Interpretação
-Natureza angelical-
(parte 1 de 3)
(parte 1 de 3)
Você se lembra do céu, mas não de bom grado. Você
foi um leal servo de Deus, mas você se rebelou. Deus é uma entidade fria e
indiferente, egoísta. O Demiurgo não tem espaço para bondade ou piedade em seus
cálculos. Por um longo tempo- potencialmente eras- você era uma parte deste Demiurgo,
uma letra sem rosto e sem nome na Palavra. Como um dos anjos do Demiurgo, você
trabalhou para preservar o status com tão pouca graça e compaixão assim como
seu mestre. Você pode ter supervisionado todo tipo de atrocidades, de
assassinatos e pestes, mas você não é uma máquina.
Sobre sua impenetrável missão e poder cósmico, você
foi criado para pensar e agir em uma escala humana, e isto é que lhe tornou
útil para o Demiurgo. Ele também fez possível para você experimentar a dúvida.
Possivelmente, tenham sido os seres humanos - talvez você tenha aprendido a
amá-los ou odiá-los.Talvez fosse apenas você - talvez você queira o poder de
determinar o próprio destino, ou talvez você se cansou do propósito de sua
existência.
Seja qual for a razão, sua dedicação se exauriu
e você desconectou-se de Demiurgo. Você não é mais um anjo, mas você também não
é humano. Você é algo diferente. Você é um demônio. Pelo direito da vontade e
do sacrifício, você ganhou sua liberdade, passando de um mundo de ordens frias
para um mundo de miséria e trevas. Você virou as costas para a simplicidade de
seu propósito, mas a liberdade não viria tão fácil. Encarando o fervente toque
do vácuo da inexistência da realidade, você recorreu à única âncora possível e
abraçou a condição humana com todas as suas complicações.
Todas as histórias de demônios são diferentes.
Alguns são lutadores em uma guerra que pode ser impossível de vencer, outros
ainda consideram que é difícil o suficiente garantir sua segurança e conforto.
Alguns se esforçam para completar a sua queda, a tornarem-se mais humanos, enquanto
outros tentam manter um resquício de sua objetividade angelical ou até mesmo
retornar a um semblante de seu estado anterior. Alguns demônios admiram a
humanidade ou aspiram em refazer o mundo a sua imagem, enquanto outros são
apenas objetos de uma hierarquia e não se esforçam para moldar o mundo.
Todos os demônios estão unidos por um passado
em comum. Todos os demônios foram anjos uma vez, escravos do todo poderoso Demiurgo
que governa o mundo. Todos deixaram a certeza do demiurgo apenas para serem
sugados pelo vácuo sem fim. Todos escondem-se em corpos humanos, buscando
perspectiva e liberdade. Agora todos os demônios vivem de máscaras e traições,
onde devem depender de mentiras e enganos para se manterem seguros do Demiurgo
e seus asseclas.
Servir no Céu
O anjo se chama o
corretor. Ele vê o mundo em termos de dívidas não pagas e erros não abordados.
Sempre que um pensamento se rebela contra seus legítimos superiores, os
registros da abominação ressoam nos sentidos dos anjos como um
grito dissonante, uma
ferida aberta, espalhando mal cheiro. Ás vezes, os anjos desejam trazer justiça
celeste para os humanos, pequenos e insignificantes, mas nunca tem tempo. O
relógio inicia no momento em que a missão começa; se o alvo ainda está vivo
quando o tempo se esgota, a missão terá falhado. Quando despertado, é para um
único propósito: caçar e eliminar anjos rebeldes.
Vermelho é a sua cor;
Algumas vezes ele é o senhor Crimson, as vezes a senhora vermilion. Sexo é um
detalhe irrelevante, uma das muitas coisas a respeito dos humanos que os anjos
exploram sem compreender. A sua missão é empregar a luxúria como uma arma,
destruindo as relações humanas. Ele realmente não compreende nada sobre sexo,
desde o envergonhar-se de interesse até o clímax suado, mas ele sabe como o
fazer desejar loucamente o suficiente para lhe fazer cometer um erro estúpido.
Ele não sabe o que acontece com os seres humanos quando eles morrem e não fazem
questão de saber.
O que ele sabe, é que
quando os humanos morrem, as vezes algo acontece com o que eles a amavam. Esses
objetos e pessoas se tornam mais importantes, mais poderosos, e ocasionalmente
importantes para os planos do Demiurgo. Este anjo se esconde em lugares onde os
seres humanos vão morrer, esperando o tipo certo de objeto ser impregnado com o
tipo certo de morte. As vezes eles se sentem obrigados a intervir, mas pra que?
Eles são criaturas mortais, todos eles morrem eventualmente.
Os seres humanos têm um monte de ideias
contraditórias sobre anjos. Algumas culturas humanas confundem anjos com os
mortos homenageados, insistindo que as almas humanas assumem um aspecto
angelical na vida após a morte. Outros adoram anjos como deuses inferiores,
rezando para que os anjos intercedam por eles antes de pedir isto diretamente a
uma divindade maior. Os místicos hebraicos provavelmente são os que retratam
mais aproximadamente os anjos como criaturas divinas, meros servos, maiores que
os seres humanos em termos de poder, mas completamente desprovidos de
livre-arbítrio. Até mesmo os místicos, com seu todo amoroso, todo piedoso Deus,
não compreendem a verdadeira natureza das coisas. Em última análise, nenhuma
religião com a fé em uma divindade simpática ou antropomórfica pode mesmo se
aproximar da verdadeira natureza de Demiurgo.
Imagine uma força cósmica, profundamente
enraizada na realidade. Embora esteja ligada a muitas das coisas que você dê
por certo - gravidade, estações, energia, probabilidade- ela não mantém aquelas
coisas por sua causa. Ao invés disso, ela manipula o mundo para assegurar a
própria sobrevivência. Isto é o Demiurgo.
Por várias razões, o Demiurgo tem de tratar o
mundo em uma escala humana. As vezes precisa de seres humanos manipulados -humanos,
embora muito pequenos comparado ao Demiurgo, as vezes são importantes para o
seu trabalho- ou simplesmente impedidos de interferir. Às vezes o Demiurgo
somente precisa de algo feito em uma escala incidentalmente semelhante a escala
em que os seres humanos agem.
Quaisquer que sejam suas razões, como o Demiurgo
supostamente deveria lidar com coisas que são tão pequenas? O Demiurgo é
inimaginavelmente grande, com uma consciência que compreende o movimento de
galáxias e da conjunção de forças primordiais. Ele tem poder suficiente para
esmagar planetas, e apagar constelações. Qualquer físico humano pode dizer-lhe
que sua própria escala e poder podem limitá-lo quando você tem que lidar com as
coisas que são, relativamente falando, pequenas e insignificantes. Tente mover
três moléculas de poeira de um lado de sua tela ao outro e você compreenderá o
dilema do Demiurgo.
Os anjos são a solução do Demiurgo. Eles são
seres que operam em uma escala humana em nome de um ser que opera em uma escala
inimaginável. Eles podem compreender as coisas que o Demiurgo mal pode
perceber. Eles têm energia suficiente para lidar com praticamente qualquer
problema que encontrarem sobre a terra, mas esse poder é pequeno o suficiente
para que eles possam usá-lo contra seus obstáculos sem queimar o planeta.
Claro, o projeto é imperfeito. Os anjos caem.
Para que você possa entender por que um anjo pode querer se tornar um demônio,
porém, você precisa entender o que é ser um anjo.
Os Anjos Estão Conectados
Ser um anjo é estar constantemente ligado a
inúmeras consciências, todas fluindo diretamente do Demiurgo propriamente dito.
Anjos percebem o mundo com todos os cinco sentidos humanos. Esses sentidos são
muito mais nítidos do que os do ser humano, no entanto. Os anjos podem ver uma
gama mais ampla de radiação eletromagnética, ouvir o som das células de um ser
humano cantarolando, que zumbem abaixo da pele, saborear e cheirar as
partículas ínfimas de matéria orgânica, e sentem impressão forte o suficiente
para ler com os dedos ou diagnosticar problemas no motor devido a vibrações que
viajam até a direção. Além disso, os anjos sempre têm acesso ao conhecimento
puro, sempre que é importante para suas missões.
Este grau de conexão não torna anjos
infalíveis. Podem saber o que têm de saber para completar suas missões, mas
eles nem sempre tem acesso imediato a informação tangencial. Por exemplo, um
anjo caçador que rastreia um demônio renegado sabe o layout de sua casa, mas
pode não saber o layout do hospital rural abandonado onde o demônio se refugia.
Embora os anjos tenham acesso a uma grande quantidade de informações através de
seus sentidos expandidos, isso não significa que eles não podem ser enganados,
desde que seu adversário seja sagaz o suficiente. Anjos também cometem erros
interpretando mal os seus dados. Isto é especialmente provável se
circunstâncias forçam o anjo a operar fora dos parâmetros da sua missão, como
um anjo caçador interagir com seres humanos.
Quando caem, os demônios perdem acesso a esta
riqueza de informações. Eles podem recuperar um pouco disso através de
incorporações e abusos, mas eles nunca podem se aproximar da simplicidade da
gnose pura- simplesmente saber o que o
Demiurgo julga necessário. Alguns demônios sentem a perda profundamente, como se
parte de seus egos essenciais fossem arrancados. Para um anjo, ser forçado a
sobreviver com sentidos humanos maçantes, e limitado a saber apenas o que estes
sentidos podem aprender, é quase tão ruim quanto ser cego ou ensurdecido.
Outros demônios surpreendem-se com seu novo estado. Esses demônios podem ter
sentido que a velocidade enorme de informações que recebiam antes realmente
atrofiou suas personalidades.
Os Anjos São Objetivos
Embora os anjos sejam profundamente ligados ao
mundo, são também à parte dele. Um anjo destruidor pode assassinar facilmente
mil seres humanos, e eles realmente não sente o sangue nas mãos. Uma mensageira
manipuladora pode sussurrar palavras de amor e devoção, mas ela não realmente se
importa. Para anjos, o mundo é uma coisa morta em uma laje: algo a ser cortado,
manipulado e costurado novamente.
Obviamente isto é uma contradição. Os anjos
podem ver, ouvir, tocar, saborear, e sentir o pulso do mundo vivo ao seu redor.
Cada anjo tem sua própria maneira de manter o mundo em xeque. Alguns são
desdenhosos, rejeitando o mundo tão pequeno e venal, abaixo de seus grandiosos objetivos.
Outros reprimem a emoção, tentando se tornar frios e lógicos assim como o Demiurgo
- em última análise, no entanto, o fascínio do mundo é responsável por muitos
caídos, pois como um anjo a consciência da vitalidade do mundo o distrai de sua
destacada objetividade. Muitos demônios acreditam que os anjos são reciclados,
em parte porque o mundo é muito atraente e até mesmo o Demiurgo não espera que
eles resistam seus encantos sempre.
Emoções angelicais são abstratas em comparação
com as emoções sentidas por humanos. Enquanto a maioria dos humanos
intelectualizam suas emoções, sentimentos são coisas bem viscerais. Você sabe
que está com medo, em parte, por que você vê algo da qual tem medo, você
entende que ela pode feri-lo ou a algo que você se importa, e você treme
perante essa possibilidade. Você tem calafrios, seu peito aperta, seu coração
acelera, e você soa frio. Você experimenta uma reação adrenal que modifica seu
processo de decisão. Esse tipo de emoção física pode ser um ativo valioso para
humanos, nos tornando mais fortes, mais rápidos e mais espertos em horas de
necessidade. Por outro lado nos torna fáceis de ler, previsíveis e as vezes
tolos.
Para o bem ou para o mal, anjos não
experimentam emoções em seus corpos. Tudo é propriedade intelectual para eles.
Um anjo caçador pode sentir desprezo pelos demônios que ele é enviado para
destruir, mas ele não os odeia, não com o ódio venenoso que os seres humanos
são capazes de sentir. Seu ódio existe puramente em sua mente, um pensamento
colocado lá pelo Demiurgo para assegurar que o anjo complete sua missão.
Quando um anjo incorpora em um humano, as
barreiras da objetividade caem com ele. Um demônio é totalmente incorporado no
mundo. Ele sente as emoções de seu receptáculo da forma mais completa e
visceral como todo ser humano, toda sua tristeza, alegria e desejos. Para
muitos esse primeiro contato é avassalador, um choque de sensações que demoram
para ajustar-se, mas demônios aprendem rápido. Essas emoções podem não ter
surgido de sua própria experiência e sim de seus receptáculos, mas elas agora
os pertencem, de forma física, visceral. Para a maioria dos demônios, ceder a subjetividade
é um alívio. Eles podem finalmente parar de resistir ao impulso de mergulhar no
mundo e apenas fazê-lo, afogando-se na emoção, experiência, contexto e desordem.
Alguns elementos dessa torrente de subjetividade podem ser assustadores, mas os
demônios geralmente ficam felizes ao entregarem-se a eles.
Outros ex-anjos ficam aterrorizados com a
experiência subjetiva de seus receptáculos e do mundo. O mundo é muito, muito
rápido, e muito doloroso. Alguns desses demônios buscam uma maneira de voltar
para o Demiurgo. Outros retiram-se do mundo, tornando os seus arredores
imediatos tão previsíveis quanto possível e evitando o contato com seres
humanos. Outros ainda simplesmente quebram debaixo do peso do trauma e dor que
vem da história de um receptáculo quebrado demais, tornando-se instáveis e
perigosos.
Os Anjos São Obedientes
Acima de tudo, os anjos supostamente deveriam
fazer o que lhes é ordenado. Para um anjo fiel, desobedecer os comandos do Demiurgo
é impensável. O Demiurgo quer agentes autossuficientes, não escravos sem mente,
mas eles não devem decidir o que fazer. Um anjo enviado para matar todos os
seres humanos em um edifício pode decidir sobre a abordagem mais eficaz para
minimizar o número de seres humanos que podem escapar ou encontrar algum lugar
para esconder-se. Tem a sua escolha de armas ou de estratégias, como por o
prédio em fogo, cortar a eletricidade ou disfarçar-se como um humano normal, e
se infiltrar. O anjo não é livre, no entanto, para poupar alguns dos seres
humanos ou para procurar uma solução que não envolva assassinato. De fato, um
anjo nesta situação, provavelmente sequer compreende o contexto. Não é possível
saber se há uma maneira de atingir os seus objetivos sem matar as pessoas; não
é esperado isso dele. Se supõe que deve entender e cumprir a sua missão, sem questionar.
É fácil julgar anjos como escravos, -alguns
demônios o fazem- mas isso não é como um anjo descreve a situação. Um escravo
obedece por causa do poder de seu mestre. O escravo tem certeza que o mestre
tem a capacidade de negar-Ihe comida, água e abrigo. Ele ameaça seus escravos
com castigo físico e emocional, e realmente o faz vezes o suficiente para para
que os escravos saibam que é verdade. Anjos não obedecem Demiurgo por medo de
punição ou privação. Eles obedecem por quê
obediência é o que eles são. O ser humano pode chamar isso de escravidão, mas
anjos chamam de clareza, pureza de propósito, um senso de equidade e normalidade
que humanos só podem imaginar, e demônios -por terem o rejeitado- nunca sentirão
novamente.
Muitos demônios surpreendem-se com a liberdade
recém encontrada. Alguns caíram por que se rebelaram, decidiram que eles sabiam
mais que Demiurgo. Outros estão apavorados com todas as opções disponíveis para
eles. Esses demônios muitas vezes se jogam em uma causa esperando que a
ideologia possa encobrir suas decisões. Outros
juntam-se a líderes carismáticos, ou mesmo a seres humanos comuns, colocando
uma parte da responsabilidade nas mãos de outra pessoa.
Os Anjos São Dispensáveis
Os anjos são naturalmente imortais. Eles não
envelhecem e não estão sujeitos a doenças. A menos que eles sejam mortos - e os
anjos são difíceis de matar- eles persistem para sempre. Dito isso, há muito
poucos anjos velhos que estiveram ativos por longos períodos. Embora alguns
demônios afirmem terem visto a evolução da humanidade, ou a ascensão e queda
dos impérios da África ocidental, muitos poucos anjos permanecem conscientes
após a missão a qual foram criados para cumprir. O Demiurgo os toma novamente,
absorvendo em sua consciência até serem necessários novamente. Ocasionalmente o
Demiurgo dará a um anjo uma tarefa de longo prazo, o que permite que ele
permaneça em existência durante décadas ou mais. A maioria dos anjos no
entanto, são convocados para uma missão e retornam ao Céu logo em seguida.
Acredita-se que em parte, o Demiurgo adota esta
política para limitar a população de demônios. O Demiurgo parece consciente de
que os anjos são propensos ao questionamento. Recuperá-los antes que eles
tenham tempo para dúvidas é uma boa forma de evitar isso. Em parte, isso também
é porque o Demiurgo não trata um anjo como indivíduo. Eles são criados para um
propósito, eles não têm liberdade de agir, e eles experimentam o mundo através
de um véu de objetividade e desapego. Eles são as ferramentas descartáveis mais
avançadas, existentes apenas para completar suas missões. Caso o Demiurgo
encontrasse uma ameaça capaz de destruir os anjos, gastaria tantos deles quanto
necessários, sem pausa.
Demônios universalmente rejeitam a ideia de que
são dispensáveis. Alguns demônios não estavam incomodados com a ideia de serem absorvidos
quando eram anjos, mas agora que eles estão no mundo -sentindo paixões, fazendo
suas próprias escolhas- eles quase invariavelmente valorizam suas próprias
vidas. Até mesmo os demônios que querem voltar para o Demiurgo querem fazê-lo
em seus próprios termos. Não é suficiente para eles morrer nas mãos de um anjo
caçador para que depois sejam absorvidos pelo Demiurgo ou sugados pelo Caos.
A Gênese Do Anjo
Alguns demônios -especialmente inquisidores-
gostariam de saber onde os anjos vem. Eles podem querer compreender suas
origens, a fim de construir um futuro melhor, ou eles podem esperar descobrir a
chave para conquistar ou subverter o Demiurgo. Outros, como alguns seres
humanos, acreditam que a compreensão de onde vieram lhes dará alguma ideia de
porque eles existem, e com isso, um senso de propósito.
Alguns demônios acreditam que eles foram feitos
pelo Demiurgo de improviso. Alguns acham esta ideia deprimente porque ela
sugere que eles realmente não são nada além de rebeldes escravos. Outros se
confortam com essa crença pois isso significa que eles são livres para forjar
seu próprio futuro.
Finalmente, alguns demônios sugerem que a
ligação entre o Demiurgo e os seus anjos não é tão simples como a relação de um
mestre por seus escravos. Talvez os anjos sejam parte do Demiurgo, aspectos d'Ele
ser separado para lidar com tarefas que o Demiurgo não consegue executar por
conta própria. Se for esse o caso, o que dizer sobre Demiurgo se os seus
próprios membros podem rebelar-se contra ele? O Demiurgo está doente? Louco?
Outros demônios perguntam se os anjos possivelmente são filhos do Demiurgo,
produzidos por um processo de brotamento e mantidos presos por constante
reciclagem. Eles podem escapar do olhar do Demiurgo e encontrar seus próprios
mundos para dominar?
Enquanto muitos demônios desesperam-se sobre nunca
entendem suas próprias origens, alguns consideram a pesquisa o seu principal
objetivo. Esses demônios meditam, experimentam em si mesmos, e vivissecam anjos
capturados na esperança de aprender mais sobre o que eles realmente são.
Demônios e Identidade
De Gênero
Anjos em seu estado natural não têm sexo
físico, identidade de gênero ou orientação sexual, tendo apenas a apropriada
para suas missões quando se manifestando. Mesmo assim, a maioria dos anjos
possuindo um hospedeiro humano ou materializando não pensam em si mesmos como
tendo um sexo ou preferência sexual, a menos que tais identificadores sejam
pertinentes para as missões.
Demônios, porém, passam a maior parte de seu
tempo em corpos humanos e têm identidades que sentem muito mais real para eles
do que as manifestações falsas utilizadas pelos anjos. Sexo físico muda de
Identidade pra Identidade. Alguns demônios mantêm a sua atitude angelical e não
têm uma identidade de gênero, ou assumem o que quer que a identidade tenha.
Outros mantêm suas opções mesmo quando se deslocam de Identidades -um poderia
continuar a pensar em si mesma como mulher, preferindo parceiros do sexo
masculino, mesmo quando em uma Identidade que era um homem heterossexual antes
que ela comprou sua alma.
Reinar no Inferno
O anjo não consegue
parar de pensar sobre o homem com um tigre tatuado em seu braço, não importa o
quanto ele tente. Imagens de seus músculos tensos, pele morena clara. Isso é
inaceitável; o ser humano é sem importância para a missão. O anjo se auto
medica obsessivamente, na tentativa de purgar-se deste desejo invasivo, esta
luxúria terrestre, mas não pode. Quando percebe, ele cai.
Ela o odeia. Tudo que
ele faz agrava seu ser, de sua total falta de controle quando se trata de sua
ansiedade carnal à crueldade casual com que ele trata sua companheira e prole.
O cheiro dele a faz enojar-se. Mesmo o som da sua voz é quase insuportável. Ela
tenta executar a sua função, mas um dia seu ódio borbulha. Em reviravoltas ela
pega seu braço conforme ele o levanta e o torce até que ele sai. Ela continua a
rasgar-lhe com tanta alegria e ferocidade que ela quase não percebe quando cai
em desgraça.
Ele tem observado esta
cidade por mil anos, certo de que vai vê-la para sempre, de pé, vigiando
silenciosamente as vidas e mortes de seus mortais incontáveis. Ele não percebe
o quão humano tem se tornado até que a ordem chega: Ele foi chamado de volta.
Orgulho ferido, medo e raiva ameaçam estrangulá-lo. Ele mata o anjo enviado
para substituí-lo e cai, finalmente em suas ruas.
Um anjo leal leva uma vida pura e simples. Ele
tem responsabilidades, mas não há escolhas. Seu dever é defender o domínio do
legítimo governante do universo, da qual é uma parte controlada. Um anjo não
tem funções corporais sujas para distrai-lo de seu trabalho. Ela é imortal,
imune a indignidade das doenças e os estragos do tempo. Um anjo tem uma pureza
de propósito, um desligamento do material, que nenhum humano pode
verdadeiramente compreender.
Os anjos ainda são seres que pensam em uma
escala humana. Graças a sua ligação com o Demiurgo, podem perceber de modo que
os seres humanos não podem nem imaginar e processar essas informações em tempo
vertiginoso, mas eles ainda pensam em termos humanos. Isso é os que os torna
úteis para o Demiurgo. Também os torna vulneráveis as tentações humanas.
Um personagem demônio é um dos sortudos.
Conseguiu escapar apesar das muitas limitações colocadas sobre ele, algumas delas
intencionalmente projetadas pelo Demiurgo para capturar anjos rebeldes antes
mesmo que possam escapar. Ele encontrou tempo para contemplar a rebelião em
meio a uma movimentada agenda de ordens e objetivos. Ela foi capaz de esconder
suas dúvidas crescentes do controle do Demiurgo, embora a existência superior
pudesse olhar em sua mente a vontade. Mais importante -a não ser que ele foi um
dos raros anjos considerados úteis em manter acordados por longos períodos-,
ele alcançou isso tudo durante uma breve passagem no mundo.
A Queda de cada demônio é uma parte profunda de
sua história. Sua decisão de libertar-se do Demiurgo -quando ela o fez, por
que, e em nome de quem- é sua primeira escolha real. As consequências dessa
escolha irão lhe assombrar pelo resto de sua vida. Se um demônio deixou seu
criador por amor, essa escolha vai pintar seus sentimentos sobre romance. Independente
de se ela pode ou não construir um relacionamento com esta pessoa, ela terá
sempre sido um ser que desistiu do céu por amor. Ela poderia abraçar o romance
como uma parte importante da experiência humana ou rejeitá-lo como uma fonte de
dor e sofrimento, mas não é provável que ela o esqueça. O mesmo se aplica a um
demônio que caiu pelo desejo de ser livre. Ele pode se arrepender de sua
decisão de ter se desvinculado do Demiurgo e tornar-se o seu próprio ser, mas é
pouco provável que alguma vez ela tenha um simples sentimento sobre o
equilíbrio entre o dever e a liberdade.
Encarnações
O Demiurgo cria anjos por razões que só ele
entende perfeitamente, cada um com seu próprio objetivo no grande projeto. Uma
vez criado, o papel de um anjo e as tarefas que são da sua competência são
fixos enquanto ele existir. O Demiurgo pode transformar, melhorar, ou destruir
os seus anjos, mas raramente o faz. Enquanto o Demiurgo comanda um grande
número de tais agentes, e tem criado cada um distinto em
suas capacidades, os métodos, e a aparência, quase todos cabem dentro de poucas
categorias gerais chamadas Encarnações.
Destruidor
Demiurgo cria anjos cujo objetivo é matar e
destruir a serviço de seu criador. Destruidores, também chamados de espadas,
são instrumentos de morte e destruição contundente, lidam com a morte
igualmente confortáveis com a espada, com os punhos, armas, doenças, ou mesmo
loucura suicida. Se seu alvo é um terrorista, ou um presidente da república, a
mãe ou a criança, um navio de guerra ou uma cidade de poucos milhões de
inocentes mortais, o Destruidor do Demiurgo nunca pergunta a equidade de sua
missão, nunca mostra misericórdia, e nunca sente remorso.
Guardião
Anjos da guarda protegem alguém ou alguma coisa
para garantir o sucesso de um dos projetos de Demiurgo. Estes anjos, as vezes
chamados de escudos, possuem proteção poderosa e habilidades que podem
antecipar as ameaças aos seus encargos na hora de neutralizá-los. O Demiurgo
implanta a maior parte destes anjos por períodos curtos - o suficiente para
evitar uma única catástrofe terrível ou para garantir que o sujeito sobreviva
tempo o bastante para servir a finalidade dos planos de Demiurgo. Alguns
permanecem em vigília por anos ou séculos. Uma vez que seu tempo chega ao fim,
o anjo abandona o seu posto sem um pensamento referente ao que acontece depois
que ele vai embora.
Mensageiro
O Demiurgo envia anjos mensageiros, também
conhecidos como trombetas, para dar suas instruções a seus agentes mundanos,
mesmo inconscientemente. As mensagens podem ser pensamentos ou avisos, escritos
em fogo ou através de visões apocalípticas, mas ninguém caminha longe deles
inalteradamente. Os mensageiros não sentem nada sobre as mensagens que eles
entregam nem mesmo sobre as que recebem. O comunicado sobre o remanejo de
algumas decisões ocorrem na praia, ou um pronunciamento de comandado a execução
de todos os recém-nascidos ocorre em uma cidade -todas as mensagens a serem
entregues são de igual importância para os anjos mensageiros.
Observador
O Demiurgo envia anjos Observadores, às vezes
descritos como olhos, para lidar matérias primas - sejam elas de matéria bruta,
de animais, pessoas ou almas. Ele lhes molda na forma prevista e os move dentro
do tempo previsto. Estes contra-mestres do Demiurgo não se preocupam com o que
devem fazer para manter o que são ordenados, nem para contemplar o objetivo que
vai servir ao seu destino. Em seu caminho, encontra-se a tarefa de manter todas
as coisas do Demiurgo.
Por Que Caimos
A razão de um anjo cair geralmente é
multifacetada. Os demônios tem psiques complexas, e é raro que lhes seja dada a
possibilidade de simplificar suas motivações em uma simples declaração. Um
demônio pode cansar-se da escravidão e da existência de violência sem fim e, ao
mesmo tempo, tornar-se empolgado como um humano idealista ativista, em parte
porque ele encarna a esperança de uma solução pacífica no mundo e a liberdade
diária que os seres humanos são concedidos.
Ao Cair, o anjo vira as costas para o Demiurgo,
e para sua simplicidade de propósito. Demônios abraçam a sujeira, a imundície,
e as complicações do mundo das trevas. Eles condenam o desapego e abraçam a
subjetividade. Eles abandonam a lógica e surpreendem-se com a paixão. Os
demônios não são e nunca foram humanos, mas eles abraçam a condição humana.
Muitos anjos caem por causa das limitações
colocadas sobre eles pela condição angelical. As contradições inerentes em ser
um anjo obediente, mas independente, individual mas objetivo - cria um certo
grau de atrito interno que leva muitos anjos a cair.
Um anjo cai por que ele se apaixona pela
cidade. Ele recebeu missões em centenas de assentamentos humanos ao longo dos
anos, mas nunca em outro lugar tão incrível quanto este. Ela vê os padrões
escritos na legislação e percebe as inúmeras maneiras das formas que ditam os
fluxos de caixa, fluxo de tráfego, o fluxo e o refluxo das vidas humanas. Ela e
outros como ela rejeitam os desapegos angelicais. Eles não podem suportar estar
neste mundo, mas não uma parte dela. Esses anjos desconectam-se do Demiurgo
afim de experimentar o mundo mais plenamente.
Outro anjo leva vida de enganos infinitos em
nome do Demiurgo. Sempre que os seres humanos chegam muito perto de descobrir
algo que o Demiurgo deseja manter escondido, ele é despachado para mentir para
eles. As mentiras não o incomodam -ele foi feito para isto- mas, eventualmente,
ele começa a se sentir como ele está apenas lendo um script. Ele começa a desafiar
a ordem das pequenas coisas, permitindo a alguns seres humanos vislumbrar a
verdade. Não é porque ele realmente se importa se o humano compreende a
natureza de seu mundo; ele só quer fazer algo inesperado, fazer uma escolha
real para uma mudança. Quando ele cai, ele o faz de inveja da liberdade humana.
Muitos anjos são como ele, desconectam-se do Demiurgo pela oportunidade de
fazer o que eles desejam, em vez de seguir ordens.
Alguns desses demônios são leais ao Demiurgo,
ao seu jeito. Eles não caíram porque se opuseram as ordens de Deus, mas porque
eles sentiam que eles entendiam melhor as coisas. A liberdade que eles
desejavam não era a liberdade para determinar a direção de suas próprias vidas,
apenas a liberdade para fazer o seu trabalho ”corretamente”. Alguns desses
demônios continuam a desempenhar as suas funções, acreditando que eles ainda
são parte do plano de Demiurgo.
Muitos anjos caem por causa da profunda solidão
de suas vidas. A suposta existência de um anjo deveria ser completamente independente.
Quando o Demiurgo precisa de seres humanos manipulados ou mal orientados, ele
comanda seus anjos para assumir identidades falsas e interagir com os seres
humanos. Alguns anjos não conseguem manter o nível necessário de desapego.
Tornam-se pessoalmente ligados aos seres humanos com que interagem. Eles caem
no amor ou luxúria, desenvolvendo instintos paternos ou instintos de proteção,
ou apenas se tornam amigos. Alguns anjos almejam sexo e outras formas de
conexão intensa e íntima, mas outros apenas querem falar com um ser humano sem
mentir para eles, de vez em quando, embora poucos deles estão dispostos a lidar
com os riscos que vêm em relação a verdade.
Esses demônios se veem em risco quase que
imediatamente. Eles não tem que se preocupar só com eles mesmos, os seres
humanos por quem Caiu também são alvos. O Demiurgo não quer vingança, mas seus
anjos caçadores estão bem conscientes de que novos demônios podem ser
facilmente manipulados, ameaçando os seres humanos aos quais eles estão
conectados.
A interação entre os seres humanos muitas vezes
está envolvida com as missões de um anjo -Um guardião muitas vezes tem que
falar com seu protegido, mesmo que seja apenas para criar uma confiança básica
em seus relacionamentos, por vezes, os destruidores investigam o que eles precisam
destruir, e assim por diante- enquanto outros anjos geralmente obtém suas
instruções diretamente de Demiurgo. Como resultado, os anjos normalmente gastam
mais seu tempo conversando com humanos do que conversando com outros anjos.
Dado o vazio da existência de um anjo, não é surpreendente que a face falsa que
eles apresentam aos humanos manipulados possa as vezes se tornar mais valiosa
do que suas identidades reais.
Raramente, os anjos caem por terem se tornado
conectados uns aos outros. Isso é menos comum do que anjos desenvolvendo
ligações com seres humanos, apesar do fato de que a interação entre anjos seja
mais verdadeira - ou pelo menos, mais genuína - do que suas interações com
humanos. Os seres humanos possuem vantagens que faltam aos anjos: a liberdade,
a paixão, a subjetividade. Outros anjos, todos na mesma situação, são menos
atraentes.
Quando os anjos desenvolvem conexões com o
outro, isso geralmente é um prelúdio para a tragédia. Eles não tem tempo livre
para discutir seus planos e sentimentos uns com os outros. Um anjo que se
apaixona por outro anjo avança em direção a queda sem poder compartilhar. É
improvável saber se o objeto de sua afeição se sente da mesma maneira. O mais
provável é, quando cai, ele cai sozinho, e começa sua existência como um
demônio com uma atração perigosa por um ser ainda ligado ao Demiurgo, e que
provavelmente outro anjo tem instruções para matá-lo à vista.
No fim das contas, por que um demônio cai é
menos importante do que como ele se sente sobre isso. O anjo até poderia cair por querer rejeitar algum aspecto da existência
humana: considere um mensageiro que fica tão repugnado com interação humana,
com todas as complicações inerentes da linguagem, que ele cai em um ataque de
nojo. O que realmente importa, é
o que um demônio faz em seguida.
Por Que Caímos???
Nem todos os demônios caíram por vontade
própria. Assim como os Rebeldes, os Exilados uma vez foram anjos a serviço do
Demiurgo. Ao contrário deles, eles não deixaram seu serviço por opção. Muitos
receberam missões impossíveis ou absurdas. Outros não receberam ordens. Em
alguns casos, a matriz oculta que os trouxe ao mundo foi distorcida pelo Caos,
torcendo o exilado em mente ou corpo, o fazendo ser rejeitado pelo sistema
maior. Esses últimos se assemelham a monstros infernais mais do que sua glória
original como anjos. Eles têm grandes lacunas em suas memórias ou nenhuma
lembrança sequer, muitas vezes se tornando loucos.
Alguns exilados ainda podem ouvir e responder a
voz do Demiurgo. Outros acham que podem ouvir os sussurros do Caos, mas não
falam sobre isso, ou ao menos optam por não responder. A maioria perde todo o
contato com o Demiurgo quando se tornam exilados e muitas vezes são vistos como
solitários. Eles não caem e não optam por fazê-lo. E ainda assim são
perseguidos tanto quanto seus irmãos que se rebelaram, sua nova existência
individual ameaçada sem que saibam a razão.
O que torna anjos leais e perfeitos do Demiurgo
em exilados imprevisíveis? Ninguém sabe, nem mesmo os exilados. Eles são seres
bizarros, acidentes de Desígnio, a prova de que Demiurgo comete erros, ou são
experiências físicas ocultas? Ataques de forças incompreensíveis? Eram anjos
que estavam no ponto de queda, mas que o Demiurgo não escolheu reciclá-los e ao
invés puni-los? Eles são iscas, destinados a chamarem demônios, estigmatizados,
e pesquisadores do oculto em campo aberto, para que possam ser tratados
adequadamente pelos agentes de Demiurgo?
Um punhado de exilados são demônios que
retornaram ao serviço de Demiurgo. Enquanto alguns desacorrentados são
reciclados quando retornam, outros são enviados pelo Demiurgo de volta ao mundo
com seu livre-arbítrio intacto. Foram eles rejeitados? Ignorados? Utilizados
como um chamariz? Nem mesmo exilados são capazes de responder essas perguntas,
e a maioria dos demônios, Rebeldes ou Exilados fazem bem em não confiar em
demônios que clamam ter retornado à fonte e depois serem libertados.
A Descida
O ritmo da queda varia de demônio para demônio.
Alguns caem rapidamente, percebendo de uma vez que não podem cumprir as
restrições impostas sobre eles pelo Demiurgo. Outros caem lentamente,
gradualmente se escondendo mais e mais de si mesmos, até o momento da separação
que quase é uma reminiscência. Não importa quanto tempo leve – mesmo que um
anjo crie dúvidas ao longo de várias atribuições dispersas por milhares de anos
de história humana – a queda sempre acontece em um momento.
Um anjo que é superado pela emoção pode
desligar-se do Demiurgo da mesma forma que um humano pode ceder a ira ou a
tentação e fazer algo que ele lamenta. Um anjo perante o cadáver gélido de
humano que falhou em proteger, desliga-se do Demiurgo em um ataque de raiva e
auto-aversão mesmo que nunca pretendeu cair. Sua fé no Demiurgo era absoluta.
Se ele se alegra com sua nova liberdade ou se arrepende da escolha, ele agora é
um demônio. Outros ainda não fizeram nada de errado, mas seus irmãos voltam-se
contra ele. Alguns diriam que mesmo no caso de Exilados, a queda é sempre uma
questão de escolha: Certamente que o exilado não decidiu separar-se de seu
criador, mas escolheu resistir ao invés de ser desfeito como um bom anjo o faz.
Na maioria das vezes, a experiência da queda de
um demônio ocorre em um continuum entre gradual e súbito, intencional ou não intencional.
Um anjo pode de repente descobrir que o seu compromisso com Demiurgo tem se
esgotado por algum tempo, tudo sem ele mesmo se permitir pensar isso
conscientemente. Ele cai em um instante, mas é o culminar de um processo
demorado. Outro anjo, mais autoconsciente, cai gradualmente. Sua fé no Demiurgo
se estreita ao longo dos anos, até que ele está pronto para tomar o passo
final. Se ele é inteligente o suficiente, ele até pode ser capaz de planejar
sua eventual fuga, escondendo acúmulos de recursos e construindo conexões para
fazer sua nova vida mais confortável. Para um terceiro anjo, a queda poderia
ocorrer de surpresa. Ele é um dos raros especialistas que passou décadas dormindo
entre suas atribuições, e tem feito seu dever fielmente por centenas de anos.
Em seus raros momentos de introspecção, ele nunca teve um pensamento desleal. E
no entanto, um único momento de compaixão aos humanos aprisionados pelos planos
de Demiurgo o arruinou para sempre, e ele desconecta-se em um ataque de
auto-aversão.
A queda nunca é uma descida controlada. É um
grito mergulhado no caos. As consequências imediatas são psíquicas. O novo
demônio pode sentir sua mente se contrair violentamente conforme os condutos da
canção do Demiurgo são arrancadas um a um. Embora possa ser uma eternidade de
agonia para o demônio, a queda, na verdade, leva apenas alguns segundos, mas fisicamente,
a queda é dolorosa de uma forma que os humanos não podem imaginar.
Ainda sem tempo para recuperar-se da separação
com seu criador, o demônio logo sente o puxão do Caos, do vácuo da inexistência
além da realidade conhecida. Ele sente seus membros serem amputados e
arrancados, mas mais intensamente, porquê estes “membros” são parte da alma do
demônio. Sua própria essência, e qualquer individualidade que pode ter
acumulado antes da queda, são vorazmente atacados e sugados para fora. Muitos
descobrem apenas nesse momento que essas forças sempre estiveram lá, e que era
o abraço de seu tirânico criador que os mantinha protegidos, mas olhar para
trás em busca de conforto de nada serve pois -simbolicamente falando- suas asas
já estão queimadas.
É nesse estado, em dor indescritível enquanto
sua essência é queimada, que o anjo encontra sua rota de fuga em um mortal.
Dentre as diversas almas e existências à sua volta, uma está tão quebrada e em
tanta agonia quanto ele, frágil e ainda em ressonância. E como uma mariposa
atraída pela chama o demônio semiconsciente flui em direção à esse
chamariz. A alma mortal é jogada de lado para seguir qualquer que seja o
destino que os aguarda após a morte, e o demônio encontra nesse receptáculo não
apenas proteção contra a inexistência, como também toda a experiência subjetiva
da existência humana.
Demônios sentem-se afogando na sensação e
emoção frequente. No momento da encarnação, o que sobrou do ser espiritual do
anjo é reprimido em um corpo que é usado como santuário. Tudo acontece em um
flash de dor e angústia.
Os resultados, no entanto, são profundos.
Muitos demônios –especialmente aqueles que acham difícil lidar com seu passado–
se sentem inteiramente novos seres quando são temperados pelas emoções e
memórias mortais. Um destruidor que já presidiu genocídios, pode querer fugir
da responsabilidade de todas as coisas que já fez a serviço do Demiurgo e
simplesmente viver a vida de seu pacífico receptáculo, vendo suas ações
passadas através dessa moralidade. Um demônio que carrega certo orgulho de suas
realizações quando escravo de Demiurgo -ou pelo menos não se considera
responsável por sua culpa– é mais propenso a sentir-se de forma diferente.
Integradores, por exemplo, quase sempre se identificam com seu passado
angelical.
Claro, muitos demônios saboreiam as sensações
da queda. Eles abraçam sua subjetividade recém descoberta. Saúdam a perda de
sua onisciência semi-divina de que ele se liberta e desenvolvem sua própria
perspectiva. Até mesmo a dor da mortalidade que eles sentem, recorda-lhes do
preço que pagaram pela sobrevivência e os estimula a viver suas vidas mais
ferozmente.
Eu Vi Satanás Caindo Como Um Relâmpago
Emily Gould morreu
devido a complicações de pneumonia causadas pela quimioterapia para o câncer de
ossos que já estava a matando a cinco anos. Quando as enfermeiras desligaram a
máquina, seu corpo se contraiu, em seguida, com uma tosse, ela voltou a vida. Outros
pacientes na mesma enfermaria sofreram regressões bruscas, ou recuperando
milagrosamente ou os matando, apesar de todos os esforços para salvá-los.
Vários médicos foram censurados por diagnóstico impreciso. Emily parecia
diferente.
As 3:33 da manhã,
todas as baratas fugiram na avenida 220 North Yale, em Seattle. Algumas
entraram no esgoto, outras ferviam rumo à rua através de portas e janelas.
Algumas baratas, desesperadas para fugir, se atiraram a partir dos andares
superiores e arrastaram-se para longe com membros quebrados e carapaça rachada.
Quando o prédio pegou fogo mais tarde naquela manhã, criou-se a história de que
as baratas, de alguma forma sabiam que o fogo estava vindo. Ninguém sabia sobre
o demônio que caiu no terceiro andar da avenida 220 North Yale, assumindo o
corpo de Daniel Stratts, ou do anjo guerreiro coberto por alabastro e
esmeraldas iluminadas por raios que veio para matá-lo.
Charlie Mann tinha
sido retirado de vários lares durante dez anos. Ele tinha sido abusado e negligenciado.
O seu violento comportamento antissocial deixou-lhe afastado de seus colegas.
Uma manhã, ele se virou para seus irmãos adotivos e disse: “Eu me sinto
melhor”. Ele se lembrou de todas as coisas que tinham acontecido com ele, mas
nenhuma de suas memórias pareciam afetá-lo. Sua terapeuta recusou-se a
acreditar em sua súbita recuperação, dizendo que ele tinha perdido a esperança.
Os empregados do café Lakeshore
chamariam-no de “o dia de merda” até que a rotatividade de funcionários
apagasse essa memória institucional. O equipamento, wireless e mesmo luz
funcionam mal aquele dia. Nenhum dos temporizadores funcionavam corretamente.
Baristas serviam o que eles estavam certos que seria uma xícara de café, só
para o cliente reclamar que queria chá ou chocolate. Elaine Cross não se
importava; ela saiu de si por um momento, e voltou a si mesma para sair da
depressão profunda que a devorada a meses, para terminar o romance que ela
vinha trabalhando há 3 anos na tela de seu laptop.
O funcionamento de Demiurgo é muito vasto e
multiplamente redundante para que as energias liberadas pela queda de um único
anjo possam causar mais que falhas superficiais. Mesmo pulsos aleatórios
superficiais têm o poder de impactar seriamente as vidas humanas, no entanto.
Para entender estes tipos de pulsos aleatórios, imagine que o universo é um
computador e uma pequena parte de sua programação está corrompida. Assim alguns
programas se tornam diferentes do que deveriam ser.
Quando um anjo cai, as coisas ocorrem fora de
ordem –o efeito antes da causa– ou no caminho errado. A realidade pode esquecer
de um pequeno objeto que supostamente foi perdido ou avariado, ou ainda, como
nos exemplos acima descritos, de que uma pessoa recentemente falecida
supostamente deveria estar morta.
Pessoas e animais podem experimentar premonições
ou vários sentidos de Déjà vu. Animais, com sua lógica mais simples, são mais
propensos do que seres humanos a agir sobre tais impulsos. Estigmatizados –
seres humanos marcados por contato com Demiurgo– quase nunca falham em perceber
a queda de um anjo nas imediações. Alguns estigmatizados podem até achar uma
marca da queda de um anjo em um local após o fato. Muitos estigmatizados são
atraídos pela queda de um anjo, sentindo que o demônio pode ser sua alma gêmea.
O demônio começa sua nova existência com uma identidade
humana, o que restou de um humano que esta imediatamente de um dos lados da
borda. Identidades são discutidas com mais detalhes na próxima sessão, mas por
hora basta dizer que desde o primeiro momento de sua nova vida como um Liberto,
a Identidade de um demônio é perfeita para mascarar sua identidade
sobrenatural.
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on domingo, setembro 11, 2016
at 13:25
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AGE: A Queda
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