Sessão
31 - Última Sessão
Rainha
11, 14 4e
Diário,
Chegamos
a irritaria desde jeito quebrado: Cibele acordou mas estava fabril devido ao
ferimento infectado que não temos como sanar porque nossos implementos médicos
foram queimados junto com as barracas; Lavínia suava frio de dor e febre devido
a sua bacia quebrada. Ela acirrava os dentes e não se queixava, mas a dor era
exponencial a cada hora e ela, mesmo se curando rápido, isso não diminuía a sua
dor; Helgraf e Medeia se seguravam entre a vida e a morte, e a qualquer minuto
qualquer dos dois poderia morrer; Cibele estava acordada, mas distante e efêmera,
mais branca que o normal pela perda de sangue e dor do ferimento que parecia
começar a infectar.
Somente
eu e a rainha, que olhava aterrorizada para os feridos e lembrando do
aberrante, estivemos conscientes para seremos recebido por uma perplexa guarda
irritariana e um assustado cônsul Pol Afreè;
Meus
amigos estão em cama agora, levados a uma grande e bela casa no centro da
cidade que servia de embaixada para Hamask, sempre acompanhados por guardas de
Hamask e soldados da cidade, que nos acompanhavam a distância, num misto de
receio e de ódio, quando apontados a mim.
Irritaria
continua como eu lembrava, seu caos, sua cultura multicultural, seu cheiro a
ave e a fumaça. Quantos dias eu passei aqui? Depois de passar tanto tempo em
Hamask, esta cidade parece enorme, e ela é.
Diversos
agentes do governo vem a falar comigo, e não escondem a hostilidade que tem com
a ordem do dragão. Diversos deles, em diversos momentos, me dizem coisas como
“eu não pensava que você nos trairia” ou similares. Eu sei que isso vem do
sangue quente tão corrente nesta cidade, e não me altero, apesar de estar
incomodada.
--
Rainha
13, 14 4e
Diário,
Cibele
e Lavínia estão acordadas e de pê. A sacerdotisa de Nayurai novamente comprova
sua absurda habilidade de cura, enquanto Cibele, agora alimentada e com o seu
ferimento costurado, recuperou a cor e o ânimo.
Ela
olha para fora da casa com admiração. Inclusive, e contra todas os avisos meus
e dos excelentes fisiólogos arranjados pelo cônsul Afreè, ela até mesmo subiu
no teto da casa para ver sua cidade ao luz do sol.
Ela
se maravilha com isto e seu ânimo também transmite para a Rainha Elevia. Eu não
prestei muita atenção a ela nos últimos dois dias que estamos aqui, e parece
que ela desistiu de tentar fazer companhia, e limita-se a ter longas conversas
com o cônsul Pol Afreè, que, amante desta cidade como é, ficou animado quando
foi informado que nossa missão era tentar traçar um cessar fogo. Estou
preocupada e atarefada.
Helgraf
e Medeia estão muito mal, e nem os fisiólogos, nem eu nem Lavínia conseguimos
fazer muita coisa. Enquanto Medeia certamente não levantará em alguns meses,
devido aos ferimos, nós precisamos de Helgraf de pé para dirigir o ato
diplomático.
Eu
recorro a contatos meus junto com os Sonhadores Mágicos, e consigo o contato de
uma alquimista que eles afirmam que podem me ajudar. Joffrey, um alarani alto e
esquisito, poderia ser chamado de muitas coisas, mas menos de um Sonhador
Magico, e mesmo com toda a situação conturbada com Hamask, ele não coloca
objeções em me ajudar.
Eu
nunca fui, oficialmente, uma sonhadora. Me disseram que sou chamativa demais,
indiscreta demais, mas sempre fui uma aliada deles. Durante anos os Sonhadores
Mágicos vinham até mim e contavam problemas que precisavam de intervenção,
geralmente coisas que envolviam defender pessoas, combater a corrupção, lutar
com cultistas.
Esses
anos parecem tão distantes agora. Mesmo Joffrey, uma alarani, parece anos mais
velho.
A
alquimista, chamada de Feoria, viria amanhã para conversar conosco.
Espero
que ela realmente consiga ajudar Helgraf, porque sem ele, qualquer paz que
desejamos estará comprometida.
--
Rainha
13, 14 4e
Diário,
A
senhora Feoria é uma pessoa incrível!
Uma
dakhani de bastante idade, ela possui uma lucidez invejável, e uma sabedoria da
qual só tocamos a superfície. Ela se apresentou como uma apotecaria e uma
herbalista. Ela nos explica que as plantas e a natureza possui muito poder de
cura que muitos se esquecem, especialmente perante o brilho das curas magicas.
Ela
diz que as vezes o único diferente entre o veneno e a medicina é a
concentração. O ditado é comum, mas vindo dela, parece como se carrega-se
conhecimento extra. Ela tem olhos vivos e amarelados que brilham por trás de
suas muitas rugas.
Eu
explico a ela a situação de Helgraf, e ela explica que conhece o homem. A fama
do arauto o precede: um caçador de bruxas, um devoto do criador, um
sobrevivente do toque de Ekaria.
Ela
trouxera consigo uma poção especial, que nos revelou sendo um misto de ervas
raras e sangue negro de servos de Ekaria. Antes que pudéssemos nos opor, ela
afirma o objetivo da poção: Os corrompidos possuem capacidade de cura muito
poderosa. Não são raras as histórias de corrompidos que são gravemente feridos,
somente para voltar depois vivos, tendo transformado ferimentos letais em
cicatrizes.
A
ideia da poção era chamar esta habilidade dentro de Helgraf, visto que ele
ainda tem algo de corrupção dentro de si, para que ele pudesse curar as feridas
que a habilidade de cura de pessoas normais não seria o suficiente. Em outra
pessoa seria o mesmo que enchê-lo de corrupção e vê-lo morrer, mas com a
situação de helgraf ela poderia curá-lo. A poção, todavia, poderia mata-lo
também, então a senhora Feoria deixa a nossa escolha, sorri amavelmente, e se
vá, nos desejando a melhor das sortes.
Para
mim e para Lavínia não havia muita dúvida. Lavínia colhe a poção e faz Helgraf
beber sem hesitação. O homem tosse, como se o corpo reconhecesse o veneno que
fazia parte da poção, mas a sacerdotisa é hábil e o faz beber tudo. Não é de
agora que penso isto, mas Lavínia é realmente uma curandeira muito mais hábil
que eu, a única diferença entre nós são os anos a mais de experiência que
tenho, mas não há dúvida que em algum tempo ela será muito melhor do que eu!
Helgraf
começa a falar e a se remexer como se tendo pesadelos, e deixamos ele,
preocupadas que a medicina seja a toxina, e percamos ele para sempre. Mas o
Criador o protege.
--
Rainha
16, 14 4e
Diário,
Foi
designada o concilio com o Rei Adiran Alexandria de Irritaria e seu concelho
para daqui alguns dias, que serão tensos a medida que esperamos que Helgraf
acorde e fique bem.
Ele
ainda não morreu, então eu, Lavínia e Cibele concordamos que ele provavelmente
acordará, só resta saber quando.
O
cônsul Afreè se oferece para nos garantir vestimentas apropriadas para a
ocasião e coloca seu corpo diplomático para enfrentar as distintas camadas de
diplomacia que são precisas para o concilio.
--
Rainha
18, 14 4e
Diário,
Helgraf
acordou hoje!
Lavínia
me diz que ela estava escrevendo em seu pergaminho, meio dormindo, quando o
homem acordou. Ele já tinha aberto os olhos e até falado quando ainda neste
estado de pesadelos, mas desta vez ele estava consciente.
E
embora estejamos realmente alegres por nosso arauto ter acordado, as visões que
ele traz são perturbadoras.
Ele
diz que quando estava desacordado, teve visões terríveis, como se sua mente
viajasse pela conexão mental de Ekaria. Ele fala de visões perturbadoras, como
se estivesse vendo através dos olhos de corrompidos, sentindo o que ele
sentiam, vendo o que eles viam.
Helgraf
conta sobre como viu-se sendo um Legionário, martelando nas terríveis forjas
dos corrompidos, preparando armamento para uma guerra. Ele diz que se viu
também como um terror, correndo pelos campos nevados até uma fortaleza em um
passo montanhoso, com a bandeira da Ordem do Dragão tremulando nas suas torres
carcomidas.
Ele
diz que viu a Nuália gritando, comandando o exército em uma fúria terrível e
como a mera presença dela enchia-o, o corrompido, de propósito.
Mais
tarde, Helgraf afirma para nós que conseguiu entender melhor as visões. Ele
afirma que conseguiu reconhecer o local onde estavam as bandeiras da Ordem do
Dragão: a fortaleza Dar Dohakro, no Olho do Falcão, às saias dos Picos do
Trovão.
Ele
diz que todas aquelas visões tinham sido da mesma “onda” de corrompidos, e que
Nuália era o centro da onda, que viajava feroz para atacar a Ordem do Dragão.
Eu
me lembro que o Urian não tinha comentado nada sobre a corrompidos, apostando
no transporte por meio dos portais sombrios para poder evitar a perseguição dos
inimigos da Ordem pelo campo, em especial corrompidos.
Isso
nos preocupa bastante, especialmente porque talvez a ordem do dragão não
estaria preparada para uma força tão massiva quanto o Helgraf afirma ver.
Decidimos
então mudar nosso plano, e não pedir pelo cessar fogo, mas sim uma aliança
contra um inimigo em comum. Nos reunimos com a Rainha Elevia e Cibele e
compartilhamos nossa impressão e elas concordaram, mesmo que assustadas.
Aquela
massiva força corrompida poderia colocar os planos da ordem do dragão em risco,
e com isso talvez todo o mundo como o conhecemos!
--
Rainha
20, 14 4e
Diário,
Passamos
os últimos dois dias discutindo nossa abordagem diplomática. Helgraf e Cibele
parecem bastante a vontade com isso e Elevia presta atenção em tudo, disposta a
aprender e se tornar uma rainha melhor no futuro e em especial por tratarmos de
tantos temas que ela sequer fazia ideia, e as vezes fica até ofendida de
ninguém ter falado para ela, sendo tão importantes.
Consigo
ver um pouco de mim nela.
Para
mim e para Lavínia, as horas e horas discutindo termos, palavras, expressões
são excruciantes, mas fazíamos o possível para acompanhar o ritmo de Helgraf e
Cibele. O cônsul Pol Afreè afirma que o pedido que vamos tentar é bastante
complexo, e que precisamos apresentar nosso diálogo com perfeição, pois
sofreríamos a oposição de nobres profissionais e agressivos.
Ele
nos informa que estarão presentes a Duquesa Karina Parmus, o Duque Donovan
Parmus e o Duque Richie Bolear, que formam a trinca de duques que uma vez for
composta também pelo pai da Cibele. A experiência dela nos é vital, pois ela
nos corrige em vários detalhes da diplomacia, como nomenclatura e deferência,
graças a sua experiência.
Além
dos três, o cônsul confirmou a Lady Marian Neri e o Lorde Adolf Laurie,
representantes de Lerithurt. Com a guerra civil ainda em curso na nação, Irritaria
fez a sábia decisão de convidar ambos os representantes, deixando claro que não
vai interferir em um assunto interno de Tulmatus.
Estariam
também Marga Bengra’Dul, representante de Burkhuum, a quem o cônsul apontou a
necessidade de ter especial atenção, pois é uma mestre da política urdur, e
portanto, suas palavras são sempre carregadas de armadilhas.
Estariam
presente também a Dama Auraxia Morel, representante dos cavaleiros do corno e
refugiados de Hamask, que tem sido muito vogal contra o governo de Xeloksar e a
presença da Ordem do Dragão na cidade. E finalmente, a Lady Adua Nadiva, de
Yldreath, que estaria representando Ylrina Sumelara, e mais importante, a dama
Branca, Lianneren Rowanna.
A
politicagem é tão intricada que me faz doer a cabeça e ter um certo nojo do
pragmatismo e cinismo com que Helgraf e Cibele traçam a estratégia das falas.
Muitas
vezes eles me aconselham a ser comedida, dizendo de como eu posso ser grosseira
as vezes, especialmente quando minha vontade não é atendida. Eu me ofendo na
hora, mas com o tempo fico até um pouco envergonhada de ter passado esta
impressão às pessoas.
--
Rainha
25, 14 4e
Diário,
Hoje
é o grande dia em que nossa negociação iniciará. Helgraf nos avisa que
provavelmente o concelho durará alguns dias, e principalmente que tenhamos
atenção no que fazemos.
Sua
Majestade a Rainha Elevia vai vestida com um belo vestido vermelho,
representando as cores de Hamask. Ela, elegante e bonita como sempre, parece
ficar ainda mais a vontade neste traje.
Lavínia
usa um vestido que mais parece um ornamento litúrgico, que é acompanhado de uma
pesada maquiagem na cor azul. Ela faz questão de mostrar que não está lá
representando Hamask ou a Ordem do Dragão, mas sim a sua fé. O vestido, azul,
branco e preto, cai longo e é acompanhado de correntes que carregam imaginários
lunares. Não neguemos a capacidade do Cônsul em arranjar bons alfaiates para
atender às demandas da sacerdotisa.
Cibele
escolhe um vestido negro e simples, já que ela não vai participar diretamente
dos embates diplomáticos, mas tem um grande parte no primeiro dia. Ela está
claramente nervosa e irritada, como lembro que as Cibeles ficam quando expostas
a um grande estresse.
Helgraf
usa suas vestimentas militares, que foram resgatadas por Medeia. Um elegante
traje negro com luvas brancas, uma faixa vermelha no peito e suas medalhas no
outro lado, medalhas de Hamask, da Ordem do Dragão e, inclusive, Corvo Branco.
No pescoço ele carrega, orgulhoso, o símbolo do criador forjado em prata pura.
Eu
vou vestida de preto e vermelho, com maquiagens em iguais cores. Eu sou a
representante da Ordem do Dragão lá, a oficial, uma vez que Helgraf, como
diplomata, será visto mais como um intermediário da vontade de dois reinos. Meu
vestido é bonito, eu fico bem de preto, ou me acostumei já. Desde que casei com
Urian, tenho longas aulas de etiqueta de corte que agora começam a fazer
sentido, e todo meu guarda-roupa (que antes era inexistente) agora era composto
por trajes vermelhos e negros.
Nos
dirigimos ao magnifico castelo Irritaria. Prostrado em uma ilha no meio do lago
Irritaria, o local é um castelo como de conto: longas torres erguendo-se de uma
fortaleza alva, que parecia etérea entre a umidade do lago e os raios do
brilhante sol daquele dia.
O
interior do castelo é espetacular. Eu nunca tinha estado lá, mas Cibele sempre
nos descreveu a magnificência e elegância do local, feito com os mais elegantes
matérias e as mais belas obras de arte, em uma forma que fazia os mesmos
qesires ficarem invejosos.
Nos
separamos de Cibele assim que chegamos à sala de concelho, onde uma grande mesa
se postava perante um trono colocado em uma posição mais alta. Cadeiras nos
cantos, junto as paredes, eram destinadas a observadores e pelo corpo diplomático.
O
mestre do local nos mostrou nosso lugares, e enquanto nos sentávamos, também o
faziam os nossos “rivais”, que eram exatamente aqueles que o cônsul tinha
descrito faz um tempo atrás. Helgraf e a Rainha Elevia são de uma elegância tal
que conseguem trocar amenidades com essas figuras políticas de forma
civilizada.
Lavínia
era menos política, e parecia que entrara na sala com a faca entre os dentes.
Ela não agradava os nossos anfitriões com nenhum sorriso e somente com
respostas curtas. Ela já veio considerando-os inimigos.
Eu,
por minha vez, me senti bastante fora de lugar. Absolutamente todas as
negociações que tinha feito até então foram bem menos formais, bem menos
ensaiadas, e certamente menos importantes. Havia, porém, um clima de antipatia
sobre mim, como se eu, representante da Ordem do Dragão, antiga figura querida
pela cidade, agora fosse a pior das traidoras.
Logo,
o Rei de Irritaria entrou: Adrian Alexandria era um homem alto, de feições
poderosas, que tinha sido um grande herói e cavaleiro em sua juventude. Ele
tinha dirigido irritaria durante momentos terríveis, desde que subira ao reino
durante a Guerra Elemental, faz mais de 60 anos atrás. Ele, poderia se dizer,
era o arquétipo do bom Rei: corajoso, nobre, justo e sábio, um grande guerreiro
e comandante. Tinha liderado seu reino contra Lenar e contra a Estrela Negra, e
agora, contra Ashardalon.
Ele
se senta, acompanhado por sua filia Raiza do lado, a Princesa de Irritaria, uma
jovem bonita e delicada de olhos grandes e atentos.
Os
cavaleiros da fênix e sua armadura emplumada apareceram também, gloriosos e
inumanos, pareciam anjos guardado o rei contra todo mal. E um pouco mais atrás,
os Lanternas Negros do Rei. A Grã Mestra Cibele se postou ao lado esquerdo do
rei, atenta, mas evitando meu olhar.
Ela
tinha tentado me matar quando estava gravida, e ver esta Cibele seria, soturna,
depois de convivido com aquela que resgatamos do Senhor das Moscas, era
chocante.
Após
as apresentações, o Rei dá a Palavra, e então começa uma das atividades mais
extenuantes, estressantes e irritantes que já tive que fazer em toda minha
vida.
Não
consigo lembrar exatamente o que aconteceu nestas diversas horas de discussão
brutal como uma batalha, línguas afiadas como espada, e sarcasmos que golpeavam
tão forte quanto magias explosivas.
-A
primeira sessão diz respeito ao argumento apresentado pela Rainha Elevia,
primeiramente apresentando a Cibele ao rei, e descrevendo as circunstâncias de
seu resgate. Ela afirma habilmente que acreditávamos ser a Cibele original.
-Marga
Bengra’Dul levanta a questão de que talvez essa não era a verdadeira Cibele,
bem podendo ser uma pessoa modificada por magia. O rei manda prender as duas
Cibeles com grilhões de prata, para ter certeza de que nenhuma for desaparecer
pelas sombras.
-Com
ajuda de Lavínia, a rainha nota que a Grã Mestra fica chocada quando a Cibele
que trouxemos recebe os grilhões de prata na própria pele, e sua Majestade
explora o ponto, afirmando que não tinha sido culpa da Grã Mestra, mas sim a
ubris de uma poderosa maga e o amor que tinham por ela que levou a sua
existência. Nesse sentido a grã-mestra era uma vítima também; uma criatura
espiritual que não sabia que o era, mas uma pessoa com sentimentos e que não
pediu nada disso.
-Adolf
Larouse afirma que ele sabia que éramos aliados dos Sangue de Fogo, que além de
terroristas, eram conhecidos por sua terrível magia de sangue. Talvez eles
tivessem dado um jeito de transformar uma pessoa noutra.
-Eu
afirmei que partir deste princípio era paranoia, pois se fossem aceitar isso,
esta conversa inteira era inútil: Se a Ordem do Dragão pudesse – e quisesse –
substituir pessoas por clones idênticos, não precisaríamos vir até lá.
-Ele
afasta meu argumento como sendo ninharia e brincadeira.
-Helgraf
consegue escoar entre as discussões e afirma que alguém como Barrim saberia sem
dúvidas que essa Cibele não era a verdadeira, e certamente não se importou.
A
acusação a Barrim termina por criar tal caos que nada mais interessante saiu
desta discussão, e saímos bastante tarde a noite do local, completamente
esgotados.
Na
saída, o marido de Cibele, Richard, se aproxima de mim e pergunta, claramente
segurando a magoa, se o que eu tinha falado sobre Cibele era mera politicagem
ou era honesto. Eu confessei pra ele que era honesta. Ele não quis mais
discutir e, decepcionado, se afastou.
Cibele
ficara no castelo. Agora que estava livre, ela fez questão de conversar com a
Grã Mestra. Elas tem muito a conversar.
Princesa Raíssa |
--
Rainha
26, 14 4e
Diário,
Confesso
que pouco dormi esta noite, preocupada com o que o Urian poderia estar
passando: Nós não sabíamos se a visão de Helgraf tinha sido sobre o futuro ou
sobre o passado, e talvez a batalha estava acontecendo nessa noite.
Mas
minha missão era outra: diplomacia.
O
segundo dia foi tão duro quanto o primeiro, mas desta vez fora Helgraf a tomar
a dianteira da discussão, e mostrou a todos nós o quão hábil ele era.
Confesso
que até hoje eu achava que Helgraf era mais um guerreiro que falava bem. Ele é
um combatente bem decente, e também um estudioso, mas nunca o tinha enxergado
como um Diplomata, especialmente porque era eu a tomar a dianteira na maioria
das discussões e negociações.
Mas
ele se mostrou incrivelmente hábil como diplomata, o que foi assustador. Este
homem que já vi lutar contra corrompidos agora passeava entre as linhas de
retórica com igual fluidez, somente sendo enfrentado por igual por uma Marga
Bengra’Dul.
Lembrei
dos guerreiros filósofos de Dalant. Uma vez conheci um. Antonidas de Dalant, um
espadachim hábil e igualmente hábil orador, e que devotavam-se a preservar o
conhecimento. Certamente Helgraf causaria orgulho e inveja mesmo aos Dhakani!
Enfim,
o segundo dia resumiu-se desta forma, se mal me lembro:
-
Helgraf retomou a discussão do dia anterior, apontando como o Senhor das Moscas
e Barrim eram parecidos, e usavam seu poder para benefício próprio.
-
Lorde Richie Bolar critica a posição de Helgraf, que insultava Barrim e toda
sua linhagem, que era insultar as tradições de Irritaria.
-
Lavínia explica sobre as gemas, e diz que ela estava sendo neutra lá, pois não
tinha aliança com ninguém a não ser com a fé em Nayurai. Ela aponta que as
gemas deviam ser usadas para o benefício pessoal, não de poucos poderosos.
-
Lady Adua Nadiva aponta como ela estava
sendo mentirosa, ao dizer que ela não tinha nada de neutro, uma vez que tinha
recebido uma doação de terras para sua igreja na própria Hamask.
-
Eu aponto que o que estávamos discutindo aqui era a natureza das gemas e
daqueles que tinham posse deles, o que levava a um problema muito maior de quem
tinha terras na cidade de quem.
-
Lorde Donavam diz que a Ordem do Dragão, que tinha traído e quase assassinado o
Magistrado Barrin, não tinha nenhuma moral de falar sobre ele.
A
discussão se montou terrível e o Rei dispensou o concelho, claramente
exasperado.
O
segundo dia terminou como o primeiro, mas por sorte tínhamos Helgraf a nosso
lado.
--
Rainha
27, 14 4e
Diário,
Acordar
para enfrentar mais uma vez, pela terceira vez, este embate diplomático, foi
complicado.
E
lá estávamos de novo, a comando de Helgraf contra os representantes de Irritaria.
-
O assunto anterior foi retomado rapidamente por Helgraf, que preocupou-se de
desenhar o Barrim como sendo um espirito, um anima, que alimentava-se do poder
das gemas e manipulava o reino faz muitos anos. Ele manipulou o espirito da Fênix,
e a mesma linhagem de Mishra era um ardil.
-
Desta vez, Karina Paramus se exaltou, apontando como além de falar mal do
magistrado e desafiar as tradições irritarianas, estavam falando de um homem
adoecido!
-
Eu aponto como o fato dele estar adoecido, agora sem a gema, já era um forte
indicio de que havia uma conexão errada entre ele e a gema branca.
-
O rei nos cala, e exige que seja respeitada a saúde do Magistrado.
-
Lavínia resgata o argumento de Helgraf, apontando como por causa de uma gema
tinha se montado uma guerra imensa que era nefasta para todos os lados,
enquanto Ekaria e Ashardalon destruíam o resto.
-
Lady Mariana Neri aponta que a guerra tinha um propósito específico, e quem
começara ela não tinha sido Barrim, senão a Ordem do Dragão.
-
Eu desminto ela, dizendo que Barrim tinha sido chamado para conversar de paz, e
quando tocou o tema da gema, ele tinha começado a ameaçar Urian. Fui desmentida
pela Grã Mestra, que disse que fora Urian que atacara primeiro. (Se mal me
lembro, foram as duas coisas).
-
A Grã Mestra Cibele pede permissão ao rei para falar e revela que ela se sentia
cada vez mais distante, mais espiritual, devido a sua condição. Ela diz que
Brianna constantemente lhe dizia que era o preço que tinha pago por sua vida,
mas Cibele sabia que era algo a mais. A cada Lanterna Negra que morria, a cada
momento de grande decisão que passava, ela se sentia mais cada vez mais
espirito, tomando decisões que ela não faria, decisões amorais, e apontou como
se isso acontecia com ela, era fácil imaginar que um espirito poderoso e
obcecado pelas gemas poderia fazer.
-
Cibele também fala, e diz que ela tinha sido vítima de uma criatura que
utilizava-se da gema verde sobre todos os meios, e que fomentar uma guerra. Ela
diz que ela sabia que a Grã Mestra não tinha culpa, ela fala de Richard, de
como ela não tinha vivido os últimos oito anos com ele, e como não tinha sido
parte dos lanternas por oito anos. Ela pediu a Grã Mestra para ser considerada
uma aprendiz, e que não estava lá para roubar-lhe a vida, pois eram agora mais
como irmãs. Ela seria sua braço direito e a apoiaria, e quando sua natureza
espiritual ficasse "ruim demais" ela teria honra em sucedê-la, e lhe
oferecer amizade em sua aposentadoria.
A
sessão terminou em prantos da Cibele, da Grã Mestra Cibele, da Rainha Elevia,
que sensivelmente fora lá a felicitar as duas, e da princesa Raiza, que vira
suas mestras encontrarem a paz.
É
difícil imaginar a tensão porque passaram as duas e a princesa nos últimos
dias, mas ao que parece tudo ficou bem. Ou da melhor maneira possível.
O
clima emocional fez com que o Rei, em respeito às duas Cibeles, dispensasse a
sessão, que se dissipou sem discussões acaloradas desta vez.
--
Rainha
28, 14 4e
Diário,
Outro
dia de corte, e Helgraf mostrou que é um titã na diplomacia. É difícil ver por
minhas descrições, mas o homem possui uma habilidade em criar argumentos e
fazer os seus adversários entrarem em contradições constrangedoras. Chega a ser
cruel as vezes, e são poucos que conseguem enfrenta-lo nesta arte.
Seus
argumentos são certeiros, claros e com a dosagem certa de emoção, como se ele
tivesse sido encantado para saber falar a coisa certa na hora certa. Mas tem
algo mais. Às vezes Helgraf pega argumentos nossos que não foram bem recebidos
e os repete, mudando o tom ou alguma palavra, e alcançam resultados muito
diferentes...
O
quarto dia começou brando, tanto pela situação com que o dia anterior tinha
terminado. Desta vez, Cibele estava entre os Lanternas Negras, uniformizada e
ao lado da Grã Mestra, orgulhosa de ser reintegrada a sua vida, e cheia de
expectativas nos olhos.
-
Helgraf lançou o argumento novo de que a Dama Branca, Lianneren Rowanna, tinha
sido substituída por Lashgana, a dragonesa branca, e que esta estava
manipulando, enfraquecendo as forças de irritaria, para o benefício de
Ashardalon e Ekaria.
-
Uma reação inesperada aconteceu. Ao invés de argumentar contra nós, os dois
duques Paramus e o duque Bolear se voltaram contra a Lady Adua Nadiva com
comentários crescentemente racistas contra os Alaranis, chegando ao ponto de
xingar eles de Elfos Negro. Contra os avisos de Helgraf, eu comecei a defender os
Alarani deste absurdo racista.
-
Lady Adua crítica que eles não tinham provas desse absurdo, mas complica-se em
montar um debate perante a chuva de absurdos racistas que os seus próprios
“aliados” apontavam contra ela.
-
Eu contei a história de como a suposta Dama Branca tinha dado a Cabala de Izack
as informações sobre a Espada de Karmassal, que poderia matar qualquer coisa
divina, draconiana e humanoide. E logo, como vira o dragão Lashgana fazer parte
do ataque à Cidadela de Sigfried, e logo, como ao enviar um grupo ao norte com
os poucos heróis que sobraram e quiseram lutar para fazer uma diferença, a Emil
tinha sido corrompida pela espada. A Grã-Mestre Cibele me ajudou muito neste
ponto, pois ela confirmou minha história e completado as lacunas da minha
memória, afinal ela estava lá.
-
A Marga Bengra’Dul questionou o que Lashgana ganharia fazendo isso, este
aldril. Lavínia adiantou-se e informou que matar Salokhnir, o que revelava que
o poder de Ashardalon não era tão monolítico como se acreditava. Então, o
capitão dos cavaleiros da fênix pediu a palavra, e contou que Salokhnir tinha
sido ceifado pelos bárbaros liderados por Emil, e que agora aterrorizavam o
norte gelado.
-
A Rainha Elevia aproveita a emoção e conta ao Rei como Hamask tinha sido
devastada por causa de uma dragonesa, e que o destino era terrível. A atuação
da rainha chegou a dar uma pausa aos argumentos contra os alaranis, enquanto a
Rainha descrevia a devastação de Hamask a primeira mão.
-
Tudo mundo se convenceu menos Dama Auraxia Morel, que apontou que uma coisa não
tinha a ver com a outra, e como a Ordem do Dragão tinha se aproveitado
exatamente deste caos para tomar Hamask e colocar um fantoche como Xeloksar no
poder.
-
Eu apontei que eu também estava lá, e se não fosse pela Ordem do Dragão, Hamask
teria sido transformada em uma cratera pela Aurora Escarlate. Auraxia me rebate
dizendo que tinham sido os valaryn a expulsar o Dragão, e eu apontei que se ela
reduzia a quase destruição de Hamask a essa simplificação era porque ela não
estava naquele dia fatídico ou não prestara atenção.
-
Em certa altura da conversa, notei como o Rei solicitou que a Grã Mestra saísse
pela primeira vez. Ela retornara algumas horas depois, e contara algo ao Rei,
que então interrompeu o concilio e se dirigiu diretamente à rainha,
questionando se ela afirmava com sua certeza Real de que acreditava que as
informações que tinha sobre Lashgana eram verdadeiras, a que a Rainha
confirmou.
O
rei Adrian dispensou o concilio e se retirou rapidamente do local.
Soubemos
que nesse dia, mais tarde, os Lanternas Negras tinham se dirigido ao consulado
de Yldreath, que negaram a entrada dos Lanternas (é uma embaixada afinal) e
quase tinha acontecido violência, uma vez que a Grã Mestra teimara que Yldrath
fazia isso para defender Rowanna, e se era verdade a acusação, a dragonesa
poderia escapar nesse interim. Somente foi parada por Cibele, que a fez ver a
razão.
--
Rainha
29, 14 4e
Diário,
O
quinto dia de argumentos fora o mais chocante, de longe, e percebemos
claramente como a delegação de irritaria tinha perdido espaço, pois foram menos
vogais, e o seriam especialmente pelo que a Lavínia tinha a dizer.
Lavínia
nunca foi mulher de esconder o que sente, ou medir suas palavras pela
sensibilidade de outros. Ela foi clara e dura, e talvez isto tenha sido o
ideal.
Ela
iniciou a discussão que Ekaria e Ashardalon não eram só inimigos, mas também
estavam tramando juntos o fim dos humanoides. Ela levou a vergonha aos
ouvintes, ao criticar como tudo mundo brigava por razões as vezes absurdas
enquanto a civilização era varrida do mapa por dragões e corrompidos.
Para
fazer seu ponto forte, ela mandou adentrar o cadáver do aberrante que tinha nos
atacado caminho aca e falou como essa coisa tinha tentado matar a Rainha
Elevia, e a Filha de Irritaria, Cibele, e que heróis como a cabala que montei,
tinham sido dizimados por criaturas como essa.
A
mera visão da criatura foi um choque para todos, em especial para os Duques de Irritaria
que chocaram-se ao saber que esse monstro tinha sido encontrado dentro de
Argus, a um dia da Capital.
Lady
Marian Neri tentou formular um contra argumento, dizendo que o Reino Unido não
iria participar da cruzada religiosa dela. O Argumento dela foi abafado na hora
pelo feroz olhar de Lavínia, e o olhar de censura de Adolf, Richie, Katrina e
Donovan, que tinham conseguido abstrair e ver que a fé dela tinha sido caçada
por estes monstros, e mesmo assim, ela lutava com todas suas forças e armas
para manter sua fé viva.
A
delegação de Irritaria não conseguiu formar argumentos para combater o fato de
que havia um aberrante lá, e que este aberrante tinha atacado a delegação de
Hamask, que quase fora morta. A criatura era real e igual nossos ferimentos,
como o de Helgraf, que ainda carregava uma faixa na cabeça que trocava a cada
hora para evitar que ficasse ensanguentada.
O
Rei interrompeu logo o concelho, pedindo tempo para todos se recuperarem e
retirarem a criatura desse lugar.
Voltamos
somente no meio da tarde, e todos ainda se viam abalados pelo que Lavínia tinha
contado e demostrado. Helgraf testara durante o almoço o que se falava, e a
discussão geral entre os corpos diplomáticos era que se aberrantes e dragões
tinham se esforçado tanto em destruir a delegação de Hamask, era porque se
beneficiavam da guerra entre as cidades.
Desta
vez, fui eu a iniciar a conversa.
Eu
pedi permissão ao rei, e me dirigi diretamente a ele. Eu contei que eu tinha
dedicado minha vida a um proposito: Salvar o mundo de monstros. Tinha sido eu e
Cibele a derrubarmos a Estrela Negra e a lançarmos o Setrous de volta a seu
abismo imundo, eu contei que tinha viajado para Corvo Branco, Rosseta, Silverar
e diversos outros lugares, mas sempre enfrentando monstros. Todos naquela sala
sabiam quem eu era e o que eu fazia.
Disse
a ele que nesta procura por enfrentar estes males eu tinha perdido tantos
amigos e tinha quase morrido tantas vezes que perdia a conta. Disse que
independente de qual fosse meu marido, meu lar, eu não iria parar de lutar para
evitar que monstros matassem os humanoides.
E
disse que em diversas ocasiões, fora Irritaria e seus heróis que tinham salvado
a todos, lutando as mais terríveis batalhas para isso. Este era o destino da
nação, e de seu povo.
Disse
a ele que como representante da Ordem do Dragão, eu estava lá para solicitar só
uma coisa: Auxilio. Ajuda ao plano que Urian traçou, porque se ele desse
errado, a civilização não resistiria mais um ano, e todas as batalhas de
Irritaria e as minhas estariam perdidas.
Eu
não sei que efeito teve minha fala. Eu não me importei em escutar ou responder
nada. Escutei a voz de Katrina Parmus e Lavínia discutindo, escutei a Rainha
chamando por calma, e a voz calma e arrogante da Dama Auraxia Morel fazer algum
comentário sobre mim, sobre como era arrogante ou algo assim.
Não
me importei, eu fiquei lá, de pé, perante o trono do Rei Adrian, olhando
atentamente para ele. Eu nunca desejei algo tanto na minha vida como a
compreensão desse homem. Eu imaginava as hordas de corrompidos atacando a ordem
do dragão, obrigando Urian recuar, matando meu marido e carregando as gemas
para longe.
Eu
via os olhos do Rei Adrain olhando ao longe, vidrados, pensativos. De como ele
olhou para a filha dele de relance e franziu a testa.
Ele
então ergueu a mão para parar a discussão que acontecia atrás de mim. Ele então
chamou o seu neto, o Ser Luitaniel Darvon Alexandria, que era comandante de
seus exércitos.
E
então ordenou a seu comandante que juntasse as hostes. Irritaria iria marchar
para a batalha.
Eu
poderia ter beijado os pés daquele homem naquele momento. Nunca estive tão
aliviada! Meus músculos estavam tão tensos enquanto esperava a resposta dele
que precisei me sentar depois de sua resposta.
Talvez
agora tenhamos uma chance!
Rei Adrian |
--
Ladrão
2, 14 4e
Diário,
Três
mil aves de guerra marcham para a guerra, colocadas nos navios a vela que
navegavam velozes pelo Lago Irritaria. As aves, e seus cavaleiros emplumados
pareciam aquelas pinturas de guerras lendárias que Xeloksar tinha na mansão
dele.
Eu
sei que Urian tinha me falado para ficar longe, mas terei que descumprir.
Lidarei com isso depois, por ora, ajudarei a salvar o mundo!
--
Ladrão
7, 14 4e
Diário,
A
batalha que participei hoje foi desesperada, talvez lendária, mas terrível.
Cada vez que fecho os olhos vejo a imagem terrível de Ashardalon. Fiquei
machucada, mas o que mais me feriu foi sentir quão fácil minha mente se me
escapou.
Me
chamaram de louca tantas vezes, Lavínia, Luna, Xeloksar, Lindriel, tanta gente
que eu achava que estavam me insultando somente, mas hoje eu senti no fundo da
minha mente esta... Esta pedra faltando, algo imperfeito e frágil que por um
momento englobou tudo.
É
desesperante saber que carrego este medo adentro de mim, e que agora consigo
sentir rondando meus sentidos, enegrecendo minhas emoções e enevoando meu raciono.
Eu achava que esta fumaça negra nos cantos da mente era somente desespero, ou
tristeza, ou um misto dos dois, mas é algo mais...
A
batalha, me contaram, começou com uma investida de draconatos. Centenas de
seres dracônicos investindo contra um exército amalgama de Alaranis, soldados
de Hamask e de Selvalis e da Ordem do Dragão.
Esta
primeira onda fora derrubada sem lutar: Dentre os soldados de Selvalis,
Karalanar, Bum e Raagras estavam lá, e tinham montado uma armadilha para o
primeiro inevitável ataque, que criou dezenas de explosões poderosas assim que
os draconatos passavam, criando crateras grandes por todo o perímetro do local,
e fazendo os draconatos recuarem.
O
segundo ataque dos draconatos também fora repelido pelas habilidades do trio de
Selvalis, que trouxeram da Montanha Prateada um enorme arma. As forças
dracônicas, apostando em um grande trunfo, lançaram uma carga completa
acompanhadas de dragões jovens, e dentre eles, um maior, o grande dragão ancião
Endrakur.
Um
sopro daquele dragão poderia derreter a pedra e os homens das fileiras da igual
maneira fácil, mas foi detido.
Raagras
ativara esta arma das maravilhas, trazidas de terras distantes, que lançou várias
esferas brilhantes contra o peito do ancião, que fora pego por surpresa. Estas
esferas ou balas gigantes, explodiram com uma força inimaginável, e em
segundos, o grande Endrakur despencara dos céus, morto. O sangue ácido dele
jorrara por todo o local, e draconatos e humanoides foram afetados e tiveram
que se esconder, acabando prematuramente a segunda onda dos Draconatos.
"My armor is iron" this! |
Disseram
que se passou diversas horas até que os draconatos voltaram a formar diante do
campo de balata. Eles apreenderam que os mortais estavam preparados e não esperavam
por uma segunda chance.
Eles
esperaram de proposito por duas coisas: a primeira foi a chegada de dois
grandes anciões a mais, e dois mais importantes dentre os servos de Ashardalon:
a Dragonessa Lashagana, agora a mão direita do deus dragão, e o ancião Endregun,
o Dragão de Dalant, que tinha comandado durante séculos os dakhani daquela
região em guerras sem sentido e devoção divina a sua figura.
E
também, tinham esperado a noite que veio com os reforços que queria: a maior
horda de corrompidos jamais noticiada, comandadas por ninguém menos que Nuália.
A
horda, além de seu imenso volume, era levada por uma especial determinação, e
ao invés de atacar desordenadamente como é a natureza destes monstros, eram
guiados pela vontade uníssona daquela cultista.
Os
draconatos permitiram que os corrompidos iniciassem o embate, e os acompanharam
somente como reforços. Nos ares, uma batalha titânica começou.
Me
contaram que no alto do pico do trovão, Urian não desperdiçou o seu tempo e
iniciou o ritual tão logo conseguiu. O ritual envolvia diversos dragões que
eram seus discípulos darem o sangue e a vida para que ele, Urian, um humano,
pudesse utilizar a magia draconiana, em conjunto com as pedras.
Dentre
os dragões que estavam com Urian, um se destacou: Darigás.
Durante
todo este tempo, desde o início da ordem do dragão, e antes, tinha sido Darigás
o motor de toda esta resistência. Ele, conhecido como O Grande Dourado, era o
nêmese de Dragdar, e mais de uma vez tinham ambos lutado por influência e
tinham atrapalhado o plano um do outro. Ele era uma das figuras
tradicionalmente aliadas dos humanoides, o mentor tanto de Eurilance quanto
Arragrat, e detentor de conhecimentos dracônicos que compartilhava com alguns
mortais.
Tinha
sido Darigás que atrapalhara o plano de Dragdar quando o tirano tentara colocar
suas memorias no corpo de um rebento da guerra para escapar da morte, e tinha,
como resultado, dado vontade própria à criação: Urian.
Darigás
e Urian tinham criado a ordem do dragão, criado o ritual dos paladinos e ainda
elaborado todo o plano que culminava naquela noite.
Darigás
tinha estado ao lado do Urian todo esse tempo, disfarçado na figura do
Grão-Arauto Elithinen.
O
mesmo Elithinen que tinha tomado a decisão de matar Elizabeth.
Quando
Endregun e Lasgana se aproximavam do forte, voando vitoriosos, pois haviam
muitas poucas forças no mundo que poderiam derrotar o seu poder combinado, o
grande Dourado surgiu.
Muito
maior que eles, Darigás atacou-os a grande altura e enfrentou os dois ao mesmo
tempo. Concentrando-se no mais fraco deles primeiro, o Dourado estrategiou para
cair por sobre a dragonesa branca, quebrando os ossos dela contra a rocha e
graças a seu enorme peso. Lashgana tentou lutar, mas não era páreo para o
dragão maior, que agarrando-a do pescoço, desnucou-a com uma força tão
descomunal que só poderia pertencer a dragões.
Mas
Endregun aproveitara e atacara Darigás pelas costas, e o feriu terrivelmente
enquanto os titãs lutavam.
Dragões
menores voavam pelos ares, aliados de Urian e servos de Ashardalon, se
enfrentado em combates lendários cada um deles. Os acompanhavam os paladinos da
Ordem do Dragão, que combatiam com agilidade incrível e técnica que somente os
dragões já maiores conseguiam lutar.
Abaixo,
o volume e determinação da horda corrompida não podia ser parado. Eles
enfrentavam os soldados humanoides com tanta fúria e determinação como nunca
antes se vira nestes exércitos.
E
Nualia que os liderava era uma força da natureza pro si mesma. Munida de uma
força inumana e uma fúria quase divina, ela varria os campos de batalha,
matando humanos, dragões e paladinos com igual facilidade. Ela arrancava
dragões menores dos céus, matava os dracos dos paladinos e os seus cavaleiros e
suportava ferimentos mortais sem parar. Mesmo as chamas dracônicas de um jovem
dragão não conseguiram a deter, enquanto ela liderava seu devoto exército
monstruoso contra a fortaleza de Dar Dohakro.
Foi
então que chegamos ao campo de batalha.
As
hostes de Irritaria apareceram no flanco da grande massa corrompida, trajando
branco e dourado e ao som estridente das aves de guerra, que em grandes volumes
faziam um som sobrenatural. O rei ordenara que fossem tiradas as biqueiras; eu
já tinha visto o que essas feras de guerra podiam fazer, mas isso significaria
se expor à sangue corrompido. O rei sabia que a maioria não sairia daquele
campo...
A
primeira investida contra o flanco corrompido tinha a intenção de tentar forçar
as suas hordas a recuarem, para ganhar tempo à Ordem do Dragão de reagrupar e
cuidar de seus feridos.
A
investida, mesmo não tendo o resultado desejado, foi forte o suficiente para
forçar os draconatos a se unirem a batalha, do outro lado do campo. Helgraf,
Lavínia e eu estávamos nesta primeira investida.
Foi
me dito que Helgraf destacou homens e investiram contra os feiticeiros
corrompidos. Os diabos magros e assustadores eram, além de líderes, poderosos
feiticeiros de sangue. Helgraf fora quase vítima de um deles, que vaporizara
sua ave de guerra com um raio terrível, que o inquisidor conseguiu evitar a
último segundo. Dizem que Helgraf carregou sua adaga de prata e agilmente
aproveitou-se da conjuração da criatura e a ceifou. A criatura tentara lançar
um encantamento sobre ele, mas Helgraf, abençoado pelo Criador, surgiu imune,
pronto para cravar a adaga na testa da criatura mágica, que estremeceu. Antes
de ser envolto por corrompidos, ele fora salvo por uma cavaleira que levou-o
junto com sua ave de guerra.
Lavínia
acompanhara os hospitalários marchando até os feridos e evitando que soldados
ainda aptos morressem ou se tornassem pesos mortos. Dizem que ela salvara
alguma dezena de homens, que voltaram a batalha com folego renovado.
Eu
liderei uma investida direto no fronte do inimigo. Meu pássaro fora morto
quando avancei contra um Diabo, mas graças a força da minha montaria morta,
consegui cravar uma lança no peito do grande corrompido. Não dei brecha para
ele e cravei minha espada no seu olho, e num movimento de braço, destruí o que
rachava o seu crânio. Ainda lutei com um par de corrompidos antes de ser
assustada por um aberrante, como se fosse um verme monstruoso e gigante,
rastejando rapidamente na minha direção. Porém, a criatura não esperava que um
dragão a notara.
Verde
e jovem, a criatura voara perto de mim e assoprara sua baforada tórrida por
sobre o aberrante, que em momentos tornou-se uma carcasse fétida e enegrecida.
A criatura, aparentemente me reconhecendo, me ordenou ser mais cuidadosa.
Eu
sei que enquanto fazia isto, Helgraf conseguira uma nova montaria e liderara um
destacamento de cavalaria que, em uma investida gloriosa, penetrara profundo no
flanco do dos draconatos, que focavam-se em avançar e não esperavam por esta
investida, fazendo movimentos ágeis para, como uma arma, aumentar a ferida.
Eu
comecei a juntar homens ao meu redor, que alguns me reconhecendo, chamaram meu
nome. Eram pessoas desgarradas de suas unidades e muitos deles, perdidos,
lutavam mais por sobrevivência que por uma eficiência. Estava no fronte. Enquanto
mais homens se juntavam a mim, mais pesado começávamos a empurrar os
corrompidos desse lugar para longe. Mas o tamanho do meu “grupo” me traiu, e um
dragão alto, de cor azul metálica, aterrissou e veio na minha direção.
Dei
uma espada na criatura, incentivando meus soldados a fazerem o mesmo. Minha
intenção era forçar a criatura a voar novamente, e evitar que ela usasse sua
baforada sobre todos nós, no solo.
A
criatura entendeu meu plano e tentou me morde, mas não conseguiu perfurar minha
armadura. Ele então começou a me arrastar para longe, apesar de que pelo peso,
não conseguira voar. Eu percebi outro dragão inimigo voando na minha direção, e
sabia que se ficasse enfrentando este aqui logo teria que lidar com dois
dragões, o que seria letal.
Minha
armadura me salvou: Me concentrei nela, e, naturalmente, o encantamento forjado
nela ativou. As runas douradas brilharam e me tornei um grande lobo metálico.
Nesta forma, consegui escapar dos dragões por entre o campo de batalha.
A
forma era muito conveniente: rápida e forte, como era feita de metal, não me
preocupavam ocasionais golpes de espadas ou flechas que tentavam me parar.
Eu
vi de lance quando a Lavínia notou a Nuália, e em um clamor religioso, dirigiu
seu pássaro de guerra contra a terrível líder dos corrompidos. O golpe de
Lavínia golpeou Nuália no peito, causando estrago o suficiente para ferir
gravemente uma pessoa normal. Mas a sacerdotisa de Ekaria estava longe de
normal.
O
ferimento cicatrizou rapidamente, e Nuália se focou na Lavínia. Sua feição
mudou e dizem que seus olhos adquiriam a expressão do ódio extremo. Nuália
abandonou seu posto de comandante e transformou-se em um enorme lobo branco e
selvagem, revelando uma natureza que até agora era para nos desconhecida.
Lavínia,
também carregada por um ódio divino, tornou-se o leopardo branco e ambas as
bestas investiram uma contra a outra.
Nuália,
porém, pensou melhor. Ela desfez sua transformação animalesca no último
segundo, e agarrou o leopardo pela garganta, golpeando-o no solo com fúria.
Então aquela garra monstruosa dela começou a rasgar Lavínia, que, presa pela
enorme força de Nuália, não conseguia se defender. Pronto, o leopardo branco
tingiu-se de vermelho enquanto o sua carne era rasgada.
Eu
não tenho apreço por vontades divinas, e mesmo sabendo que esta era uma batalha
com fortes caratês de fé, não estava disposta a deixar a Lavínia ser vítima de Nuália.
Correndo
pelo campo de batalha, me joguei na minha forma lupina e metálica contra a
Nuália. O golpe foi forte, mas igual o era Nuália. Fomos jogadas a vários
metros de distância, e a sacerdotisa conseguiu me agarrar antes que conseguisse
reagir após os choque. Nuália desferiu um golpe forte contra minha forma, mas
sendo feita de metal, o golpe não surtiu tanto efeito, apesar do som que
acredito tenha ressoado pelo campo de batalha.
Se
aproveitando da situação, Helgraf surge como do nada e montado em seu pássaro
de guerra feroz, golpeia com uma lança a Nuália pelas costas. O ferimento é
horroroso, e teria matado qualquer criatura do tamanho dela, mas não ela. Enquanto
Helgraf fazia a volta para se preparar para uma outra investida contra a líder
dos corrompidos, Lavínia aproveitou a oportunidade e fugiu. A ira de Nuália
contra a Lavínia era tanta que ela me largou e esqueceu-se do campo de batalha.
Tornando-se um lobo novamente, ela correu atrás da sacerdotisa de Nayurai,
ganhando preciosos minutos para mim e para Helgraf.
Eu
olhei para ele e ele entendeu o que pensava: Não tínhamos como derrotar Nuália
em combate. Havia algo nela completamente sobrenatural, nenhuma ferida parecia
lhe afetar e cada golpe dela era devastador. Helgraf olhou sua adaga de prata,
e mesmo acreditando que poderia servir, percebeu que precisávamos de algo a
mais. Enquanto Lavínia corria desesperadamente pelo campo de batalha,
salvando-se por pouco de uma desvairada Nuália, percebemos que enquanto a
cultista não se concentrava, os Corrompidos perdiam a coesão e tornavam-se ineficientes.
Ainda terríveis e brutais, mas não eram a força letal e dirigida.
Fomos
até Dar Dohakro e lá nos informamos onde estavam os feiticeiros. No caminho,
achamos Karlanar, que atirava contra corrompidos que tentavam escalar as
paredes da fortaleza. Ele me perguntou o que queria e lhe disse que parar Nuália.
Karalanar tinha tentado atirar nela, mas as balas de sua carabina não tinham
efeito.
Nesse
instante, eu sinto uma mão grande em meu ombro e olho pra cima: Raagras estava
lá, coberto de fuligem. Eu tenho vontade de abraçar ele, mas também uma pitada
de ódio cruza meu coração por um minuto.
Raagras
estava trabalhando com Selvalis. Durante todo este tempo, eu achava que ele era
um prisioneiro, mas não. Ele tinha viajado com Karlanar e outros à montanha
prateada, e tinha desde então trabalhado para criar armas e invenções com o
alarani e provavelmente o Bum. E eu acreditava que ele estava sendo torturado,
forçado a trabalhar sob a ponta de uma espada, ou morto e dissecado.
Mas
não era tempo agora para isso.
Raagras
disse que Bum queria falar comigo. Indo até onde o maluco Akiak estava, Bum me
disse que tinha algo que poderia parar a Nuália. Ele me deu uma rede de prata,
como a rede de um gladiador, o Prendetron 2000 ou algo assim, e nos entregou um
pingente prateado, claramente encantado.
Ele
explica: ele acreditava que ainda havia algo de bom em “Nunu”, e que nós
tínhamos que dar a chance a ela de provar que não era esse monstro que todos
nos víamos, que ela estava sendo controlada. Ele tinha mandado encantar, um
encantamento muito poderoso, o pingente que nos entregara. Este pingente tinha
o poder de acalmar qualquer besta. Era para nos usarmos a rede para prender ela
e logo colocar o pingente em seu pescoço, que ela se acalmaria e veríamos a
bondade dela.
Conseguimos
a carona de um paladino e seu Draco, mas tive que deixar minha armadura para trás,
pelo peso. Nuália e Lavínia se moviam a tal velocidade pelo campo de batalha
que voando era a única forma de alcança-las.
Quando
nos aproximamos, notei que Lavínia entendeu que tínhamos um plano, e sabendo
que não poderia fugir para sempre, parou.
O
que se seguiu foi algo... inacreditável.
O
leopardo de repente pareceu relaxar perante o lobo grande, branco e
ensanguentado que corria contra ele. O lobo saltou e como preso num transe,
numa dança suave, o Leopardo esquivou do lobo sutilmente.
O
lobo atacou novamente, e o felino se moveu somente o necessário para inutilizar
o golpe de Nuália, e de novo, e de novo. Quando conseguimos aterrissar, vimos
algo impensado:
De
repente, como se golpeada por uma flecha invisível, o lobo branco caiu ao chão
gemendo, de dor. E outra vez, e outra vez.
Lavínia,
ainda em forma felina observou o lobo naquele transe durante um tempo, sem
mover um musculo, então de repente ela se destransforma e se joga sobre o lobo
branco, o abraçando.
Lavínia
me contara que isso tinha sido uma visão enviada pela própria Nayurai, uma
benção divina, uma providência. Ela diz que quando percebeu que teria que
enfrentar Nuália e deter ela para nós, sentiu o toque do divino em sua mente e
tudo ficou claro: Ela sabia o que fazer.
Ela
não controlou seu corpo enquanto se esquivava de Nuália, mas ao contrário,
parecia de repente enxergar por três olhos: Os olhos dela, os olhos de Nuália,
e os olhos de um homem acorrentado na parede.
Ela
ao começo ficou confusa, mas percebeu logo pela visão do homem: Era Lucian. Em
algum lugar do mundo, ele estava sendo acorrentado na parede, e repetindo
minhas palavras: "todo mundo tem que fazer sua parte", ele ordenara
Illizarelli a prosseguir com o plano.
A
alarani queixou-se do trabalho e do desperdiço que era fazer isso com ele, mas
Lucian estava determinado. Ele então abriu sua conexão ekariana, entrou em
harmonia com a mente coletiva grotesca dos aberrantes e corrompidos. Como
possesso, ele falara palavras negras, mas após uns segundos, pareceu achar o
seu verdadeiro alvo: Nuália.
Controlado
agora, mesmo que ainda conectado, ele comanda a feiticeira alarani a iniciar o
plano, e esta puxa uma adaga pontuda, e esfaqueia Lucian. A conexão que Lucian
tinha estabelecido com Nuália transmitiu a dor e da facada contra a cultista,
naquele momento em que vi ela caindo de dor. Foi então que Lucian percebeu algo
de errado: Ele percebera que Lavínia estava conectado junto a ele, de alguma
forma. Ele não reconheceu a sacerdotisa de começo, mas conseguiu entender que
era ela. Isso não impediu que Illizarelli o esfaqueasse um par de vezes mais
até ser convencida a parar. Foi quando Lavinea saíra da forma felina e gritara
para nós dizer sobre a natureza de Nuália.
Lavínea
me contou que Nayurai a permitira ver para além do que Nuália é, e que ela vira
a história da mulher:
Ela
tinha sido criada por um sacerdote do deus da guerra, que apesar de não ser seu
pai biológico, ela o considerava como se fosse. Quando era uma adolescente, ela
se encantou com um trovador viajante, um ladino que a deixou gravida e fugiu. O
pai de Nuália não aceitou que sua “filha” estivesse gravida, e quando o filho
dela nascera, tomou a criança e a afogou.
Lavínia
contou para mim que nesse momento a raiva de Nuália pareceu criar alguma coisa
no coração dela, e numa noite, embebida por ira e magoa contra seu “pai”, ela o
esfaqueou enquanto dormia. O homem acordara e tentara se proteger, mas apesar
de ser maior e mais forte que a Nuália, ela lembra que a em um apagão embebido
em fúria, Nuália o matara, com suas mãos cobertas em sangue.
Ela
fugira então, e fora encontrado por um bando de akiaks que começaram a trata-la
como se fosse uma dela. Estes akiaks, assaltantes de estrada, foram durante um
bom tempo a família de Nuália. Até o derradeiro dia em que o bando foi caçado
por um pequeno grupo de eclesiásticos de Nayurai. A grande maioria dos bandidos
foram mortos, mas Nuália e alguns poucos foram infectados com a maldição da
licantropia, como punição.
Ao
contrário das expectativas para uma pessoa tão pequena como ela era naquele
instante, Nuália sobrevivera à transformação, e o grupo de Nayurai vira isso
como uma benção e a tomara como um dos seus. Durante um tempo, Nuália andara com
eles, aprendendo como controlar suas mudanças, mas em segredo odiava aquele
grupo que lhe tirara a família e o amaldiçoara.
Ela
se lembra de, numa noite, ter atacado o grupo de surpresa, e com suas próprias
garras ter arrancado as gargantas do grupo. Novamente sozinha e perdida, ela
fugira, só para ser encontrada e cercada no meio de uma clareira por
corrompidos.
Nuália
lutara com eles, e matara muitos com garras e mordidas, mas o sangue negro a
infectara, e ela agonizara por muito tempo. Mas ela sobrevivera, assim como
sobrevivera à licantropia.
Porém,
outro grupo tomou notícia de Nuália e a carregara enquanto ela agonizava com o
sangue venenoso da mãe negra: um grupo de cultistas de Ekaria que notaram nela
algo especial.
Eles
a torturaram, a quebraram e a fizeram lutar contra corrompidos e aberrantes.
Ela lembra-se de ter sido jogada em uma arena com paredes de ferro com
espinhos, e de ser obrigada a enfrentar um diabo. Ela se lembra do monstro
arrancando o braço dela e comendo ele. E logo, Nuália se lembrou dela sobre o
monstro caído, com o sangue negro do corrompido em sua boca e partes da face do
diabo arrancadas.
Ela
se lembra de ter mandado que costurassem o braço do diabo no lugar daquele que
ela perdera. Ela se lembra de ter frequentado cultos, conhecido cultistas de
Ekaria que viam ela como uma figura abençoada. Lembra-se de dirigir estes
cultos em vingança contra todas as igrejas do deus da guerra e da deusa da lua
que ela descobria.
Ela
se lembra de Khain e como conheceu pessoas fugidas da fúria da rainha, e como
estas pessoas tinham se aproveitado de sua força para prosseguir seus planos
contra a tirana. Lembra-se de ter infectado refugiados nos esgotos de Khain e
dado a luz crias monstruosas.
Nuália
se lembra de ter caminhado no meio das ruinas de Tassilion onde a rainha
rosalia estava presa, e como num transe, ela se lembra de ter cortado sua mão e
jogado o sangue negro de Ekaria na bolha de sangue da população de Khain, onde
Dragdar cumpria seu grande plano, e assim, corrompendo Ashardalon.
Ela
se lembra de estar com a Cabala do Fogo da Alma e ter contado para os heróis
uma versão distorcida da história. Ela se lembra de ter torturado os aprendizes
de izack com o sangue negro, e descoberto seus segredos. Ela então se descobriu
e conseguiu o coração de Izack para mata-lo.
Mas
ela não desejava matar Izack e resistiu até estar na frente dele, para dar uma
chance ao mago de resistir. Mas Izack estava fraco e não conseguiu, e ela
esmagou o coração do mago, matando-o.
Ela
se lembra de ter liderado corrompidos em batalha, e se lembra de ter recebido a
visita de uma criatura monstruosa, um humanoide alto e magro, com cabelos como
tentáculos, que vira nela algo especial e, de alguma forma, a agraciara.
Ela
lembra de ter conversado com um lanterna negra que era um cultista de Ekaria e
descoberto informações vitais, e lembra-se também de vestir a pele de diversas
pessoas, espiando Hamask de longe, ou disfarçada como um corrompido para medir
a força de seus inimigos.
Lavínia
então teve uma certeza: Nualia era mais que uma mera humana. Ela era o quinto Rebento
da Guerra.
E
isso que a sacerdotisa gritou para mim e para Helgraf, enquanto tentava chegar
perto do lobo branco, que se debatia com cada facada dada a Lucian. Sem o
contexto, nem eu nem o Helgraf entendemos o que Lavínia tentava dizer, mas nós
tínhamos outra preocupação.
Mesmo
mais desorganizados sem a vontade de Nuália os guiando, os Corrompidos ainda
eram uma força letal que estava avançando por sobre as defesas da Ordem do
Dragão, e pessoas morriam a cada minuto que essa situação se mantinha.
Eu
joguei a rede de prata sobre Nuália. A prata a paralisou e fez o lobo gemer em
dor enquanto o metal queimava sua pele licantropica. Eu me joguei sobre ela e
agarrei o pescoço, enquanto Helgraf dava o pingente a Lavínia, que o colocava
ao redor do pescoço do lobo.
Soube
depois que a rede também queimara Lucian indiretamente, revelando a cruel
relação entre os dois que Lavínia não percebera.
Com
o colar colocado, o lobo tranquiliza e sua forma lupina se desfaz, revelando
novamente a branca Nuália, nua e ensanguentada, jogada na terra suja.
Enquanto
Lavínia abraça a Nuália entumecida pelo colar dado por Bum, a Lavínia a abraça
e pede para ela ser forte. Os corrompidos começaram a avançar sobre nós, e tive
que pegar a espada de Nuália que estava no chão e lutar contra eles.
Lembro
ter visto de relance quanto Lavínia pedia para Nuália combater o mal de Ekaria,
e para Illizarelli parar de esfaquear Lucian.
Lavínia,
ainda presa nesse transe, nessa conexão, conseguia ver Nuália, Lucian e seus
próprios olhos interligados.
Lembro
ter visto Helgraf avisar a Lavínia que eles não tinham ideia de quanto tempo o
encantamento de bum iria segurar a cultista, e que os homens estavam morrendo.
Nuália dizia em voz fraca que ela não tinha culpa, e começara a chorar de medo,
pelas coisas que fizera e pela morte que ela se sentia aproximar.
E
ela tinha razão: Nuália sempre fora uma vítima. Ela sempre fora usada por
outros para seus próprios fins, e nunca lhe foi dada a escolha de ser quem ela
desejava ser. Ela nunca fora senhora de seu destino, e ao contrário, fora lhe
reservado um destino cruel nas mãos de monstros e gente sem escrúpulos, que a
queriam por sua força e somente por isso.
Este
destino cruel parece ter sido a sina de todos os rebentos da guerra. D’Shayne,
que morrera atrapalhando os planos da Rainha de Sangue de Lemuria. Garred, que
vivera pela guerra ainda infante, e, negado do amor de sua vida, tinha pagado o
ultimo preço para a salvação do mundo. Edgar, que tinha sido obrigado a matar
seus amigos e família para a salvação do mundo, e que isto não lhe trouxe paz.
Urian, que tinha tido sua mente arrancada e seu corpo utilizado como uma
salvaguarda de um dragão, e somente pelo acaso tinha se tornado algo mais; E
Nuália.
Mas
os corrompidos chegavam mais perto, e eles avançavam contra nossos homens. E a
qualquer minuto o encantamento de bum se provaria ineficaz para segurar um
rebento da guerra, um licantropo, uma cria de Ekaria.
Lavínia
gritara com Nuália, pedindo para ela ser forte, e enquanto a Ekariana chorava,
pedindo para não morrer, lembro que Lavínia dissera a ela que Lucian tinha mais
direito que ela de viver.
Helgraf
então passou a sua adaga de prata para a Lavínia e falou: Faça.
Lavínia
se desculpou com a caída e chorosa Nuália e cravou a adaga no peito dela,
terminando a vida dela.
E
sem saber, naquele instante, Lucian também morrera.
No
mesmo instante, os corrompidos pareceram confusos e chocados, como se alguma
coisa neles tivesse desligado. A coesão letal deles se perdera, e em uma onda
de caos e destruição, eles começaram a se espalhar. Diversos lutaram contra si
mesmos, outros atacaram os draconatos e dragões. Outros fugiram do local ou
eram controlados por diabos, que semi-inteligentes, ainda conseguiam ter uma
melhor noção do que fazer.
A
enorme massa de corrompidos perdera sua força, e mesmo que letais, se tornaram
um perigo para todos em comum, inclusive para as forças draconianas.
Nesse
instante, Endregun, o Dragão de Dalant, conseguira derrotar Darigás. O corpo do
Grande Dourado caia, rasgado e sem vida, enquanto o dragão avermelhado e
leonino se erguia triunfante, só para ver um campo de batalha em caos e
perceber o que acontecia com a grande batalha.
Ele
então começou a gerar energia para seu infame sopro elemental. São poucos
dragões que aprendem a soprar energia diferente que fogo. Lashgana sabia como
transformar sua baforada em um sopro congelante, e Endregun, ele era o senhor
dos raios e tempestades.
Nos
estávamos em campo aberto, sem nenhum tipo de proteção por perto. Se a baforada
elemental de Endregun nos encontrasse, nem que seja de raspão, morreríamos. Dei
a espada ensanguentada de Nuália para Helgraf, que era o único entre nós que
tinha armadura, e eu carreguei o corpo sem vida de Nuália, já que Lavínia
estava ainda muito ferida.
Corremos
entre guerreiros, draconatos e corrompidos lutando desesperados. Corrimos em
direção ao único abrigo que tínhamos: a fortaleza de Dar Dohakro. E apenas
conseguimos entrar quando Endregun assoprou.
Foi
como reviver um dia faz quase dois anos atrás. Foi exatamente a mesma sensação
de impotência, de terror. Os pesadelos de cada noite durante anos tornados
vivos na minha frente, enquanto os raios do Dragão de Dalant cruzavam as linhas
de soldados, obliterando draconatos, corrompidos, humanoides, dragões menores,
rocha e metal com a mesma facilidade. O chão se rachava com os relâmpagos que
saiam do dragão.
A
fortaleza quase ruiu e centenas de pessoas morreram nesse instante.
Foi
então que eu vi, voando no horizonte. O dragão de muitas cores. Ashardalon em
sua forma etérea, fantasmagórica, vindo para encerrar a batalha. Sua forma era
de um dragão multicolorido, mas ele estava claramente corrompido, monstruoso,
errado. Ekaria claramente existia nele. O que se seguiu para mim foi como
caminhar em um sonho. Não lembro nada, somente lembranças estranhas que não sei
se são verdade ou mentira, tudo desfocado e pulsante e estranho. Um estranho
aterrador.
Lavínia
me contou depois que nesse instante eu cai de joelhos e gritei em desespero ao
ver Ashardalon, pela segunda vez. E o mesmo Helgraf parecera desistir de lutar.
Foi nesse instante que Urian ativou seu plano. Ele chamou pelos espíritos
guardiões do cemitério de dragões dos Picos do Trovão por força e proteção, e
os espíritos se manifestaram em dragões em formas espectrais, similares a
imaterialidade de Ashardalon.
Urian
então ativou as gemas, e usando o poder destes guardiões, direcionou o poder
das Cores e destes mementos draconianos contra o Deus Dragão. Mas ao invés de
simplesmente dissipar a essência de Ashardalon, Urian usou o poder das gemas
para atacar a conexão Ekariana que se centrava nele, e se espalhava por todos
os dragões e draconatos que compartilharam de seus sangue.
Ashardalon
absorveu estas cores, ou pareceu absorver, e então parou, percebendo que havia
algo errado. Ele brilhou com a luz de mil sois e então explodiu, silencioso, em
uma detonação multoclorida, que banhou com a energia das Cores todo o local.
Nesse
momento eu acordei. Como se revigorada pelas cores do mundo, eu fui arrancada
do meu terror pessoal para ver como os Corrompidos, aterrorizados, fugiam, mas
diversos deles caiam e derretiam e eram destruídos pelo poder das cores. Eu vi
como os draconatos, o exército de Ashardalon, tremiam e caiam mortos, em espasmos
de dor, medo e incompreensão. Eu vi como Endregun e os outros dragões aliados
de Ashardalon rugiam de dor e desespero, e sem saber o que fazer, tentavam
fugir para algum lugar, só para caírem ao solo, se desfazendo como queimados
por uma luz que os incinerava por dentro.
Este
efeito espalhou-se pelo mundo. Draconatos em todas as partes do mundo foram
derrotados e em pouco tempo se desfizeram em sangue dracônicos, pútrido e ácido.
Todos
os dragões que estavam alinhados com Ashardalon morreram na hora, assim como
quase todos que seguiam Darigás e Urian. Assim, os dragões se tornaram uma raça
extinta, com todos os grandes anciões mortos, e somente os poucos sobreviventes
sendo aqueles que se esconderam bem o suficiente de Ashardalon e decidiram
ficarem longe de Darigás. Centurias iriam se passar até que estes poucos
dragões tivessem idade suficiente para se reproduzirem e repopularem o mundo
com novos dragões.
Os
corrompidos quebraram suas horas e correram, afugentados, de volta a seus
buracos fétidos e negros. Eles ainda existiam, e diversos deles sobreviveram,
mas tinham perdido o propósito e coesão que os tornara tão letais.
Assim,
a guerra terminara.
--
Ladrão
8, 14 4e
Diário,
O
Patriarca morrera hoje.
Muitas
pessoas sobreviveram a batalha de Dar Dohakro, e dizem que principalmente a
ajuda trazida pelas forças de Irritaria.
Urian
nos chamou, a mim, Lavínia e Helgraf, e nos contou que o poder das gemas era
grande demais para ele segurar. Que nenhum mortal deveria fazer isso sozinho. Ele
iria morrer, e tinha certeza que ninguém iria sentir sua falta. Ele disse a nos
que utilizou o poder das gemas para purificar os seus paladinos da macula de
Ekaria através da conexão que compartilhavam, e agora eles poderiam espalhar
seu legado pelo resto do mundo.
O
mundo seria dele. Eventualmente.
A
explosão das cores tinha destruído grande parte daquelas criaturas que
quebravam o equilíbrio. O Sem Escamas, por exemplo, e outras morreriam com o
tempo, como Barrim, um espectro que alimentava-se do caos e do poder da gema
branca.
Ele,
com o ultimo resquícios de energia das gemas, fizera elas sumir do mundo. Elas
não seriam encontradas novamente, pelo menos, não tão cedo, disse ele. Eu
abracei ele e agradeci o que fez por mim, mas ele não retribuiu.
Finalmente,
ele deu uma última ordem: continuar com o plano. Povoar o mundo, defender o que
sobrou dos humanoides e da sua civilização, e terminar com o resto das
criaturas inumanas que dirigem o destino dos homens. Os mortais agora eram
senhores do seu próprio futuro.
Dito
isto, ele pereceu, sem demostrar dor, sem demostrar cansaço ou derrocada.
Lembrei
de um poema que alguém me contou faz anos:
"Oh, por
uma voz como um trovão,
E
uma língua, para afogar as trompas da guerra!
Quando
os sentidos estremecem,
As
almas são levadas a loucura,
Quem
poderá resistir?
Quando
os espíritos dos oprimidos
Lutarem
no ar carregado por ira,
Quem
poderá resistir?
Quando
os redemoinhos de fura descerem do trono dos deuses
E
o franzir de seu semblante unificar as nações,
Quem
poderá resistir?
Quando
o pecado voar bater suas longas asas sobre a batalha,
E
as lesmas se regozijarem no solo repleto de morte,
Quando
os espíritos forem lançados ao fogo imortal,
E
os demônios se regozijem sobre a matança,
Quem
poderá resistir?"
EPÍLOGO
***Helgraf***
Ilustre Lady Katrin, Grã-Mestra dos Paladinos
da Ordem do Dragão,
Na ausência de Ilithinem, o Ancião,
Grão-Arauto da Ordem do Dragão,
Na ausência de Urian, Coração de Dragão, Patriarca da Ordem do Dragão.
Talvez seja meu último relatório antes da
restruturação da Ordem do Dragão, um último ofício, para não dizer um legado,
que me fora deixado pelo Grão-Arauto, se em nossa última conversa havia
jocosidade entre sua permanência/aposentadoria na Ordem e o seu título - o
Ancião - a piada final fora a sua quando descoberta a real identidade, Daregas.
Um último sacrifício, tanto quanto milhares outros o fizeram.
A presença da Matriarca em uma missão
diplomática causara os efeitos pretendidos, ataques diretos à sua pessoa e suas
decisões, tanto mais quanto às próprias decisões da Ordem, causando os furores
necessários ao protocolo. De fato pude acompanhar um afastamento da Matriarca,
que segundo os relatos em seu registro interno, era cercada de seguidores, qual
fora minha surpresa ao ver que eram raros os que permaneciam ao seu lado de bom
grado, e estes, pereciam feito mariposas em choque ao fogo.
Talvez o pouco convívio com o Patriarca a
tornara ainda mais dura, que não seja dito que ambos eram rígidos em suas
convicções, mas a Matriarca não tinha a mesma autoridade, contava com
acompanhantes, não seguidores, heróis, não soldados. Talvez o rumo fosse diferente se ela fosse tão carismática com os que a
rodeiam quanto é para o povo.
Seu destemor frente aos perigos é digno de
nota, não por menos, afinal, foram seus feitos que chamaram a atenção do finado
Patriarca, que o Criador o guarde.
Não acredito que se tornaria uma boa
substituta para a figura do Patriarca, talvez ninguém o seja, mas a Matriarca
sempre foi e será uma figura do povo comum, e esse, é o melhor trunfo que a
Ordem pode esperar dela.
Lavínia desempenhou bem o seu papel como
Sacerdotisa de Naiuray, seu jeito selvagem e de poucas palavra fora efetivo ao
chocar a audiência, ainda que estivessem a parte da Igreja concedida à Senhora
da Lua.
Talvez nunca tenha encontrado uma bruxa como
ela, de fato nunca "interagira" com tantas desde que me fora
outorgada a tarefa de acompanhar a Matriarca.
Ainda que ao longo de nossas andanças o choque
de nossa fé tenha sido unilateral, pude compreender que parte de seu comportamento
se devia à solidão e perda que sofrera, desde seus pesadelos e devaneios
sonâmbulos, até suas declarações quando do retorno dos portais. Acreditava ser
uma figura única até nos depararmos com Nuália... faces opostas de uma mesma
moeda, ou, irmãs de um amargurado destino?
Lavínia não estava preparada para o
sacrifício, e talvez essa seja sua sina, seu exterior sempre demonstrou um
temperamento irascível, mas nos momentos finais vi... compaixão... quantas
outras Bruxas tiveram a vida ceifada com o mesmo olhar e clamores de misericórdia? Corvobranco me treinara para
tais situações, mas e ela?
Rezo ao Criador que ela encontre seu lugar no
mundo, e principalmente, pessoas com quem compartilhá-lo.
Medéia foi – a meu ver - quem mais sofrera,
talvez eu tenha o maior conhecimento de causa do que sentira com o sangue
corruptor.
Seria correto dizer que fora afortunada ao
sobreviver? Eu perdera parcialmente a visão - Glória ao Criador - mas ela,
secara como um ramo sob o sol forte, a força e o vigor que foram motivos de
orgulho e reconhecimento, agora são uma amarga lembrança, constantemente lhe
jogado ao rosto ante os títulos que lhe foram outorgados.
Ainda assim, seu conhecimento ainda é válido
para a Ordem, por mais que os honrarias pesem-lhe como uma ofensa, não podemos
deixar de lado sua experiência, por mais que o sacrifício do Patriarca e seus
acólitos tenha extirpado os dragões, Ekaria ainda é uma ameaça a ser combatida
e ninguém melhor que ela para repassar a experiência vivida aos cadetes.
O Patriarca está morto.
Vida longa a Ordem do Dragão.
Sob as bênçãos do Criador,
Helgraf Blackthorne, Gran-Arauto da Ordem do
Dragão.
***Lavinea***
Para
meu amado Joseph:
Eu
vi coisas demais Joseph, e sinto que estou enlouquecendo, as brumas, o véu,
tudo é tão perto e tão longe, nem mesmo o tempo faz mais sentido, ou a
existência e suas infinitas possibilidades. Veja meu amor, estou eu aqui
escrevendo uma carta, que lerei em frente ao espelho para ti, mas eu sei que
está errado, que os olhos olivados que enxergo não são os seus, mas desejo que
sejam.
Você
me responde, mas pode ainda sentir meu cheiro? Sente que desde que refundei meu
credo em Hamask voltei a usar almíscar como tanto gostava, meu cabelo agora é
azul brilhante na altura do meio das costas até minha cintura, cacheados como
costumava preferir. Decidi que seria melhor voltar aos tempos de glória que
tive ao seu lado do que morrer ferina
como me tornei, não que não abrace meu dom com amor, mas honrarei o
caminho que me ensinou e que mudou minha vida.
Eu
não era nada, apenas serva, apenas escrava, me tornei sua esposa, seu braço
direito, preguei contigo e vigiei tuas noites, mas não pude impedi-lo de morrer
quando a febre tomou conta, sabe disso não é? Sabe que fiz o que estava a meu
alcance e tentei tudo, mas ninguém pode matar o tempo. Não naquela época,
naquela época eu não saberia. Hoje tudo é diferente, mas faz tempo demais. Além
disso, depois do Salamandra jurei nunca mais amar, se meu coração for de alguém
nunca mais será meu, e eu preciso dele, como preciso de minhas garras e de meu
pelo. Precisei deles quando caminhei pelo Vale da Sombra da Morte em Kerra e
esmaguei e queimei dúzias de corpos possuídos, porque os demônios tomaram
contas dos corpos, porque não há honra ou beleza na guerra e há pessoas ruins o
suficiente para não queimar seus inimigos...e eles gemiam e se arrastavam num
lodo verde e fétido e eu os esmaguei, todos eles e os queimei, e queimei parte
da dor de ter perdido você.
Achei
que estava enlouquecendo de dor, achei que estava enlouquecendo de medo, mas
era somente a febre, meu corpo aceitando a fera, foi um preço alto provar meu
valor ao chefe Leão Branco e seu bando, mas eu provei. Eu lutei como humana ao
lado de feras, expulsamos cultistas de Ekaria de nossas terras, buscavam os
serpentideos eles disseram... morreram ao sol sem encontra-los, mas eu fui
mordida, e veneno se combate com veneno, foi transformada, e sobrevivi. Lavinea
A Pura, rebatizada, Lavínea Garra Prata, mas eles me passaram todo conhecimento
que tinham sobre os filhos teriantropos de Naiuray, e isso valeria a pena,
minha senhora não seria apagada da história, assim como teu Asvar não será, ele
mudará de nome e terá uma face cruel no futuro, mas ele estará lá com a
terrível alcunha de “O Criador”.
O
futuro é tão feio Joseph, tão ignorante e cinza, e eu vi como será e vejo passo
a passo agora como rumamos para ele, Urian fez o que pode, não bastou, não
significou nada, continuamos castrados, a política ainda é mais forte que a o
Fogo da Alma. Lucian, Nuália, mortos sem escolha, porque cumpriram o papel
que o destino os reservava, e eu, fui
somente a mão que segurou a faca.
Tantas
possibilidades, tanta esperança, e eu fui incapaz, eu fui burra e simplória, eu
não encontrei o Azul e suas infinitas possibilidades.
Quando
os sonhos contigo surgiram e me falou de Adventia, quando passei a ouvir teus
sussurros e ver teus olhos nos espelhos e na fumaça, quando as imagens vinham
como ondas eu achei que tinha encontrado a minha missão no mundo, que brilharia
trazendo Naiuray a sua glória. Busquei toda e qualquer pista sobre a varinha,
percorri florestas, grutas, clamei ao pai dos subterfúgios por proteção.
Recorri ao equilíbrio de Salamandra, que me guiou a entender tudo, visões ou
portas derrubadas ou psiquismo ou loucura, não faz diferença o nome que derem,
porque eu chamei de Missão, Objetivo de Vida, Renovação de votos.
Cacei
Adventia com todo meu instinto, assim como cacei e perdi feio pra Nuália
diversas vezes em Khain, mas queria impedi-la de destruir os fiéis, então,
muitas vezes apenas ganhei tempo para que fugissem...eu afinal não seria
aniquilada. Ou acreditava isso, a benção da ignorância me era uma dádiva
naquele tempo.
Encontrei
o guardião de Adventia, um dos últimos sacerdotes vivos, assim como eu... O
Lobo Branco, não era um teriantropo, irônico. Era apenas velho...poderiam
chama-lo de raposa cinzenta. Um homem de
fé, eu devia isso a minha Senhora, deveria tentar tanto quanto ele. Eu fui para
o futuro, promovi todo tipo de emoção: medo, desconfiança, piedade e admiração.
Vincent Calhart, um nome, um rosto... um par de olhos azuis. Roderic, um homem,
um sobrevivente -as marcas denunciam-, um sábio, ou apenas um louco consumido
pelo azul como eu, um louco funcional.
Eu
perdi tudo meu amor, eu perdi você, eu perdi Xoralaath – mas ok, o Salamandra é
legal e leal; eu perdi batalhas, eu sei o que minha fé vai se tornar num futuro
ignorante e feio, eu perdi Nuália e Lucian e a chance de salvar Nuália. Naiuray
me deu tudo, me mostrou quem era ela e
como nunca agiu senão pelas forças do destino, as fortes cordas superiores que
nos controlam como marionetes e eu não soube salvar, não consegui salvar, pelo
contrário eu matei um inocente que conheci e vi toda emoção e dor , toda
vontade de libertar-se e o peso do destino não deixando, eu matei esse inocente
em nome de diversos outros que não conheço, não vi. Isso é justo Joseph? Essa
era minha missão? Não, não era, eu deveria ter sido mais e melhor, deveria ter
ido além, encontrado as possibilidades, salvado nosso mundo. Não consegui.
Falhei
mas não falharei outra vez, meu evangelho está quase pronto, nomearei um
segundo sacerdote para guiar os exilados da lua azul em Hamask e eu farei justiça,
custe minha alma, minha pele ou minhas presas. Adeus Joseph, não vou mais
alimentar a ilusão de que está aqui comigo. Tu foste de longe a melhor e maior
alegria de minha vida, mas esses olhos olivados no espelho e nas brumas, não
são meu marido. É algum espírito, algum fantasma, ou meus próprios fantasmas.
Erika está chegando para me exorcizar e exorcizar esse quarto. Minha aliança de
prata que tanto me fez orgulhosa ficará enterrada aqui, em Hamask, onde
refundei o culto e protegi os fiéis. Tua Lavínea A Pura morre hoje, e Lavínea
Garra de Prata é a única sobrevivente disso tudo.
Eu
vou deixar tudo em ordem e certo, porque hoje, parto para a maior e mais longa caçada
da minha vida, talvez a última. Caçarei os injustos, até deles sobrar somente a
ossada. Essa merda de mundo que restou vai ser melhor, eu juro por Nuália e por
Lucian.
***Erika***
Diário,
Faz
meses que não escrevo. Esta são as últimas páginas que escreverei narrando
minha vida. Depois da morte do Urian, eu perdi a vontade de continuar a fazê-lo.
O
mundo continua. Em desespero, em tristeza e dor. Não passa um dia sem que
cheguem notícias de conhecidos que morreram, de lugares que deixaram de
existir. O desespero de perceber que não há futuro começou a tomar conta de
Dakhanis, Rakshas, Alaranis, Akiaks, Orokuls. Nações entram em guerra. Nações
se desfazem. Ódio por humanos, Thaar e Valaryn que conseguiram um jeito de sobrevier.
Mas
há esperanças. Apesar de tudo, crianças nascem em Hamask e em Khain e em outros
lugares. Haverá um futuro, mas será somente para Thaars, para Valaryns, para
Humanos. Grão Arauto Helgraf acredita que provavelmente, nos cantos escuros do
mundo, alguma ou outra sociedade descobriu como sobreviver. Nunca mais haverá
impérios de outras raças, mas talvez elas não estejam por completo esquecidas.
Ele
agora tem diversos filhos, e sua esposa está esperando uma nova criança. Apesar
das dificuldades, ele parece estar mais radiante do que nunca.
Lavínia
tem se tornado uma figura proeminente em Hamask, mas eu sei que ela não se
perdoa do que teve que fazer com Nuália. Ela viu os excessos da sua fé e como
os inocentes são vítimas dos fortes o tempo todo. Como Nuália, que passou uma
vida sento usada por monstros, e nunca teve uma escolha, uma vida, felicidade
real. Isto parece remoer por dentro.
Mas
ainda há futuro. Um futuro imperfeito, quebrado e cheio de dúvidas, mas ele é
nosso.
Para
mim, tem sido dias difíceis. Urian deixou muitos planos abertos e aparentemente
somente eu e Illizarelli sabíamos de grande coisa, e ela já declarou que não
iria ajudar. Os paladinos, guardiões e arautos vem até mim para pedir comando,
e eu faço o melhor que posso, mas temos recursos pequenos e grandes problemas.
As
noites tem sido difíceis. Os pesadelos ainda pairam em minha mente, e agora eu
sei que em algum lugar dentro da minha mente há uma sombra sempre presente. Não
restou para mim ninguém para falar, para conversar. As pessoas não precisam
saber de meus problemas. Elas querem que a Matriarca se mantenha firme e
corajosa, e eu dou isso a eles, mas todos os dias, de noite, vem aquela vontade
de extravasar e não tenho ninguém. Eu tenho pensado muito em Urian ultimamente.
Cada vez que penso nele, me corta a alma o quão injusta fui com ele, e o quanto
sua presença me enchia de proposito, que eu não percebia.
Eu
acho que o maldito tinha razão desde o dia que nos casamos: Eu eventualmente
aprenderia a amar ele. E só entendo isso agora, meses depois, nas noites que eu
sinto enorme falta da mera companhia dele, das conversas sobre coisas pequenas,
no jeito ele se esforçava para me agradar. Cibele me disse uma vez que nos só
percebemos quanto precisamos de uma coisa quando perdemos. Assim me sinto. E é
a pior sensação do mundo.
Urian
tinha razão, eu aprendi a amar ele, mas fui tão idiota que não percebi.
Mas
não tenho tempo para isso agora. Não há tempo para mim agora. Eu vou engolir
esta magoa e esta tristeza como sempre o fiz. Pessoas ainda estão morrendo e
sofrendo e eu posso ajuda-las. As pessoas precisam de alguém para se inspirar e
alguém que saibam que se importa e olham para mim. Não vou decepciona-las.
É
preciso. É o correto a ser feito.
Eu
pego este diário, estes muitos volumes de coisas escritas. Tantos momentos que
eu vivi em este mundo, coisas que vi que ninguém mais acreditaria. Conheci
tanta gente maravilhosa e tantas pessoas terríveis. Eu tive o destino de tanta
gente em minhas mãos e ainda tenho. Mudei o mundo, criei e acabei com lendas e
histórias. Eu deixei uma trilha de sangue, de corpos, de vidas destruídas para trás,
mas também ajudei tantas pessoas, ajudei a forjar o futuro ao lado de heróis e
lendas...
Eu
carrego em mim centenas de segredos e mistérios. Mas este mundo é um lugar
imenso, e ainda há segredos sem fim, mistérios sem fim, e um horizonte infinito
de possibilidades para os que virão.
Eles
provavelmente não lembrarão de minha vida e esquecerão meus feitos e de todos
aqueles que lutaram para que este mundo sobrevivesse. Mas nosso legado é outro.
Eu compreendo agora que somos como Savith e Aveshai: Somos as pedras que
lapidam o caminho para as próximas gerações, e meu legado viverá pelo destino
do mundo, no sangue dos meus filhos, e não necessariamente em sua memória.
Foram
anos longos, e difíceis. Houve felicidade e tristeza, mas tudo valeu a pena.
Haverá
outras aventuras, haverá outras felicidades, maravilhas, medos e terrores, mas
serão outros nomes. Entendo que minha parte na história eu já fiz. Continuarei
vivendo e lutando até que não possa mais, mas o futuro é de outros.
Acho
que fiz bastante para uma criança pobre das ruas frias de Brrzengard!
...
Bom.
Este é o adeus, meu Diário.
Matriarca
Erika Liv Midnattsol da Ordem do Dragão
***
Notas
do Autor
E
com isso completo minhas anotações, caro leitor. Em suas mãos tens as memórias
de eventos a muito passados. Esses nomes, essas pessoas e esses reinos podem
não lhe fazer sentido, e na bibliografia que se segue esforcei-me em explicar
tudo o que pude encontrar.
Peço
sua compreensão, caro leitor, pois os séculos que chamamos hoje de Idade das
Trevas viu os povos tornarem-se incultos e insulares. Esse grande mal, essa
união entre os Dragões de outrora e a tão mencionada Corruptora, é o
responsável pelas ruínas que existem além das colinas. Pelas cidades de
outrora, castelos maravilhosos e abandonados.
Podemos
irar-nos perante nossos bisavós e antepassados, que esconderam-se em ruinas ou
queimaram livros antigos e embolorados atrás de combustível para alimentar suas
fogueiras. Que valor tais tomos de conhecimento teriam em um mundo onde pequenos
clãs lutam para sobreviver? Que sequer sabem ler o próprio idioma, quem dera o
de Gigantes que viveram em ruinas que um dia foram castelos? Perdoemos a
ignorância de nossos anteriores, em apagar a memória desses Precursores. Se
mesmo na Sagrada Hamask pouco aguentara as revezes do tempo, como podemos
culpar aqueles que não foram tão afortunados a serem descendentes dos
vitoriosos?
Não
posso deixar de agradecer aos Cinco Grandes Exarcas de Konsvow pelo apoio
fornecido, e o Sacro Imperador por apoiar e financiar essa pesquisa. Fora sua
generosidade que me permitira visitar ao longo dos últimos trinta e dois anos
os cantos mais escuros do mundo atrás de relíquias, relatos sobre os eventos
desses Precursores. Também agradeço a Igreja da Luanegra, que fornecera textos
antigos e ocultos sobre a Profeta Aliah, que alguns acreditam que seja a mesma
figura que a sacerdotisa Lavinea listada nesses relatos.
Acredito
que nesses volumes que terminara de ler eu encontrei tudo que há para ser
encontrado sobre essa terra de terrores, dragões e heróis, essa fantástica Alancia
que parece mítica, irreal, perdida em um passado longínquo. Por muitos anos não
conhecemos as lendas dos Precursores, e não soubemos o que fizera com que seus
reinos sumissem. Por quantos séculos supomos que sua civilização simplesmente
chegara ao ápice e então caira sobre o próprio peso? Essas fontes nos contam uma
outra história, a de um povo que sofrera, que vira seu mundo cada vez mais
caótico. Um povo que fora salvo pelos diversos heróis que lemos nessas páginas.
Quem
foram esses heróis? Não sabemos dizer. Como foram suas vidas? Não posso afirmar
com certeza.
Apenas
seus nomes sobreviveram.
Aline,
Amon, Bum, Caesar, Cassius, Celeste, Cibele, Daigon, Diogenes, Dukashki, Elizabeth,
Erika, Felicia, Galatea, Grontor, Helfraf, Helmar, James, Kaba, Karlannar, Kiara,
Kjerstin, Lavinea, Layon, Luna, Luriel, Mariache, Mario, Mihael, Miroslav, Samira,
Siegfried, Steven, Todd, Xeloksaar, Xoralaath, Yoshida, Zian.
Esses
e quantos outros são heróis e vilões de uma época que passou. Perdemos tanto de
nosso passado, caro leitor, que corta meu coração não saber quem esses homens e
mulheres foram.
Sou
um erudito, e por isso não posso afirmar que mesmo os relatos que acabaram de
ler foram realmente escritos pela Aclamada Erika. Mas se perguntarem ao homem,
o estudioso, aquele que segue os ensinamentos do Karismo, repassados em nossa
Sagrada Hamask desde aquela época, vindos da boca da própria Aclamada, se
perguntarem a esse homem terão uma opinião diferente.
Eu
acredito, caros leitores. Todos esses longos anos, em tardes escaldantes e
manhãs geladas onde apenas a companhia de meus colegas estudiosos mantinha-me
descongelado; em ruínas, casas, parques,
ou no conforto de minha casa e a nossa sala de estudos; ao longo de dias
conturbados e noites que passamos em claro; ao longo de todos os anos eu sempre
acreditei nessas histórias. Para mim, caro leitor, é como se eu as tivesse
vivido. Normalmente como o espectador que acompanha uma história temível, mas
por outras eu me sentia na pele desses heróis. E por quantas vezes essas
histórias me mantiveram coeso, e acalmaram meu coração ou de meus companheiros.
O
Karismo nos diz:
"O
mundo pertence à vós.
O
Compreendei.
O
Dominai.
Fazei
valer a chance,
Fazei
valer o preço,
Que
os Precursores pagaram por ti."
E
nós o fizemos. Vivemos em um mundo seguro hoje. Compreendemos os horrores que
existem além do Espelho, mas não nos curvamos perante ele. Nós comandamos o
Espelho. Nós possuímos navios que viajam pelas ondas doces do Vasto Mar; e navios que deslizam pelas nuvens conectando
as Três Grandes Nações. Nós vivemos em uma era de tecnologia, conhecimento e iluminação que é muito mais que nossos Precursores sequer imaginaram. Sabemos que as outras terras que não seguem nossa
filosofia também devem a esses mesmos Precursores que pagaram o preço final.
E
agora, nessas páginas, tu conhecera como foram suas vidas. Governadas por
horrores. Sem controle de seu destino. Temendo o Espelho. Temendo dragões que
vinham do céu. Temendo horrores nascidos da terra purulenta.
Temendo
uns aos outros.
Então
não, meu caro leitor, eu não acredito que essas anotações que acabara de ler,
que traduzi desse antigo idioma para a Konsvar, sejam uma mera ficção, livros
escritos para serem vendidos em mercados dos Precursores.
Não,
eu acredito que essas histórias são reais, e o sangue, lágrimas e suor desses
heróis impregnam esses relatos.
Eu
quero morrer acreditando nisso. Que tudo isso foi verdade. E para mim o foi.
Mestre
Volmnar, Primeiro Escriba* de Konsvow
Nota do Editor:
Excelência Volmnar ainda era Primeiro Escriba na época que compilara essa obra.
Essa edição de luxo de sua obra-prima, Segredos de Alancia, é escrita em
comemoração à sua coroação como Sacro Imperador de Konsvow, mas decidimos
manter o título que possuía na época por razões históricas.
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on segunda-feira, maio 09, 2016
at 16:14
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