Anjo Salvador - 14  

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Sessão 14


Ermos - Himline - Viajante 1 de 589E


Logo Lian lança um plano: Irão se esconder nos arbustos secos e nas árvores formando um tipo de triângulo em volta de uma posição central, posição central onde colocarão uma espada de Lian cravada. Imaginam que a espada irá atrair a atenção de Karissa ou seus perseguidores, e dali estarão em posição vantajosa para uma embosca.

 

O plano corre bem; logo os latidos ficam mais altos, e não demora para que possam ver Karissa, talvez quase irreconhecível pelos maus tratos, mas com o mesmo olhar duro de sempre, correndo, caindo e rolando na direção deles. Ela está vestida com as calças e camisa de saco típicas de um prisioneiro, com seu braço direito aparentemente quebrado e mantido em uma tipoia junto ao torso. A cavaleira também tem um virote cravado no ombro direito e marcas de cortes e arranhões pelo corpo todo. Alguns passos atrás dela, atrasados pela armadura mas compensando nos ferimentos, três soldados a perseguem, portando indumentárias semelhantes à seu falecido companheiro de crânio esmagado, bem como dois cães farejadores. Dois deles possuem bestas de caça que eventualmente disparam na Guarda do Dragão, que apenas se salva devido a correr de forma caótica e entre as diversas árvores.

 

Os heróis cerram os dentes esperando que a Guarda veja a espada, e mal podem segurar um suspiro de alívio ao verem que ela a nota. Parando de correr em zigue-zague e traçando uma linha reta em direção à espada a cavaleira corre com todas suas forças e desliza pelo chão coberto de folhas molhadas, agarrando a arma no caminho e com um rolamento hábil parando de pé, espada à mãos esquerda e voltada para seus perseguidores. Os homens logo a alcançam, parando talvez a uns dez metros dela, apontando as bestas para ela.

 

“Morrerás lutando e não correndo então?”, diz respeitosamente um dos soldados.

 

“É o que ocorrerá convosco”, responde a cavaleira, de dentes cerrados.

 

Enquanto poderiam simplesmente atirar nela, Eimland é uma terra de honra, e logo os soldados largam suas bestas e honram sua oponente a sacar suas armas corpo-a-corpo e se prepararem para um embate frontal contra ela. Karissa se vê cercada mas não se desespera, encarando com dignidade seu possível fim frente a três oponentes ilesos, melhor armados e armadurados. Mas não haveria de ser, e logo um uivo cortante é ouvido na floresta, e o ambiente ali é tomado por sombras, conforme demônios sombrios em forma de lobos saem da escuridão e saltam por sobre os soldados. Eles gritam por bruxaria, e partem sobre Karissa, mas é nessa hora que o grupo intervém; das árvores e das moitas eles saltam, gritando e surpreendendo seus oponentes.

 

Não demora muito para que o combate torne-se realmente corpo-a-corpo e em proximidade, com Lian alcançando Karissa em meio ao caos e se revelando, causando surpresa na cavaleira que parece não acreditar no que vê.

 

“Lady Karissa, eu disse que retornaria à ti”, ele brada, puxando ela pelo braço.

 

“Lian? Mas... demônios!”, ela tenta gerar uma frase.

 

“Esses estão conosco, confie em mim”, ele completa, puxando a cavaleira para longe do embate e para a segurança das árvores


Mas tal segurança não duraria muito, e Verner pode sentir o perigo surgir, arrepiando as costas de seu pescoço. No meio do combate, talvez atraído pelo barulho, talvez pela luz, talvez pelo sangue, os combatentes ouvem o rugido de gelar os ossos de algum tipo terrível de monstro.

 

A coisa que acompanha o rugido é um gigante de mais de três metros de altura, que corria curvado como um gorila e possuindo pele rugosa e mãos com garras do tamanho de adagas. O monstro logo alcança o campo de batalha, revelando assustadora velocidade, e com um poderoso golpe com as costas de uma das gigantes mãos manda um dos cavaleiros pelos ares e de encontro a uma árvore, onde todos podem ouvir o nojento som de seus ossos se racharem com o golpe e com o impacto. O cavaleiro cai como um boneco quebrado, todos torcem que morto na hora e não tendo de agonizar, enquanto o monstro saído do pesadelo ruge em desafio a poucos metros de Lian e Karissa, que fraquejam um passo para trás.

 

“Ei, você!”, rosna Verner, revelando-se para a criatura. “É, olha para mim, monstrengo!”

 

A criatura vira o olhar para Verner, em um rugido de indignação, e Lian aproveita o momento para puxar Karissa para trás de uma árvore, escondendo-se. Irada por perder sua presa a criatura rosna agressivamente para Verner, que não se deixa abalar.

 

“Ei!”, ele grita, “Você mesmo. Eu sou seu verdadeiro inimigo!”, brada, chamando a atenção do monstro, que vira-se para ele, “Pelo Homem Verde, como você é FEIO!”, grita então, em desafio.

 

O monstro pega a isca, e ruge irado para o patrulheiro, e logo salta por sobre ele, que se salva através de uma rolagem rápida no chão. O monstro pousa do outro lado e bate os punhos no solo, enraivecido, e o feiticeiro nota naquele momento que os demônios lobo que esperava que segurassem o monstro não estão fazendo e, pelo contrário, o observam em julgamento. Tomando a melhor decisão do momento ele grita antes de correr:

 

“Pegue-me se puder, coisa feia!”

 

Por mais que a forma de lobos sombrio demoníaco de Verner seja hábil, e que as florestas sejam como um primeiro lar, Verner sabe que não será capaz de fugir da criatura. Ele salta por sobre os troncos, e a criatura esmaga os troncos em seu caminho, se esconde atrás de raízes e a fera arranca elas com um golpe de suas afiadas garras, corre com todas as suas formas mas o passo símio do monstro é duas vezes mais rápido. Não importa o que faça, a criatura chega cada vez mais perto.

 

Do outro lado da clareira Karissa vê aquilo e dá um passo para ajudar, sendo impedida por Lian.

 

“Não, tu estás ferida!”, ele brada.

 

“Não deixarei um companheiro a sós perante tal perigo!”

 

“Viemos aqui em busca de ti, se arriscar-te, estaria sendo tudo em vão”, o nobre completa.

 

“Nunca ouvi tuas ordens, Lian Calhart, e não pretendo começar agora!”, ela diz se soltando, e correndo atrás de Verner e do monstro, com Lian tomando uma das bestas de um soldado morto antes de partir atrás de sua amada.

 

E a sorte de Verner logo muda para pior. O lobo esconde-se da criatura por trás de uma pedra, e logo não ouve som nenhum. Quando sai da escuridão para ver por onde pode fugir, é surpreendido pelo monstro que apesar de imenso é surpreendentemente quieto, que lhe rasga pelo peito. A forma sombria se desfaz, e Verner rola pelo chão com o impacto. De face ao chão, com sangue escorrendo da boca, o homem ouve os passos pesados do monstro se aproximar para um golpe final.

 

E ele sorri.

 

Em um impulso ele coloca-se de joelho, puxando do gibão pesado o cetro com cabeça de dragão lhe dado por Mestre Dion.

 

“Drakul”.

 

E o inferno é liberado.

 

A cabeça de metal torna-se viva, e um rugido corta o ar, soprando imensas ondas de fogo contínuo, que parecem ter força e pressão. O monstro grita de dor e tenta proteger seu corpo, mas lentamente é consumido pelas chamas, sua carne não regenerando-se rápido o suficiente.

 

Karissa e Lian chegam para ver o desespero de Verner, conforme ele nota que a cabeça dracônica parece ter vida própria, e se nega a parar de lançar chamas, ameaçando consumir não apenas o monstro, mas também tudo à sua volta em ondas de ódio. É apenas então que Verner lembra-se de seus ensinamentos, e como demônios da Ira eram fortes nessa região, e esforça-se para não ser controlado pelo seu coração pulsante. As chamas se calam, e a cabeça de dragão torna-se metálica novamente.

 

O monstro começa a erguer-se, mas um uivo de lobo corta o ar, e o lobo prateado corre em sua direção, lança-se contra o monstro e transforma-se em um tipo monstruoso de humanoide lupino repleto de garras e presas, que choca-se no ar contra a fera nodosa e rola pelo chão junto com ele.

 

Os dois rolam alguns metros, trocando mordidas, rosnados e golpes de garra, e logo o monstro queimado está caído, aparentemente apavorado do lobisomem, e lança um rugido acuado antes de lançar pela floresta em fuga. O humanoide lupino vira-se para um temeroso Verner ao chão e fala com sua voz estrondosa “Não espera que fosse se sacrificar pelos outros. Muito bem sacerdote do Homem Verde. Agora vá! Deixe o Caçador com sua Presa!”, antes de colocar-se sobre as quatro patas e partir, aos uivos, atrás da fera nodosa.

 

“...Santa Alene...” murmura Lian.

 


Castelo de Addford - Himline - Viajante 1 de 589E

 

“Tu não tocaste em teu jantar de ontem...”, diz o jovem Ian, de armadura cinza e capa preta, próximo da princesa Valerie em um calabouço do castelo. “Uma princesa não pode viver apenas de orgulho”, completa.

 

O ambiente em volta é triste, uma cela do calabouço onde a princesa Valerie permanece ajoelhada e de olhos fechados, uma expressão contrariada no rosto. Ao seu lado a refeição da noite anterior, intocada.

 

“Tencionas minguar de fome? Sabes que ninguém choraria. Muitos inclusive ficariam felizes com teu óbito. Pare de ser teimosa e coma princesa.”

 

“Tu estavas de conluio com o cardeal esse tempo todo ser Ian... O que pretende fazer comigo?”, diz a princesa, olhando triste para o cavaleiro. “Se não me entregar ao Duque Volstan, então qual é seu intento?”

 

“Colocar-te onde tu realmente deveria estar”, diz o cavaleiro, misterioso como sempre.

 

“Então manipular-me-ia também. Sabes que não o farei; não me curvarei perante teus desígnios”, diz, orgulhosa, e fecha os olhos novamente, segurando-se no pouco de dignidade que ainda lhe resta.

 

“Tu irás, se desejar sobreviver. Tu não tendes escolha”, ele diz, se recostando na parede.

 

Eles são interrompidos quando o carcereiro abre a pesada porta e adentram à cela o Cardeal e um outro homem. Vestido de armadura completa dourada e usando uma tabarda longa e com capuz do mais puro púrpura, o homem é claramente um cavaleiro divino.

 

“Então... essa é Lady Valerie”, diz o cavaleiro.

 

“Encontra-se bem, alteza?”, diz o cardeal, olhando em volta. “Se tu fosses um pouco mais dócil, não haveria razão de manter-te em cárcere tão triste quanto esse...”

 

“Essas acomodações são mais do que suficientes para uma princesa falsa”, diz ríspido o cavaleiro.

 

Valerie faz uma expressão contrariada, fitando irada o cavaleiro.

 

“Não tão depressa, lorde Torseau”, diz o cardeal. “A menina ainda não o sabe...”

 

“Digam-me do que estão falando!”, ordena princesa.

 

“Muito bem”, diz o cavaleiro, pondo um joelho ao chão frente Valerie. “Tu não és Valerie Mithras. A verdadeira princesa morreu pouco após o nascimento. Tu és tua sósia.”

 

“Isso, ser, é um absurdo sem tamanho”, diz a princesa, claramente ofendida.

 

“Tal não é nem absurdo, nem falsidade”, ele responde, calmamente. “Tu não és Valerie. Tu és uma boneca de palha posta em um berço vazio pelas mãos de membros do Conselho que não nutrem amor algum pela Rainha. Era a intenção deles que um dia subisse ao trono tirando-o do alcance das mãos de Eldereth. Assassinaram os dois filhos da rainha e atribuíram suas mortes à peste e ao inimigo; colocaram-te na linha de sucessão. A enganação estava completa, e teu destino no trono selado; Hammond estava doente e não teria outro filho, mas contrário as crenças, outro príncipe nasceu. Se Kylan é nascido da semente de Hammond ou não é altamente questionável; é bem provável que Volstan tenha encontrado outro progenitor apropriado para garantir a posição de sua irmã como Rainha-Mãe. Independente de sua origem todo o plano do conselho foi jogado à terra tão logo o príncipe nasceu.”

 

“Tu falas mentiras”, diz a princesa que conforme ouvia ficava cada vez mais ofendida. “Estás tentando me manipular, e não acreditarei em uma única palavra do que diz.”

 

“Acredite o que preferir, criança”, diz o homem, se levantando. “Para nós de pouco importa. Até onde me concerne tu pode ser filha de um catador de esterco e de nada mudaria: Temos um ás em nossas mangas; qual seu naipe de pouco importa. Queremos apenas que seja nossa princesa, como sempre o foi.”

 

“Eu sou uma filha da linhagem de Brancent o Grande! Eu não obedecerei tuas ordens!”, revida e pequena mas irada princesa.

 

“Ah não?”, provoca o cavaleiro. “Então farás o que? Caia nas mãos do Duque Volstan e serás presenteada com uma corda em nó ao invés de uma coroa”. Ele então olha para o cardeal, e abre um sorriso gentil. “Nós apenas queremos lhe ajudar a conquistar o trono que é seu por direito.”

 

A jovem princesa fica sem palavras, verdadeiramente sem saber o que ocorre, e após alguns instantes com expressão de estranheza, finalmente fala. “...o que são vocês?”

 

“Nós não somos aliados de Duque Volstan, tampouco apoiamos Drewsaw. Nos considere apenas como... aliados.”

 

“Lorde Torseau, vamos deixar a princesa pensar sobre nossa proposta”, diz o cardeal. “Quando eventualmente tiver compreendido a realidade de sua situação ela desejará ser nossa aliada, tenho certeza.”

 

“De fato. De-lhe até o retorno de Liana”, responde o cavaleiro antes de olhar uma última vez para Valerie e então se retirar. “Até lá, deixemos-lhe ponderar.”

 

“Ian, garante que a princesa se alimente corretamente. Ela é tua responsabilidade”, diz o cardeal, antes de sair.

 

“...e de fato o é, cardeal... de fato o é...”



Ermos - Himline - Viajante 1 de 589E

 

Reunidos de volta no acampamento, Karissa recebe tratamento médico enquanto descreve o que aconteceu. Ela tem algumas costelas quebradas, um tornozelo torcido feio e seu braço de espada quebrado em dois pontos, o que força Alan a colocar os ossos no lugar antes de preparar a tala correta. Karissa porém é firme como granito, e sequer geme durante o doloroso processo, concentrando-se em relatar o ocorrido apenas com pausas o suficiente para respirar fundo entre os picos de dor.

 

Ela explica que não muito tempo depois que partiram o cardeal revelou suas verdadeiras cores. Ele mandou prender ela, Alyssas e Dryfolk, e os lançou às masmorras onde sofriam algum tipo de agressão física diariamente pelos carcereiros sádicos do lugar. A princesa também foi tomada como prisioneira, mas não foi posta na masmorra. Dentro de alguns dias Karissa soube que ela seria executada no Monte Lugas, e ontem, no dia marcado ela estava sendo transferida para alguma outra localização. Ela conseguiu subjugar os dois guardas, tomara um cavalo para o Monte Lugas, quando foi interceptada por reforços. Ela conseguiu escapar e estava tentando desde o amanhecer evadir seus captores, com o êxito que eles presenciaram.

 

De uma forma ou de outra, ela os incita a ir resgatar a princesa no Monte Lugas.

 

“Não irei pedir a homem ou mulher algum que me acompanhe. Essa missão me colocará contra um homem importante da Santa Igreja, e obtendo sucesso chances são grandes que os presentes sejam marcados como hereges. Tal é um fardo que sou jurada a aceitar, mas o qual não devo impor a ninguém.”

 

“Tal... não será necessário...”, diz baixo Katherine, que é trazida de uma das carruagens do resto do acampamento. “Lady Alyssas... fora queimada à fogueira.”

 

***

 

Katherine explica como foi sua missão. Havia separado-se do grupo para agir como batedora solitária, função que atende sempre tão bem. Disfarçada de peregrina, ela descobriu um rumor com o povo comum de que uma grande execução de alguém importante aconteceria no Monte Lugas. Foi necessário um pouco de cuidado para ter com membros de baixo escalão das igrejas locais, mas entre o clero corria o rumor de que a própria princesa Valerie seria executada. Um rumor absurdo sem tamanho, e algo inesperado, diversos clérigos estavam tão confusos quanto a própria, e muitos tomavam rumo ao monte Lugas para ver com seus próprios olhos e, se o caso fosse, apoiar ou intervir.

 

A própria Katherine acompanhara um grupo de capuchinhos, e quando chegara ao local pode reconhecer as cores neutras e armamento misto de forças dos Lâminas Cinzas de Le’Berry. Uma armadilha. Nenhuma informação oficial apontava para a execução de alguém da família real, e os rumores eram apagados tão logo a chama se alastrava. A confusão era excepcional, mas tudo apontava para um engano que crescera através de boatos, mas a patrulheira entendia que era uma armadilha; possivelmente para atrair os Dragões Pálidos.

 

Mas não apenas isso, alguém seria executado. A patrulheira observou com horror quando a cerimônia foi adiantada, e sua companheira, Alyssas, desfilada por entre os visitantes do monastério, levada amordaçada à pira. Fora acusada de traição contra a coroa e Heresia, de ter tido parte em um plano que envolvera o rapto da princesa do Monastério de Gosfren, e o assassinato de sacerdotes.

 

Observara sua companheira esbravejando imprecações para a Eclésia presente, os chamando de tolos, manipulados, e que o cardeal era um vilão, um monstro que estava manipulando a todos. Palavras que, certamente, não soaram com razão perante o clero, e pelo contrário, parecem saídas da boca de uma herege e lunática.

 

***

 

Algo dentro de Karissa quebra. Não apenas o peso da tortura que sofreu, mas também essa notícia, a abala. Exausta de tudo isso, por uma primeira vez ela simplesmente ouve ordens de alguém, sentando-se para ser tratada quando Alan comanda.

 

Katherine a abraça, e as duas permanecem em silêncio.

 

 

Castelo de Addford - Himline - Viajante 3 de 589E

 

A viagem por um pedaço da madrugada e a manhã se alastra até que pouco após a metade do dia estão finalmente nas colinas rochosas que servem como base para Addford, seguindo as indicações de Zigrun até o local indicado por seus contatos. A saída não é exatamente útil para uma força inteira infiltrar o castelo, pois teria de passar por calabouços e muitas passagens complexas, mas servia bem como uma forma de entrar ou sair dos calabouços.

 

Os heróis preparam-se para entrar, conforme Zigrun junta cinco de seus melhores bandidos para permanecerem escondidos por ali perto; vigiarão a entrada e servirão como reforço se algo ruim ocorrer. O próprio Zigrun lida com os cadeados do portão escondido por vinhas, enquanto o grupo tenta convencer Karissa que ela não entrará. Como era esperado, a situação não é bem recebida pela cavaleira, que se nega a cooperar.

 

Chamam Zigrun para lhes acompanhar por ser deles ali o mais hábil com situações furtivas e ambientes urbanos, dada sua profissão de “jagunço” profissional. Arthur é escolhido para permanecer atrás, junto do resto dos homens, também à contragosto. O argumento é que não apenas precisam de alguém ali fora para o caso que fujam de um impasse, como também sua espada de duas mãos não servirá em nada nos corredores apertados. Demoram muitos minutos até ele aceitar a situação, muito a contragosto, antes de finalmente poderem adentrar.

 

Zigrun remove partes de sua armadura e seu casaco, revelando braços fortes e bronzeados, mas especialmente marcas de queimadura cobrindo a maior parte de seu braço esquerdo, e pede que todos os que entrem vistam armaduras leves e que deixem todo o equipamento extra para trás, qualquer coisa que possa fazer barulho e enroscar por exemplo.

 

Portão adentro, são obrigados a seguir por diversos longos corredores. Quando estão já a bons minutos dentro do calabouço principal, a cavaleira do dragão comenta com o grupo haver algo errado ali.

 

“Algo não está certo. Haviam bem mais guardas e carcereiros quando escapei.”

 

“De certo estão preparando uma armadilha para nós...”, comenta Lian.

 

Eric, por sua vez, tem os olhos cerrados, sua mente não completamente focada, algo que ele sequer nota.

 

“Turner?”, diz um consternado Alan, já pela terceira vez.

 

“Estás a sonhar acordado, filhote?”, adiciona Verner.

 

“Pois não? Ah sim. Pode aparentar que perdia-me em devaneios, porém tal não o era. Estava sentindo algo estranho, desde que entramos aqui. O Véu é fino nessa região; o mesmo que ocorre em locais assombrados de nosso vasto mundo. Atrocidades muito terríveis ou múltiplas precisam ocorrer em um local para que o véu torne-se tão enfraquecido como o está agora”, ele direciona as palavras à Alan. “Há algo muito de errado aqui, comandante.”

 

“Então também sentiste? Há sussurros e sombras imateriais nesse local”, diz o selvagem.

 

É sabido que além do véu existem espíritos do além, demônios, espíritos cruéis que invejam a vida mortal e desejam nada mais do que cruzar para esse lado e possuir um corpo para sentirem os prazeres da carne. Normalmente, o véu é uma barreira muito forte para ambos os lados, mas em alguns lugares essa membrana que separa o mundo físico do espiritual pode se tornar frágil, repleta de rasgos, fazendo com que demônios possam facilmente cruzar. Tal só ocorre onde muitas emoções negativas fortes ocorrem; normalmente locais de grandes tragédias; campos de batalha, locais de assassinatos em série, tumbas coletivas, locais de tortura, fome, peste ou sofrimento significativos. Esses locais tornam-se mal-assombrados, conforme demônios normalmente fracos demais para atacar um mortal não conseguem diferenciar entre vivo e morto e possuem cadáveres ou mesmo objetos. Presos em um corpo morto e incapazes de deixá-lo, esses demônios menores ficam loucos, e esses mortos-vivos atacam tudo e todos.

 

Eventualmente são recebidos pela luz de uma lanterna que os ilumina. Surpresos ele preparam para sacar as armas, mas o comandante Alan coloca-se à frente, gesticulando para que cessem.

 

“Para seres Santo, precisas viver corretamente”, diz uma voz vinda de trás da luz.

 

“Pois apenas os justos conhecerão ao Criador”, retruca Alan, que o esperava.

 

A luz da lanterna é virada para uma parede, e suas laterais abertas, revelando ali um guarda da cruz solar, de pele oliva, acompanhado de uma outra guarda mulher. Ambos não parece surpresos.

 

“Iassin. Lucia”, cumprimenta Alan, sempre sucinto.

 

“Comandante. Contento-me que tenham chegado. Temos muito o que discutir.”

 

 

Florestas do Norte - Nigallin - Viajante 3 de 589E

 

É pouco depois do amanhecer, tão cedo que o sol ainda não conseguiu queimar a neblina que recobre a floresta. Sobre uma colina dos povos antigos, um local que talvez tenha sido sagrado antigamente, um homem permanece ajoelhado perante uma tumba. O homem é Algus Berston, antigamente comandante da Brigada dos Homens Mortos. Os dias não foram gentis com Algus, mal-barbeado, vestindo uma armadura leve e gasta, e profundamente abalado perante o túmulo de sua irmã.

 

“Gillian”, diz, baixo, lágrimas de amargor correndo por seu rosto. “Oro que me perdoe. Pensei em lhe vingar rapidamente, e ainda assim aqui estou, minha espada embainhada junto a tua... Eu falhei contigo... mas não falharei novamente. Seus assassinos sentirão o sabor de minha vingança...”

 

“Tu falas de um feito além de tua capacidade”, fala uma voz masculina de trás do comandante.

 

“Mostre-se!”, grita o comandante, enquanto se levanta e saca uma das espadas irmãs da cintura, que brilha com eletricidade.

 

Subindo o único caminho da colina atrás dele se encontram duas pessoas. Ambos portam armaduras de cavaleiro douradas, cobertas com tabardas longas, grossas e com capuz, de cor roxa e decoradas com dourado: Cavaleiros divinos.

 

“Abaixe tua arma”, diz pacificamente um deles, um homem de aparência elegante e cabelos pretos. “Não tenciono cruzar espadas com o lendário líder da Brigada dos Homens Mortos”, ele faz uma pausa, “Mesmo que a Brigada agora faça jus a seu nome...”.

 

O comandante cerra os olhos perante o último comentário, mas nada diz, permanecendo com a espada voltada para ambos. Sua companheira, uma cavaleira divina de longos cabelos loiros, lhe repreende com um olhar.

 

“Perdoe-me”, diz o homem. “Minhas palavras salgam feridas ainda abertas. Tal não era minha intenção; teus homens morreram com valentia.”

 

“Revelem teu propósito de uma vez”, corta o comandante.

 

“Meu nome é mattheus, e essa é Liana”, diz o cavaleiro, apontando para sua companheira.

 

“Viemos em nome de outra pessoa, e nosso propósito é simples: Encontrar-te. Esperávamos persuadir-lhe para que trabalhemos, juntos, em nome de um objetivo comum.”

 

“Objetivo comum?”, pergunta o comandante, e então dá uma longa risada de escárnio. “Que brincadeira é essa? Recuperar o ouro pela minha cabeça não é meu objetivo, caçadores de recompensa.”

 

“Perdoe minha presunção, mas as lágrimas em teu rosto não nasceram de risada”, adiciona a cavaleira, sem mudar o tom.

 

“Não é ouro que desejamos. É nosso desejo sim reconstruir Eimland; arrancar suas fundações, e garantir que ela não seja feita escrava da nobreza uma segunda vez. E se não me engano, comandante, era exatamente ISSO o que procurava, não?”

 

“Tendes minha atenção”, responde o comandante, abaixando a arma.

 

“Nossos ideais não são tão diferentes”, diz o Mattheus. “Uma chama queima em ti, da mesma forma que queima em nós. Tua força, tua paixão, teu espírito. Tais qualidades seriam muito bem-vindas em nossa causa.”

 

“Vós tencionais usar-me...”, conclui o comandante.

 

“Há duas faces para cada moeda, comandante”, diz a mulher, serenamente. “Não consideras o outro lado? Una-te a nós, e nosso poder torna-se teu. Tens tu sozinho a força necessária para vingar Gillian?”, adiciona, “Tens tu, sozinho, o poder para mudar Eimland?”

 

O comandante olha mais uma vez para a tumba...

 

 

Castelo de Addford - Himline - Viajante 3 de 589E

 

Seu nome era Iassin, um espião mercenário que Alan e Lady Sifa haviam contratado em Barrault. O homem e sua pequena equipe haviam misturado-se entre os soldados como não-combatentes e viajantes plebeus acompanhando a comitiva até Addford. Ali mudaram de disfarce, e infiltraram-se entre os soldados da guarnição. Desde então, tem discretamente tomado notas e comunicando-se com Lady Sifa.

 

São informados que o cavaleiro do dragão Dryfolk foi levado para a sala de tortura diversas vezes, e que a última foi pela manhã de ontem. Não era ele que o levava ou trazia de volta, mas ele imagina que se ele não estava em sua cela, de certo sua “sessão” não havia terminado ainda. O espião ainda aponta que o castelo está guarnecido apenas com um contingente mínimo, e que a maior parte das tropas está espalhada pelo ermo. Mesmo os guardas da cidadela estão em exercício com uma parcela dos Lâminas Cinzas, fora das muralhas. Alguns dos altos em comando dos Lâminas Cinzas estão presentes, mas não Le’Berry.

 

Finalmente, Iassin soube que a princesa foi confinada à ala Oeste da fortaleza. Apenas guardas de confiança patrulham essa área, então ele não conseguiu infiltrar nenhum de seus homens ali, mas acredita que foi capaz de comprar alguns desses homens de confiança para não estarem em seus postos por uma hora, plano o qual os Dragões levam para frente.

 

Iassin e os seus preparam o terreno, incentivando os contatos que fizeram a deixarem seus postos discretamente. Existe algo quanto à sobrevivência quando um homem que você conversava e considerava seu colega de trabalho, subitamente revela um olhar mais sombrio e lhe diz “seria bom você deixar seu posto por uma hora” que faz com que pessoas concordem. Piedade para guardas não é o comum em sequestros e invasões, afinal.

 

Param quando adentram pela grande cozinha da fortaleza, completamente evacuada, e aguardam o retorno de Iassin. Mas, para sua surpresa, pelas entradas laterais saem quatro soldados dos Lâminas Cinzas, do outro saem dois soldados acompanhados de Edward, um dos tenentes dos Lâminas Cinzas e antigo irmão-em-armas do grupo, um cavaleiro rúnico armado não apenas com o poder de sua magia de guerra mas com um machado de duas mãos digno de um bárbaro selvagem. Do outro lado Alan e Lian são flanqueados por um soldado de cada lado, bem como Zackary Le’Berry, que calmamente entra por uma das portas de madeira com uma espada apontada para um desarmado Iassin.

 

“Comandante”, diz respeitosamente Alan.

 

“Alan... Não suponho que faça sentido algum tentar convencer-lhe a parar com essa estupidez uma terceira vez”, diz o velho comandante.

 

“Deveras, senhor, não faz.”

 

“Edward... a quanto tempo”, diz, educadamente, Verner, sacando um machado e colocando-se de frente para o antigo parceiro em armas. “Estás com o número de seguidores diminuto ao ponto de precisar utilizar-se de segundo nível, comandante?”, adiciona.

 

“Olá para ti também, sacerdote”, responde o homem, não deixando-se ofender. “Nada pessoal”, completa a todos.

 

“O que fizeste com a princesa, ser?”, demanda Lian, sacando uma espada.

 

“Eu não fiz nada com nossa majestade. Ela está segura, por enquanto. Onde está a gema?”

 

“Segura, bastante longe daqui”, responde Alan.

 

“Poderíamos parar com as fintas cansativas? Depois de tanto tempo eu achei que mereceria pelo menos isso de teu respeito, garoto! Estão andando com aquela que a roubou, certamente que a gema não está longe!”

 

“Se desejar a joia, ser, vai ter de tirar ela de nossos corpos sem vida!”, desafia Lian, apontando a espada para Le’Berry. “Erga tuas armas, ser!”. Alan reage porém, e estica um braço na direção dela, tentando não fazer com que isso se torne um derramamento de sangue.

 

“Não é tarde demais para mudar de ideia Lian”, menciona o general. “Retorne comigo para Blackfen e teu lorde irmão perdoará seus crimes. Ele mesmo me disse isso, com essas próprias palavras.”

 

“Não tenho interesse algum com meu irmão, ser”, rosna Lian. “Minha irmã está morta por culpa dele e suas manipulações.”

 

“Diabos garoto, esqueça Drakenmont! Não havia como evitar aquilo! Tu pintas os feitos de teu irmão como manipulações malignas, mas um homem não come omeletes sem quebrar alguns ovos”, ele aponta para os homens de Iassin, desarmados. “Sangue é o preço do progresso; a tinta com que as páginas da história são escritas! Olhe em volta, filhotes”, diz então, apontando para os demais. “Eimland apodrece por dentro; teu irmão tenciona arrancar a podridão de suas raízes, nem que tenha que sujas suas mãos de terra para tal!”, ele então aponta a espada para o jovem. “Tu és um Calhart, um lorde entre os lordes. Tu tem um dever para com teu nome, e é teu destino cumprir esse dever!”

 

“E era meu destino ver Meline morrer? Não, o destino não teve parte nisso, Le’Berry... Meline morreu por que eu não tive a coragem de salvá-la”, ele olha para Karissa e então de volta para o general. “Minha inação a matou, e não cometerei o mesmo erro duas vezes”.

 

“Então tu és um tolo! O que é a vida de uma garota quando pesada contra o bem maior?”

 

“Não há bem ALGUM nisso!”, grita Karissa, desafiando o general. “Apenas intriga, apenas morte!”

 

“E eu NÃO ficarei parado enquanto inocentes sofrem em nome de seu “bem”!”, completa o jovem Calhart.

 

“Então tu selas teu destino”, diz amargamente o general, segurando a espada mais firmemente, pronto para desgostosamente atacar.

 

“General. Senhor”, intervém Alan, comprando a atenção temporária do velho comandante. “Resolvamos nossa contenda preservando a vida de nossos homens. Um embate entre comandantes. Entre nós dois. Se eu perder, meus homens, e a guarda do dragão, postam as armas, e poderá fazer conosco o que considerar certo. Se eu ganhar... teus homens saem de nosso caminho.”

 

O general cerra os olhos.

 

“Não estará quebrando seu contrato, senhor”, o cavaleiro negro adiciona.

 

“Nem tudo são contratos, Alan. Em algumas coisas as pessoas acreditam.”

 

“E eu acredito que o senhor não queira ceifar a todos nesse ambiente, caso o contrário já o teria feito.”

 

O general meneia a cabeça, e então convoca Edward, seu mago de guerra. Alan chama Eric, que assume posição equivalente. Os dois homens fazem um acordo então, que será seguido pelos magos de guerra e forçados a seus homens, e não prosseguem antes de terem a palavra de tanto Lian quanto Karissa de que atenderam a vontade dos dois comandantes. Por fim, os dois homens se encaram.

 

“Não pegarei leve contigo dessa vez, Alan. É tua uma chance de provar seu valor.”


Chamar a luta ali de “sangrenta” seria uma compreensão errônea do ocorrido. O embate é brutal. Apertados em pouco espaço, acuados e determinados, ambos os lados com uma selvageria vivaz. Alan se segura contra Le’Berry e lança sobre ele tanto golpes quanto feitiços, fintas e bloqueios. Os golpes são duros, mas os dois homens se defendem. Alan e hábil e mais jovem, e Le’Berry não porta a espada rúnica amaldiçoada, mas ainda assim o cavaleiro negro logo nota que não é páreo para seu algoz.

 

Dois terríveis minutos se passam, e Alan se vê jogado contra a parede, sangue escorrendo de seu elmo. Sabendo que não é capaz de vencer Le’Berry marcialmente, e que a vontade do homem é grande demais para sobrepujar com feitiços normais, ele faz o impensável: Utiliza de magia de sangue proibida, que precisa de uma conexão simpática para funcionar. Conexão a qual Alan tem a mais forte possível: Le’Berry é seu pai.

 

É grotesco. Os olhos do cavaleiro negro enchem-se de sangue conforme ele concentra sua força de vontade, e em um rugido energético e movimento brusco as veias de Le’Berry estouram todas por debaixo de sua pele, seu sangue forçosamente ensanguinhado pra fora, como se mil cortes fossem feito ao mesmo tempo. Em um grito de dor horrível, o general cai para trás.

 

Imediatamente alguns dos Lâminas sacam armas, mas a voz potente de Edward corta o ambiente: “NÃO!”

 

Caído no chão, perdendo muito sangue, o general se arrasta para trás com o que sobrou de força de um dos braços. De primeiro, Lian pensa que o general tentava algum truque, mas logo nota que ele apenas desejava colocar-se recostado contra a parede.

 

“É o fim, general”, diz Lian, se acocorando ao lado do homem, acompanhado de Alan, que se ajoelha próximo, silencioso, de cabeça abaixada e contendo o choro.

 

“...é o que parece... filhotes tolos...”, ele tosse e cospe sangue. “Ajude-me aqui, sim?”, pede a Lian, que lhe ajuda a soltar o elmo e tirar a coifa de malha, para respirar melhor, “...o caminho que estão seguindo os levará... a ruína... Mas um homem deve fazer... o que acredita... o que precisa fazer... E eu preciso... fazer isso...”

 

O general então lhes revela sobre o plano orquestrado pelo estrategista Vincent Calhart, de permitir que um sequestro da princesa em nome de Falonde ocorresse, matar os atacantes frontais e permitir os da retaguarda a capturarem, deixar que passassem por terras civilizadas e que fossem reconhecidos, e então livrar-se da princesa e todas as testemunhas, inclusive os homens da retaguarda. Também fala do encontro com Vincent após a intromissão de Ian e a traição de seus tenentes, do que Vincent dizia sobre seus irmãos, um uma desonra para a família, outro Devoto demais para ser confiável, e que o Cardeal tinha a princesa e estaria o esperando. Fala sobre a viagem até Himline e o encontro com o Cardeal, a ideia de deixar Karissa “escapar” e usá-la como isca; de fingir a execução de uma falsa princesa e retomar a Gema; e finalmente assistir o que o cardeal fez com o cavaleiro do dragão Dryfolk em vingança.

 

“Eu sequestrei nobres”, diz, rosnando para controlar a dor, “Eu arrasei com a maldita harmonia... Eu matei os feridos, e aqueles que haviam se rendido... Eu queimei plantações, e salguei os campos dos inimigos... Eu ceifei crianças, semeei as sementes da discórdia...”, ele então fala, mais firme, com um sorriso sangrento. “E eu não procuro redenção... Sempre fiz o que era necessário... se não me orgulho de meus atos, defendo seus resultados... Tome isso Lian”, ele estica então o elmo. “Faça valer minha fama...”

 

“Ninguém de pé, general”, diz Lian, respeitosamente tomando o elmo do moribundo.

 

“De tudo o que fiz... só me arrependo de uma coisa...”, ele diz, puxando um pingente do pescoço e pedindo a ajuda de Lian para arrebentar sua corrente. “Verner...”, ele chama, forçando o selvagem, que estava longe e de costas, não querendo observar a morte do nêmesis e mentor, a se aproximar e se abaixar perto dele. “Meu filho... meu bastardo... Entregue isso à Lária. Diga a ela que me orgulho. Que ela me deu meu melhor filho... Ele tornara-se um Cavaleiro negro... nós não... ficamos em bons termos...”

 

Então diz, com o fim de suas forças, “Agora vão... salvem o mundo se quiserem... apenas me deixem... morrer... em paz...”

 

O general abaixa a cabeça pela última vez, sangue escorrendo em grosso fio de sua boca, e todos ali pagam seu minuto de respeito pelo homem caído.

 

Le’Berry está morto, e os Lâminas Cinzas cumprem sua parte do acordo. Vão se retirar, de forma discreta, e deixarão que mantenham seu plano atual. Edward lhe dá uma hora para fazerem o que tiverem de fazer, antes de que um alarme seja soado.

 

“É o máximo que posso conseguir. E o dobro do que Ele lhes daria.”

 

 

***

 

Sobem castelo acima, encontrando muito menos resistência os guardas do que seria esperado. Ou o a Cruz Solar em geral não sabe dos feitos sórdidos do Cardeal, e dentro de uma ordem da mais nobre honra e estirpe e com os melhores ideais louvados pela general Liana Torseau, e apenas alguns duros homens de confiança estão lidando com esse assunto; ou o cardeal esperava o ataque deles e propositalmente incentivou uma guarda mais relaxada. Provavelmente ambos.

 

A torre com o quarto do cardeal não tinha guardas, e parecia que a maioria dos guardas do castelo estava envolvido em um exercício de rotina nos campos de justa imediatamente fora da cidade, com pouco mais do que alguns sacerdotes, estudiosos e o ocasional guarda de portão ali; a maioria lidando ou assistindo os exercícios, um espetáculo em si.

 

Abrem então a sala do cardeal, encontrando um bonito e grande escritório com estantes e uma longa mesa de 12 lugares. Do outro lado do escritório uma parte separada por cortinas havia acomodações semelhantes a um quarto, simples e até mesmo espartanas, as acomodações de um guerreiro, e não de um nobre, sem nenhuma da opulência comum a castelos.

 

O homem não estava lá, mas logo o velho guerreiro revela-se, subindo pelas escadas espirais de onde vieram, em sua armadura completa de batalha; sua pesada maça de duas mãos pousada a seu lado.

 

“Eu vejo que a espada de Le'Berry não foi páreo para suas palavras”, diz o Cardeal, dirgindo-se a Lian. “Mas darei-lhe crédito; talvez a culpa estivesse em seu adversário: Sangue Calhart tende a não se deixar espirrar facilmente... E ao que parece mesmo quando enfraquecido com o de uma simples cortesã.”

 

“Teus atos são sem honra, eminência. O mundo saberá do que fizeste sob esse castelo”, diz Lian.

 

“Tu pagarás pelo que fizeste com Alissas”, ameaça Katherine.

 

“Basta de vocalizações, crianças. Vossa intrusão superaste em muito minha hospitalidade. Deixem a Gran-Móx, e partam de Addford. Uma oferta extremamente generosa”, ele faz uma pausa dramática, “E minha última.”

 

“Onde está Lady Valerie?”, pergunta, em tom de ordem, Alan.

 

“Tencionam libertá-la? E então o que?”, o homem pergunta, em tom de provocação. “Tu voltaste as costas contra os teus. Não se pode lutar uma guerra sozinho, filhote”, ele então se direciona a todos, em um tom de discurso. Suas palavras são eloquentes e sua voz poderosa, não é a toa que é um alto impositor. “A princesa foi para Falonde. Nossa alteza escolheu aceitar a ajuda de nossa mão, poderosa, ao invés de vossa, frágil.”

 

“Mentiras!”, grita Karissa.

 

“A princesa tomou o primeiro de seus passos em direção ao trono. Mas ela precisará de uma mão firme para guiá-la; e a tua mão falha. Quem melhor, então, do que nós para estarmos ao seu lado? Ela reconheceu tal - por que vós não reconheceis?”, ele responde. “Esqueçam esse embate insano; pensam que mera VONTADE basta para lhes guiar até a vitória? Mesmo a mais forte das vontades precisa de Força. E vós não tendes força alguma”, continua, poderoso, parecendo ocupar toda a sala com sua retórica. “Olhe para mim, Lian Calhart! A idéia de superar teus irmãos não lhe chama atenção? E tu Le’Berry, de sentar no trono de tua família, montado sobre os corpos daqueles que lhe tiraram teu direito? Nós não nos importamos menos com o mundo que vós. Juntos podemos mudar Eimland para o melhor!”

 

“Como ousas? Tuas palavras mancham tua honra, falso homem santo. Saque suas armas!”, grita o contrariado Eric.

 

“Temo que minhas palavras são desperdiçadas convosco então”, diz o Cardeal..

 

“Tu tencionas trazer guerra e destruição a essa terra”, grita Lian.

 

“Tua forma de “mudar o mundo” é o banhando em sangue. O sangue de um povo inocente e cansado”, adiciona Katherine.

 

“Cadáveres e sangue são os blocos e a argamassa que cimentam o novo futuro para essa terra!”, grita, como se possesso, ecoando pelo ambiente, o cardeal. “A guerra é inevitável, uma ferramenta sangrenta e necessária para nosso destino. Não sejam ingênuos.”

 

 “Realmente acreditas ser capaz de mudar o mundo? Se o faz és então mais ingênuo do que diz sermos!”, esbraveja Lian.

 

“Humildades mal colocada para alguém que possui o artefato que carregam”, grita, enfurecido o homem. “A Móx que seguram pode distorcer a própria realidade, quem dera uma simples sociedade mortal!”. Ele então pega de uma gaveta a grande esfera vermelha que havia mostrado outra vez, e o aponta para eles. “Uma ação vale mais do que mil palavras, não? Vou dar-lhes uma pequena demonstração do que estou dizendo!”

 

Quando ele fala isso a esfera brilha em um flash de luz vermelha, e tudo ao redor muda. A realidade parece derreter em volta deles, conforme o ambiente torna-se fosco derretido, com a imagem de uma paisagem infernal, colinas e montanhas negras cercando planícies rochosas e afiadas de vermelho ferrugem; rios de lava cruzando o ambiente e o céu um cinza escuro banhado da luz vermelha de um sol morrendo. O próprio cardeal também muda. Como as transformações de Verner seu corpo também muda rapidamente, seus contornos se tornando algo de mais de quatro metros de altura; uma coisa monstruosa com patas de inseto, corpo musculoso, presas e chifres, com fogo queimando nas ventas e saindo de sua boca; algo completamente saído de um pesadelo terrível, algo que ataca a mente dos presentes com o terror de sua própria existência.

 

“Encarem a Fera da Guerra”, ruge o monstro. “O próprio BREXOUNIHR!”

 

Eric olha em volta, e vê seus companheiros lutando contra o horror absoluto da cena, e ele mesmo manifesta um feitiço de lâminas cristalinas em volta de si. “Tu não tendes lugar nesse mundo, demônio!”.

 

“Demônio? Muito pelo contrário! HAHAHAHA!!!”

 

Lutam por suas vidas então, a poderosa carne da criatura defletindo a maior parte dos golpes, que não conseguem atravessá-la. Por mais que sejam mais rápidos que o terrível monstro, a criatura é um guerreiro muito hábil para seu tamanho, e fica bastante claro que o primeiro erro em uma defesa significará o fim perante sua espada de três metros de comprimento. Os golpes vorazes cortam a mesa pelo meio, destroem estantes e escudos à sua frente, e o horror absoluto da situação não ajuda os heróis a lutaram corretamente. Logo fica claro que mesmo em seu maior eles não seriam capazes de enfrentar a Fera da Guerra em combate.

 

O fim parece próximo, e os heróis encontram-se à beira da derrota, quando Eric entende que a gema vermelha que tentara roubar da criatura estava ligada à sua vontade e não seu físico, uma relação mais complexa que causalidade, e que lhe alimentava e restaurava. Elevando sua mente para além de algo causal, ele informa.

 

“A gema, Calhart. Precisamos neutralizar o poder da Gran Mox!”

 

Lian toma a gema à sua mão, e quando aponta a gema para a Fera, essa brilha com uma luz muito mais forte, energias girando em volta dela e parecendo reagir com o demônio. “MUDANÇA? Gaarrhhh!”, grita a fera, cobrindo o rosto com a mão perante o assalto de luz. A luz não parece exatamente o enfraquecer, mas sim o choque de sua presença o atordoa como alguém saído do escuro e temporariamente cego pela luz. Karissa aproveita o momento e corre pelas patas da criatura, subindo as suas costas e cravando sua espada com as duas mãos, por mais que seu braço do escudo esteja quebrado. A fera urra, a arrancando das costas e abrindo espaço para mais golpes.

 

“Sim, alimentem-me com sua ira!”, a fera grita, entre urros e risadas terríveis, mostrando sinais de ferimentos conforme cai de joelhos, mas com os mesmos claramente se fechando. “Mostrem-me sua grandiosidade”, ele grita.

 

É então que Katherine nota a sabedoria nas palavras da criatura. As gemas não são “combustível” para a criatura; a guerra é. Jamais conseguirão derrotar a Fera da Guerra com a força de seus braços apenas. Como um troll do pântano, que precisa ser queimado uma vez que esteja no chão, ou sempre irá regenerar-se, agora que o monstro está de joelhos eles precisam de algo a mais para derrotá-lo. Algo que o enfraqueça. Parece louco, mas ela nota que precisam depor suas armas e manter paz de espírito, derrotá-lo com paz. Não apenas um armistício, abaixar armas, e sim a verdadeira paz, a tranquilidade de espírito.

 

“Abaixem as armas”, diz, tentando remover os pensamentos ruins de sua cabeça. “Nunca poderemos derrotar a guerra apenas com a guerra.”

 

Verner é o primeira a entender: “A paz precisa começar de algum lugar...”, ele diz, abaixando o machado e ajudando Eric a se levantar.


“Faça o que ela disse, Zigrun”, diz Alan, cuspindo sangue.

 

“Como??? Estás insano milorde???”, esbraveja Zigrun.

 

“Não Zigrun. É o que ele deseja. Se continuarmos a enfrentá-lo, será nosso fim. Uma hora a guerra TEM que parar.”

 

Um a um os Dragões abandonam o combate e soltam as armas, negando as provocações da criatura, e conforme ela urra, torna-se mais fácil abandonar os sentimentos de agressão.

 

“Destruirei a tudo e todos que amam! Tentem me impedir se puderem!”

 

“Não. Acabou. Tu estás derrotado”, responde Lian.

 

A criatura então parece perder as forças, não se alimentando mais da ira em volta. “Quão irônico que eu, imortal Fera da Guerra, encontre meu fim pela espada de mortais... e antes de meu Mestre se erguer... Pelo Anjo Salvador!”, ele grita, e então sua forma explode em luz vermelha, deixando para atrás apenas o corpo mutilado do cardeal; a gema vermelha pousando suavemente no chão.

 

***

 

Fortaleza Impenetrável de Falonde - Falonde - Viajante 13 de 589E

 

“Meus conselheiros afirmam que foste tu que resgastaste Princesa Valerie. Eu gostaria que me falasse mais sobre”, diz Duque Cydion Drewsaw de Falonde, em sua sala de trono. A sua volta três de seus conselheiros, Chanceler Genét, Conde Anaxander e Masrquês Bartholomeu, observam cuidadosamente o cavaleiro.

 

A frente deles Ian se encontra ajoelhado em respeito. Ele trocara a armadura cinza genérica por uma bonita mas gasta armadura negra com detalhes no roxo de Falonde, a armadura dos Cavaleiros das Ovelhas Negras, os cavaleiros de honra do condado de Táurida. “Eu sou Ian da família Moldon, um tenente das Ovelhas Negras em serviço de milorde Barão Konslau de Theodosia”, ele se apresenta. “Sua Excelência me despachou para resgatar a princesa Valerie tão logo soube de seu sequestro, e assim o fiz, disfarçado como um homem da Lótus. Uma verdadeira ovelha em pele de grifo, milorde...”

 

“Moldon, tu diz?”, indaga o chanceler Genét, um homem de meia-idade em roupas de nobre. “Esse é um nome que nunca ouvi antes...”

 

“De certo devido a nosso antigo isolacionismo tauridano...”, dispensa de passagem Ian, até mesmo com suave sotaque.

 

“Era de minha crença que o Barão Konslau e seus homens caíram em batalha contra o Olho a uma quinzena atrás”, comenta o Duque.

 

“De fato, milorde”, Ian responde, ainda sem erguer os olhos. “As más novas me incentivaram a retornar com ainda mais celeridade.”

 

É então que um homem de idade mais avançada, enrugado e careca, e com uma larga barba branca, entra no recinto. Ele porta as roupas opulentes de um bispo. “Excelência, a princesa dorme como se entre os mortos; exausta de sua longa jornada”, faz uma pausa, e então sua expressão suaviza-se. “Mas saudável.”

 

“Graças à Alene, bispo. Graças à Alene, e a esse jovem cavaleiro”, comenta, aliviado, do Duque, fazendo o gesto de Alene e sendo acompanhado pelos outros membros da corte que observam a cena.

 

“É verdade que trouxe um prisioneiro?”, diz conde Anaxander, o Santo de Ferro, um homem poderoso em armadura de gala, domo de barba e cabelos brancos compridos.

 

“Sim, é, conde”, diz Ian levantando-se e apontando para os soldados à porta. “Tragam o prisioneiro!”

 

Um homem é trazido por dois soldados de baixo nível, um roliço loiro e uma jovem de cabelos curtos trazem um homem vestindo as roupas de soldado raso de Falonde; armadura acolchoada com o brasão de Falonde no peito. O homem está sujo de viagem, com os pulsos marcados por corda e com claros hematomas de combate. Sua cabeça é raspada e parte do lado esquerdo de seu rosto está queimada. Fernando.

 

“Conte-nos sua razão de ter atentado contra a vida da princesa”, exige Ian, e perante o silêncio do prisioneiro de joelhos diz novamente. “Não faça-te de rogado homem. Estás perante à autoridade. Fale.”

 

“Era para manchar o nome de Duque Drewsaw, para afastá-lo das graças de Doleris”, diz o soldado, que então olhara para o duque. “Eu só estava seguindo ordens, mas entendi que o objetivo do plano era manchar sua reputação e negá-lo a posição de Regente do príncipe, milorde...”, diz, e então abaixa os olhos novamente.

 

“E quem lhes deu essas ordens? Certamente que homens do duque Igor Volstan, correto?”, indaga Ian.

 

“Engana-se milorde...”, diz o soldado.

 

“Então quem, homem?”

 

“Um... conselheiro próximo ao duque... buscando o apoio de Volstan...”, responde o soldado, muito humilde em sua fala.

 

“Loucura!”, brada o chanceler Genét. “Nenhum de nós trairia nosso Duque! Silenciem esse homem, que não sabe o que fala”, adiciona, ofendido.

 

“Não. Eu preferiria ouvir sua história”, entra na história o Duque.

 

“Milorde, esse palhaço lhe ofende em sua própria corte. Ultraja a ti e teus seguidores fieis, galhofa em teus salões!”

 

“Não repetir-me-ei Genét”, dispensa Drewsaw. “Prossiga” diz ao soldado, que fica em silêncio.

 

“Quem foi?”, pressiona Ian. “Vamos, diga o nome do homem que deu tal ordem a seu capitão.”

 

“Eu...”, treme o soldado, olhando para Ian “Eu teria tua proteção milorde? Minha vida seria poupada?”

 

“Tu estavas apenas a seguir ordens. Pela minha honra de cavaleiro, sim, tens minha proteção. Agora fale!”

 

O soldado suspira, e então aponta com o olhar, “...o homem logo ao lado do duque... chanceler Genét.”

 

“O que???”, ira-se o chanceler, cerrando os dentes, “Como ousa! Eu nem mesmo te conheço, ladino!”

 

Ian se aproxima do chanceler e indaga, agressivamente, “Quem lhe ordenou tal? Volstan? A rainha?”

 

“Cesse imediatamente com essa farça, filhote! Eu não tenho nada haver com isso. Fui leal a meu senhor por toda a Guerra dos 50 Anos, e NÃO serei ofendido por um farsante como esse ladino!”

 

“Trair seu lorde senhor é um crime imperdoável, chanceler!”, grita Ian, andando rapidamente em direção ao chanceler e segurando o punho da espada.

 

Ian para quando o homem saca a espada e aponta para Ian. Um cavaleiro perto do Duque também saca a espada e se coloca entre ele e o chanceler.

 

“Afaste-se de mim, aproveitador. Eu não sei do que estão falando. Milorde!”

 

“Abaixe tua arma chanceler...”, avisa o general Anaxander, sacando a espada e mandando um calafrio geral pelas espinhas do ambiente, ao ponto que a maioria dos nobres presentes dá um ou mais passos para trás.

 

“Não me tomarão sem uma luta, traidores!”, grita o chanceler, apavorado apontando a espada para o Santo de Ferro.

 

“Que assim seja”, diz baixo Ian e aproveita o momento de distração provocado pelo Conde e parte sobre o chanceler, tirando sua espada de lado com um golpe tipicamente de Falonde e então em uma riposta rápida cravando a espada pelo seu peito. O homem só tem tempo de murmurar “...manipulador...”, antes de cair ao chão, sem vida.

 

O povo em volta se choca, e as vozes começam conforme os nobres falam entre si. Dois cavaleiros juntam-se a Ian e verificam se o chanceler está verdadeiramente morto. Anaxander guarda a espada, e Ian faz o mesmo após limpar a sua.

 

“Genét... o que ocorre com essa terra...?”, murmura o Duque, tão chocado quanto sua corte.

 

“Me perdoe se presumo demais, excelência, mas agora não é hora de questionamentos desse tipo”, diz Ian dando dois passos para frente e fixando os olhos no pescoço do Duque, como um bom nobre não olhando seu superior. “O chanceler estava trabalhando com Volstan a fim de atentar contra a vida da Princesa! A Ordem da Lótus deve marchar à Doleris imediatamente, milorde. Dê a seus inimigos tempo para se recuperarem do sucesso do resgate, e certamente tentarão incriminar-lhe pela vilania do chanceler!”, ele diz, virando-se para a corte quando fala. “A Rainha e seu vil irmão tentarão voltar o reino contra ti. Vossa excelência deve golpeá-los antes que tenham a chance de fazê-lo”, ele então se volta para o duque, e diz, eloquente e firme. “Negue o príncipe, e coloque a princesa no trono!”

 

O duque olha em volta por alguns instantes, para seus assessores, incluindo o marquês Bartholomeu, que concorda com um aceno. Diversos dos nobres clamam por justiça contra tamanha covardia e desonra, mas poucos acompanham o general Anaxander em sua consternação.

 

“Juntem o exército!”, grita o Duque.

 

***

 

Drewsaw marchou com uma poderosa delegação à Doleris e acusou a rainha Eldereth de ordenar o sequestro da princesa; a tomando como prisioneira e a enviando para a fortaleza de Bel'Toras. Com apoio do Conselho, Valerie foi coroada como Rainha de Eimland.

 

Duque Volstan, porém, insistiu que Kylan era o sucessor legítimo, e o fez ser coroado como Rei. Ele tornou-se então Regente Guardião do infante rei. Volstan mandou suas tropas das Lâminas Gêmeas à Doleris para lutar contra a tirania de Falonde, tencionando reaver a Rainha Mãe, tudo em nome do Rei. Dividida, Eimland luta consigo mesmo em uma cruel guerra civil.

 

Esse é o começo do sangrento capítulo da história de Eimland que o que viria a ser chamado de a Guerra das Duas Coroas.

 

***

 

Três meses se passaram desde o começo da Guerra das Duas Coroas. Conforme os dias passavam o fronte de batalha se expandia pela nação, bem como a intensidade e selvageria do conflito. Sem nenhuma vitória decisiva de nenhum dos lados, tanto os exércitos de Volstan quanto de Drewsaw eram aos poucos exauridos. Fome, violência e impostos elevados castigam a população recém-saída de uma guerra e jogada em outra...

 


 

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