BL - Diário de Erika 14  

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Sessão 14

Notas dos diários de Erika




Diário,

Não fazia ideia que o planejamento de um casamento era tão entediante e exaustivo. O Patriarca deixou claro que estas coisas eram por minha conta. Ao que parece lhe instruíram que as esposas gostam destes detalhes, mas eu não conseguiria achar mais entediante. Escolher a cor das flores e provar os vestidos essas coisas.

Claro, não é um casamento qualquer. A Ordem do Dragão não possui exatamente os recursos para desperdiçar em um casamento bombástico de reis e rainhas, mas também não deveria. Hamask ainda está parcialmente devastada, e os recursos tem a prioridade para a guerra.

Em todo caso, Sua Majestade Kelokeratos parece mais a vontade com toda a burocracia e a pompa que eu, e as vezes até mais empolgado.

Sua Majestade está passando por um momento difícil para sua cidade. Ele entrou em uma carruagem carregando a cabeça de Alvorada Escarlate, falando a todos como ele tinha caçado e derrubado a besta junto com a ordem do dragão, mesmo que esteja longe da realidade.

O povo, desesperançado, agradece as boas novas, e aos poucos começam a perceber em seu novo Rei e seus novos aliados um novo futuro. Espero que seja promissor, mas o fato é que Sua Majestade Kelokeratos esta sentido a responsabilidade de ter que lidar com este futuro ele mesmo, e fica claro que as vezes ele não sabe exatamente o que fazer. Talvez por isso ele esteja tão interessado nas partes supérfluas do meu casamento.

Em fim, voltarei a meus afazeres. Que se resumem a escrever cartas e provar vestidos. O Patriarca quer que o casamento seja realizado o mais logo possível.

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Diário,

Confesso que preferiria ter que enfrentar uma horda de legionários a ter que provar mais um vestido de noiva. Uma modista de Elhedond fora chamada com seu time para “me fazer parecer uma verdadeira rainha!” de acordo com ela. Não me supunha que se tornar uma rainha, ou o que quer que eu seja eventualmente, seria um suplicio tão grande.

A modista, uma Alarani de cabelos de um bonito rosa pálido, chamada Alaría, não poupa a língua para falar como eu não fico bem em nenhum modelo. Sou muito alta, ela diz, sou muito larga, ela diz.

Em todo caso, a Senhorita Luna pareceu se empolgar também com o casamento. Originalmente ela tinha se contentado em assistir à distância, mas a senhorita Lindriel lhe reprendeu por estar perdendo a chance de fazer parte disto. Ela ficou feliz por poder ajudar na parte das comidas e doces. Confesso que não possuo um paladar muito refinado, especialmente para doces, e ela pode me ajudar nisso.

Não gosto de doces.

Sua Majestade Kelokeratos começou uma extenuante briga de poder para determinar o destino de Hamask. Ele veio até mim ontem a noite, e, exausto e um pouco bêbado, confessou que se sentia usado. Eu lhe afirmei que ele era muito mais importante do que ele imaginava, já que a Ordem do Dragão o tinha colocado como o “rosto” da operação. Ele não poderia ser descartado e isso lhe dava poder.

Ele pareceu mais feliz, gracejou com a modista, que pareceu se encantar pelo thaar, e foi embora, mais feliz e mais bêbado.

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Diário,

Outro pesadelo. Estão ficando piores. Estou melhor alimentada, e por isso não estou tão cansada, mas é difícil dormir. Pensei em pedir algum remédio a algum alquimista. A Ordem do Dragão tem um alquimista certo? Deve ter alguma forma de dormir sem sonhos...

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Diário,

Que o Grande Lobo abençoe Evália. Não sei o que teria feito até agora sem ela. E em especial, não sei como teria me organizado.

Os representantes da Ordem dos Arautos vieram até mim e conversaram sobre os convites. A quem devia chamar, e a quem devia chamar. Uma lista bastante extensa, composta mais que nada de dignatários que poucas vezes vi, figuras que desconheço, e gente que sei que não gosta de mim. Sei que todos virão e que será muito proveitoso para a diplomacia.

Descobri, com certa tristeza, que tenho poucos amigos vivos. Amigos de verdade. Não falo com Eliza faz quanto, uns cinco, seis anos. Sequer sabia que ela tinha filhos já. E Cibele, ela já não é mais a mesma, e por tal, me aconselham a não convida-la oficialmente. Ela estará, mas a diplomacia entre a Ordem do Dragão e o Reino Unido é complexa. E eu sou um ponto importante e que se eu morrer, muitos problemas serão solucionados para Irritária.

É verdade. Bom. Os amigos que me importo estão longe demais. Os que sobraram. Em Silverar, Lucan e Rosetta.

Acho que os arautos ficaram um pouco sem graça ao perceber que não tenho muitos amigos...

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Diário,

Sua Majestade Kelokeratos veio me contar da pesquisa que está fazendo. Ele me falou que se colocou como objetivo transformar a cultura dos Thaar e tirar aquele estigma de que Hamask era uma cidade de ladrões e mafiosos.

Para isso, ele investigou sobre a história dos Thaar, mas lamenta que muitos dos maiores sábios tenham sido mortos e muitos tomos de história antiga tenham sido destruídos. Os Valaryn também não souberam ou não quiseram informar sobre a historia dos Thaar.

Sua Majestade Kelokeratos então pediu auxilio ao Patriarca. Não sei que escambo eles fizeram, mas o patriarca revelou a ele algo perturbador que pareceu deixar o rei de hamask chocado e ao mesmo tempo excitado.

Ele não conseguiu me explicar direito, ou eu não entendi. Parece que os Diabos, e com isso os Thaar, são descendentes do dragão do fogo infernal, que ser Galahad matara na história. Os Daexir tinham corrompido o dragão ou algo assim, e os Thaar vêm disso. Ele me disse que explicava várias cosias, como que os Diabos faziam magia e os Thaars tinham chifres e outras coisas e confesso que deixei de escutar ele uma hora e ele não percebeu.

Eu suponho que para os Thaar isso deva ser chocante. Para mim, que sou humana, foi uma constatação daquilo que tão obvio que ninguém tinha percebido. Apesar de que a ideia de que os daexir conseguiram corromper um dragão em determinado momento é medonha. Em especial porque para derrota-lo deve ter sido um feito de imensa bravura. Ser Galahad pode que tenha sido um humano como qualquer outro, não algo diferente como os cavaleiros do dragão, que são mais fortes e rápidos.

Em todo caso, Sua Majestade Kelokeratos informou que iria tomar uma serie de medidas para sanar Hamask, e ele sabia que seriam impopulares. A primeira, ele disse, era a tolerância zero a crimes e a vagabundagem. E ele disse que vai levar os órfãos para academias militares e coisa assim. Não sei se concordo. Melhor que ficarem na rua pelo menos, mas... seria bom dar eles a opção de uma vida militar, e não impor a eles isso.

Em fim, foi um dia longo, vou tentar dormir um pouco.



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Diário,

Não consegui dormir. Cada vez que fechava os olhos imaginava o dragão do fogo infernal queimando Hamask, queimando a fortaleza de Sigfried, me queimando viva.

Uma dos piores momentos destes tempos foi planejar uma paz com Irritárria. Eu sei, eu conheço a nação e sei que eles não vão desistir de Hamask. Eles não irão abrir mão da cidade e nem o vai a ordem do Dragão. O patriarca foi claro que a Ordem não alterará seu rumo perante ninguém, nem o Reino Unido.

Isso dificulta a paz. Não faremos concessões e eles desejam tomar tudo de nos. Não vejo caminho de haver alguma saída pacifica de forma simples. Isso terá que ser negociado. O Patriarca me elogia quando decido chamar Barrin para ser o ministro do casamento. Ele diz que o magistrado é obrigado pelas tradições a não se negar, já que ele me devia um favor por ajudar a salvar o mundo da Estrela Negra.

Em todo caso, outra possibilidade que pensamos foi de intimidar irritaria a não lutar, isto é, angariar aliados o suficiente para que eles vejam que qualquer guerra seria devastadora para eles. Talvez assim desistissem de Hamask, mas é improvável.

Para minha surpresa, a Senhorita Luna se desespera e se irrita com a ideia de estarmos de fato planejando uma guerra contra Irritária. Ela diz que não quer participar disso, e que não foi por aquilo que ela decidiu me seguir.

Sinceramente, diário meu, não entendo nem consigo respeitar a posição dela. Não foi ela justamente que espancou os Cavaleiros do Corno e deu a cidade para a Ordem do Dragão, mesmo que eu tenha me oposto? Toda ação tem consequências e Luna parece não estar disposta a lidar com as dela.

É bem possível que a guerra aconteça, não há volta atrás. Irritária não admitirá perder Hamask para outro poder e Ordem do Dragão não abrirá mão de suas conquistas.

Luna diz que vai embora, de volta para Elhedond, e a Lindriel vai junto. Sinceramente, não lamento.

Em fim, foi um dia cansativo e talvez consiga dormir um pouco.

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Diário,

Sinto que estou rodeada de monstros. De coisas que usam-se da vida dos outros para alcançar o próprio fim. Que me usam para chegar lá.

Urian não me ama, é obvio. O que não era obvio até agora é que ele sequer me respeita. Sequer me considera algo digno de sua confiança, ou de fazer parte de seus planos. Eu só mais um caminho para que este vestígio de Dragdar ascenda a alguma coisa.

O mundo é meu, em tempo. Ele falou isso. Este homem com um corpo quase imortal e as memorias de um dragão falaram isso. Será que estou apoiando um monstro?

Eu... Eu me sinto usada. Ele usou minha amizade com o Barrin para ganhar o que era seu. A figura da matriarca é uma figura decorativa. Ele queria isto de mim, a face da ordem do dragão, alguém conhecido o suficiente. Nada mais.

Não tenho como confiar em Urian. Ele nunca foi verdadeiro. As verdades que ele contou são meias verdades, e eu estou trabalhando para que ele chegue a seu plano. Que qualquer que for, certamente não é algo bom.

Eu deveria derruba-lo. Eu sei que ele quer as gemas. Se há uma preta e uma branca, provavelmente existem a azul, a vermelha e verde em algum lugar do mundo. Posso recupera-las antes que ele. Arrancar sua vitória.

Deveria procurar a espada que está com Emil, e juntar o homens livres e cravar a arma no peito deste monstro.

Mas eu o apoiei. Instintivamente. Eu jurei lealdade a esta coisa e agora estou presa por minha palavra. Presa a uma coisa que me mente, e que me engana. E que irá terminar por arrancar tudo o que sou e o que faço.

Ele me fez trair meu amigo. Um dos poucos que tinha. Um que achei que conhecia.

Não sei o que é Barrin, se é um mago ou um antigo, ou ainda um espirito. Não sei quem é ele, o que ele é. Será verdade que a Fênix de Irritária é uma mentira? Tudo inventado por este... Esta coisa que Barrin é?

Eu não sei. Mas ele não é nem um humano nem um mago. Ele é igual que Urian. Um monstro inumano dirigindo o destino dos povos. Dobrando vidas e destinos para seu próprio prazer e conveniência.

Eu jamais desejei tanto que Izack estivesse aqui. Ele saberia o que fazer. Ele me mostraria o que fazer e para onde vou. Ele sempre sabia de tudo.

Mas hoje estou aqui, meu vestido rasgado e manchado com a sangue de Urian. Minha mão dói e está queimada por tentar impedir um combate que eu não sabia, mas já tinha sido traçado. Nada do que falei foi ouvido ou serviu para alguma coisa.

Só fui o instrumento de perpetuação de uma guerra.



This entry was posted on quinta-feira, outubro 29, 2015 at 16:30 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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