Anjo Salvador - 12  

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 Sessão 12


Cidade Livre de Sildalar - Himline - Ladrão 27 de 589E


“A pedra, soldado”, diz Danny, apontando para um de seus asseclas, que se aproxima de Lian, que afasta a pedra.

 

“E que garantia teremos de que nos deixará ir embora tão logo lhe entreguemos a esfera?”, questiona o Calhart.

 

“Bem, não terão”, responde casualmente o homem. “Mas também não desejo uma luta. Alene sabe quantos recursos gastei atrás dessa maga infernal, e o desastre que foi cruzar espadas convosco. Uma luta aqui seria uma vitória para mim, mas não sem o custo de anda mais homens; valor que estou pouco interessado em pagar.”

 

“Então deixará que todos vão? Isso inclui Rose-Marrie e Dion”, rosna Alan.

 

“É claro que sim.”

 

“E não tente distorcer nosso acordo, Garreau. Partir em segurança significa não ser molestado por ti ou seus homens, não apenas sair do armazém e sermos esfaqueados nem a dez passos”, completa Lian.

 

O homem parece ofendido. “Por favor garoto. Achas que sou o que, um demônio de além do Véu tentando distorcer um acordo de sangue? Disse que partirão, então partirão.”

 

“Muito bem então. Solte Dion e tragam a garota até mim”.

 

Rose-Marrie é levada até ele, e tensamente a esfera é entregue a um dos bandidos, um homem duro com cabeça raspada exceto por uma faixa. O homem então entrega a esfera para Danny, que focando-se exclusivamente nela segue para fora do armazém, acompanhado de três de seus homens. Os outros porém ficam para trás, ainda de armas voltadas para o grupo.

 

“Finalmente, a pedra sagrada. O cardeal ficará muito contente, e muito generoso”, diz ele, contente, ao sair.

 

“O que?”, vocaliza Katherine, tentando levantar.

 

O homem para e se volta para eles. “Oras, garota. É exatamente essa a razão por que não passas de uma filhote. Considera-te sábia e dona de sua própria vida, mas é jogada como as peças de um xadrez. O próprio Cardeal está atrás dessas esferas sagradas. Se eu soubesse antes que a esfera estava em vossa posse... ah, tudo teria sido diferente...”

 

“....realmente seria...”, diz Lian enquanto segura a ferida Rose-Marrie.

 

“Tuas palavras ofendem a honra de um homem santo! Tua blasfêmia não será perdoada!”, brada Eric.

 

“Não acreditem em mim se não quiserem. De nada faz diferença. Agora, se permitem, tenho outros assuntos a lidar” ele diz, e coloca-se a sair. À porta, ele olha para trás e diz baixo. “Matem todos.”

 

“Tu deste tua palavra!”, grita Arthur, que apenas não saca a espada pela ameaça da proximidade dos oponentes.

 

“Eu menti. Se tivesse mais tempo para viver aprenderia a esperá-lo”, diz ele em tom de dispensa, enquanto se retira da vista dos heróis, deixando-os ali cercados por talvez uma dúzia de homens e mulheres.

 

“Não é nada pessoal”, diz o homem da cabeça quase raspada, acenando para seus homens fecharem o círculo.

 

Conforme a tensão se eleva ali, Lian toma a palavra.

 

“Pensem bem no que estão fazendo. Seu chefe não se importa com a maioria de vocês, e está perfeitamente disposto a sacrificar diversas de suas vidas por uma chance de ganhar. E caso usem suas armas teremos de usar as nossas.”


“E por Alene, vivemos tempo o suficiente como mercenários para lidarmos com bandidos como vós”, adiciona Arthur, se aproximando de seus colegas.

 

“E vós achais que o fazemos por gosto? Sabemos muito bem que somos nada além de asseclas”, responde o homem.

 

“Então por que jogais vossas vidas fora?”, indaga Alan.

 

Um dos homens dá uns passos para trás, intimidado pela fama dos heróis.

 

“Eles tem razão, chefe... Eles ERAM do grupo do Le’Berry afinal”

 

“E vocês sabem do que Le’Berry era capaz”, adiciona o cavaleiro negro.

 

“Não importa. Vocês não sabem o que Danny faria conosco, ou ainda, com nossas famílias. Nem todos lutam por lutar”, diz o líder.

 

“Então unam-se a nós, e tenham com isso proteção”, diz Alan. “Lutamos por ideais. Por honra. Lutem ao nosso lado, e façam algo mais de suas vidas. Sejam tratados com respeito, como irmãos, e não como armas.”

 

Dois dos arqueiros abaixam as armas. “Eu não quero morrer hoje, chefe...”, diz um arqueiro que é pouco mais que um garoto.

 

O líder olha em volta, e então abaixa as armas. “Uma condição então. Garantirão a segurança dos familiares daqueles que os possuem. Façam isso, e minha espada é sua.”

 

“Feito”, responde o cavaleiro negro. “Falaremos com Madre Jeaninne”.

 

“Eu não quero que meu filho seja criado entre prostitutas, Zigrun”, fala uma das mulheres, suas armas abaixadas e uma nota de angústia na voz.

 

“Não temos opção, minha amiga...”

 

“Zigrun. Zigrun Valcar.”

 

“Alan. O Carrasco.”

 

***

 

“O cardeal... eu não consigo acreditar”, diz Lian, conforme recuperam suas forças e cuidam dos feridos.

 

“Talvez ele estivesse blefando...”, menciona Eric.

 

“Não. Faz sentido”, diz Katherine, a expressão dura. “Muitos consideram o cardeal como uma das poucas pessoas capazes de evitar que o reino caia em caos absoluto. Ele juntaria as esferas para ter a população descontente ao seu lado. Ele usaria a fama dos Heróis das Estrelas como seu cetro de comando.”

 

“...e com tantas “Brigadas” por aí, o povo se uniria contra a aristocracia...”, comenta Lian.

 

“Eu nunca imaginaria que o homem a quem recorremos pedindo razão estaria tencionando tal loucura...”, diz o velho Dion. “Mas agora não faz mais diferença... ele tem a Esfera.”

 

“Não exatamente...”, diz Rose-Marrie, ainda nos braços do consternado Lian. “A esfera era falsa.”

 

“Falsa???”, pergunta Lian.

 

“Eu não teria escapado dele por tanto tempo se fosse tão estúpida quanto pareço, Lian...”, diz ela com um sorriso dolorido.

 

Apesar da boa notícia, Katherine empalidece, e vira-se para Lian.

 

“A princesa está em perigo. E Lady Karissa também!”

 

“E por que o diz, será Katherine?”

 

“Se o Cardeal foi capaz de usar homens como Garreau para conseguir a Esfera, não estará acima dele utilizá-las para conseguir a esfera verdadeira. Alene os proteja!”

 

“Não temos certeza sequer que o cardeal contratou de fato esse vilão, ou que lhe deu tais ordens, ser Katherine”, protesta Eric.

 

“Não obstante, mestre Turner, homens da Cruz Solar estavam atrás de vós”, ela responde.

 

“Se não o cardeal, então alguém da Cruz Solar certamente tem contato com Garreau”, adiciona Alan. “O que ele faria com a jóia?”, ele questiona à Zigrun, que observa, próximo de seus homens.

 

“Danny não confiaria tal prêmio à outrem. Não quando os espólios poderiam ser tomados de suas mãos. Não. Ele colheria a recompensa, e os louros, pessoalmente.”

 

“Temos que parar Danny antes de que ele alcance Addford então”, ordena Alan, mas logo é parado por Katherine.

 

“A Ordem provavelmente estará preparada para nos subjugar tão logo Garreau saia da cidade. Não sobreviveríamos cinco dias na estrada.”

Silêncio cai no ambiente, enquanto ponderam as palavras duras, mas verdadeiras da cavaleira do dragão.

 

“Podemos ir para Fouchard!”, pondera Eric.

 

“Pelo mar... para o outro lado de Himline....”, adiciona Lian.

 

“Não acredito que toda a Ordem da Cruz Solar saiba dos planos desses vilões que acometem sua nobre Ordem, e os lá presentes de certo nada sabem. Eu tenho contatos, familiares, conhecidos em Fouchard. Poderíamos escapar incólumes pela cidade, erguer informações e saber se somos inimigos públicos... ou apenas os bodes expiatórios de poucos vilões.”

 

“E de lá podemos interceptar Garreau”, concorda Alan.

 

“Precisamente, comandante”.

 

“Teu plano é sólido, e tuas palavras são verdadeiras. Assim será feito”.

 

“Oh Alene! Comandante, o acampamento! Eles estão em perigo. Tão logo Danny apareça com a esfera, seus contatos na Ordem provavelmente acabaram com eles!”, diz Arthur, enquanto sai do armazém e vai para a rua. Um homem em uma carruagem lenta passa pela rua, provavelmente um mercante ou fazendeiro se preparando para o mercado matinal. Com passos pesados a cavaleira vai até um dos cavalos e agarra suas rédeas. “Isso é uma situação de emergência, cidadão. A Irmandade dos Dragões Pálidos requisita tua montaria.”

 

“...o que??”, diz o homem confuso, mas não tem tempo de receber uma resposta, conforme o homem puxa sua espada alguns centímetros para fora da bainha.

 

“AGORA!”, ele grita, e logo toma as rédeas do cavalo. “Quem é o cavaleiro mais rápido?”

 

“Eu irei, Arthur”, diz Katherine, subindo ao cavalo.

 

“Cavalgue com Alene sera Katherine.”

 

“Traga nossos homens para o distrito próximo a Madre Jeaninne”, completa Alan, antes de dar um tapa para o cavalo acelerar.

 

“Vamos”, diz o velho mestre Dion, “Eu conheço um lugar.”

 

***

 

Os eventos ocorridos no armazém fazem com que os Dragões Pálidos decidam por agir rápido. Sabendo pela boca de Zigrun que Danny Garreau considerava a possibilidade de que seus homens fossem derrotados, e estando perfeitamente bem com tal perda, imaginam-se em perigo imediato: É bastante provável que Garreau tenha apoio de forças da Cruz Solar, e que estas estejam a postos para terminar de limpar o “problema” que representa aqueles que conhecem a verdade sobre a Gema.

 

Com uma saudável dose de receio pela segurança de seus homens, Silfa sugere que usem uma tática típica de Le’Berry e ordenem seus homens a dispersarem: Acampamento derrubado e diversos bens e animais liquidados, os homens juntam-se em grupos pequenos e se espalham pela cidade em tavernas e estalagens separadas, tornando-se particularmente difíceis de rastrear como um grupo. Apenas Silfa e Irmã Hiltrude mantêm contato com os mensageiros, logo um grupo capturado é impossibilitado de revelar a localização de outros.

 

Uma vez que a essa hora da madrugada é impossível falar com Madre Jeaninne, e também pelo fato de tanto Dion quanto Rose-Marrie estarem feridos (particularmente no caso de Rose-Marrie, a quem Danny teve grande prazer de sistematicamente atormentar e espancar, lhe deixando repleta de hematomas, dois dedos e umas costelas quebradas), os tenentes recolhem-se a uma das casas seguras de Mestre Dion, um workshop particular, localizado no subterrâneo controlado pela Sociedade Tecnocrata.

 

O subterrâneo de Sildalar é bastante peculiar; a cidade foi construída sobre as ruinas de uma cidade de Konstrow, que por sua vez havia sido construída sobre ruinas de épocas ainda mais antigas. Um feito de engenharia impossível de ser replicado hoje em dia a sub-cidade possui pontes levadiças, portas metálicas de correr, diques, sistema de esgoto, ruas, praças e casas, sua maioria a muito tempo não funcionando mais. Muito da sub-cidade é basicamente uma grande ruina perdida debaixo de camadas de soterramento, mas outras partes possuem outros destinos: Algumas áreas são como parte da cidade, com casas, salões de guilda e afins; outras, geralmente seladas de outras áreas, são propriedade de alguma guilda importante, enquanto outras, menos desejadas e mais arruinadas, acabam por servir de esconderijo e reduto para foras da lei e tipos sem-teto.

 

O workshop de Mestre Dion é localizado em uma vasta área de propriedade da Sociedade Tecnocrata, uma região labiríntica e protegida por guardas da poderosa guilda, com workshops, armazéns e escavações da guilda e de seus membros. Tais acomodações não oferecem o conforto, ar fresco ou luz do sol de uma casa sob a superfície, mas Mestre Dion afirma que lhes oferecerá proteção contra olhos espiões.

 

O workshop pouco é mais do que uma sala larga com um terço separado por cortinas ocupado com uma cama e uma grande almofada de crochê (que passa por cama para Rose-Marrie, que insistiu na presença da peça), e o resto uma grande mistura de workshop de engenharia (com artefatos escavados, encontrados ou construídos), arquivo pessoal (com uma estante repleta de livros e rolos de pergaminhos), sala de estudos (com um quadro negro, mesa de escrita e pergaminhos) e estúdio arcano (com componentes materiais diversos, grimórios, cristais e outros aparatos); apertado e desconfortável como prometido, mas também seguro.

 

Conforme os tenentes discutem os próximos passos, mestre Dion se aproxima deles portando em suas mãos nodosas um curto cetro vermelho com decorações em ouro terminando numa cabeça estilizada de dragão. O artefato, claramente mágico, tem um estilo anacrônico que acusa sua idade considerável.

 

“Tomem”, diz ele com sua voz cansada. “É o mínimo que posso lhes oferecer como recompensa, ínfima que seja, por terem nos resgatado.”

 

“E o que seria isso, nobre ancião?’, indaga Eric, tomando o artefato nas mãos. Tão logo o toca ele pode sentir um calor momentâneo dentro de si, uma sensação semelhante à se aproximar de um forno ou forja aberta, uma sensação que passa tão rapidamente quanto vem.

 

“Um artífice antigo, Eric Turner. Um cetro contendo uma fagulha de Sopro de Dragão. Tanto o conhecimento sobre como cria-los, quanto os dragões donos do sopro capturado, a muito não existem mais. Tal cetro me serviu e me protegeu por muitos e muitos anos meu jovem; espero que lhes sirva tão bem quanto me serviu. A palavra de comando é Dracul.”

 

Após algumas perguntas e agradecimentos sobre o artefato, o grupo questiona o ancião sobre a Esfera das Estrelas, onde estaria a verdadeira se Rose-Marrie entregou a falsa, como, e por que, ele a possuía durante esse tempo todo, como pretende protege-la agora, e diversas outras questões relacionadas. Entre as perguntas é tocado no assunto em relação à Rose-Marrie, e o homem revela que não apenas era o mago Conselheiro do pai de Rose-Marrie, como também seu irmão bastardo; fora o professor e tutor de sua sobrinha desde sua tenra infância, e a considerava e protegia como uma filha não apenas pelo elo de sangue, mas em honra ao seu assassinado amado lorde-irmão.

 

“O familiar, mestre Dion”, diz respeitosamente Eric. “É um agente de uma força superior, não o é?”

 

“Ah sim...”, o homem abaixa a cabeça. “Tu pode sentir. Rose-Marrie... fora forçada à decisões difíceis nesses anos. Eu não sei como, e não sei com qual intuito, mas um espírito aproximou-se de minha sobrinha, no passado... em um momento delicado. Ele lhe ofereceu o que ela precisava e em troca...”

 

“A marcou”, completa o jovem, com a mão no queixo.

 

“Rose-Marrie tornou-se uma demonologista?”, diz baixo Lian, que recebe um olhar ofendido de Verner.

 

“Nem todos aqueles que vivem em união e compreensão com espíritos entregam-se aos desejos basais de entidades inferiores, Sir Calhart”, ele reprime.

 

“Os Antigos, o Povo da Colinha, senhores da terra do verão, Aen Sidhe”, inicia mestre Dion, que é cortado por Verner.

 

“Os cavaleiros da Caçada Selvagem”.

 

“Isso também”, o homem adiciona. “Eu não sei quais são os propósitos de tal entidade. Rose-Marrie nunca entrou em detalhes comigo. Depois do que ela fez...”, ele diz, olhando para a garota, ferida mas banhada, que dorme aninhada na cama pouco confortável. Seus olhos são cálidos. “Depois desses anos... eu respeito sua privacidade. E seu sacrifício.”

 

“Temo que a entidade pudesse estar atrás da Gema...”, murmura Eric. “Mas se ela o acompanhou todos esses anos... Seus desígnios, se de fato envoltos com a Gema, seriam mais complexos do que consigo divinar por hora.”

 

“Nunca duvidei de que haja uma conexão, mestre Eric”, responde mestre Dion.

 

“Apenas Eric, professor. Por favor.”

 

“Eric. Pois não”, ele se corrige. “Mas também nunca fui ameaçado. O desejo de... posse... é inerentemente humano, penso eu. Não se essa entidade deseja possuir a Gema ou... ou se alguma forma já tem exatamente o que deseja, e apenas nós que não entendemos. Até hoje não nos fizera mal... nem à esfera.”

 

“Se o mestre não ofender-se, manterei meus olhos abertos.”

 

“De forma alguma jovem. Eu fico contente de que alguém possa tirar esse fardo de mim”, ele diz então, sua voz ficando mais sombria, quando ele cansadamente senta na poltrona.

 

“Eu vivi a maior parte de minha vida em função dessa jóia. Muito a estudei, muito pesquisei, e com todos esses anos posso dizer que muito pouco descobri. De fato, sequer compreendo como vim a portar tal artefato...

 

É como se eu estivesse destinado à protege-la. A encontrei em uma caverna, ainda no zênite de minha vida adulta. Uma caverna simples, sem guardiões, nem armadilhas, nada. Lá ela estava, cerúlea e cristalina, sobre um pedestal de pedra em uma câmara profunda. Tão logo pus meus olhos sobre ela sabia que deveria protege-la... apenas nunca entendi o por quê.

 

Por todos esses anos eu o fiz, e posso dizer que tal artefato de perfeição não foi criado pelas mãos do Homem. Foram as mãos do Criador as responsáveis por tal obra. A esfera as vezes parece ser viva, pulsar com energia, e o véu parece cantar em resposta a sua presença. A maioria dos artífices que estudei em minha vida reagem de alguma forma perante a Esfera; funcionais energizam-se, pulsam com vigor e potência mágica; destruídos parecem assumir semblante de nova vida, nem que temporariamente.

 

Pude notar esse efeito particularmente bem aqui em Sildalar, conforme os destroços mágicos de Konstrow, dificilmente mais do que lixo mágico ou relíquias arqueológicas, fulguram em um reflexo de suas prévias existências tão logo a esfera é aproximada; algo belo de se observar, se me permitem adicionar.

 

E ainda assim, em todos esses anos, eu sempre soube que não sou nada além de seu guardião. Eu não sou um Herói das Estrelas, meus jovens, eu não passo de um velho mago. Um estudioso. Um servo do destino e seus caprichos. Fui obrigado a tomar terríveis decisões para manter essa relíquia protegida ao longo desses anos, e o preço para mantê-la a salvo sob minha proteção muitas vezes fora mais alto do que eu me considerava capaz de aguentar; mas eu sempre o paguei.

 

Mas agora, perante vós... Sei que o fardo me abandona. Minha missão foi cumprida; meu tempo com ela... findou. Levem a jóia...

 

...o fardo de sua proteção pertence a vós agora...”

 

 

Cidade Livre de Sildalar - Himline - Ladrão 27 de 589E

 

O grupo faz seu melhor para descansar algumas horas, após as recomendações de Zigrun, que se responsabiliza por cuidar de seus homens e preparar o terreno para uma retirada o mais rápido possível, tão logo consigam lidar com o problema de arranjar alguém disposto a lhes tirar de Sildalar de navio, mas sem fazer muitas perguntas.

 

Pela manhã Lian toma Rose-Marrie e informa-lhe da decisão de mestre Dion. Cumplice, a garota o leva até uma outra casa segura onde escondeu a jóia verdadeira. Sozinha com seu amigo de infância, ela conta que tão logo a casa de Mestre Dion fora invadida pelos homens de Gareau e ele ordenara que fugisse, ela tomou a esfera e a escondeu na casa segura, antes de esgueirar-se pela cidade e gastar a maior parte de seus fundos conseguindo uma cópia mais ou menos convincente.

 

Entre risadas nervosas, quase alheias à sua situação e trauma, a garota explica que friamente calculou que poderia ser capturada e torturada, e escondera a cópia como uma forma de garantia; se estivesse com ela em sua posse ao ser capturada, sem a ameaça dos Dragões Pálidos fortemente armados, de certo ela e Dion teriam sido executados ali mesmo. “Confessando” perante a tortura inicial que o grupo estava com a pedra, mas que jamais a entregariam caso ela ou Dion estivessem mortos, ela não apenas salvara sua vida e de seu mestre, como também evitara um destino de violência física, mental e sexual a qual a faria desejar que estivesse morta.

 

A pedra, porém, não lhe retém nenhum apelo. Diferente do cardeal ou de Dion, que pareciam profundamente movidos em apenas olhar para a grande gema, a garota parecia intocada pelos seus encantos. Se por ignorância de suas capacidades, descrença de seu verdadeiro valor, ou por pura inocência de ganância, ela oferece a esfera a gema à Lian sem nem ao menos hesitar.

 

“Aqui está. Tome-a. Ela nada me representa, mas espero que ela valha todo esse sofrimento.”

 

***

 

Quando deixam o workshop para ir lidar com Madre Jeaninne e as preparações, Lian fica para trás. Ele e Mestre Dion não trocaram olhares desde que o mago fora resgatado, uma relação profissional e afastada, que não faz jus ao seu passado em comum. O velho mago lidar com seus pergaminhos, e após juntar coragem Lian aproxima-se.

 

“Grão-mestre Dion.”

 

“A muito tempo não me chamam assim, Lian...”, diz o homem suspirando, e, não podendo mais ignorá-lo, virando-se para Lian.

 

“O que aconteceu com a Brigada... soube... que também ocorreu com a família de Rose-Marrie”, ele engole em seco. “E que a salvou e cuidou dela todos esses anos. Por isso agradeço-te, ancião.”

 

“A garota não o diz, mas fez mais por mim do que fiz por ela. Nesses anos passamos por muito; o mundo em guerra não é gentil com um velho e uma jovem. Mas ela nunca cedera. Não sei se por firmeza ou por trauma, mas ela nunca fraquejou perante as decisões difíceis. Talvez um dia ela lhe conte sobre.”

 

“Eu espero que sim, ancião”, ele responde, educadamente, antes de mudar de assunto. “O senhor acredita que estejam seguros nesse local, ancião?”

 

“Não correrei mais, jovem. Não após não portar mais meu fardo. E quanto a Rose-Marrie, de fato eu espero que ela não permaneça mais. Já é passada a hora de que viva a própria vida...”, ele então adiciona, amargamente, “...que siga seu coração.”

 

“Se essa é sua decisão, a respeitarei ancião. Obrigado por tudo”, diz o firme guerreiro, esticando a mão para um cumprimento.

 

O velho mago olha para a mão, mas não a toma. Após alguns instantes um decepcionado Lian a recolhe, e antes de possa dizer algo é interrompido pelo ancião, que ergue uma mão.

 

“Tu trouxeste o horror a nossa terra Lian”, ele começa, amargurado. “Talvez o horror tivesse chegado sozinho, é bem provável que sim; mas tu abriste a porta para ele. Por causa de ti tanta dor, morte e sofrimento. Tantos perderam tanto. Tenho certeza de que esse julgamento é injusto, que tu foste pouco mais que vítima das consequências, um peão no tabuleiro do destino. Mas após todos esses anos remoendo essas palavras, por hoje não posso apertar tua mão. Talvez amanhã, talvez outro dia. Mas não hoje.”

 

“...eu... eu entendo. E aceito, e admito, todas as acusações ancião. Espero um dia poder pagar por minha parcela desses crimes, e receber vosso perdão. Adeus.”, ele diz, humilde, antes de se virar para sair.

 

“Lian...”, o homem diz, antes que ele saia. Quando o guerreiro se vira, o homem termina de abrir um baú, que o mostra.

 

O objeto claramente é o peitoral de uma armadura de cavaleiro embrulhada em camurça, e quando Lian o desembrulha não pode deixar de empalidecer ao reconhecer o símbolo: Sob um fundo púrpura um lírio branco cercado por estrelas; o símbolo da família nobre Gielemare, a extinta família de Rose-Marrie.

 

“Proteja o último de seu nome”, diz solene Mestre Dion.

 

***

 

Pela manhã o grupo procura Madre Jeaninne em busca de proteção para as famílias dos ex-soldados de Danny. Precisam negociar, pois a sacerdotisa não está contente com o fato de Garreau ainda estar vivo, mas decidem por revelar a ela a verdade, e a gravidade do que estão vivendo. Perante as novas informações que a entregam, e da sinceridade de suas intenções, a mulher não consegue deixar de abrir-se um pouco mais a eles e ajuda-los. Ainda assim, a sacerdotisa exige mais um favor para ser coletado futuramente.

 

“E tem algo mais ainda, Madre.”

 

“Isso já está parecendo caridade, mestre Verner”, ela responde, para encontrar o olhar inquisitivo do homem, que lhe fita o busto. A mulher desce o olhar, e encontra o símbolo de Alene proeminentemente visível. Com um suspiro divertido, ela responde. “É claro. Caridade.”

 

“Precisamos de alguém disposto à nos levar a Fouchard, Madre Jeaninne”, diz respeitosamente Eric. “Mas nossa condição...  delicada... precisamos passar desapercebidos.”

 

“Contrabandistas não costumam oferecer seus serviços abertamente, Madre”, completa Verner. “Tanto quanto mercantes de informação.”

 

A mulher solta uma divertida risada, e aproxima-se de uma das freiras que cuidam do ambiente e ensinam as crianças. Da irmã ela toma um pequeno pedaço de pergaminho, do tipo em que recados são enviados por pombos-correio, e escreve algo. Ela então delonga-se em passar nos lábios vistosa pintura rubra, e então beija o brilhete.

 

“Pia Marchal”, ela diz, oferecendo o bilhete enrolado e amarrado com fita branca para Verner.

 

“Da autoridade portuária?”, questiona Eric, reconhecendo o nome.

 

“O próprio. Entregue esse brilhete para meu querido Pia, e ele certamente irá fazer seu melhor para ajuda-los.”

 

“Pia seria...”, começa a indagar Lian, suavemente ruborizado.

 

“Pia certamente me odeia”, diz ela.

 

Verner ri abertamente da expressão de surpresa de Lian.

 

“Coloque-o na lista dos Filhos de Kargath que não desejam-se bem. Mas vivemos em um mundo de respeito, onde a palavra de um profissional é a única coisa que lhe mantem. Pia me deve, e eu sei que ele pagará o favor”, diz ela, que então faz questão de falar de forma bastante clara: “É importante ter favores de pessoas variadas.”

 

***

 

 

 

O resto da manhã é gasta com a busca por Pia, um homem duro, rude e violento, que deixa claro que está os ajudando apenas por que deve um favor, e preferiria entregar-lhes para Garreau e receber uma recompensa. Por fim, ele recomenda que procure a capitã Eveline na Estalagem do Amanhecer Feliz.

 

***

 

Mais uma pocilga.

 

Essa com certeza é a opinião dos diversos quando se aproximam do local mencionado. O local é semelhante à Gata Amargurada em feiura e clientela, mas difere em foco; ao invés de um bar grande com alguns quartos servindo o meretrício voltado à navegantes locais, o local é um bar grande com alguns quartos servindo de pouso para os navegantes locais.

 

Notando as semelhanças, o grupo entra cauteloso, sendo observado e observando todo tipo de navegante. Homens, mulheres e jovens de todas as idades, gente com cores de pede, formatos de rosto e sotaques que muito diferem das terras civilizadas de Eimland e em volta, bárbaros e selvagens vindos do leste, oeste e mares do sul. Em geral pertencem a dois grupos, ou aqueles que alegre e barulhentamente bebem e conversam entre si sob a luz dos archotes que iluminam o local, ou os que furtiva e ameaçadoramente bebem e conversam entre si sob a sombra dos archotes que iluminam o local.

 

O estalajadeiro não parece particularmente disposto a lhes ajudar a encontrar essa capitã Eveline, e Eric decide então fazer com venha até ele. Pedindo educadamente licença para um grupo que bebia, ele sobe à sua mesa e bate com o pomo de uma faca de queijo em uma caneca.

 

“Atenção todos. Obrigado por sua atenção. Eu acredito que o estalajadeiro dessa estabelecimento esteja confundindo a estimada capitã Eveline com uma prostituta qualquer”, ele diz, provocando choque e risadas, bem como negativas desesperadas do estalajadeiro.

 

Enquanto ria e se preparava para continuar, o homem é puxado violentamente da mesa para o chão por um gigante negro, um homem de mais de dois metros de altura, pele ébano e roupas vistosas e coloridas, que separadas seriam peças muito elegantes cada uma, mas que juntas formam um carnaval típico à assaltantes marítimos. O homem negro lhe dá um empurrão, e se prepara para comprar uma briga, dizendo que ninguém pode ir assim chegando, mas subitamente ele é interrompido.

 

“Dionísio, deixe a moça passar!”, grita uma mulher da mesa, que se levanta e abre braços e sorrisos. “Não sejamos violentos sem necessidade!”

 

A mulher é claramente uma navegante experiente; de pele bronzeada de sol, com o corpo de uma duelista e a pele com cicatrizes de uma guerreira experiente, ela usa roupas leves e abertas de materiais finos e condições mais ou menos cuidadas, e seus seios parecem tentar escapar da prisão de um espartilho preto, mas à cintura uma cutlass e uma pistola gasta estão presentes. Junto com ela na mesa mais três homens e uma mulher, todos com as roupas, armas e expressão de navegantes experientes, e que demonstram deferência à sua capitã. Lian cora perante a aparência e trajes da mulher e tem dificuldade em esconder um pequeno sorriso, mas Eric parece se surpreender com outra coisa: À mesma mesa está sentado ninguém mais, ninguém menos do que o comandante Alan, em roupas simples de cidadão.


Confusão deixada de lado, os Dragões ali presentes são convidados à se unir à tripulação de Eveline, que enquanto estão em estados diversos de inebriação, certamente estão muito mais sãos do que a capitã, que parece por pouco segurar-se de pé.

 

“Essas são as pessoas que falei, Eveline”, diz Alan.

 

“Eu achei que era uma moça!”, ela diz apontando para Eric. “Romarí, certo? Eu sou capitã Eveline, mercante-aventureira!”, ela diz fazendo um gracejo para Eric.

 

O jovem mago de guerra tenta corrigir, mas para quando nota Alan fazendo um gesto simples de negativa com a cabeça.

 

“Precisamos de passagem para Fourchard”, suspira Lian.

 

“NOSSA”, a mulher grita, surpresa. “Quem é esse futuro garoto-de-cabine? É seu amigo também, Carrasco?”

 

“Pode-se dizer que sim. Aliado a quem muito confio.”

 

“É importante confiar nas pessoas! Eu mesmo confio minha vida a meus homens”, ela diz, e logo entra em uma tangente sobre confiança e como homens do mar precisam depender de seus irmãos.

 

Alan acompanha, e não interrompe, deixando a mulher prosseguir até perder-se em estupor. O cavaleiro negro então serve-lhe mais um pouco de grogue.

 

“Temos passagem então, capitã?”

 

“Passagem? Como assim?”, ela olha para seus colegas, e então se surpreende. “Como em passagem de barco??? Ooooras, por que não disseste antes? É o que nós, mercantes, fazemos afinal!”

 

Lian considera erguer o ponto de que acabaram de dizê-lo, mas Alan meneia a cabeça, conduzindo a conversa.

 

“Para mim tu era uma pirata...”, menciona casualmente Rose-Marrie.

 

“Nãaaaaaaaaaaaaaao faaaaale essa palaaaaaavra!”, se exalta a capitã, exasperada. “Pretende ver minha bela forma balançando no cadafalso? Alguém viu algum pirata por aqui?”, ela pergunta para seus companheiros.

 

“Pirata, Alene, onde???”, diz um.

 

“Não, nada de piratas aqui, não senhora, não não”, diz outro, olhando em volta e em baixo da mesa.

 

“Não vejo nenhum não senhora.”

 

“Não. Nenhum. Uh-uh”

 

“Viu?”, ela se vira para Rose-Marrie, “Nenhum pirata aqui! Prefiro o termo Mercante Aventureira!”

 

Apresentam-se corretamente para os, ahn, mercantes-aventureiros, e Eveline acredita que Verner tenha sido castrado, um ponto que lhe ganha simpatia dos marujos, pelo fato de Dionísio ter perdido suas partes para um disparo de virote, e tendo que lidar com essa dura condição nesses longos anos seguintes.

 

Explicam a situação, que precisam levar muitas pessoas para Fouchard com grande celeridade. Entre as linhas discutem sobre como irão levar um “circo” para Fouchard, circo comandado pelo “mestre do picadeiro” Alan, com muitos “palhaços”, “animais do zoológico” e “equipamento de mágico”, “circo” que tem uma “apresentação muito importante” perto da cidade, que algumas pessoas “morreriam” se perdessem. A negociação se estende com cada vez mais alegorias, mas eventualmente Eveline cede, aceitando levar o grupo, seus soldados, animais e armamento, mas não as carruagens, tendas e outros materiais pesados, tão logo o navio fique pronto, na manhã do dia seguinte.

 

Se despedem dos “navegantes” com Eveline provocando Alan, tentando dar a entender aos mercenários que tiveram algum tipo de envolvimento amoroso ou carnal no passado, com Alan silenciosamente dispensando as invenções com negativas de cabeça.

 

“Ugh Carrasco. Tu parece ter uma haste de vassoura enfiada no posterior!”, diz Eveline.

 

 

Porto de Fouchard - Himline - Ladrão 30 de 589E

 

Fouchard não é uma cidade pequena. De fato, é mais extensa do que Sildalar, mais bem organizada e o ponto de entrada e saída entre Himline e a grande Falonde, e como tal vê muito mais comércio pesado do que sua irmã menor. Porém perante às ruínas antigas de Sildalar, seus navegantes, seu estilo de se vestir exótico, e a presença dos tecnocratas e com isso a Academia de Engenharia de Eimland, a irmã maior chega a parecer sem-graça em comparação com suas casas, costumes e vestes ao estilo de Falonde.

 

O grupo se despede da Galinha do Mar e seus tripulantes cada um a seu jeito. Alan e Eveline mostraram-se tendo algum tipo de amizade sim, especialmente por dividirem alguma histórias e, surpreendentemente no caso de Alan, risadas forçadas, enquanto viajavam. Eric divide um último drinque em homenagem ao testículo direito de Dionísio (e também por seu membro supostamente perdido em guerra enquanto servia Le’Berry, história inventada durante a viage). Já Lian agradece a viagem segura da capitã, e é surpreendido por ela o agarrar e lhe roubar um beijo e o fôlego, curvando-se sobre ele como se ela fosse o cavalheiro galante e ele a jovem donzela, bem como o subsequente convite de se tornar seu garoto de cabine.

 

Porém acima de tudo, a capitã fala seriamente para Alan que se um dia precisar de novo dela que basta procurá-la, e que, ainda, se precisarem ser deixados mais perto de algum lugar onde “a palhaçada irá ocorrer”, a Galinha do Mar pode ajudá-los.

 

***

 

Lian gastava parte de sua tarde andando pela cidade, consertando seu equipamento e recuperando provisões, quando em uma esquina é surpreendido pela imagem de Ian, seu cabelo bem penteado para trás e com óleo, portando a armadura cinza e uma vistosa capa preta.

 

“Ian!”, ele se surpreende, se aproximando.

 

“Lian”, diz o cavaleiro, ainda de braços cruzados e recostado sob uma varanda, como se não fosse nada demais.

 

Lian sorri, entendendo o jogo, e se recosta na varanda também. Fica ali por alguns segundos, esperando uma carruagem passar, seguida de algumas crianças. “O que faz em Fouchard?”

 

“Nós temos ouvidos em muitos lugares, Lian”, Lian diz, displicente.

 

“Nós?”

 

O jovem então começa a andar, passando por Lian em um claro convite para que o acompanhe.

 

“Eu digo isso para seu próprio bem Lian. Retorne para Blackfen. Não envolva-se ainda mais profundamente em assuntos de damas reais... ou de pedras sagradas...”

 

“Tu sabes bem que não sou dado à seguir instruções de quem me manda fazê-lo”, responder Lian, com um sorriso nos lábios.

 

“Tu tencionas salvar a princesa de uma torre em chamas, mas tudo o que faria seria apenas levá-la para um andar superior. Só há uma pessoa que pode realmente salvá-la, e isso é exatamente o que tenciono fazer”, Ian responde, sempre em tom sereno.

 

“Arrogância não lhe cai bem, Ian. O que lhe faz acreditar que és diferente de todos os outros?”

 

“Os Duques, Volstan, Drewsaw. Seus irmãos e todos os outros... São todos levados por uma poderosa corrente, que não podem ver ou sentir...”

 

“Mas eu não o sou”, afirma Lian. “Eu traço meu próprio caminho.”

 

“Ah o é. Carregado por eventos além de teu controle, ao invés de seguir o fluxo tu bastes os braços contra uma correnteza incapaz de sentir...”

 

“E me orgulho de fazê-lo. Não serei o mesmo que meus irmãos. E quanto a ti, o que faz em meio à essas turbulentas águas?”

 

“Eu faço o que ninguém mais considera fazer, Lian”, ele se vira para o amigo. “Eu simplesmente saio do rio.”

 

Ele então dá alguns passos mais a frente, e pouco mais do que dá um olhar para trás para seu antigo amigo de infância. “Nos encontraremos novamente, Lian Calhart, ou ao menos assim espero”.

 

“Eu também Ian... eu também...”, murmura Lian enquanto vê o antigo braço direito se perder entre o fluxo da cidade.

 

Danny Garreau


 

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