Sessão
3
Guerreiro
22 - 11 4E
Diário,
A
festa terminou muito bem. Acho. O Lorde Xeloksar e o senhor Karlanar competiram
em uma luta de danças constrangedoras. Confesso que é a primeira vez que vejo
alguém fazer um tipo de competição sobre isso, e em alguns momentos fiquei
bastante preocupada porque parecia que eles estavam tendo algum tipo de
convulsão, ou ainda possessão demoníaca, mas tudo era só mais uma elaborada
forma de dançar constrangedoramente. Acho que jamais entenderei esse tipo de
competição.
Em
todo caso, a senhorita Luna sumiu com um bonito rapaz com roupa militar, e a
senhorita Lindriel farfalhou por entre os convidados. O Lorde Gaborn me pediu
uma dança, que por minha sorte foi interrompida pela competição de danças
constrangedoras. Não queria fazer ele passar vergonha dançando mal. Eu danço
muito mal, e estava de armadura. Provavelmente iria pisar nos pés dele várias
vezes. Quem diria que o Lorde Gaborn tinha esse lado gentil?
Lorde
Xeloksar pareceu se divertir bastante. Mais que lorde Gaborn, pelo menos.
Tentei
falar com Kira Minis. O rapaz é bastante... hum... delicado. Não irei usar a
expressão que a Celeste usava. Em todo caso, ele parecia bastante incomodado ao
lembrar dos episódios que aconteceram na história de Nuália, e eu não queria
incomodá-lo, até porque acho que ele não sabia quem era eu. A sua companheira,
a senhorita Povali, é realmente muito bonita e elegante.
Decidi
dormir em uma rua atrás da estalagem. Não quero passar mais uma noite em um
local em que se paga pela estadia o que daria para comprar umas trinta galinhas
e alimentar várias famílias. Ou criar um galinheiro. Não será a primeira vez
que ficarei na rua.
***
Guerreiro
23 - 11 4E
Diário,
Acordei
com um pesadelo de novo. Eu fico pensando que me acostumarei a eles, mas não
parece acontecer.
O
Lorde Xeloksar também teve um pesadelo. Ele contou por cima algo sobre um jogo
de cartas, e uma exploração, e que quebraram o rabo dele. Não entendi muito,
mas ele parecia perturbado. Ficarei de olho, mas parece que foi devido ao
cansaço e ao excesso de bebida.
A
senhorita Luna comentou conosco que ela tinha conseguido uma forma de falar com
a rainha Rosália, nem que seja brevemente, sem depender do senhor Karlanar, ao
qual chamou de orelhudo exibicionista. Eu achava que ela gostava de fadas
desinibidas, já que é tão amiga da Lindriel. Que coisa.
Em
todo caso, é uma excelente notícia. Não confio no senhor Karlanar, e parece que
senhorita Luna também não.
A
senhorita Luna explica que será um encontro rápido e o ideal seria entregar uma
carta a ela. Peço ao Lorde Xeloksar para redigi-la, pois é um elegante e
ilustrado aventureiro e certamente seu linguajar irá agradar muito mais a
rainha Rosália, que treinou entre os melhores bardos, que as minhas.
Um
rapaz do Sistema de Inteligência veio até nos para nos pedir ajuda. Na verdade,
para pedir que eu ajudasse com um problema com um peregrino do Criador que estava
colocando gente em perigo com suas pregações. Ao que parece, alguns dos seus
seguidores decidiram tomar em suas mãos a justiça do Criador e mataram, feriram
e sequestravam pessoas. Ele fala que o Sistema de Inteligência de Selvalis não
tem como interferir, se eu poderia ajudar com isso.
Eu
fui. Independente dos motivos, não posso deixar que pessoas inocentes se firam
por uma confusão teológica.
Em
todo caso, tínhamos uma entrevista na casa do professor Mario Constantini. Ele
é um homem excêntrico que parece simplesmente não se importar com o que os
outros pensem dele, e se encaixa bem na descrição traçada por tanto Nuália
quanto pela Celeste.
O
professor confirma boa parte da história de Nuália, apesar de declarar que não
irá falar nada que comprometa a Rainha, mesmo que isto seja importante. Ele
lança para nós a teoria de que Nuália corrompeu o ritual de Karmasal, e que a
criatura que saiu é uma... um veículo para que Ekaria pudesse corromper os
dragões, os filhos perfeitos do mundo e que nunca tinham sido alvo de
corrupção. Esta teoria não surpreendeu, já havíamos pensado nela.
Ele
também comenta que talvez o sumiço das almas dos infantes não tenha relação com
Ashardalon. Isto pode ser verdade. Talvez em nossa estreita visão humanoide
tenhamos relacionado coisas que nada tem a ver uma com a outra.
Mario
não parece ter tido Izack em boas memórias. Ele celebra a morte de meu amigo, e
eu amargo isto. Izack poderia ter todos os defeitos que quisessem listar, mas
ele se importava. Ele estava disposto a se levantar e lutar pelo mundo, não
esperar preguiçosamente o fim de todas as coisas, como este senhor.
Ele
lança sobre Gaborn que Dalamar trama contra este, revela que o seu conselheiro
lhe contou meias verdades. Não devemos confiar em Mário Constantino, e espero
que Lorde Gaborn entenda isto. Por diversas vezes Dalamar teve chance de clamar
o que bem quisesse do Lorde Gaborn ou seu Lorde Pai, mas não o fez. Pelo
contrário, tornou-se um conselheiro para ambos. Apesar de que, visto o destino
abatido sobre o pai e o filho, talvez Dalamar não seja muito bom nesse negócio
de aconselhar.
Finalmente,
ele nos revela que não acredita que Ashardalon seja Dragdar. Eu acredito o
mesmo, acho que Dragdar deve estar em algum lugar escondido, ou mesmo morto, ou
talvez, quem sabe, possuído pelo espirito de Ashardalon, mas não penso que seja
ele.
Em
todo caso, o professor Mario nos explica, sem entrar em detalhes, que o plano
de Rosália era adquirir um corpo como o da senhorita Felícia. Mas ao contrário
desta, Rosália exploraria o máximo o poder de um corpo ancestral e poderoso
como aquele, e Selvalis estaria salva e a rainha seria imortal.
Eu
discordo. De ambas as partes. Da primeira, os homens já confiaram no poder dos
ancestrais, como era O Paladino, e quando este se corrompeu e se tornou algo
tão ou pior que seus inimigos, teve que ser combativo. Não é uma rainha, um
nome forte, em que se encontra a salvação das pessoas. A ideia de uma nação é
superior a um governante, ela é um povo, e é através deste que se constrói uma
civilização.
Da
segunda, o professor Mário é um ignorante. Tudo morre.
Tudo
o que existe, tudo o que há, alcançará seu fim eventualmente. Mesmo as estrelas
do céu irão se apagar, e tudo será tão somente memorias distantes.
Tudo
o que vive morrerá, e seremos todos nos julgados pelo que fazemos até lá. A
morte é o que separa os bons e os maus, os heróis e os vilões, os santos e os
pecadores. É o que nos torna imortais, e nesta imortalidade nas memórias,
iremos nos desvair até desaparecer.
Acho
que no fundo todos nós queremos de ver coisas morrendo. Agradecemos a
oportunidade e celebramos o fato de que não somos nós. Morto pelo amante.
Afogado no mar. Esfaqueado pelo próprio filho. Segurou o filho nos braços
enquanto se esvaia.
Estamos
em um mundo de predadores. De monstros e assassinos. É matar para não ser
morto, e torcer para que o próximo a morrer não seja você. Meio guerreiros,
meio vampiros.
Nos
vemos as coisas morrer à distância, e agradecemos que não somos nos. Nem os
corajosos, nem os destemidos pararão até que todo o sangue seja derramado.
Morte
e sofrimento é tudo o que há arredor, sem saída. Então, porque continuar?
Quando ninguém sem importa, ninguém está lá, você morre por dentro antes de você
partir. As areias do tempo são inúteis em um mundo hostil, em que é devorar ou
ser devorado, em que é viver enquanto tudo morre.
Eu
tento alcançar o ponto mais alto de visão, mas sei que preso frente a meus
olhos há uma visão que mente. Eu acredito que há anjos nos corações dos homens.
Mas sei que também há monstros dentro de cada um de nos. E eu aprendi a prestar
atenção na degradação. Eu aprendia a seguir os olhos atrás de mim através das
estranhas estradas vazias que mudam repentinamente, para o ápice de nosso
destino. Tão frio. Ao final, tudo morre.
***
Guerreiro
23 - 11 4E
Diário,
É
uma tarde bem agradável em Khain. O senhor Kira Miniz e sua companheira são
muito gentis e agradáveis. Me sinto mal por telo que fazer lembrar de coisas
ruins do seu passado. E lamentavelmente, ele não traz nada de novo. Somente nos
resta que a Rainha seja sincera e nos compartilhe o que aconteceu.
A
senhorita Luna não quer nos ajudar a procurar os criminosos que se usam do nome
do Criador para encobrir seus crimes. No final da tarde, Lorde Xeloksar, Lorde
Gaborn e eu fomos falar com o sacerdote Nathan, que é o pregador local da
religião do Criador. Ele transmite palavras duras, e me usa como exemplo. Eu
não sou. Posso concordar com ele, uma vida regrada, uma vida focada no bem aos
outros e não na procura incessante por prazer é melhor. Mas eu não compartilho
suas ideias. Este é um destino que eu escolhi para mim e não algo que é
imposto. Não há nada de errado em amar a vida, ou gostar de coisas boas e
bonitas. Ou querer ser rico. Raquel era a pessoa mais maravilhosa que eu
conheci e ela não seguia o que eu faço. Inclusive muito ao contrário.
Mesmo
assim, ele parece ser um bom homem. E seu guarda uma pessoa diligente, visto
que estava cansado.
Fomos
até os homens do Lorde Gaborn, em uma estalagem no centro da cidade. Lorde
Gaborn é praticamente outra pessoa na frente de seus colegas. Ele é menos acido
e menos ríspido, se dando o direito a rir e sorrir com as piadas que a
senhorita Amanda contava. Não consigo entender este homem.
Em
todo caso, foi concordado por eles que os homens de Lorde Gaborn iriam nos
ajudar a investigar. Isto é ótimo!
O
local estava cheio de prostitutos e prostitutas. Uma delas se interessou por
mim, mesmo em meus trajes. Isso me incomodou...
***
Carta de
Xeloksar
Cidade
Real de Khain, Reino de Selvalis
23
de Guerreiro - Ano 11 da Quarta Era,
À
Vossa Fidelíssima Majestade, Rosalia Merlo, Rainha de Selvalis, Generosa Mãe da
Pátria,
Inicialmente
vos peço perdão pelo abrupto contato, mas, não o faríamos se não houvesse assaz
urgência em prol da proteção de Vosso Reino e do mundo que conhecemos.
Somos
o que sobrou da Cabala do Fogo da Alma de Izack, o Branco, traído por uma
sacerdotisa da Mãe dos Monstros, seguida pela destruição de Siegfried a
Montanha e Selena Sangue Antigo pelas hordas de Ashardalon.
Soubemos
através de terceiros os relatos que culminaram com a ascensão de Ashardalon,
contudo, não podemos confiar na totalidade dos mesmos, uma vez que descobrimos
que parte é inverossímil, e, diante disto, faz-se mister investigarmos a fundo
o ocorrido.
Contatamos
pessoalmente pessoas que presenciaram mais de perto tais fatos, e até mesmo
pessoalmente, tais quais a Capitã Felícia Rudiero; o Agente Karlanar e seu
Operante Bum, ambos do Serviço de Inteligência de Selvalis; os famosos
estilistas Rinishini Povali e Kira Minis; e o Professor Doutor Mário
Constantini.
Sabedores
dos traumas e infortúnios passados, bem como ao relembrar de tais eventos,
nosso fardo, tal qual nossa indiscrição, não o é sem motivo, precisamos por fim
à ameaça de Ekaria e Ashardalon, pois cremos que ambos estão interligados.
Temos a crença de que a mesma Sacerdotisa que matou Izack realizou algum ritual
para trazer aquele que se proclama Ashardalon.
Hoje
me acompanham Lorde Barão Xeloksar Kelokeratos, explorador-real de hamask e
grão-capitão da Ordem Paragnóstica – que redige a presente carta; Alta
Sacerdotiza Luna Entwi da igreja da Mãe Negra de Elhedond e sua conselheira
Lindirel "Marcada em Pele"; Lorde Gaborn Uth Modar, capitão da
Companhia Cinzenta; e Raagras "Caido das Estrelas". Informo também
que a Cabala sobrevive com outros heróis em pontos estratégicos, realizando
feitos em prol de nossa missão.
Aguardamos
esperançosos o momento em que poderemos dialogar pessoalmente com Vossa Majestade,
a fim de buscar uma solução para os acontecimentos havidos.
Entrementes
estaremos na Estalagem A Saída do Bardo, ou pela Vossa bela cidade realizando
tarefas onde o Sistema de Inteligência de Selvalis não possui jurisdição,
conforme auxílio solicitado por Karlanar, a fim de evitar maiores conflitos.
Com
a estima e respeito devidos à Monarca,
Erika
Liv Midnattsol, a Pura, a Paladina, o Sol-da-Meia-Noite
Líder
da Cabala do Fogo da Alma
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on segunda-feira, agosto 10, 2015
at 16:51
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