BL - Diário de Xeloksar 08  

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Sessão 8

Trecho do Diário de Aventuras e Desventuras de Mestre Xeloksar o Explorador, Uma Autobiografia, Vol. 9 - A Cabala Renascente, capítulo 2 - Novas Desventuras em Khain


(...) por isso vezes eu me pergunto se o único subterfúgio para as negociações de Khain são as festas. Uma roupa para cada festa, uma máscara para cada roupa... feliz é Érika que não precisa se preocupar com isso... bom, não que fosse gastar algo mesmo... devo ter perdido uma pequena fortuna só em vestimentas, só espero vende-las por um bom preço em Hamask.

Talvez eu devesse investir nesse mercado, li interessantes relatos acerca das Borboletas do Raio1 e sua seda impermeável.

Vagamos em meio a festa por pistas de Jacopono e os Purificadores, por mais cliché que seja, buscar por aposentos mais privados para momentos íntimos sempre surte resultado, uma pena que desta vez era apenas uma desculpa, Lady Emmanuelle pareceu particularmente interessada neste humilde thaar.

Passado pouco mais de uma hora tivemos nossos primeiros resultados, a negociação ocorreria na adega da mansão. O porem era que nenhum dos dois grupos estava na festa, buscamos então os Renascentes, afinal, teríamos o seu auxílio.

Laeneth parecia particularmente aproveitar a festa sem qualquer preocupação. É interessante ver a calma qesir em situações adversas, talvez sejam os anos que lhe sejam generosos, talvez por serem espíritos... ou simplesmente porque ela não tinha nada a perder.

O mesmo não pode ser dito de Luna, que simplesmente teve um rompante quando respondi não saber o número de Purificadores presentes, supostamente sendo superiores aos nossos.

Talvez seu ciclo menstrual esteja se aproximando, o que é um lembrete para tomar cuidado, a incursão pela tribo das guerreiras Myr’ine2 ainda me traz más lembranças do real significado do termo “ciclo sangrento”(...)

(...) e devidamente agrupados, nos dirigimos à adega, Luna viu que haviam somente dois guardas, fantasiados de pierrô, na porta de entrada. Buscando não causar alarde, Laeneth profere um baixo cântico, aparentemente abafando o som e os guardas rapidamente são postos fora de combate. Quando nos posicionamos próximos à porta, Luna a abre de imediato.

Eu sempre imaginei, com certo entusiasmo, como os guardas se sentiam quando fazem isso, digo, chutar a porta e pegar todos de surpresa3, acabar com negociações e tudo o mais. Não era como eu esperava(...)

(...)e seguiu-se então o mais caótico embate arcano desde a minha tentativa de criar minhas próprias magias dedicando-se à Evocação4, os Puritanos acreditaram que Jacopono os havia traído. Nos aproveitamos disso. Nosso foco era óbvio, tínhamos de derrubar o Ex-Arcanamach.

Luna avançou contra o mesmo enquanto eu e Lindriel alternávamos as evocações. De imediato fui atingido por um pierrô que certamente tinha sangue orokul, seu golpe me arremessou alguns metros, fazendo com que me focasse em Restaurações para permanecer vivo. Alguns golpes depois eu acho que quebrei algumas costelas, fraturei uma mandíbula e, Cassep me guarde, perdi alguns dentes. Se a Guilda de Exploradores me visse agora, diria que eu tentei montar um Draco Costa-Metálica novamente5.

O embate saiu ao controle, o que antes era uma chusma tomou proporções sangrentas. Os Purificadores tiveram sua primeira baixa e ao final saímos vitoriosos, tendo Luna finalizado Jacopono, ao menos é o que percebi enquanto tentava fazer o mundo parar de girar (...)

(...) Nossa anfitriã surgiu em momento oportuno para não tomar lados, mas sim valores; as “poucas” moedas referentes à aquisição da mana seriam suficientes para pagar o infortúnio causado. Uma aproveitadora de classe, não se pode negar6.

Quanto à Jacopono, deixamos o destino dele para o Conde, enviando-o com a mana para Hamask. Cassep me perdoe, mas acho justo ele visitar a cidade dos thaars sujos que se referiu, podendo inclusive conhecer suas “ruelas”. A máfia me satura, podemos voltar a salvar o mundo, por favor?

Luna e eu tivemos com Gruustil, eu pagarei os Garotos do Sapo Boi, ela terá seu novo negócio, o Conde continuará recebendo a mana. Um prejuízo que terei de pensar em como reverter, mas no momento só penso em não perder meus dentes e o olho esquerdo(...)

(...)e ao fim tivemos notícias da Rainha, uma polida carta sem nada a acrescer, mas muito a pedir. Promessas vazias de bons tratos à Raagras - desde coopere - apela que seria um fim para a guerra e a possibilidade de focar em eventos maiores que assolam Alancia. Sinto-me culpado pelo ocorrido. Queira ou não Erika o conhecia a mais tempo, sabia de seu voto para com o equipamento, acaso não tivéssemos confiado tão levianamente em Karlanar, Raagras não teria sido apreendido. É fácil confiar quando não é um dos seus envolvidos, perdoe-me Malmarir7, parece que não aprendi com meus erros.

Volkzar e Annika deram boas notícias, os caminhos descobertos nos levarão à Hamask, será ótimo rever o povo das baixias, temo por sua segurança já que o Conde recebeu metade da mana devida. Falem mal, mas Hamask tem sua beleza, e não há lugar como o lar.(...)


Trecho do Diário de Aventuras e Desventuras de Mestre Xeloksar o Explorador, Uma Autobiografia, Vol. 9 - A Cabala Renascente, capítulo 3 - Hamask em Cinzas


(...) e dizem que alegria de pobre dura pouco8, ao longo do horizonte vejo uma fumaça negra emergindo da colina, descobrimos que houve um ataque, um único ataque de um único vorme.

Para piorar, a cidade está enclausurada sob ordens do Vice-Rei, ninguém sai, exceto se estiver morto, ao menos foi o que descobrimos por um thaar que mais parecia um possuído, já vi golens com mais emoção que isso9.

A Cabala que me perdoe o egoísmo, mas não posso salvar o mundo se o meu mundo cair. Erika faz jus à sua fama e decide permanecer, mesmo Luna, à contragosto, fica, mantendo Lindriel consigo. Annika e Volkzar partem, tomando a dianteira para realizar os preparativos para nossa chegada.

Que O Comerciante tenha misericórdia de Hamask e do que demônios está acontecendo com ela (...)

***

1 - Segundo o Compêndio do Explorador, as Borboletas do Raio (Bombyx Mori Saranis) são uma espécie de borboleta cor azul metálica com padrões amarelos nas asas encontrada em regiões costeiras, particularmente em Selvalis. Enquanto transmuta-se de larva a borboleta, tecem casulos com uma seda firme e impermeável que torna-se matéria prima para as velas dos navios. Dizem às lendas que estes insetos foram presentes da Deusa da Tempestade aos navegantes de Selvalis, o que torna seu comércio um pouco restrito pelos seus sacerdotes.
2 - Veja Vol. 6 - As Ruínas de Tlabaaxsu, cap 7 – Paraíso ou Purgatório?
3 - Veja Vol. 3 - O Grande Explorador, cap 2 – Pequenas ações, péssimos negócios.
4 - Veja Vol. 2 - O Jovem Herói, cap 13 – Brincando com fogo, acordando queimado.
5 - Veja Vol. 3 - O Grande Explorador, cap 8 – Bebida qesir e montarias não domesticadas não combinam.
6 - Veja Vol. 2 - O Jovem Herói, cap 6 – Onde há carniça, há urubus... e um thaar.
7 - Veja Vol. 2 - O Jovem Herói, cap 10 – Quando a culpa dói mais que um rabo quebrado.
8 - Veja Vol. 2 - O Jovem Herói, cap 1 – Por um punhado de cobres.
9 - Veja Vol. 5 - As Montanhas de Xeloksia, cap 7 – Nas garras do Golem sorridente.



Pedaços do diário de Erika, que não foi ao baile

Guerreiro 26 - 11 4E

Diário,

A senhorita Luna e o Lorde Xeloksar foram falar com os garotos do sapo boi com o intuito de salvar a halfling. Espero que estejam bem. A fama dos garotos do sapo boi os precede. São uma gangue terrível.

Abandonei a companhia do garoto que me acompanhava. Ele não parecia muito confortável a meu lado. Passei a noite em uma taverna, curando os ferimentos de um marujo cuja perna foi quase comida por um Gar. Algumas das pessoas que estavam lá eram imigrantes e muitas falavam haumvir. Escutei suas histórias e tentei lhes ajudar como posso.

Eu gosto de escutar as pessoas, o que elas tem a dizer e me contar. As pessoas simples são grande parte das vezes as mais sinceras. Dizem que um bom curandeiro é difícil de achar. É mais fácil matar que sanar...

Esta cidade tem muitas feridas, e parece que ninguém se importa em fecha-las. As pessoas mais pobres carregam muita magoa e medo para com a Rainha e me pediram para intervir por elas.

Não posso. Gostaria. Gostaria de poder falar com a Rainha, de olhar nos olhos dela e contar as coisas que sei e que vi, falar para ela como é possível ser dura e justa ao mesmo tempo. Entendo que ela esta cansada, ferida e talvez amedrontada. Como Selvalis passou um mau bocado e quase foi esmagada.

Pessoalmente acho que a Rainha Rosalia é uma pessoa bem solitária. Ela é muito bonita, sem duvida, e não teria problema em encontrar alguém que a queira por perto, seja pela beleza, seja pelo poder. O difícil é encontrar pessoas que estejam lá por ela e se preocupem por ela, como pessoa.

Consigo imaginar como ela se sente. Esmagada pelas expectativas, acossada por pessoas que só querem ver ela cair. Ela é prisioneira de sua coroa.

Eu queria falar com ela. Escutar as coisas que ela tem a dizer. Não as coisas de rainha, não as coisas de dragões. Queria escutar as cosias da Rosalia mulher. Ela me intriga...


***

Guerreiro 28 - 11 4E

Diário,

Novamente, o Lorde Xeloksar e a Senhorita Luna não vão passar o dia por perto. Estão procurando solucionar o caso do Lorde Xeloksar. Ele é um homem com amizades perigosas, e certamente está disposto a fazer coisas bem terríveis para manter as promessas que fez ao seu amigo Conde. Imagino que esta amizade é muito unilateral. Jamais entenderei direito os Thaar.

Senhorita Lindriel irá acompanha-los acho. Ela não conversa muito comigo. Não sei qual é o problema dela.

Ajudo eles como posso. Realmente, eles parecem perdidos. Indico que algo logico: se o Sr. Jacopo continuar no seu lugar, não poderá haver solução para o problema, uma vez que ele é o problema. Somente isso faço. Não quero me envolver nas coisas que eles estão fazendo. Em coisas de máfia, drogas e morte.

O Lorde Gaborn me convidou a passar a noite no quarto com seus companheiros. Não aceitei é claro. A taverna tem carrapatos e também porque é cara. Ele novamente me criticou. Deve ser difícil entender o meu código. As vezes, confesso, é difícil para mim entende-lo também.

Quando tomei o voto, sozinha em um vale de pessoas mortas e silencio, isso parece que aconteceu faz tantos anos, faz décadas. Um momento distante. Eu lembro do silencio... e das correntes. Correntes... É isso que um voto é. Correntes servem para prender coisas e para manter coisas juntas. Ela me prende a uma ação e a uma palavra, mas me mantem junta, integra.

A forma que vejo as coisas é diferente. A riqueza te nubla para as coisas que são importantes. Ela te afasta da terra. Não há nada de errado em amar as coisas bonitas da vida, mas as coisas feias, sujas, inadequadas e desajeitadas. Essas também precisam amor, atenção e compreensão.

As vezes penso que as correntes são pesadas demais. Quando estou no ermo é mais fácil. Nas cidades, isso é difícil. Como você se livra de uma corrente que você mesma se impôs?

Aproveitei o dia e fui prestar meus respeitos à igreja do Campeão. Ele não é o deus Sol, o Aasvar gentil que eu sigo, mas é uma visão dele. Não uma que eu me espelhe, mas os deuses são incompreensíveis para nos.

Achei o templo magnifico. Ele é grande e heroico, e as pessoas de lá também o são: fortes, elegantes e bonitas. Esculturas vivas de movendo e falando com esse estranho sotaque. Um tanto cômico talvez. Poucas vezes me senti tão estrangeira.
Um sacerdote alto, loiro e bonito, mais velho, talvez de uns quarenta anos ou mais, vem conversar comigo. Ele me reconheceu e falou comigo. Erika a Pura, a Paladina, me chamou. Disse que no templo tinham grande respeito por mim, que era vista como uma grande figura: uma curandeira, uma guerreira e uma líder.

Ele me pede permissão para falar abertamente. Ele me diz que eu não pareço nada disto. Estou suja, como posso curar alguém? Estou mal alimentada e cansada, como posso guerrear? Estou confusa e perdida, como posso liderar?

Ele me da um conselho: As pessoas respeitam quando há algo que respeitar. Eu não sou somente eu. Eu não sou somente a Erika. Sou também a Paladina. As pessoas seguem e amam a Paladina, elas desconhecem a Erika.

Ele tem razão. Desde que a Raquel morreu, ninguém realmente se importa com a Erika. Eu não consigo escrever como tenho saudades dela. Eu mal consigo lembrar do seu cheiro ou de sua face e isso me parte o coração.

***

Mago 1 - 11 4E

Diário,

Eles voltam com uma chuleta de porco e pedem para fazer um assado. Não entendi. Provavelmente havia algum tipo de piada por trás disso e não consegui entender.

O Lorde Xeloksar parece que levou uma surra, mas parece triunfante. Mais ou menos. Ele parece baixar a cabeça para a Senhorita Luna e a Senhorita Lindriel. Ao que me parece, o Lorde Xeloksar parece que não é exatamente bem, ou pelo menos preparado para lidar com esse tipo de confusão. Cuidarei dele. Das feridas.

A senhorita Luna e a senhorita Lindriel estão bem. Bem melhor que o nosso companheiro thaar. Estão preocupadas, isso é obvio. Mas não me atrevo a perguntar porque. Certamente receberei uma resposta gentil e esquiva da humana e um “não é teu problema” da qesir.

This entry was posted on sexta-feira, setembro 04, 2015 at 12:35 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

1 comentários

Muito interessante (e bem escrito). Meus parabéns!

4 de setembro de 2015 às 15:31

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