Trecho
do diário surrado de Erika
Diário,
Não sei como explicar o que sinto. Uma espécie de excitação, ou uma espécie de preocupação, eu não sei, mas é algo que não sinto faz bastante tempo. Sabe... As coisas mudaram para mim, de forma rápida.
Nas
ultimas semanas, quiçá nos últimos meses, estou sentindo uma angustia
crescente. Em especial após a morte da cabala de Izack, ou da morte do próprio Izack,
estou me sentido desprotegido e frágil. Precisamos de um exercito para derrotar
Sertrous e eu estava com uma meia cabala. Eu agradeço seu esforço, mas eles
são... Inadequados.
Agora
parece diferente. Agora estou ao lado de alguém que possui um exercito das
lendas e que está disposto a lutar por minha causa, se eu lutar pela dele.
Urian,
patriarca da ordem do dragão. A alma de um dragão milenar no corpo de um semideus
e o comando fiel de um exército de cavaleiros de dragão.
Este
Urian me quer a seu lado. De diversas formas. De todas as formas. Ou quase
todas.
Não
sei o que pensar. Preocupação parece adequada agora. Eu sei, minha mente me diz
isso, que Urian me quer porque eu sou conveniente: O povo me conhece, e o povo
poderá me seguir. Eu possuo informações que ele não, e possuo a confiança de
pessoas com o ímpeto suficiente para enfrentar o mal de Ekaria com a precisão
de uma flecha. Algo inadequado para um exército.
Desconfio
de suas intenções, e ainda desconfio de seus métodos. Não é possível medir sua
visão pela de outros homens, ele é bem mais que isso... Inumano? Divino? Não
posso parar de pensar na espada que a senhorita Emyl e os outros foram
procurar: uma anátema para o sagrado, para o diacrônico, e para o mortal. Urian
pode ser exatamente isso, ou o contrario disso: Divino, Dracrônico, Humano.
Mas
por outro lado... Por outro lado ele me ofereceu algo que ninguém antes tinha.
Já diversas vezes reis e rainhas me ofereceram o comando de exércitos, ou a mão
de seus mais garbosos filhos ou suas mais belas filhas. Todas às vezes eu
recusei, todas às vezes eu me neguei a parar, a me entregar para uma vida... Comum.
Urian,
ou qualquer que seja seu nome, me ofereceu não só um exército, não só um reino
ou muitos. Ele me ofereceu... Uma história. Sei que pode parecer arrogante, mas
eu fiquei... Eu gostei da ideia... De uma linhagem. Minha. Algo que durasse
para sempre.
Eternidade
é uma ilusão. Será mesmo?
Em
fim. Acho que melhor contar como cheguei aqui.
Bom,
faz mais ou menos cinco dias atrás, quando escrevi o ultimo diário, estava
sentada sobre as ruinas de uma Hamask derrotada. Não. Uma Hamask traída.
Não
havia tempo para ódio porém. Lorde Xeloksar estava profundamente ferido, e uma
vez que o furor abandonou seu corpo, ele cambaleou e sentiu as queimaduras.
Marcas graves, e terríveis. Homens menores teriam morrido por esta punição.
Fiz
o melhor que pude, dei a ele remédios e tentei aliviar sua dor, mas o sopro de
Aurora Vermelha era amaldiçoado. A senhorita Lindriel tinha trabalhado em uma
cura, como eu sabia que ela faria, e tinha descoberto algo. Todavia, ela não
era uma conjuradora boa para tal ação e foi preciso que fosse procurar o líder
dos Valaryns Valarinn.
Os
demais ficaram na casa de Lorde Xeloksar. Senhorita Luna estava intoxicada
pelos fumos da Sol Nascente, e mesmo com sua insistência em dizer que estava
bem, ela claramente não o estava: seus olhos a denunciavam, sua pele,
normalmente branca, estava levemente esverdeada. Fadiga e uma leve intoxicação,
eu diria. Senhorita Lindriel também ficou. Pedi a ela para codificar o feitiço,
a fim de facilitar sua conjuração.
Galatea
estava ferida, e Lorde Xeloksar parecia mais animado perto dela.
Em
fim, demorei um pouco mais achei o líder dos Valarinn. Ele tinha um titulo que
eu não lembro. Palavras que eles inventam... Ele era um grande místico, e
quando voltei a mansão de Lorde Xeloksar, a senhorita Lindriel já estava com o
feitiço pronto. Ela não ficou contente de ter que ir. Não sei porque. Talvez
ela não goste de Valaryns Valarin. Valarinn!
Em
fim. Foram três longas horas de espera com diversos Valaryns conjurando
com a senhorita Lindriel. Valaruns. Valarynn! Droga de nome. Em fim.
Foram longas horas em que nada de interessante aconteceu. Exceto uma hora que o
Lorde Xeloksar começou a tremer e convulsionar. Eu sabia que se interferisse no
ritual ele não estaria completo, mas desejei que ele não fosse possesso. Não sei
se ele sobreviveria a um exorcismo no estado de saúde dele.
Lorde
Xeloksar ficou desacordado e levamo-lo até sua mansão. Lá ele acordou e nos
falou de um sonho que teve em que viu uma cidade em chamas, uma mistura de Hamask
com uma ruina élfica. Destruída pelas chamas de Aurora Escarlate. Ele conta de
um vale de flores secas e queimadas e uma figura que cuidava delas de forma
consternada. Ele acredita que seja o Sem Rosto.
Faria
sentido. Há uma conexão entre o fogo maldito de Aurora Escarlate e o sem rosto.
Lorde Xeloksar vislumbrou estas ideias que pairam no ar como fumaça no véu.
Vivas, mas sem futuro.
Eles
se surpreendem com eu conhecer o véu. Eu conheço o véu mais do que queria. O
sol no céu distante como o olho de um tirano, sempre observando, imóvel. E os
pássaros. Obscenos, errados. Eu fiquei tempo demais por lá. E de lá onde vários
dos meus pesadelos vem.
Enquanto
Lorde Xeloksar, senhorita Luna e senhorita Lindriel dormiam, Galatea ficou
acordada, cuidado dos ferimentos do Lorde Xeloksar. Eu fiquei acordada. Não
quero dormir.
Ela
me enche as paciências e fica acordada.
No
dia seguinte eu fui visitar o líder dos Valaryns. Queria perguntar sobre
Mirani. Mais uma vez as pessoas ficaram maravilhadas com a história, fizeram
diversas hipóteses, mas nenhuma me auxiliou. Parece que sou a única que lembra
que ela existiu, e que ela sumiu no véu.
Quando
voltei, Galatea já tinha ido embora. Não sei se agradeço ou não. Eu... queria
me despedir dela. Sei que não foi o melhor dos encontros, mas ela é a ultima
coisa que restou de Raquel no mundo.
De
certa forma me sinto traindo a Raquel ao não conseguir me dar bem com sua
filha.
A
presença de Galatea me feriu muito. Me lembrou como estou distante de Raquel,
como estou sozinha desde que ela morreu. E me fere como ela age como se tivesse
sido minha culpa a ausência. Eu não queria levar a tempestade da minha vida
para ela.
Decidimos
viajar para ver a ordem do dragão, e Lorde Xeloksar veio conosco, apesar dos
meus avisos de que ele poderia não sobreviver. Ele contou alguma coisa de que
uma vez foi ferido por um Deviante Xeloksariano que mastigou o braço dele, mas
mesmo assim ele continuou a se aventurar no vale dos pigmeus dakhani ou algo
assim. Sei.
Dois
cavaleiros do dragão também vieram conosco. Senhorita Luna e Senhorita Lindriel
me perguntaram se elas deviam ir. Elas, mais que ninguém, deixaram muito claro
que não sou eu que as ordeno. Elas vieram.
Em
fim, foi uma viagem longa. O interior de Hamask é bem bonito nesta época do
ano, apesar de que sempre tinha a impressão de que havia corrompidos nos cantos
escuros. Deve ter sido a impressão das terríveis histórias dos diabos que tanto
nos contaram.
Passamos
por uma caravana de Akiaks num dos dias. Dormimos bem e Xeloksar conseguiu
recuperar suas forças para outros dias de viagem. No meio da estrada fomos
atacados por um bando de caça de Drakes. Se estivéssemos sem os cavaleiros do
dragão, teria sido terrível, mas conseguimos superá-los por pouco. 7 ou 8
predadores maiores que cavalos, e venenosos.
Um
dos nossos cavaleiros do dragão ficou ferido no ataque. O homem mais que o
dragão, mas o dragão morria junto. A ligação que compartilham é profunda...
Como se fossem um só ser.
Cruzamos
também com um vendedor de chapéus. Um deles era um chapéu que parecia uma
toquinha de urso, só que um urso preto e branco. Ele disse que era a
representação de uma criatura gentil e sabia do outro lado do mar. Eu não
acredito em ursos pretos com brancos. Em especial quando disse que alguns deles
costumam aprender artes marciais e beber bastante. Se bem que ninguém acredita
nos mamutes pelados de Rosseta também...
Também,
parece que a senhorita Luna e a Senhorita Lindriel passaram um mal bocado com o
ataque do dragão. As duas compartilham uma ligação. Não tão direta como os dos
cavaleiros e seus drakes, mas tão profunda quanto. Ora uma é a mestra, uma é
exigente e perfeccionista, e logo é a outra. Uma com as artes do corpo, a outra
com as artes da mente.
É
difícil saber se foi a senhorita Luna quem adotou a senhorita Lindriel ou foi o
contrário. Antes, as duas estavam em dissonância, agora estão em concordância.
O Lucian ficaria feliz, se bem que se ele estivesse aqui provavelmente elas não
estariam bem.
Em
fim, depois de uma longa viagem chegamos por fim a um enorme acampamento a
menos de uma semana de Hamask. Uma das torres dos cavaleiros do Corno tinha
sido tomada, e perto dela, em uma colina, diversas tendas foram montados.
Fazia
anos que não via uma campanha como esta. A ultima vez foi em Rosseta, quando
metade de uma legião marchou floresta a dentro para apagar a fornalha da chama
dourada e evitar o ressurgimento dos reis de marfim. Parece tão distante aquela
campanha desta.
Soldados
de olhos amarelos ao igual que drakes, se movendo como um. Homens e dragões em
uma sinergia que chega a ser perturbadora. Já tinha visto drakes treinados
antes, mas jamais deste tipo.
Fomos
levados sem demora até o líder da ordem dos dragões, o patriarca.
Lá
conheci Urian. Meio homem, meio dragão.
Ele
fala para nos de certezas, de uma vitória necessária e sofrida que determinará
o futuro dos humanoides. Ele nos conta sobre como foi criado: um experimento de
Dragdar que se voltou contra o dragão, que em sua luxuria arrancou a humanidade
de um dos filhos da guerra. E disso, se nasceu esta criatura. A mente e
memórias de um dragão milenar e o corpo de um semideus guerreiro.
Ele
nos fala que é através das magias que ele conheceu através de sua ligação
lembrar conhecer ter sido COM Dragdar foi o que lhe
permitiu criar a Ordem do Dragão. Ele diz que ele pode passar este dom a seus
filhos, e que eles serão imunes ao sopro dos dragões e da maldição de Ekaria.
Urian
nos fala que o plano dos Daexir é castrar os humanoides. Vence-los em batalha
se provou difícil demais, então eles planejam simplesmente esteriliza-los. As
crianças nascerão sem alma. Mas ele afirma que ele e os seus serão imunes.
Ele
diz então que para sobreviver, será preciso que hajam sacríficos. Reinos terão
que cair para que a maioria possa ser salvo. E se parar os Daexir não for
possível, então os filhos dele herdarão o mundo.
E
me faz uma proposta: Ele quer minha mão, quer que me torne sua matriarca.
Nossos filhos, diz ele, serão os lideres deste mundo; os filhos dele com outras
serão os súditos. A linhagem do líder da Ordem do Dragão e de Erika, o Sol da
Meia Noite. Nosso filho, diz ele, será um deus. Ele garantirá isso.
Confesso
que várias coisas que ele fala me peturbam, mas não consigo parar de lhe achar
razão. É verdade que os reinos dos homens estão podres. Hamask foi dada de
presente a um feiticeiro negro em troca de comodidade. Khain é liderada por uma
tirana que prefere pensar em política que no mundo abaixo dela, e acima dela.
Irritária é tão presunçosa que não consegue ver que não é capaz de derrotar os
dragões sozinha.
Eu
fiz isso em Hamask: deixar os feridos para traz, escolher entre os que salvarei
e os que não. É o mesmo o mundo. Cada nação é como se fosse um homem atacado
por uma doença. Só podem ser salvos aqueles que estão melhores, cuja doença não
avançou o suficiente.
E
mais que isto. O destino, de uma forma ou outra, me coloca no caminho dos
filhos de Halmir. Garred e Edgar. Agora Urian.
O
que acontecerá com as outras raças se não lograrmos vencer os Daexir, não o
sei. Mas em todo caso, qualquer futuro, mesmo que imperfeito, será melhor que
nenhum.
Eu
estou cansada.
Estou
cansada de ser frágil. De ser quase morta em todos meus embates, de olhar os
poderosos abusarem de seus poderes e ser tão fraca, eu sozinha, para enfrentar
derrubar Rossalias e Vice reis, e trazer mais paz a seu povo.
Eu
estou cansada de ser fraca. Estou cansada de andar suja, com fome, com sono. Eu
fui até a terra, até o chão, e aprendi o que tinha que aprender. Eu preciso ser
mais.
Eu
aceito. Aceito e dou minha mão a Urian.
E
na alvorada que está chegando, amanhecerei como a Matriarca da Ordem do Dragão.
Quem
diria!
Dorana
seja louvada, quantas emoções passamos nos últimos dias.
Imagine,
com tantas coisas acontecendo, Hamask ardendo e o idiota do Raziel ousa me
ameaçar, maldito seja Anjo Negro, ainda ei de alimentar lampreias com suas
tripas.
Foi
bastante brutal me sentir tão impotente, havia anos, acho que desde que
derrotei Raziel, que não me sentia tão fraca. A sol nascente ardia e eu não era
capaz de subir numa corda, inútil como o mais tosco dos plebeus cegos na
estalagem, ao menos depois da ajuda de Érika pude fazer alguma coisa, se
tivesse entrado antes quantos mais teria salvo?
Não
choro diante dos que acompanho, seria feio, desonesto e contrário a Insaciavel,
mas choro aqui, escondida e quieta, agradeço a Mãe Negra pelos olhos açoitados
pela fumaça, todos acham que sua vermelhidão vem do fogo, e não das lágrimas,
afinal lágrimas vem do coração – eu não tenho mais um coração.
Xelos
foi amaldiçoado com o baforado maldito de Aurora Escarlate, Érika puxou uns
tapetes e arregaçou as mangas, levou Lin ao encontro de um místico valaryn; lin
é boa, vai conseguir fazer o feitiço. Eu como não sou exatamente uma arcanista
brilhante fui relegada ao papel de babá da Galatea. Até que ela é bem bacana
pra uma dheiana sabe? Ela afinal não tem culpa de não entender que amor é
apenas mais um dos sentimentos, não superior, não sublime, apenas mais um, isso
não é maldade é limitação.
Dei
à menina uma carta de apresentação ao Rosa, ela vai lá procurar os pombinhos
apaixonados e gordamente apadrinhados, espero pela glória da Insaciavel que
estejam conhecendo um ao outro em todas as formas de prazer. Depois dos pálidos
sei que prefiro um mundo de meretrizes, antes só achava que preferia.
Minto
pra mim mesma que não estou preocupada, tenho medo de tudo:
Deviamos
ter incentivado a tomada da cidade pela Ordem do Dragão?
Deviamos
ter feito aquilo com os Cavaleiros do Corno?
A
Ordem do Dragão tomará Irritarria?
Mal
sei onde piso, temo pelos que amo, temo por aquilo que tenho, temo pelo nosso
futuro. Eu tenho um futuro?
Érika
teve de ir ao encontro do general da Ordem do Dragão, e nós fomos juntos, dois
cavaleiros dragões foram nossa escolta, passamos por mals bocados e bons
também. Dorana seja consagrada, eu conversei com um espirito; quer dizer eu
respondi um espirito. Ele era curioso, quis barganhar conosco, respondíamos
algumas curiosidades e depois ele nos deixava seguir. Nada de ataques, nada de
possessões, ele simplesmente era fantástico, fascinante, curioso como uma
criança, feio como um corrompido e movia-se como um gato; não tive medo dele,
deveria ter? não encontrei motivos pra isso, queria falar com ele durante toda
a noite, mas não deixaram, apenas deixaram Lin fazer isso...que pena.
Puta
que pariu, não imaginaria algo tão intenso nem fodendo com 100 raksha!!!
A
Érika vai casar com um espectro de Dragdar que habita o corpo de uma cria
perfeita do Senhor da Guerra e até onde entendi é a única esperança da
sobrevivência da humanidade. Lindriel que me perdoe, eu sei que ela não gosta
que eu beba, mas preciso desesperadamente entornar uma garrafa envelhecida.
Louvada
seja Dorana.
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on terça-feira, outubro 06, 2015
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