Sessão
16
Diário,
Eu
gosto de viajar. Realmente gosto. Parece que o tempo passa mais rápido e que as
preocupações são menores. Os problemas parecem mais simples e as coisas pelas
quais eu me angustiava quando estava parada parecem ser somente empecilhos num
caminho maior.
Gosto
também de ver lugares e culturas diferentes. Confesso que muitas vezes tenho
dificuldade em absorver ou mesmo entender a cultura de outros povos, e isso
muitas vezes dificulta minhas andanças. Suponho que seja algo corriqueiro para
viajantes.
Um
dos povos que tive dificuldade são os Orokul. Confesso que jamais me interessei
pela cultura deles. E embora eu tente lutar contra o preconceito de que eles
são brutos e burros, consigo compreender perfeitamente o porque as pessoas os
vem assim.
Deve
ser a segunda ou terceira vez que estou em Voltar. A terra das bruxas é um
lugar que sempre me falaram para estar longe, e agora sei porquê. Caçadores
Orokuls espreitando nas arvores e preparados para atirar em qualquer um que
cruzar linhas imaginaras de território. Eles realmente não são bons em fazerem
amigos.
Já
conheci outros Orokuls antes. Tenho inclusive bons amigos entre eles. Mas nas
terras deles, nas cidades deles... as coisas são diferentes.
Chegamos
a este clã dos Senhores dos Céus e já fomos hostilizados por não respeitar uma
cultura que não conhecemos. Se bem que é verdade que em todas as terras as
pessoas são hostilizadas por desrespeitar culturas, aqui ninguém foi capaz de
nos explicar nada, e não existiu a tolerância aos erros dos estrangeiros que
terras mais cosmopolitas tem.
Ser
Helgraf passou uns mau bocados ao tentar compreender as formas estranhas que
estes Orokuls fazem as coisas. Segundo ele, quase fomos expulsos com flechas em
nossos joelhos porque uma das caçadoras não teve o bom espirito de apresentar o
Espirito da Primavera que foi entregue a ela.
A
contadora das histórias, ou guardiã do conhecimento, não lembro o titulo, nos
falou que estávamos impedidos de falar com os Augures e com o chefe da tribo.
Se eles quisessem falar conosco, o fariam eles mesmos. Deixou claro que a
apresentação do fetiche nos garantia tolerância temporária de 3 dias. Não
consigo entender esta... Hospitalidade. Em Brzengard nos é ensinado a tratar
visitantes com honras e companheirismo, não a deixa-los em um canto torcendo
para que vão embora.
Outras
terras, outros costumes.
Deixaram
uma moça Orokul para cuidar de nos, e ela nos explicou algumas cosias sobre a
tribo local. Ela falava um thenal meio tosco, mas dava para entender. Ela nos
conta o porque o clã dela estava em guerra com o clã dos Punhos Sangrentos, e
nos fala da ave sagrada deles que é como uma mascote, só que mais espiritual e
com um significado místico.
Dizem
que é um condor, o que diabos seja que for um condor. Pela descrição da Lady
Annika, entendi que são como pavões gigantes carecas e carnívoros.
Quando
perguntamos como poderíamos falar com o chefe de guerra ou os augures, foi nos
dito que precisávamos provar nosso valor. Isso era feito mostrando nossa
utilidade. Os Orokuls parecem um provo prático nisso.
Em
fim, irei dormir um pouco.
--
Diário,
A
senhorita Lavinia caminha e fala nos sonos. Não é um pesadelo, mas algo como um
sonambulismo. Ela grita e chama por um Joseph e depois vai dormir como se nada
acontecesse. Eu pressinto que o ser Helgraf ficará de olho nela.
A
senhoria Lavinia é uma bruxa. Ela pode falar o que quiser de que ela manifesta
a magia de forma diferente ou qualquer outra coisa. O fato é que ela é uma
bruxa e sua presença é as vezes bastante intimidante para todos nos. Não consigo
culpar Helgraf, que dedicou sua vida a caçar bruxas, ou Lady Annika que não vê
com bons olhos este abuso da magia.
Espero
que a animosidade pare, e que a senhorita Lavinia pare de hostilizar Lady
Annika, me hostilizar ou mesmo ao ser Dominic. Ela, intrinsicamente, já tem
bastantes coisas contra si para se dar o luxo de erguer o tom contra alguém em
uma conversa até então civilizada.
--
Diário,
Acordei
hoje com um sonho estranho. Os gritos da senhorita Lavinia ficaram nos meus
sonhos e se misturaram com gritos estranhos e aterradores.
Os
meus companheiros já se acostumaram a me ver acordar em pesadelos. Para eles
parece normal. Para mim, todas as noites é uma nova experiência aterradora. E
embora esteja me acostumando a ideia de que vou dormir mal e acordar pior
ainda, é um pouco... Chato que eles achem que isto é normal.
Em
fim, decidimos neste dia que tentaríamos nos fazer uteis e conseguir o respeito
destes Orokuls para ter as informações do sacerdote ou até se precisar passar
por suas terras novamente, possamos fazê-lo em paz.
Tentamos
compartilhar um pouco dos nossos conhecimentos e compartilhar um pouco das
tradições deles. A senhorita Lavinia tentou mostrar a eles como se caça em
Kerra e participou de uma caçada com alguns caçadores. Sabe, coisas de caçador
como compartilhar dicas ou mostrar uma e outra coisa. Não sei bem. Em fim, ela
falou que os Orokuls estavam mais pela curiosidade que pelos interesse e que
debocharam de suas técnicas de caça.
Ser
Helgraf e a senhorita Annika foram tentar ensinar algumas coisas de comercio
para os locais, para ajuda-los. Eles me disseram que era para ensinar algumas
palavras chave e como medir a valorização dos bens e um monte de outras coisas
que eu realmente não entendo sobre comercio. Mais uma vez, os Orokul debocharam
dos ensinamentos e os consideraram inúteis.
Eu
com Dominic fomos tentar falar com os guerreiros da tribo. Eles me perguntaram
quem era eu e comecei a contar uma história que passei de Aveshai. Pensei que
isso chamaria a atenção deles, mas parece que não. Este povo é tão cheio de si
mesmo que é incapaz de entender que há um mundo além de suas malditas
arvorezinhas em que coisas acontecem e coisas são aprendidas.
Sequer
foram capazes de mostrar um pouco de empatia com estrangeiros que tentam participar
e conhecer mais de sua cultura. Para eles somos mais um bando de viajantes e
sinceramente entendo porque os Dakhani desistiram de tentar civilizar estas
terras.
Como
diabos vamos tentar mostrar a urgência de nossa empreitada se somos proibidos
de falar com aqueles que compreenderiam ela?
Há
um certo paralelismo entre tentar falar com a Raina Rosália e tentar falar com
o chefe desta tribo. Os dois eram inancançavel. Daquela vez, em Khain, Luna e
Lindriel me convenceram a manter o perfil baixo e talvez esse foi nosso erro.
Agora, eles não nos conhecem.
Eu
sinceramente prefiro falar com padeiros e ferreiros e pessoas normais, se me
dessem escolha. Mas agora não tenho tempo para isso. Preciso falar com reis e
chefes de guerra e preciso que eles me escutem. Que pelo menos escutem o que o
mundo está passando e que se não quiserem me ajudar, pelo menos que não me
atrapalhem.
Eles
não são obrigados a me conhecer ou mesmo me atender, do mesmo jeito que eu não
faço ideia quem são os heróis e chefes dos clãs deles. Mas uma disposição maior
para com estrangeiros em uma viagem claramente perigosa seria ótima. Sabe um
pouco de predisposição em ajudar aqueles que estão em uma empreitada corajosa,
como ensina o Grande Lobo.
Eu
não tenho nenhuma intenção de ficar brigando com Orokuls ou me intrometendo na
politica deles. Eu queria somente poder entrar, obter algumas informações
básicas, e poder transitar pelas terras deles sem medo de ser atacada por algum
caçador maluco. É muito pedir?
Em
fim, foi um fracasso.
--
Diário,
Ser
Dominic passou a noite inteira pensando em formas de como poderíamos nos fazer
entender pelos Orokuls. O senhor Volksar, como de costume, reprimiu diversas
das nossas iniciativas. Ele parece ser um homem mais sensível às nuanças
culturais de outros povos. E como tal, adoraria que estivesse mais disposto a
nos ajudar.
Em
fim, ser Helgraf e ser Dominic fizeram os Orokuls participarem de uma
brincadeira ou treino comum na ordem do dragão. Era aquele de ficarem se empurrando
para ser derrubados. Brincaram com alguns jovens e dizem que passaram uma boa
tarde com eles, mas em ultima instância os Orokuls não valorizaram isto também.
Por
outro lado, acompanhei a senhorita Lavinia e o senhor Volksar e caçamos um warg
malhado. A senhorit aLavinia preparou uma interessante armadilha com algumas
ervas e carne e não foi difícil abater a criatura. Fiquei com dó dela. Levamos
a nossa caça para o chefe dos caçadores e nos felicitou por ela, e demos o
fígado do warg ao condor.
E
condores são muito feios. Parecem pavões gigantes carnívoros e carecas. Parecem
bicos de machado com assas maiores e patas menores. Na verdade eles são menores
que bicos de machado. O senhor Volkar me afirma que eles voam, mas não acredito
nele, não acho que um pássaro tão grande consiga voar.
A
nossa caça parece ter agradado a alguns Orokuls, mas nenhum deles pareceu
especialmente impressionado com nosso feito.
A
senhorita Lavinia tem a ideia de apresentar a eles o Sangue de Porco. Eu não
lembrava o que era, e me recordam que é um jogo horrível em que um porquinho é
jogado a furões esfomeados. Fico feliz que a ideia não tenha vingado. Eu já não
fiquei muito feliz com a caça do warg, realmente não gostaria ter que matar
mais animalzinho para tentar deixar este povo feliz.
Ser
Dominic teve a ideia de tentar ensinar algo pratico a eles, como polias. O que
desencadeou a uma longa e confusa conversa de onde eles tiravam a madeira para
construir suas casas e pontes, o que nos garantiu uma reprimenda de um mal
humorado senhor Volksar.
Em
fim, não conseguimos entender o que estes Orokuls valorizam. Não conseguimos
basicamente nenhum avanço em tentar nos tornar mais aceitos por este povo.
Então
Volksar me conta que ele descobriu que os Augires podem ser pessoas possuídas.
Este é a gota que me faltava.
Além
de não conseguirmos nada deles, ainda são comandados por pessoas possuídas? Não
consegui mais tolerar isso, era melhor irmos embora. Nada de bom pode vir de
pessoas que são possuídas por espíritos, independente do que Lavinia ou Volksar
falem. Eles não entendem. Espíritos não podem ser medidos por padrões mortais. Espíritos
tem tanta dificuldade em agir com os mortais como nos temos em entender eles.
Nem
vou tocar no fato do Volksar tentar me dar uma lição sobre o que é um espirito
e o que é um demônio. Como se não fosse exatamente por isso uma das coisas que
sou conhecida. Parece que o homem tem um prazer sádico em ser desagradável.
Em
fim. Recuso-me a ficar mais neste lugar. Não estamos indo para nenhum lado
tentando agradar esta tribo. Certamente será mais fácil conseguir ajuda com
minhas amizades no clã do Sabre Sombrio, ao sul. Pelo menos seremos
recepcionados por um orokul que me conhece e que conhece o mundo de afora de
Voltar.
Lavinia
novamente teve um surto de histeria porque não insistimos em falar com os
chefes. E porque eu “não entendia” a relação que os demais povos tem com
espíritos. Sinceramente, não em sinto a vontade para ficar relativizando o meu
saber de espíritos. Especialmente porque eu já vi e já senti em pele o mal que
eles podem fazer. Não deixarei de ser precavida.
Fomos
falar com a Orokul que estava nos guiando. Ela nos serviu sopa e falou que se
queríamos falar com o chefe ou com a contadora de história era só ir. Como se
fosse tão fácil.
Em
fim. Vamos partir amanha de manha rumo as mais pro terras do oeste. Estava
hora.
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Diário,
A
viagem até agora tem sido cansativa, mas também divertida. Pelo menos eu acho.
E acho que sou a única que acha. Em fim.
Tivemos
um acidente. Meu lagarto de montaria foi devorado por areias movediças e a Lady
Annika perdeu muitos dos seus pertences, que afundaram junto. Ser Helgraf muito
atenciosamente nos cedeu sua montaria. Ele insistiu que eu montasse, pois sou a
matriarca e tudo aquilo. É um pouco desagradável que ele e o ser Dominic
insistam tanto em cuidar de mim, como se estivesse doente. Apesar de que admiro
o cavalheirismo dos dois.
Em
fim, sem mais um lagarto, vamos demorar mais... São terras perigosas e nos
esforçamos para não chamar a atenção de tribos Orokul que possam ser violentas
e nos proteger dos perigos naturais de Voltar. Existem diversas ruinas Qesir
muito antigas, e diversos animais selvagens famintos.
--
Diário,
Aconteceu
algo estranho hoje. Estávamos sentados ao redor da fogueira quando sentimos
algo se mover ao longe. A senhorita Lavinia, que consegue enxergar longe,
percebeu rapidamente. Ser Helgraf chamou a criatura em Voltier. Acho que ele
imaginou que era um Orokul nos espreitando, mas a sombra sumiu.
Dai
apareceu no meio do fogo. Eu achei que era um espirito, mas o senhor Volksar me
parou a tempo. Era como se fosse um feiticeiro falando do fogo, em Silari.
Provavelmente um Qesir ou algo assim. Ele nos disse que era o Senhor do Fogo
alguma coisa. Eu realmente sou muito ruim com Silari. Não lembro das palavras.
Bom,
o feiticeiro pediu para que intervíssemos a seu favor contra uma tribo Orokul
que tinha roubado um artefato dele. E era para contatar em dois dias se
estivéssemos interessados na amizade que nos oferecia. Vamos pensar.
--
Diário,
Foi
magnifico. Uma fada! Um membro do povo antigo, bem perante meus olhos. Acho que
deve ser a segunda ou terceira fada que vejo. Elas são sempre magnificas. Como
os Qesir, só que diferentes. Mais... etéreos, mais parecidos a espíritos que a
nós, seres de carne e osso.
E
era uma fada belíssima, como elas normalmente são. Eles parecem fisicamente com
os Qesir, mas são mais altos, mais fortes. Seus olhares são diferentes, mais
poderosos e menos cansados que a da maioria dos Qesir. Mas vivos. São mais
bonitas também, com os homens sendo bonitos e as mulheres mais voluptuosas e
belas.
A
senhora do fogo, como ela se apresentou, falou para nos que as terras de Voltar
eram delas antes de serem dos Orokul, e que os Orokul tinham roubado deles um
artefato que queriam de volta, mas não poderiam faze-lo sozinhos.
Em
troca, eles iriam nos ajudar a achar o sacerdote de Nayurai. Eles afirmaram que
saberiam onde encontra-lo!
Nós
aceitamos ir ao lar deles, que ficava ao Norte. Pelo menos para escutar o que
eles tem a nos falar. Não quero me envolver em politicas Orokul, mas também não
desejo ficar procurando o sacerdote por toda Voltar, enquanto ele é perseguido
por cultistas malucos e aberrantes.
A
Senhora do Fogo se despede e deixa uma forma de achar o seu lar, que era uma
pedra vermelha e bonita no meio do fogo. Queimei minha mão quando peguei ela,
mas porque estava quente. O senhor Volksar afirma que logo ela esfriará.
--
Diário,
Nossa
viagem tem sido um pouco melhor. Ao que parece, as fadas que moram neste lugar
estão nos ajudando a encontrar comida e frutos. Ainda é árdua a viagem, mas
pelo menos estamos comendo bem.
Todos
nos já vimos uma figura na forma de uma Orokul se movendo de forma estranha e
sobrenatural no meio da floresta. Claramente não era um Orokul...
Ao
que parece, o povo antigo cuida de seus amigos. Não sei se queria ser inimigo
de uma.
--
Diário,
A
sorte voltou a nos sorrir. Encontramos um druida Orokul, ou algo parecido. Algo
antigo que na verdade nenhum de nos sabe o que é. Ele decidiu nos ajudar e está
guiando nossos caminhos de longe. Segundo a senhorita Lavinia estamos cortando
caminho e nos movendo muito mais rápido do que deveríamos em condições normais.
Que coisa estranha.
Voltar
realmente é um lugar estranho!
--
Diário,
Estamos
chegando ao lar do povo antigo. A senhorita Lavinia descobriu como fazer
funcionar a pedra. Ela faz um faixo de luz do sol mostrar o caminho. Não sei se
é magia ou se um artificio, mas a Lady Annika ficou maravilhada com a peça.
Espero
que dê tudo bem com as fadas.
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on sexta-feira, novembro 20, 2015
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