perto descobrem que quanto mais eles procuram saber sobre as Fadas, mais suas mentes, espíritos e almas são transformados pela própria presença que eles procuram entender.



A Abdução


Desde a russa Babay até o Mexicano El Cucuy, o bicho-papão vive debaixo das camas proverbiais e nos armários metafóricos de quase toda a sociedade humana. Através da história e quase sempre sem exceção, cada cultura tem tido pelo menos uma versão de seres monstruosos que assolam as sombras de suas noites sem lua, esperando a oportunidade de capturar crianças mal-criadas ou atrair viajantes descuidados para a morte – ou pior.

Estudiosos modernos professam que todas essas lendas de "sequestradores" têm uma raiz em comum: a necessidade da humanidade de contos admonitórios, que cada uma dessas criaturas foi inventada por pais ou pelos mais idosos da sociedade para proscrever comportamentos que causassem danos através do uso de um misterioso e ameaçador agente. As crianças que se comportam mal podem ser ameaçadas pelo homem do saco em Portugal e no Brasil, ou le croquet-mitaine ("o mordedor de luvas") na França, mas a mensagem é a mesma: "Se você não se comportar como nós queremos, nós não poderemos lhe proteger e algo vai vir e buscar você". Da mesma maneira, garotas que fogem da supervisão protetora dos pais ou garotos que tem disposição para saírem de fininho para se aventurarem se afirmam como uma ameaça inerente para a hierarquia social de suas culturas individuais. Criaturas como Nanny Rutt, uma mulher que mora num poço que desaparece com aqueles que se aventuram muito perto de sua casa, ou o Ecandato Peruano que assume a forma de golfinho e atrai viajantes para seu mundo-no-rio servem como reforços externos da segurança do lar e a importância de nele permanecer. Os detalhes de cada criatura lendária podem ser muito diferentes, mas no fundo elas são as mesmas. Já que o desejo de encorajar a conformação como comportamento desejável é universal, é compreensível que cada sociedade desenvolva figuras mitológicas para punir aqueles que agem impropriamente. Similarmente, já que algumas experiências humanas (morte, escravidão, separação de um amigo e família) são quase sempre vistas como as mais severas retribuições possíveis, não é de se surpreender que os criadores desses mitos as utilizassem como punições infligidas pelos seus sequestradores por se comportarem mal. Ao passar a responsabilidade de punição para uma misteriosa força exterior, aqueles em controle tanto repreendem a rebelião contra sua própria autoridade e removem deles mesmos a posição de executor. A identidade do "sequestrador" pode variar, mas a mensagem permanece a mesma: se conforme e seja seguro, se desvie e seja removido do jogo por algo além do nosso controle.

Mas os contos não param com os "malvados" sendo levados embora. Crianças inocentes são levadas da segurança de suas camas, fazendeiros trabalhadores são engolidos nos seus campos e clérigos devotos são roubados em solo sagrado. Nesse caso, para o crédito de Occam, a explicação mais simples é a verdadeira.

Por séculos, talvez desde a aurora da existência humana, as Fadas foram predadoras da humanidade. Todos os anos, em todos os cantos do mundo, milhares de indivíduos desaparecem sem explicação. Roubados de seus lares, pegos enquanto viajavam ou tomados de seus berços, incontáveis homens, mulheres e crianças simples mente desaparecem sem deixar vestígios. Para alguns, explicações mundanas existem. Fugitivos voltam, vítimas de assassinato são descobertas, fugitivos são presos.

Porem em alguns casos, as pessoas desaparecidas nunca são encontradas novamente, e pista alguma jamais leva aos seus paradeiros. Nenhum corpo é descoberto e eles nunca mais nem sequer bipam no radar da sociedade humana. Investigações levam até ruas sem saídas, deixando a família e amigos perplexos sobre seus destinos. É como se eles tivessem desaparecido completamente da Terra, não deixando nenhum traço. E muitos que desaparecem não são nunca tidos como ausentes, pelo menos não até ser tarde demais.

Em outros casos, o desaparecimento não é permanente. Os indivíduos desaparecidos podem não se lembrar de nada do período em que eles estiveram fora, mesmo que estivessem desaparecidos por anos. Outras vezes eles podem clamar que se lembram, mas suas histórias são confusas, na melhor das hipóteses. Eles podem clamar terem sido levados por fantasmas, espíritos, alienígenas ou fadas, indivíduos misteriosos de descrições impossíveis, e que tenham passado horas, ou dias ou décadas em um mundo diferente. Alguns alegam que foram prisioneiros na terra dos mortos, seja o Paraíso ou o Inferno. E outros ainda clamam que ficaram presos em um reino de pesadelo, onde as regras do mundo mortal não se aplicavam. Seus contos são confusos, cheios de lacunas e contradições. Muitos não conseguem se lembrar de como voltaram. Talvez eles tenham ganhado sua liberdade, ou escaparam através de furtividade e esperteza. Alguns até mesmo clamam que mataram seus captores, apesar de que sejam sempre os menos lúcidos que clamam isso.

Tanto em desaparecimentos permanentes e naqueles em que as vítimas retornam as explicações mais simples são, novamente, as corretas. As suas histórias, se eles viverem para contá-las, são enraizadas na verdade, não importa o quão fantásticas elas sejam.


Crianças Roubadas

Muitas das lendas humanas clássicas falam de crianças roubadas de suas camas, até mesmo de seus berços, pelos abdutores Feéricos. E, na verdade, essa lenda é enraizada em fatos. Muitas Fadas preferem sequestrar os seus novos "protegidos" em uma idade bem tenra, e as abduções de bebês certamente formam uma grande parte desses raptos que foram historicamente identificados como trabalho dos Gentis. Afinal, roubar uma criança dormindo de um berço é bem mais fácil do que abduzir um jovem na flor da idade que é mais capaz de autodefesa. E também, caso a abdução de uma criança seja frustrada pelas circunstâncias, o balbuciar de um infante – se é que podem ser compreendidas – são bem mais fáceis de serem ignoradas ou subestimadas do que aquelas de um adulto. Além disso, mesmo o tempo em Fearie geralmente aumentando a expectativa de vida de um humano consideravelmente, comparados as Fadas uma vida humana é um período infinitamente curto. Ao pegar suas vítimas o mais cedo possível, as Fadas garantem que quando as crianças tiverem idade para serem úteis aos seus captores, elas já irão ter aprendido a aceitar o que se passa por realidade em Faerie como "normal". Os seus Guardiões terão um grande período para usá-los como seus protegidos.

No entanto, a maioria dos changelings encontrados como adultos não desapareceram como bebês. Enquanto muitos humanos são roubados de seus berços, as suas taxas de mortalidade são muito altas, devido à frágil natureza dos infantes humanos, os perigos inerentes de Arcádia e a atenção falível que eles provavelmente receberão em Faerie. De fato, nenhum humano levado para Faerie como bebê voltou para o mundo mortal de vontade própria. Suas memórias do mundo humano simplesmente não são fortes o suficiente para lhes garantir passagem pela Vizinhança e de volta para as suas terras natais. Aqueles que conseguem escapar do cuidado do Guardião e vão para um mundo que eles realmente nunca viram, são condenados a vagarem sem fim pela Vizinhança, antes de encontrar outro Guardião Feérico ou possivelmente acabar num destino muito pior. No entanto, em circunstâncias raras, aqueles roubados de seus parentes humanos numa idade muito prematura podem ser recuperados por outros changelings e trazidos para o mundo mortal. Esses indivíduos podem desenvolver desordens emocionais severas quando mais velhos, e podem ser propensos a voltar para Faerie, intencionalmente ou não. Suas conexões com a Terra das Fadas é tão forte, se não for mais forte, do que suas conexões com a terra em que nasceram.


A Caçada

No momento em que os humanos se tornam capazes de andar sem supervisão, talvez aos cinco ou seis anos de idade, eles provêm mais desafios e mais benefícios para seus captores Feéricos. Os humanos têm mais tendência a lutar contra a entidade que tenta os levar a força, e talvez chamar a atenção de outros caso não consigam parar o ataque sozinho. Do outro lado, eles também possuem uma grande resistência para aguentar os desafios e tribulações da vida em Faerie, e por ter uma identidade humana mais firme, eles podem servir aos propósitos do Guardião muito melhor do que quem foi levado quando era uma criança pequena. Para algumas Fadas, pegar um humano para cativeiro é um desafio esportivo – um jogo de astúcia e habilidade, não muito diferente de como os humanos vêem pequenos jogos de caça. Esses indivíduos podem evitar levar crianças no geral, e intencionalmente procuram não apenas adultos, mas aqueles adultos que vão desafiar mais a habilidade da Fada. Atletas, lenhadores, até mesmo caçadores provêm a essas Fadas esportistas o desafio que elas procuram, e assim que elas conseguem derrotar a sua presa humana, elas têm grande prazer sádico em usar seus novos protegidos como gado de caça para despachar futuras presas em Arcádia.


A Dança

Nem todos os changelings são abduzidos por força. Alguns são seduzidos através das bordas entre o mundo mortal e Faerie, enganados para dentro da Vizinhança por entidades muito mais antigas e com mais prática nas artes sociais do que qualquer humano jamais será. Como ovelhas indo para o abate, os changelings seguem os seus futuros captores para um destino que humanos não conseguem compreender, e não poderiam evitar mesmo que pudessem entender. Lendas falam de camponeses seguindo luzes fantasmagóricas ou fogos - fátuos para dentro das florestas e nunca voltando. Esses globos amorfos de iluminação fosforescente podem parecer similares ao fenômeno natural de gases de pântano, mas não é nenhuma bioluminescência natural que engenhosamente atraí seus seguidores para as profundezas da Vizinhança. Outras Fadas são mais diretas. Brincando com a simpatia humana, eles podem aparecer como uma criança perdida ou como um animal ferido, e levam o Bom Samaritano que os procura ajudar para Faerie, provando que nenhum bom ato escapa sem punição. Luxúria também é um poderoso motivador, e muitos humanos são literalmente seduzidos para atravessarem a fronteira através da Vizinhança para Arcádia. E, é claro, muitas lendas sobre vender a alma para o Diabo tem suas raízes em Fadas arrogantes oferecerem uma barganha abertamente com um humano igualmente arrogante. Infelizmente para a humanidade, o fim disso é muito mais raramente em favor do humano do que as lendas urbanas reportam.


Sorte – Justa ou Injusta

Apesar da ganância dos Gentis para com os servos humanos, nem todos os changelings são originalmente o produto do esforço de Fadas. Enquanto é quase impossível para os humanos entrarem na Vizinhança sem alguma espécie de ajuda sobrenatural, a ajuda (desejada ou não) nem sempre é das Fadas. Certas circunstâncias podem abrir portais para o mundo das fadas, e não é incomum ouvir que algumas pessoas azaradas escorregam através deles e se encontram no labirinto espinhoso que é a Vizinhança. Infelizmente, uma vez que entraram e se afastaram do portal, é muito mais difícil voltar, e as Fadas normalmente patrulham a Vizinhança na procura daqueles que ficaram perdidos nos caminhos (mas ainda não sucumbiram para seus perigos). Se apresentando como protetores e benfeitores, essas Fadas realmente podem ter facilidade em convencer seus novos protegidos a jurar lealdade a eles. Tragicamente, o resultado disso é tão debilitante para o novo changeling quanto se ele tivesse sido levado a força.



A Passagem


Mesmo parecendo impossível para a mente de um humano (ou changeling) compreender completamente os desejos alienígenas e convolutos das Fadas, parece haver várias motivações em comum para as Fadas levarem "protegidos" humanos. Apesar de que alguns Guardiões não têm nenhum motivo único para fazerem o que fazem, os Perdidos conseguiram arrancar de suas distorcidas memórias coletivas o que eles acreditam serem vários papéis primários que os changelings são "encorajados" a fazer.

Muitas histórias falam das inabilidades das Fadas de terem crianças próprias, e uma fascinação resultante por bebês humanos. Essas histórias, no entanto, são mais provavelmente o pensamento desejoso de pais que acreditam que suas crianças foram pegas; pensar que elas foram roubadas porque a crença dos pais em sua nova "família" é muito mais confortante do que acreditar que elas foram mortas, negligenciadas ou tratadas como escravas. Infelizmente para os changelings, a verdade é muito menos confortante. Enquanto alguns têm uma vaga lembrança de serem tratado mais ou menos como um membro da família da fada, a realidade é muita mais próxima da "criança ruiva adotada" do que do "amado herdeiro de toda a fortuna".

Da mesma forma, enquanto muitos contos românticos têm sido espalhados sobre as Fadas terem se apaixonado pelos mortais e os roubarem para servirem como cônjuges, as realidades de tais contos estão longe de serem idílicas. Alguns changelings, especialmente aqueles que foram seduzidos a caminho da Vizinhança, podem ter sido concubinas para seus Guardiões, mas o papel foi pouco mais romântico do que o papel de um escravo sexual abduzido por um mestre mortífero. As Fadas são seres instáveis sem nenhuma habilidade real de simpatizar com o que um amante quer ou precisa. Eles podem ser "atenciosos" e "consideráveis" de tempos em tempos, mas apenas enquanto lhes parecer ser apropriado ou divertido.

Outros changelings, especialmente aqueles que foram roubados mais velhos, parecem ter sido roubados para continuarem o papel que desempenhavam para os novos chefes Feéricos. Crianças prodígio, inventores astutos e filósofos têm sido roubados para servirem em laboratórios, capelas e bibliotecas de Faerie, enquanto escritores, poetas, cantores e músicos são abduzidos para entreterem o seu Guardião. Cozinheiros e artesões, aqueles com um jeito para trabalharem com metais ou plantas ou domarem animais selvagens descobriram que seus serviços eram como chamarizes para as Fadas, e foram roubados para o uso delas.

Talvez o mais confuso, pelo menos para as vítimas, são aqueles que foram roubados sem nenhuma razão em particular. Eles podem ser pressionados para servirem como guardas para seus Guardiões, ou começaram a lhes esfregar o chão – tarefas que com certeza poderiam ser feitas tão facilmente (e certamente de forma mais eficiente) por fadas menores e pelo uso de mágica Feérica. Se esses indivíduos foram realmente escolhidos ao acaso, ou se os seus Guardiões tinham algum plano maior que esteja além da percepção humana, é incerto.



Mudanças

Quando humanos entram na Vizinhança, os perigos lá presentes fazem mais que lhes ferir, eles ferem sua própria essência, sua natureza mortal. Alguns indivíduos de sorte podem voltar rapidamente para a relativa segurança do mundo humano e escaparem relativamente intactos, mas aqueles que se aventuram mais longe, afastado e mais tempo dentro da Vizinhança vêem que a separação do mundo humano os afeta de maneiras estranhas. Seus sentidos podem começar a enganá-los. Não apenas visões e sons, mas o sentido do que está certo ou errado também pode se tornar distorcido, e eles podem se encontrar reagindo a situações ou contemplando ações de forma que eles considerariam desprezíveis antes de entrar na Vizinhança.

Enquanto a alma humana não é quantificável, existe certo algo que faz a humanidade ser humanidade, e é essa mesma característica única que começa a desenrolar como um casaco mal costurado, enquanto mais fundo se viaja na terra das Fadas. Essa destruição é desconcertante, para dizer a menor parte, para aqueles que a notam. Com muito mais frequência, no entanto, aqueles que são jogados nessas terras loucas não têm pedras de apoio o suficiente com a realidade para perceberem que eles estão mudando, ou não possuem as ferramentas necessárias para lidar com o dano, caso o reconheçam. Ainda sim, assumindo que eles sejam capazes de escaparem de volta para o mundo humano em um período razoável, a maioria vai encontrar por si só a habilidade de curar o dano aos seus espíritos. Alguns, no entanto, viajam muito tempo e muito longe na Vizinhança e se tornam perdidos para o mundo humano. As fronteiras de Faerie podem permitir que humanos saiam correndo e escapem relativamente ilesos, entrar em Arcádia, no entanto, é outro assunto completamente diferente.


Uma Oferta Irrecusável

Seja levado por força, truque, ou por puro azar de parar em suas portas, humanos que entram nas terras das Fadas nunca mais são os mesmos. Um humano não consegue existir nesse reino alienígena sem ajuda feérica. Tudo em Faere existe e interage através de Contratos, acordos e juramentos, e não por nada tão simples como lógica. Logo, aqueles sem acesso à essas feitiçarias não encontram sustento, descanso ou cura. Sem entrar em uma barganha com esse mundo, o destino do humano está selado: Definhar.

Aqueles que fazem a barganha com Faerie são mudados pelo processo, e tornam-se Changeling. Essa barganha, uma vez feita, jamais pode ser desfeita. Apesar de que podem voltar ao mundo mortal eventualmente, e com tempo até recuperar sua identidade, changelings nunca serão completamente humanos novamente. Suas naturezas agora são parcialmente feéricas, e tentar negá-lo incorre um alto preço. Suas emoções são mais poderosas, e emoção lhes sustenta. Sua natureza mágica lhes permite acessar todo um outro mundo que esconde-se por trás do espelho. De certa forma, é possível dizer que eles transcendem o mortal. Mas nenhum poder vem sem custo.




A Vizinhança


As paisagens mágicas que cercam Faerie carregam muitos mistérios para os Perdidos. Certos aspectos da Vizinhança são bem conhecidos, mas assim como a tecnologia moderna, até mesmo aqueles que a usam regularmente não necessariamente entendem o "como" dela, e quase ninguém tem certeza exatamente do "porque". Aqueles que se lembram de terem sido abduzidos pelas Fadas quase sempre possuem a memória de terem sido arrastados através de paisagens familiares no caminho para o lar de seus novos Guardiões. Não importa como o caminho pareça, ninguém chega, ou retorna, de Faerie sem passar pelas suas paisagens. Por causa disso, se nada é sabido com certeza sobre a Vizinhança, ela geralmente é tida como uma fronteira entre o mundo mortal e o das Fadas. Isso é, no entanto, um dos únicos fatos certos (na maior parte) sobre a Vizinhança. A maior parte dos outros aspectos é mutável. A Vizinhança pode se manifestar facilmente como um cenário imaculado de cercas-vivas Vitorianas ou como um pântano fedorento e aterrorizante onde a passagem é marcada (ou escondida) por rios traiçoeiros de água turva. Espessas florestas primitivas onde mudas se agarram em roupas e carne daqueles que tentam passar por ela é tão parte da Vizinhança como selvas intransponíveis de nós cheios de videiras de aparência venenosa e vegetação carnívora, desertos e montanhas intransponíveis repletos de perigos, ou bosques com tantos caminhos e cavernas que é impossível não se perder.

Parece existir um elemento psicoativo na Vizinhança, um
efeito que é aumentado para aqueles com poderosas magias feéricas. Em volta daqueles com uma alta Wyrd, a Vizinhança se conforma intrinsecamente com suas naturezas, manifestando ventos frios e gelo em volta de changelings com aparência de inverno, ou sombras mais escuras em volta daqueles que preferem ficar no escuro. É como se as fronteiras feéricas sentissem inerentemente a força dos changelings que lá viajam, e ecoam de volta os elementos dos espíritos feéricos mais fortes de uma forma física. Alguns aspectos permanecem verdadeiros apesar da mutabilidade do cenário, no entanto. Caminhos e estradas atravessam a Vizinhança, algumas levando apenas para outros pontos de entrada e saída no mundo mortal, e alguns – geralmente os mais claros – vão fundo no cenário feérico.

Os instintos humanos geralmente ditam que a estrada mais larga é a mais segura, mas em Faerie tais ditados são raramente verdade. Aquelas estradas que são as mais claras geralmente são aquelas que são mantidas pela magia e pela vontade das Fadas. Tais estradas podem prover passagem segura, mas os destinos a que levam, geralmente são aqueles que nenhum humano volta. Ao menos não mais humano.


Entrada e Saída

As terras Feéricas são quase impossíveis de serem atingidas por humanos de suas terras nativas sem intervenção sobrenatural, seja direta ou incidental. As fronteiras da Vizinhança, similares a muitos locais lendários, não são apenas físicos, mas também místicos, então enquanto é acessível de vários locais do globo, entrar na Vizinhança de verdade a partir mundo humano nunca é uma coisa certa. Algumas locações provavelmente oferecem mais saída do que outros, assim como certas situações. Portais para a Vizinhança têm sido abertos ao redor do mundo, e uma vez abertos, eles podem ficar dormentes, mas nunca fechar. Humanos, através de esforços sobrenaturais ou por má-sorte, algumas vezes podem passar por esses portais na Vizinhança, mas uma vez dentro eles certamente se arrependem das ações que os levaram lá. Ir embora de novo não é muito difícil, contanto que não se tenha se locomovido para muito longe do portal. No entanto, assim que o mundo humano saiu de suas vistas, não é uma coisa fácil voltar para lá. A Vizinhança é quase ilimitada pela sua vastidão, e dentro de sua expansão confusa estão incontáveis perigos, incluindo o perigo de simples mente ficar perdido para sempre.

Os Perdidos, no entanto, são tanto abençoados quanto amaldiçoados pela sua associação com as Fadas. Isso dá aos Perdidos um acesso bem mais confiável para a Vizinhança do que eles tinham como humanos, da mesma maneira que isso faz com que eles sejam de interesse muito maior para os habitantes de Faerie. Mesmo os Perdidos podendo passar para a Vizinhança muito mais facilmente que humanos, uma vez lá eles são um verdadeiro farol de Glamour, marcando suas presenças para as criaturas que preferem serem predadores de carne, magia e emoções feéricas.


Trods

Todas as entradas para o mundo das fadas são inerentemente sobrenaturais, mas algumas são mais potentes que outras. Alguns locais, chamados trods, são tão cheios de poder que eles não apenas agem como portais para a Vizinhança e o reino das Fadas que está além dela, mas eles realmente geram coisas de magia feérica.

Essa essência feérica, chamada Glamour, pode ser
colhida por aqueles com a habilidade de fazê-lo, e então pode ser usada para fortificá-los ou abastecer seus poderes sobrenaturais. Rumores de alguns lugares na lenda humana que são ligados as fadas podem ser na verdade trods de poder alto o suficiente para chamar a atenção até mesmo de humanos mundanos na vizinhança. Outras trods, mesmo sendo igualmente poderosas, têm se mantido longe da percepção de mortais, guardada cuidadosamente para protegê-los daqueles que podem intencionalmente ou acidentalmente afetá-los ou enfraquecê-los. Trods, mesmo provendo um benefício vital para aqueles capazes de colher o seu Glamour, são intrinsecamente perigosas também. Changelings não são as únicas criaturas que acham uso em Glamour, e a possibilidade de uma Fada ser atraída para um, especialmente um que está sendo ativamente usado, é alta o suficiente para fazer das trods um risco guardado àqueles que preferem evitar a atenção das Fadas.


Domínios

Da mesma maneira, os Domínios que existem através da Vizinhança têm uma reputação de bênção dúbia. Essas clareiras podem aparecer desde pequenas tocas de animais até clareiras expansivas criadas com guaritas elaboradas, mas assim como todos os aspectos de Faerie, os Domínios raramente são o que parecem ser.

Changelings podem cravar esses nichos na Vizinhança, os
transformando conforme suas necessidades, e usá-los como uma forma de santuário, ligados pela proteção de antigos juramentos de hospitalidade. Ali, seguro pela vontade do changeling e qualquer outro juramento ou jura que ele coloca sobre a área, ele pode fugir do mundo humano e se imergir nas maravilhas das possibilidades feéricas em relativa segurança.

Indivíduos empreendedores podem até mesmo tentar
cultivar o que normalmente só cresce selvagem na Vizinhança: frutas goblin que podem prover cura e outros benefícios, servos semi-conscientes para fornecer as vontades e desejos do changeling ou tesouros animados, do tipo que a humanidade apenas conhece nos contos de fada. Mas apesar das vantagens óbvias de tais locais, eles são perigosos também. O tempo passado na Vizinhança, especialmente em relativa segurança, podem viciar o espírito feérico, e alguns se encontram relutantes em sair dos seus esconderijos para a realidade dura do mundo humano. Tal tempo extensivo passado na Vizinhança, assim como qualquer exposição prolongada a poderosas coisas feéricas, consome a Claridade do changeling, o deixando cada vez menos capaz de discernir o que é verdade e o que é fantasia.

This entry was posted on segunda-feira, maio 01, 2017 at 16:44 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

1 comentários

Gostaria de saber o que seria esses servos semi-conscientes.

16 de setembro de 2017 às 14:39

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