Sessão
15
Diário
de Erika
Diário,
O Patriarca sobreviveu ao embate. Nisso, só eu não pareci surpresa. Já vi outros rebentos da guerra tomarem ferimentos impossíveis e sobreviverem como se nada houvesse ocorrido.
O Patriarca sobreviveu ao embate. Nisso, só eu não pareci surpresa. Já vi outros rebentos da guerra tomarem ferimentos impossíveis e sobreviverem como se nada houvesse ocorrido.
Veneno
não parará Urian, nem os exércitos de irritaria, nem os dragões. Não enquanto
eu estiver aqui. Para bem ou para o mal, fiz minha escolha. Acredito nele e se
estiver errada no final, a história que me julgue.
--
Diário,
Cibele
apareceu ontem de noite em meu quarto. Não a Cibele que eu conhecia. Não, essa
se foi, foi consumida por uma negridão que não consigo entender e que talvez
sequer a Brianna tenha previsto.
A
Cibele que conheci tão viva e energética, essa morreu nas mãos do senhor das
moscas. Morreu enquanto eu estava longe, distante demais em pensamento e em
ação para fazer algo. Não. Ela morreu em tolice. Ela e a Eliza, idiotamente
atacando o senhor das moscas, enfrentando-o cara a cara com um punhado de
pessoas. Parece que não aprenderam nada, e que não se lembraram da quantidade
de pessoas que estiveram conosco, que morreram por nos, para poder derrocar a
Estrela Negra.
Eu
conheço a historia desse embate. Podem me culpar de me distanciar, de me isolar
ou fugir, o quanto quiserem, mas eu entendi como se “luta” as lutas que devemos
lutar. Que escolhemos lutar. Elas subestimaram seu inimigo e as duas pagaram.
Meu erro foi estar lá para não impedi-las a tempo.
E
Cibele morreu, e em seu lugar, lentamente, este monstro tomou seu lugar.
Sinto
vontade de chorar ao pensar nisso. Ela sempre foi a que esteve mais disposta a
amar, a ver a vida, conhecer o mundo. Ela estava disposta a dançar a cada
oportunidade, e a se jogar nos ventos de seus sentimentos.
O
que tomou seu lugar foi esta coisa. Esta coisa sombria e cruel que da Cibele
que conheci, somente tem a lembrança. Não sei se isso pode ser revertido. Não
sei se ela iria desejar isso. Cibele. Ela morreu no dia em que o senhor das
moscas torceu o véu sobre ela.
Brianna
pode estar orgulhosa de seu trabalho. Ou arrependida, não interessa. As ações
delas são o que sobram: Ela roubou a morte de minha amiga e a transformou
nesse... Monstro.
Ela
apareceu em meu quarto e quase matou a pobre Evalia, me ameaçou. “Você traiu
teu povo, ela falou”. Eu jamais tive povo, ela não entende isso. Eu não traí
ninguém porque jamais me jurei a ninguém.
Eu
escolhi estar sozinha, caminhar sozinha, para poder escolher com facilidade. Eu
disse ao lucian um dia, no parque: Quando o dia chegar, eu poderei escolher sem
ter que me importar com amor ou lealdade. Será a escolha mais certa para o bem
de todos.
Ela
se foi, deixou uma adaga que ela tinha preparado para mim. E deixou o antidoto
do veneno para Evalia. Uma gentileza. Talvez a ultima.
Eu
não possuo muitos amigos. E eles estão se desvanecendo aos poucos.
Eu
escolhi isto.
--
Diário,
O
Patriarca está bem. A delegação de Irritaria está presa, alguns formam mortos.
A paz não existe mais entre nos e eles.
Hoje
começaram a chegar os dignitários e os convidados. Faço o meu melhor para recebê-los
de bom grau. A maioria me conhece e me tece de elogios, e a maioria eu não
reconheço. Talvez um nobre que ajudei, não sei. Sinceramente, os rostos dos
padeiros e dos carpinteiros com quem jantei, dos soldados cujas histórias ouvi,
dos sacerdotes que ajudei. Estes rostos ficam mais fácil em minha mente.
Em
todo caso, não posso me demorar escrevendo. Eles querem ouvir novamente as
histórias das minhas viagens a Rosseta. Talvez deveria ter ficado lá.
--
Pesadelo.
Dragões em chama entravam neste lugar e matavam a todos. Eu estava banhada em
sangue.
--
Diário,
A
Rainha Rosália chegou esta tarde com sua delegação. Trouxe até mesmo seus
próprios menestréis. Parece tão distante os dias que vi ela, mas faz menos de
um mês.
Ela
é linda. Se porta como uma nobre deve se portar, carrega uma dignidade que
talvez eu nunca tenha. Eu sou desajeitada, sou grossa e não gosto de enrolação.
Não tenho paciência para cortes. Ela, por outro lado, parece gracejar, se torna
o centro das atenções por onde vai, gentil e bela.
Queria
ser mais como ela às vezes.
Não
é muito bom ser eu.
--
Diário,
Lady
Annika e o senhor Volksar voltaram! E trouxeram com eles a sacerdotisa Lavinia.
Eles
trazem noticias alentadoras, o grande sacerdote de Nayurai está em Voltar.
Lamentavelmente, não poderemos ir lá devido a meu casamento. Em todo caso, eles
pareciam cansados e feridos, e lhes fará bem descansar.
Lady
Annika me conta história de como encontraram a senhorita Lavinia umas duas
vezes. Eles se infiltraram no submundo, tinha uma arena de gladiadores, e um
vendedor de informações que sabiam. O senhor Volksar lutou contra Lavinia,
atrapalharam alguns planos, sabotaram algumas lutas.
Parece
que se divertiram.
Parece
que faz anos que vi Lavinia pela ultima vez. Ela me traz alguma melancolia.
Lembro dela na primeira reunião da cabala de Izack e o sotaque dela me lembra
Rosseta.
Tenho
saudades de Izack.
Em
fim. Volksar me avisa que ele não iria lutar contra irritaria, mas essa não é
minha intenção. A Ordem do Dragão pode lutar, mas eu não farei parte da guerra.
Minha preocupação é outra e Urian sabe disso.
Em
fim. Tenho que ir escolher a cor das cortinas...
--
Diário.
Nunca
me senti tão solitária quanto hoje.
Eliza
não quis subir ao altar comigo. Não tinha ninguém que eu pudesse pedir. Ninguém
importante para mim. Estão todos longe ou mortos. Ou pior, distantes.
Caminhei
sozinha, e a cada passo sentia que iria desmontar. Será que fiz a coisa certa?
Não
teve emoção. Não foi algo... agradável. Sempre dizem que no altar você fica
feliz, mas não foi meu caso. Eu não senti nada. So o frio que normalmente emana
de Urian. A festa deve ter estado linda.
Me
sinto... Vazia.
As
celebrações foram agradáveis, devo admitir. Na maioria do tempo. O patriarca
demostra ser um marido bastante protetor, e não lhe faltou ânimos para sair a
minha defesa quando um grupo de diplomatas começou a fazer perguntas
inconvenientes. Ele é atencioso, do jeito dele.
Por
outro lado, tive que desfrutar da companhia da Rainha Rosalia. Ela é muito
bonita, sem duvidas, e é uma mulher charmosa e inteligente. Porém ela é uma
tirana. Uma tirana que sequestrou meu amigo, e é um pouco difícil ficar a seu
lado e falar amenidades.
Não
fui feita para este tipo de política.
Em
todo caso, devo me preparar. Urian deve estar me esperando.
--
Diário,
Não
sei como descrever o que sinto. Me sinto... suja. Usada, não sei. Sinto como se
alguma coisa tivesse sido arrancada de mim. Me sinto violada e dessangrada. Foi
terrível.
Minha
primeira vez. A primeira vez que faço sexo.
Eu
sei que para Urian também foi... ruim. Não sei. Me falaram tanto de como é se
deitar com alguém, e confesso que tinha tantas expectativas... Foi ao contrario. Foi frio, doloroso,
distante. O cheiro do sangue e as vozes destes sacerdotes.
Não
era para ser algo normal. Mas não sei se deveria ter sido tão desagradável.
Para Urian foi somente um ritual.
Para
mim, foi perder algo.
O
pior e que eu queria falar isto para alguém. Chorar isto para alguém. Mas não
tenho ninguém para abraçar agora. Eu queria muito um abraço.
Em
todos os momentos, eu pensei em Raquel. Será que ela aprovaria o que estou
fazendo? Possivelmente não. Possivelmente ela me chamaria a atenção com seu
jeito gentil e me explicaria de como isto é algo importante para mim.
Sinto
falta dela. Dez anos que ela morreu e ainda sinto falta dela.
Acho
que nunca me senti tão sozinha como agora.
--
Diário,
Fui
falar com Eliza agora pouco. Queria saber porque ela não quis me levar ao
altar.
Ela
disse que porque não me conhecia mais, porque eu deixei que ficássemos
distantes, porque eu fugi e me distanciei de tudo e todos. Ela disse que não me
conhecia mais, especialmente depois de me tornar a Matriarca.
O
que ela não entende, o que Galatea nem Cibele entendem é que eu não tinha nada.
Nada que me prendesse a estas terras ou a elas. A verdade é que a única ligação
que eu realmente tinha com Elizabeth Lancaster e com Cibele Louren era a
Raquel. E a Raquel morreu. Por mim.
Meu
irmão morreu e a esposa dele que nunca conheci também. Minha mãe e Illena do
Sorriso Perpetuo também morreu. E Raquel...
Cibele
tinha sua família, sua mãe e seu irmão, e tinha Irritaria. Eliza tinha a
Brianna e seus pais, e tinha Tifon. Elas podem se dar o luxo de sentar e
descansar. Elas tem esse direito, se ganharam eles. Mas eu? O que tinha para
mim nestas terras além de recordações ruins?
A
Raquel morreu por mim. A pessoa que eu mais amei não estava mais lá, e eu
estava banhada no sangue dela. Ela era a ultima coisa que me prendia as terras
centrais, e sem ela, porque eu deveria ficar aqui, em um lugar que só me trouxe
mal?
Eliza
não entende isso. Ela acha que eu me afastei. A verdade é que nunca fui presa.
Eu estava lá pela Raquel, e acho que só. Sem o Fernando e sem o Garred, e sem
ela, o que deveria eu fazer senão me lançar ao mundo?
E
não me arrependo. Não importa quanto a Eliza tente pintar minhas ações de
ruins. Eu fiz coisas incríveis, eu vi coisas maravilhosas e conheci o mundo.
Enfrentei males e ajudei incontáveis pessoas. Não. Não me arrependo. Eu tenho
orgulho de ter me afastado, pois eu cresci.
E
alias, só eu carrego as culpas? Eu chamei eliza para a Cabala, e ela não
aceitou. Ela sabia de tanta coisa que nos não sabíamos, tantas informações que
teriam feito a diferença. Se ela estivesse lá, se ela pelo menos tivesse se
esforçado para nos comunicar o que sabia, sobre as gemas, sobre Nuália, talvez
Izack e Sigfried ainda estivessem vivos. Talvez Lucian ainda estivesse consciente.
Como
ela vem me falar que fui eu que esqueci o que Raquel ensinou. Ela nunca foi tão
próxima da Raquel quanto eu fui. Não importa o que ela diga, o que tudo mundo
ache. Eliza não amou a Raquel como eu a amei.
--
Diário,
Um pesadelo estranho hoje. Dragões e pássaros. E frio. O chão se tornava carne e o sangue era gelado. Os dragões eram maiores. Cada um deles era uma Aurora Escarlate. Urian estava lá. Ele estava frio. Ele veio até mim, como querendo me estuprar. Eu não consegui fazer nada. Não conseguia me mexer e via como meu ventre crescia e de lá saia um monstro. Um dragão colorido coberto de sangue.
Um pesadelo estranho hoje. Dragões e pássaros. E frio. O chão se tornava carne e o sangue era gelado. Os dragões eram maiores. Cada um deles era uma Aurora Escarlate. Urian estava lá. Ele estava frio. Ele veio até mim, como querendo me estuprar. Eu não consegui fazer nada. Não conseguia me mexer e via como meu ventre crescia e de lá saia um monstro. Um dragão colorido coberto de sangue.
Estou
com náuseas. Evalia esta dormindo no canto. Ainda é de noite.
Queria
que alguém me abraçasse. Queria abraçar alguém e dormir assim. Estou cansada de
dormir sozinha.
Eu
sei que posso estar sendo chorosa, ou sei lá... Sentimental demais. Mas estou
com saudades da Raquel. Às vezes eu consigo lembrar do tom da sua voz, e do
cheiro. Do seu toque gentil.
Estou
chorando. Que absurdo.
Fazia
anos que não chorava. Eu achei que não conseguia mais. Nem quando Izack morreu
nem quando senti o desprezo da Galatea.
Está
tudo tão quieto que consigo escutar o som do meu lápis neste papel. A minha
garganta doi como se tivesse um nó. Estou tremendo, mesmo que não tenha frio.
Evalia
está dormindo no canto. Eu queria que ela fosse embora. Eu queria abraçar a
Raquel agora, queria dizer a ela quanto eu a amava e queria dormir com ela.
Queria descansar.
--
Diário,
Vamos
partir por fim. Lady Annika fez todos os preparativos e estamos prontos para ir
encontrar o sacerdote de Nayurai.
Tive
uma conversa rápida com Urian. Avisei a ele o que iriamos fazer e queria
conversar dele sobre as gemas. Ele confirmou algumas coisas para mim, como a
importância das gemas para enfrentar Ashardalon, e o fato que são cinco delas.
Ainda,
tive que tirar uma duvida da cabeça: Se Urian tinha algo a ver com o culto dos
dragões em Hamask. Ele afirma que não, e a posição conveniente deles foi graças
as profecias dos seus três místicos Thaars. Eu acredito nele.
Fui
também ver Sua Majestade Kelokeratos, e percebi que ele estava... mudado. Ele
aceitara o convite da ordem do dragão, e com isso, ele disse, desejava ficar ao
lado do Patriarca e da sua cidade. Eu entendo. Lamento, tinha começado a gostar
de verdade deste Thaar.
Ele
tem seus problemas, e suas falhas, mas ele parece sincero em suas intenções de
ajudar as pessoas e tentar ser uma pessoa melhor. Olhando para trás, me
surpreendeu de maneira positiva o interesse que ele teve para fazer de hamask
algo a mais.
Isso
é inspirador. Mesmo fazendo um mal da forma que ele fez aos Cavaleiros do
Corno, Sua Majestade provavelmente acredita que os rumos dos Thaar, de Hamask,
poderiam ser melhores, com ou sem Cavaleiros do Corno, com ou sem Ordem do
Dragão. Ele tinha total noção de que teria que desafiar a vontade do Patriarca
e se angariar inimigos perigosos para fazer algo melhor para seu povo. E ele
não recuou. É admirável.
Ele
até mesmo se arranjou um casamento. Eu não sei os detalhes, que estava ocupada
demais com o meu casamento, mas ao que me informaram, a família Vorar se
aproximou dele e “exigiu” um posto no conselho de Hamask. Sua Majestade antes
devia muito aos Vorar, mas sabia que eram criminosos. Ele descobriu que outra
família nobre antiga estava planejando destituí-lo porque ele era um
feiticeiro, e pelas leis vigentes, não poderia governar.
Ele
então fez dois movimentos: Arranjou o casamento uma moça de uma outra família
antiga para que lhe ajudasse a governar, afirmando que seria temporário e logo
deixaria o cargo de poder; Ao faze-lo, conseguiu a aprovação legal para
continuar a exercer o poder, mesmo que temporariamente. A segunda cosia, foi estender
a politica de tolerância zero, agora com ajuda da Ordem do Dragão. Ele desafiou
os Vorar e outras famílias antigas e mandou prender diversos membros. Dizem que
diversas provas foram forjadas, e que algumas pessoas não eram criminosas e só
inimigos políticos. Seja como for, ele não teve receio de enfrentar o crime de
Hamask.
Mas...
Sinceramente não sei o que levou ele a se juntar a Ordem do Dragão. O Patriarca
disse que foi de própria vontade. Não sei o que se passou na mente dele para
fazer isso. Depois de tudo que o LordeXeloksar me disse, ele se juntar à Ordem
parece... contra os planos.
Em
todo caso, a escolha é dele, concorde eu ou não. Ele não vem conosco e parece
convicto nisso. Foi uma honra viajar com o senhor Xeloksar Kelokeratos!
Em
fim, estamos prontos para viajar. E embora Urian me oferecesse diversos homens
para me acompanhar, somente escolhi o ser Dominic Eves, que é um diplomata,
algo que parece nos faltar, e também um contato direto com a Ordem do Dragão.
Partiremos
amanhã de manha. Por fim...
--
Diário,
Chegamos
à Cidade de Prata logo depois da metade do dia. Fazia anos que não estava nesta
cidadezinha. Parece que tudo mudou, tudo ficou... menor. Ou eu fiquei maior,
não sei. Foi por aqui que eu fui para Silverar a primeira vez, anos atrás. Uma
vida atrás.
Nos
acompanhou na visita um senhor que não decorei o nome ainda. Ele é um caçador
de bruxas devoto do Criador, que jurou lealdade á Ordem do Dragão. Urian fez
questão de que ele nos acompanhasse. Parece um bom homem, apesar de calado.
Ele
se veste ao estilo de Kristvar, e tem uma cicatriz horrível baixo o olho. Pior
que a minha, talvez por ser mais recente, a minha tem mais de uma década. Ele é
educado e gentil, apesar de não disfarçar a desconfiança com que olha para a
senhorita Lavinia.
Eu
sei que os devotos do Criador não vem com bons olhos a magia. E em especial
aqueles que conseguem manifestá-la de forma diferente ao estudo da do nas
escolas de magia, ahn, "bruxos". Espero que não haja nenhum conflito.
Em
fim, é um homem elegante e bastante educado.
Lady
Annika contou para nos que o sacerdote tinha adquirido um artefato que lhe
permitiria passar como amigo pelo território dos Senhores dos Ceus, uma
comunidade Orokul guerreira perto da Cidade de Prata. Ela nos avisa que tinha
outra tribo hostil na região, os Punhos Sangrentos, apesar de que ao contrario
do que o nome faz pensar, eles são menos violentos que os Senhores dos Ceus.
Descobrimos
que este artefato, que foi dado pelo Mestre Arakozdo coliseu local ao sacerdote
é um objeto feito pelos Augurios dos Senhores dos Céus, algo parecido a um xamã,
eu acho.
Confesso
que apesar de ter estado em diversas terras Orokul antes, nunca me interessei
muito por eles... Acho que deveria me dedicar um pouco mais a isto...
Em
fim, decidimos procurar informações sobre as tribos locais e sobre Voltar.
Descobrimos, voltar não é mapeada, e é difícil dizer para onde o sacerdote estava
se dirigindo. Acho que teremos que perguntar para as tribos.
Para
dentro de Voltar eu tenho um contato, um velho conhecido que agora lidera uma
tribo. Se conseguíssemos alcançar ele, contaríamos com alguém que conhece as
terras e os jeitos Orokul. A senhorita Lavinia me diz que ela também conhece
uma Bruxa que poderia nos ajudar.
Lamentavelmente
os dois estão muito adentro do território de Voltar. Nenhuma caravana os cruza,
e nenhum viajante deseja ir para lá.
Lady
Annika não conseguiu descobrir nada substancial sobre os Orokul da região. Nada
além daquilo que era mais ou menos obvio. Os Dakhani não se importam muito com
a cultura dos outros, ao contrario dos humanos. Acho que isso é uma coisa que
tenho que admirar na minha espécie.
Em
todo caso, decidimos procurar um artefato similar que nos ajudasse a entrar nas
terras dos Senhores dos Ceus sem ser atacados. Demorou um pouco, e o senhor
Volksar conseguiu o contato com uma capitã de um navio pirata chamada Craca
Encandecente, e uma entrevista com ela.
Fomos
para lá, um pequeno navio com uns dez tripulantes. A capitã era Mogda, uma
Orokul e pelo seu tamanho, com bastante experiência em combate. Ela tinha
algumas cicatrizes que não a deixavam exatamente bonita, mas ela não parecia se
abalar muito com isto.
Bom,
a negociação foi rápida. Ela disse que tinha o artefato. Nos oferecemos uma boa
quantia de moedas, ela aceitou e nos despedimos.
Bom.
Mais ou menos.
Ela
nos ofereceu rum e arenque e quis saber o que queríamos com esse artefato.
Obviamente, não queríamos nem precisávamos lhe contar nada, então a senhorita
Lavinia se limitou a dar uma resposta esquiva. Também, ela demostrou diversas
vezes uma falta de educação bastante clichê nos piratas, como morder as moedas
de Annika na nossa frente e volta e meia lançar ameaças veladas contra nos.
Confesso
que não consigo sentir o mínimo de simpatia com esta laia. Com piratas,
bandidos de estrada, com corruptos. Eles parasitam o sofrimento dos outros, e
fazem seu sucesso um caminho de lagrimas e sangue. Nosso mundo já é violento
sem que as pessoas ajudem a torna-lo pior. Não consigo ser agradável ou
simpática com gente que sei que é cruel, e que não tem medo de fazer outros
sofrerem para conseguirem algumas moedas a mais.
Ao
sair da reunião, Volksar me chama a atenção de que eu tinha acabado com
qualquer chance de poder usar os serviços dela de novo, me recriminando como se
a falta de empatia e educação não tivesse sido mutua. Não me importa o titulo
que Volksar desejar dá-lhe, essa mulher é uma criminosa, e prefiro não ter que
tratar com ela ou os seus jamais.
Temos
o que precisamos e decidimos partir o dia seguinte pela manhã. Lavinia diz que
consegue nos guiar para as terras dos Senhores dos Céus, ao ponto de encontro
onde eles acham os mercantes.
Eu
gosto destas viagens. Faz-me sentir mais viva. A expectativa é revigorante.
--
Diário.
Viajamos
durante um tempo até as terras dos Orokul. Acho que umas seis ou sete horas.
Voltar é uma terra bastante bonita, e Lady Annika não poupa palavras nos
descrevendo a flora e a fauna local.
A
senhorita Lavinia está usando roupa de frio. Ela não se acostumou ainda com o
clima das terras centrais. Kerra é muito úmida e muito quente, e lembro que
demorou varias semanas para que eu me acostumasse quando estive lá. E quando
voltei, senti falta do calor e estava igual que ela, com casaco no meio do
verão.
Paramos
num mirante agora. Teve uma pequena discussão sobre como iriamos reconhecer o
sacerdote, e como ele iria nos reconhecer. Volksar afirma que ele saberá quem é
Lavinia assim que olhar para ela. Eu sou mais cética. Gostaria de ter pelo
menos uma descrição dele. Poderíamos ter arranjado com o Mestre Arakoz, mas eu
confiava que Lavinia sabia.
Arranjamos
uns lagartões para nos levar até lá. Eu detesto montar lagartos. Eles cheiram mal
e me deixam nervosa. Apesar de que cavalgar eles é mais suave que cavalgar
cavalos, e muito mais cômodo que ir de aves de guerra.
Alias,
a Senhorita Lavinia fez questão de viajar em sua forma de gato gigante. Ela diz
que é um Leopardo branco. Eu nunca vi um leopardo branco. Um par de vezes vi
uns laranjas com bolinhas pretas, então não acho que ela seja um leopardo. E se
for, deve ser sofrível se esconder na colorida selva de Kerra quando você é a
coisa mais brilhante na paisagem. Estranho.
Em
todo caso, é bonita a forma. Alias, a senhorita Lavinia é muito bonita. Seu
corpo é esbelto e firme, com a elegância das fadas e o vigor dos humanos
entrelaçados. Sua pele é bem branca, mas não passa fragilidade e doença como a
da Luna. Os olhos dela são estranhos, como os dos Alarani, mas tirando isso,
ela é uma mulher muito atraente.
Ela
tem uma cicatriz nas costas. Ou uma tatuagem, ou uma escarificarão.
Na altura do ombro. Me pergunto o que é.
Em
fim, vamos esperar que os Orokul venham.
Tenho
confiança que vai dar tudo certo!
Lavinea |
Carta
de Skald Hersis Ulf Drunjak, enviado pelo Jarl Alvar ao casamento de Erika e Urian
Ao
meu senhor Jarl Alvar Cabeça de Diabo,
Milorde,
vossa comitiva chegou sem percalços às terras do sul, e o bom clima ajudou a
nos mover rapidamente. Os sulistas ainda olham com receio a vossa comitiva. Os
irritarianos ainda tremem ao ver nosso povo carregando armas, ainda que o
Imperador tenha lhes oferecido a paz.
Em
todo caso, chegamos à cidade de Hamask em menos tempo do que esperávamos. Devo
lhe conversar milorde que as noticias que colhemos na nossa viagem não fazem
justiça ao que vimos na capital dos thaar: O local estava devastado. Centenas
de casas estão destruídas em linhas de chamas dracônicas que derreteram o chão
de pedra e os corpos dos residentes com igual facilidade.
É
uma cena grotesca.
Apesar
disto, o povo não está taciturno como se imaginaria. Confesso que possuo
dificuldades em dizer quando um Thaar está sorridente ou quando ele te ameaça.
Ao que nos disseram, um herói local chamado Xeloksar Kelokeratos derrotou o
dragão que atacou o lugar com ajuda da Ordem do Dragão, e agora exibia a cabeça
do grande vorme em praça publica.
Certamente
era um dragão gigantesco, pelo tamanho do crânio do ser.
Este
Xeloksar Kelokeratos é o mesmo que declarou a independência de Hamask. Cumprimentá-lo-ei
quando chegar ao tempo, pois certamente estarão muito melhor sozinhos que a
serviço dos cavaleiros de galinhas.
Junto
com esta carta, lhe envio um dos livros deste Xeloksar, sei que a Jarlessa é
uma avida leitora e talvez lhe agrade ler sobre as aventuras deste peculiar
personagem.
Continuando,
a Ordem do Dragão é uma organização surpreendente. Os seus homens realmente
parecem dedicados a sua causa e é verdade que eles cavalgam dragões. Vi
diversos cavaleiros em armaduras leves voando em drakes diversos, com uma expertise
bastante peculiar. Contei pelo menos 20 cavaleiros diferentes. É uma força a
ser reconhecida.
O
líder da Ordem do Dragão é um tal Urian Coração de Dragão. É um homem de poucas
palavras e certamente com algum sangue nobre em suas veias, meu Jarl.
No
dia em que chegamos houve um ataque.
A
comissão de Irritária tentou assassinar o líder da Ordem do Dragão, mas foram
repelidos e fugiram. Há diversos guardas na cidade os procurando agora. Me
surpreende a atitude destes irritarianos, mas eles já demostraram alguns vezes
que não possuem verdadeira noção de honra.
Os
rumores contam que fora nossa conterrânea Lady Erika que salvara o patriarca, e
que no combate com o mago real de Irritária, um dos Cavaleiros da Fênix
morrera. Se for verdade, é algo surpreendente, levando em consideração as
lendas de que eles não podiam ser mortos. Mais uma vez, as lendas do sul se
provam erradas.
Fomos
recepcionados pela nossa conterrânea Erika Midnattsol. Como as lendas contam,
ela é uma mulher bastante bonita e simples, e fez questão de que nos sentíssemos
a vontade. Apesar de ser desajeitada, ela caminha e age com uma dignidade difícil
de ignorar. É difícil acreditar que esta mulher seja uma das que derrotou a
estrela negra e exorcizou o demônio corvo, e toda os outros contos que dizem
sobre ela.
Sem
querer desrespeitar a sua honrada figura, a Lady Erika passa a impressão de ser
mais parecida a um veterano de guerra que uma jovem de menos de tres décadas.
Assim como o senhor milorde tinha comentado, parece que seus olhos viram coisas
demais.
Em
todo caso, ela é uma lenda viva, não menor a nosso próprio imperador, e é uma
honra presenciar este momento histórico.
O
casamento foi magnifico, sem duvidas. A senhorita Elsa adoraria presenciar este
acontecimento. Diversas cortinas brancas e vermelhas decoravam a praça publica
onde fora a solenidade. Fora o mesmo rei de Hamask a proclamar os votos,
perante uma estatua de seu povo e do crânio do grande dragão derrotado.
Grinaldas
multicoloridas, tropas e estatuas e arranjos florais em branco e vermelho
decoravam o local, e o cheiro destas flores eram exuberantes para nós, homens
do norte. Haviam diversos dignitários na região, e em destaque a própria Rainha
de Selvalis, que comparecera em pessoa.
Urian
coração de dragão é um homem digno e com um olhar feroz. Trajava uma elegante
vestimenta militar vermelha e branca.
A
entrada da Lady Erika foi magnifica. Ela entrou desacompanhada, caminhando em
um elegante vestido branco e prata que lembrava uma armadura, segurando sua
espada a seu lado. Ela carregava a determinação do nosso povo nos olhos e
caminhou ao altar altiva, como uma rainha deveria o fazer.
Escolhera
bem o vestido, devo comentar. Ela quis lembrar a todos que não era uma nobre ou
uma aristocrata, mas sim uma cavaleira e uma guerreira, que carrega com orgulho
a sua espada e suas cicatrizes. Ela é uma figura mais imponente que o seu marido,
devo dizer. Ela é mais alta e tem uma aparência mais feroz. Neste momento, é
difícil duvidar de quem ela seja.
Os
votos foram selados com um pacto de sangue, como é nosso costume, milorde. Não consegui
parar de sorrir ao perceber que mesmo estando longe da mãe-terra faz tanto
tempo, Lady Erika ainda é uma nortenha!
Com
os votos jurados, se prosseguiu uma festa magnifica. Os doces do sul realmente
são diferentes. Eles tem uma variedade de comida bastante extensa, e como foi
uma ocasião social, muitos nobres e convidados aproveitaram para fazer alianças
ou reatar amizades. Acredito que tenha sido esta a intenção dos noivos.
Cantamos
e contamos as histórias de Erika Midnattsol, como é a tradição no norte, e
mesmo os mais abatidos nobres do sul não resistiram ao canto e ao vigor dos
homens do norte. Lady Erika, agora a Matriarca da Ordem do Dragão, com certeza
apreciou estes gestos!
Iremos
ficar só mais uns dias nesta cidade e voltaremos a suas terras, milorde, e lhe
contarei então com todos os detalhes que desejar como se desenvolveu os
encontros.
À
sua gloria!
Hersis Ulf Drunjak
Relatório
do diplomata e mestre espião Dominic, à Ordem do Dragão, em código de intenção
reversa
Caro
colega,
A
Cidade de Prata avultua-se perante nós em sua glória majestosa. A cidade dos
Dakhani é um marco de civilização em uma terra perigosa e distante. Curioso que
o diga devido à minha descendência, mas tendo crescido em terras humanas e
absorvido seus costumes sou obrigado a dizer que a majestade do povo da Cidade
de Prata é incrível.
A
cidade é muito bem defensável, com muros altos e resistentes que podem abrigar
bem a população. Parece ter sido projetada para defender-se de todo tipo de
perigo, não apenas de ataques de Orokuls vindos da serra acima. É de minha
crença que a cidade será capaz de resistir ao ataque de draconatos e dragões
menores caso venha a ser necessário.
A
guarda e a inteligência local da Legião de Obsidiana são fenomenais. Seus
hábeis soldados mantêm a cidade relativamente livre de crime, e as regiões
centrais são seguras para todos os povos. Apesar de terras dakhani, Akiaks,
Humanos e Orokuls são aceitos e conseguem posições sociais apropriadas para
suas habilidades, especialmente físicas. Pude notar também um número grande de
imigrantes Thaar fugidos de Hamask. São recebidos como refugiados, e apesar de
precisarem assumir trabalhos braçais são integrados na sociedade.
As
lavouras próximas poderiam ser melhor construídas e preparadas para aproveitar
a riqueza do solo. É de minha crença que o povo ficaria mais contente e com
isso com moral mais elevada caso a produção fosse maior, e com isso o
sobressalente. Fico contente em saber que a civilidade é mais abrangente nessas
terras e uma parcela significativa das lavouras é cuidada por homens livres, e
não pelo método de serventia e arrendatários comum aos Qesir.
Apesar
de meu estudo não ter sido muito extenso, posso afirmar com alguma certeza de
que a cidade de Prata não está vulnerável, e que uma tentativa de anexação não renderia
frutos, pelo contrário consumiria muitos recursos.
Não
sei quais são os próximos planos da matriarca, mas a onde fiquei sabendo sua
comitiva tenciona mover-se às terras de uma tribo Orokul local conhecida como
Punhos Sangrentos, as quais a Matriarca possui contatos e grande amizade.
Enviarei nova mensagem tão logo estejamos seguros em suas terras.
Fico contente em terminar essa carta em tom positivo.
Glória
ao patriarca.
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on quinta-feira, novembro 12, 2015
at 14:51
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