Sessão
21
Ladrão
12, 11 4e
Diário,
Estamos
em um mundo misterioso e maravilhoso. Há tantas coisas para ver, tanta gente
para conhecer. Os mistérios que se escondem por trás dos cantos dos olhos,
esperando para que alguém tenha a audácia de olhar.
Hoje
vi coisas que sequer tinha imaginado, e fiz coisas que provavelmente muita
pouca gente já fez.
Eu
pensava que não tinha nada novo neste mundo para mim. Que tudo era somente
variações dos mesmos elementos, sempre iguais mas vestidos diferentes. Estava
errada. E estou feliz por isso.
Mas
acredito que deva seguir uma ordem cronológica.
Se
algum dia alguém ler estes diários, se algum dia meus filhos ou descendentes
colocarem as mãos neles, quero que eles saibam do que foi feito e visto aqui.
Uma história como a que passei não pode ser esquecida.
Bom,
como tinha falado antes, tinha pedido o auxílio de Lorde Dion para me ajudar
com a pedra. Eu não sabia o porquê, mas sabia que ele era importante, e que
viria a ser importante para a história.
Mesmo
sem conseguir libertar Lavínia, prossegui, e juntos fomos o mais discretamente
possível até a casa do sacerdote do homem verde.
Lá,
o homem me contou de uma profecia passada a ele por um viajante. Ele conta que
anos atrás, um homem veio de terras distantes carregado de sabedoria e
convicção, e que este homem lhe passou uma profecia: um dia, dois lobos
chegariam de terras distantes, e que era seu dever lhes guiar até a caverna
onde reis dormem, além das muralhas de agua e dos bosques. E deviam lembrar que
não todas as sombras querem seu mal.
E
assim ele me falou. O sacerdote sabia, de alguma forma, que era seu dever nos
ajudar, e mesmo não sabendo o que as palavras significavam, ele as carregou até
hoje. Ele nos falou sobre os mantos, e sua importância no mundo.
Os
dois lobos éramos nós, Lavínia e eu.
Assim,
assumi o manto da profecia e com as informações do sábio, fomos eu, Lorde Dion
e Leocadius para o fundo das florestas que permeavam Taurida.
O
Lorde Dion, como um poderoso mago que provou ser, tinha feito suas próprias
adivinhações que lhe confirmaram que nossa missão envolvia um grande mal que
não podia ser compreendido. Ele entendeu minha demanda, e aceitou sem hesitação
em nos ajudar.
Enquanto
avançávamos a cavalo pelos caminhos escurecidos pela noite e as sombras das
arvores, cruzamo-nos, para minha surpresa, com Lavínia e um jovem chamado
Vincent Calhart, que tinha libertado ela.
Calhart,
um nobre de terras muito ao norte, ficara curioso com o que Lavínia era e o que
ela fazia lá. Ao que parece, a antipatia de Lavínia por aqueles que debochavam
com sua fé lhe rendeu o encarceramento e provavelmente uma dolorosa morte em
fogo, o destino de todas as bruxas em Taurida.
Lorde
Calhart tinha outra visão. Ele sabia que a Lavínia era descendente de um povo
antigo, e que ela não estava lá por mero acaso: O destino chamava-a e chamava a
ele. Ela não devia morrer lá, ele não devia permiti-lo.
Portanto,
em curiosidade similar ao Lorde Dion, ele libertara Lavínia na calada da noite,
e desejava leva-la longe do alcance dos homens de Lorde Pontemkin. E nisso,
eles cruzaram comigo.
Me
senti aliviada por ter Lavínia a meu lado novamente. Ela pode ter alguns
problemas, como todos nós temos, mas não duvido do seu comprometimento com
nossa causa. Ela pode ser vogal em não concordar com a ordem do dragão, mas
isto é maior que Urian, que eu e que ela.
Convidei
Lorde Calhart para ir conosco, apesar da surpresa do Lorde Dion. O jovem Calhart
nos acompanharia, mesmo que na distância, se nos opuséssemos a ele. O senso de
aventura era mais alto, e algo me dizia que ele devia ir conosco.
Fomos
então os cinco para as regiões ermas de Taurida, e encontramos o rio que levava
a cachoeira que a profecia apontava, que não era exatamente uma cachoeira mas
sim uma represa! O Lorde Dion, conhecedor da região, contou-nos que nas terras
dos povos selvagens haveria uma clareira com diversos túmulos escavados na
terra, onde os antigos reis dos selvagens eram escondidos.
O
caminho foi cruzado rapidamente até chegarmos a represa e além. Todos sabíamos
que não tínhamos tempo.
Quando
chegamos a uma represa, apareceu o primeiro problema: Ela era guardada por
soldados de Taurida, e não permitiriam que Lavínia ou eu passássemos, e
causaria grande problema ao lorde Calhart se ele se expusesse.
Estávamos
nos preparando para cruzar o rio a nado, nem que isto significasse abandonar
minha armadura, quando Vincent Calhart nos fez ver uma solução melhor: Ele
carregava junto consigo um item maravilhoso: uma capa da invisibilidade, tecida
pelo povo antigo com os fios da luz das luas.
Era
grande o suficiente para nos fazer passar um por um, e o Lorde Dion, que era
nobre e conhecido na região, e principalmente, um mago, encarregou-se de nos
guiar entre os guardas, que pouco suspeitavam daquele sábio homem indo e
voltando de um lado da represa para a outra.
Já
do outro lado, avançamos para dentro da floresta, sempre guiados por Lavínia,
que tinha uma vaga noção de onde ir. A medida que avançamos, ficou obvio que
aquela floresta era o lugar de espíritos. Wisp brilhavam entre as arvores e
aquela velha e conhecida sensação de tudo ficar mais aéreo surgiu lentamente.
Em
nosso caminho, encontramos um espirito que veio a falar conosco. Um pequeno
espirito que estava curioso sobre nossas andanças e quando lhe comentamos que
estávamos atrás do tumulo de reis, ele alegremente comentou que sabia onde
estava.
O
Espirito, como é da costume deles, foi caprichoso. Lavínia não cuidou bem das
palavras dela e teve que pagar com a mecha de seu cabelo a tranquilidade dele.
Sabendo que era o espirito que poderia nos guiar aonde precisávamos, aconselhei
Lavínia, que se apresentara ao espirito como nossa “senhora”, que negociasse com
o espirito neste sentido.
A
sacerdotisa se saiu bem, apesar de que o preço foi alto: O espirito queria o
susto do pobre Leocadius, que, inseguro, temeu pelo que o espirito poderia lhe
fazer.
Eu
não concordei num princípio, não achei correto leva-lhe o “susto”, mas nada
pude opor ao argumento de Calhart: Nos precisávamos chegar antes do amanhecer
ao tumulo dos reis.
Sem
outra opção, vimos o espirito assustar Leocadius, que depois de retorcer sua
face em pavor, caiu no chão coberto por folhas, desorientado. Eu corri para
ajuda-lo, e para minha surpresa, ele estava bem, apesar de que... estranho.
Não
sei o que lhe aconteceu, mas tirando o comportamento estranho que apresentava
agora, mais firme e mais resoluto, ao contrário do temeroso jovem de antes, ele
estava bem. Pelo menos fisicamente.
Com
isto, o espirito concordou em nos auxiliar, e começou a nos guiar pela
floresta, aparecendo e desaparecendo, tornando-se parecido a um wisp ou as vezes
simplesmente pelo som que fazia, nos chamando a uma ou outra direção.
No
meio do caminho, fomos emboscados por um grupo de selvagens que exigiu saber o
que desejávamos fazer lá, nos, os “civilizados”. Lavínia, mais uma vez tomando
a liderança, tentou negociar com eles, explica-lhes que estávamos de passagem e
não lhes queríamos mal.
Mesmo
assim, eles nos advertiram: queria que déssemos a volta e saíssemos de suas
terras.
Lavínia
pareceu enfurecer-se, e em um esperto movimento, assumiu o manto de Makar pela
primeira vez. Ela falou, com um ameaçador tom, que se não nos deixassem passar,
a fúria de Makar iria abater sobre eles.
Os
selvagens e nossos homens pareceram temer que ela realmente fosse fazer isso.
Entendi então que Lavinia era a descrição perfeita de um servo deste deus
antigo maldoso. O selvagens se afastaram, pedido perdão a ela.
Isto
claramente incomodou Lavínia, toda esta questão de Makar. Mas não podíamos
parar e conversar, tínhamos que avançar.
O
amanhecer começava a se aproximar quando chegamos até o local onde o espirito
nos guiara. Uma serie de construções subterrâneas, túmulos erguidos como se
fossem pequenas colinas, contendo os restos dos heróis e reis.
O
local estava repleto de espíritos e o véu era fino. Sombras passavam por nós, e
o espirito descrevia eles como espíritos interpretando o papel de grandes
heróis. Estávamos no lugar certo.
Mas
só poderíamos ir eu e a Lavínia. Duas razões nos levaram a isto: Primeiramente,
o véu era fino demais, e os dois conjuradores, Lorde Dion e o jovem Calhart,
estariam expostos demais a possessões. Sabíamos que eles tinham um papel a
cumprir ainda.
Ademais,
sabíamos que o que poderíamos ver lá embaixo não era para eles saberem. O manto
que assumimos nos dizia que o Lorde Dion iria eventualmente recuperar a pedra
de uma caverna, muitos anos depois, mas não era o momento dele.
Sem
nos despedir, pois não sabíamos que se voltaríamos ou não, descemos eu e a Lavínia
pelos túmulos antigos.
O
véu era fino, muito fino. Nossos sentidos se fundiram e confundiram em
sinestesia, conseguíamos cheirar o tato e sentir o gosto da luz. O caminho
pareceu se esticar e o tempo ficou estranho.
Lembro-me
de quando estive no além do véu.
Descemos
as escadas até encontrar o tumulo que era guardado por essa construção antiga,
em que as rochas se confundiam com as raízes das arvores.
Havia
um homem lá, uma figura encapuzada que se levantou assim que chegamos, nos
saudando em uma voz ronca, mas feliz.
Quantos
anos ele deveria ter? uns cinquenta, ou mais. Um homem velho, mas com o olhar
de um sábio. Ele nos cumprimentou, sabia quem éramos. E estava nos esperando.
Ele
se apresentou como Roderick Calhart, e nos explicou que tinha sido ele quem
tinha arrancado a gema de um momento para outro da história, e partilhado a
profecia com o sacerdote do homem verde de que um dia nos iriamos vir a
procurar a gema original.
Ele
comentou que havia muita gente que utilizou e utilizará o poder das gemas para
o mal, e prevendo isto, ele e outros sábios decidiram evitar que aqueles que
não fossem confiáveis jamais pusessem as mãos na gema azul.
Roderick
nos explica que ele passou muito tempo com a gema azul, e a estudou a
profundidade. A gema foi lhe confiada pelo Lorde Dion, ou iria lhe ser confiada
eventualmente, quando fosse o tempo, a alguns anos afrente.
Levado
pela curiosidade, o Lorde Dion iria descer a este lugar para encontrar a gema
correta e a protegeria até ser passada a ele, Roderick, para que cumprisse seu
destino.
Ele
estava ciente de nossa missão, e não ofereceu nenhuma resistência, não exigiu
nenhum teste, para trocar a gema. Ele sabia da importância disto.
Ele
explica a nos que, de alguma forma que ele não sabe dizer, o mundo não foi
destruído por Ashardalon, e anos depois a civilização ainda vive.
Roderick
Callhart se apresentou como um dos meus descendentes. Alguém que viria de minha
linhagem para ajudar o mundo.
Confesso
que até agora não sei o que dizer sobre isso. Quer dizer. Digo. Não sei se
expressar orgulho ou alivio. Ambos, talvez. E mais.
Devo
dizer, se alguém alguma vez ler este diário, que mesmo que me encheu de orgulho
saber que o meu legado, o legado meu e do Urian, é o berço de pessoas tão
nobres, e que se tornarão tão importantes para a história.
Pode
ser que Roderick Callhart nunca tenha sabido de mim antes de entrar com contato
com a gema azul. Pode ser que meu nome, meus feitos, tenham sumido no pó do
tempo. Mas sei no fundo que isso não é importante. Vincent e Roderick Calhart
são homens incríveis, e mesmo os conhecendo pouco, orgulho-me de que há alguma
coisa de mim neles.
Este
é o significado de um Legado? Eu nunca pensei sobre isso. O legado de Savith e
o de Aveshai não foi a memória sobre seus feitos, mas sim a sobrevivência do
mundo para aqueles que eles amavam e seus descendentes.
Não
é sobre personalidade, nem sobre mim. Não é ter minha estatua erguida como um
monumento, ou minhas andanças cantadas por bardos. Meu legado deve ser outro,
um silencioso que se espalha pelo mundo: um futuro para que meus filhos e seus
filhos possam viver.
Mesmo
que me custar a vida e custar a memória sobre minha vida. Não importa. O legado
que devo deixar é esse: um futuro.
Roderick
nos entrega a gema, e nos pede para agradecer ao Sem Escamas. Seria a única vez
que o veria, ele disse. E num sorriso honesto, se despediu de mim e de Lavínia,
enquanto ele segurava a gema correta, e nos também.
Ele
tinha confiado a gema a Lavínia. Era ela a portadora dela, como o fora Lorde Dion
em seu tempo. Ela não harmonizaria com a azul, não era esse seu destino, mas
não por isso era menos importante ele disse.
Nos
desejou sorte e sorriu pela última vez.
O
clarão diamantino nos puxou novamente, o amanhecer tinha chegado e com isso
nosso tempo além do tempo também. Em um novo forte puxão, como primeiro,
estávamos de volta aquela piscina.
Helgraf
correu até nós, nos ajudando a levantar: Me aliviou vê-lo ali, vivo. O
sacerdote também, com uma aparência muito mais esgotada, mas com o fulgor nos
olhos de quem cumpriu um grande destino.
Eu
não sei fazer magia, mas sempre me rodeei de conjuradores muito poderosos.
Izack, Briana, Lindriel, Celeste e muitos outros. Eu reconheço que o esforço
para fazer magia equivale a muita atividade física, mas manter um ritual por um
dia?
O
homem deveria estar esgotado.
Ele
ganhou forças ao ver a gema, mas não esperou para escutar as nossas histórias.
Ele tinha outra missão:
Ele
segurou a gema azul em sua mão, que brilhou e fulgurou igual que a gema branca
a fizera nas mãos de Urian. Ele nos chamou a seu redor e focou-se no artefato
em suas mãos.
Mas
foi diferente desta fez. A chama azul que emanava da gema começou a toma-lhe o
corpo, a envolve-lo, mas ele não gritou ou se queixou de dor. Pelo contrário,
seu rosto era de êxtase e determinação.
A
chama nos envolveu também.
Escrevendo
estas palavras, agora que tudo já aconteceu, não sei como descrever o que
passou. Era como viver centenas de vidas em uma, era como ver o mundo pelos
olhos das eras. Pode parecer como as falas de drogados e loucos, mas
literalmente, vimos o universo.
Ou
o que compreendemos como tal.
Eu
sei que estas palavras podem parecer tolas agora. E que em todo o contexto,
certamente parecem pouco criveis. Não tentarei escrever o indescritível, coisas
que eu não sei como expressar.
As
chamas do Azul nos cobriram e nossa mente se expandiu, como se fosse levada a
algum distante lugar de sonhos e maravilhas, onde todas as possibilidades do
mundo giraram ao nosso redor como charadas cósmicas: As estrelas eram
distantes, mãos ao toque das mãos, as montanhas e planetas e rios, e luzes e
pessoas e verdades e segredos que são ou deviam ser passaram por nós como se
estivéssemos no epicentro por onde tudo alguma vez passará.
As
imagens a meu redor eram maravilhas. E eu não era eu. Ou era. Mas não no
sentido de agora. Eu era tudo o que poderia ser e o que sou. Não sei como
explicar isto. Não sei sequer se deveria estar escrevendo isto.
Ao
reler o que escrevi acima, sei que parece como se estivesse sob os efeitos das
mais alucinógenas drogas já inventadas. Mas não era isto. Não era uma ilusão
narcótica, não era meu cérebro sendo enganado por fumos e vapores. Se alguém
algum dia ler estas palavras, acreditem nelas.
Estas
maravilhas a nosso redor revelaram a nos algo tão maravilhoso quanto: Um
dragão, enorme, pequeno, distante e ao toque da mão. Um dragão de uma cor
azulada e branca, um dragão sem escamas.
E
lá estávamos, perante o Sem Escamas. Ele existia mas não existia, não sei como
explicar.
E
o sem escamas nos revelou segredos, coisas que são e que deveriam ser.
Ele
se explicou primeiramente: se apresentou, como sendo não um dragão, não uma
criatura no próprio sentido da palavra, mas sim parte do espirito do mundo, do
Azul. O Azul das possibilidades, dos segredos e das procuras. Ele era a
possibilidade de tudo, e o sem escamas era uma representação ínfima do que isso
significava.
Ele
apareceu a nos desta forma, pois era uma forma que nós poderíamos entender alguma
parte do que ele é.
E
nos contou: Ele era uma parte dos espíritos que criaram o mundo. Não espíritos
como existem no véu, mas algo maior. Era os elementos do mundo dado forma e
vontade. Nascidos da explosão das estrelas, eles tinham formado este mundo com
uma combinação e seus elementos.
E
o mundo deles era perfeito. Filhos perfeitos foram criados para eles também:
dragões que vivam e povoavam o mundo em um momento. Perfeitos em forma e
carregavam a magia em seu sangue.
Eles também formaram o véu, e o véu eram eles.
E o véu existia nesse mundo de uma forma muito mais harmônica que nosso: Os
espíritos tinham paz assim como todas as coisas, tudo em seu devido lugar. Tudo
como tinha que ser, perfeito até onde a concepção da palavra atingia.
Porém,
tudo mudou um dia.
Vinda
de algum lugar distante, desconhecido até mesmo para o Azul, surgiu uma
criatura de caos: A devoradora, a mãe dos monstros. E ela chegara a esta terra
perfeita com a vontade de consumir tudo, de assimilar tudo.
As
forças do mundo, o Vermelho, o Verde, o Branco, o Preto e o Azul, tentaram
lutar contra ela, mas não havia como matá-la. Não havia como eliminar o caos.
Mas eles a derrotaram e a perderam no coração do mundo.
Mas
mesmo assim, de sua prisão ela criou de sua carne e sangue, do seu pus e bile,
criou os humanoides. Os filhos imperfeitos de Erkaria.
E
a chegada dos seus filhos mudou tudo. Repletos de vontades e desejos, eles não
seguiam a harmonia perfeita do mundo, e embora em um começo agissem os mortais
com a vontade de sua mãe monstruosa, com o tempo eles começaram a se tornar
cada vez mais independentes.
Logo,
como verdadeiros frutos do caos que os gerara, eles tomaram um rumo próprio que
nem mesmo a sua mãe monstruosa conseguiria entender. Eles começaram a agir
sozinhos, com vontades e desejos próprios que conflitavam com a vontade de
Ekaria.
Assim
surgiram os primeiros mortais livres. E o Azul teoriza que, em algum ponto, um
pouco de pó das estrelas tenha se juntado a argamassa que Ekaria usou para os
criar, fazendo surgir algo completamente novo, além de todas as expectativas
dos espíritos do mundo e da mesma mãe dos monstros.
E
cheios de vontade, estes novos seres livres começaram a povoar o mundo. E foi
de sua vontade que o véu começou a mudar também, refletindo como o mundo
mudara.
Espíritos
surgiram, tirados de seu estado de inconsciência pelo fervor das emoções e
memorias dos mortais. E estes espíritos, agora dotados de consciência sobre si
mesmos, enamoraram-se pelo estranho mundo que passaram a perceber além do véu.
A
magia então começou a escoar pelo mundo, uma vez que as barreiras do véu
estavam perfuradas: Nada mais seria o mesmo em ambos os “lados” do véu.
Os
grandes espíritos, maravilhados em um começo com esta reviravolta, adaptaram-se
à sua própria versão dos mortais livres: Espíritos feitos carne que também eram
livres.
E
assim surgiram os Qesires, que logo tomaram para si o manto de guardar e
proteger estes novos filhos do mundo da influência de Ekaria.
A
mãe dos monstros não ficou feliz com estas criaturas, filhos seus, que fugiram
do mundo. Ela criou outros filhos, desta vez sem a faísca do pensamento
inteligente, e os soltou no mundo, querendo recobrar para si aqueles que dela
fugiram.
E
assim nasceram os Corrompidos.
Mas
Ekaria logo percebeu que trazer os seus filhos de volta não seria possível, e
em fúria, desejou destruí-los. Por diversas vezes ela atacou o mundo, criando
bestas terríveis como Shottotug, para tentar nos destruir. E de todas as vezes,
ela fracassara.
Até
agora. Como nada era impossível para o Caos, que detém tudo, até o
inimaginável, Ekaria elaborou um plano de castrar os seus filhos rebeldes.
Muito
antes disto, os espíritos do mundo decidiram deixar uma salvaguarda no mundo contra
as investidas de Ekaria: Eles criaram as gemas, canais diretos para com a
criação, e espalharam elas no mundo para que sejam usadas como arma e barreira
contra aqueles que desejavam a destruição dos mortais.
O
Sem Escamas explicou que, enquanto os outros poderes do mundo contentavam-se
com olhar na distância o desenvolver das coisas, ele, o Azul que representa a
possibilidade decidiu que os mortais deviam ser ajudados.
Em
um movimento ousado, que sofreu forte crítica dos seus irmãos, o azul desceu até
os mortais e misturou-se com eles.
E
assim, nasceu o primeiro espirito mortal, a Senhora do Fogo. Filha do mundo
espiritual e das criaturas perfeitas do mundo.
Sem
que ele soubesse, isto provocou muita dor e sofrimento: Os dragões, revoltados
com a criação deste ser, dentre outras coisas, voltaram-se contra os qesires em
guerra. E os humanoides, que estavam sob os cuidados e sobre o domínio dos
qesires, procuraram a liberdade, como era sua natureza.
Se
aproveitaram de que os dragões atacaram os seus mestres e como é o destino de
todos os escravos, se libertaram em um mar de violência e sangue. Muitos qesires
foram ceifados.
Assim
como os qesires o tinham feito com os Raksha muito tempo antes, agora eles
tinham sido reduzidos a uma sobra do que eram: seus grandes sábios mortos, suas
grandes cidades devastadas, seu legado retorcido e usado a favor daqueles que
os venceram.
Mas
o sem escamas explicou para nós que ainda alguma coisa de Ekaria vivia em nos,
e era através desta conexão que permitia que ela nos enlouquecesse, que nos
influenciasse e, em última instancia, nos castrasse.
Algumas
pessoas perceberam isso, como um sábio homem que elaborara um plano para criar
filhos puros, sem a macula de Ekaria, os filhos da guerra.
Ekaria,
em mais uma tentativa de exterminar suas criações defeituosas, aproveitou-se da
hubris de um dos filhos favoritos das forças do mundo, um dragão: Dragdar.
A
ele foi contada uma profecia que dizia do salvador que usuária todas as cores,
e com elas impediria a influência de Ekaria de uma vez por todas. Dragdar
desejou assumir este manto, e determinado a ser ele aquele que salvaria a todos
de Ekaria, perseguiu seu objetivo com afinco demais.
Então
Ekaria começou a sussurrar em seu ouvido. Primeiro de forma sutil, encontrando
os caminhos pelo desejo desmedido de Dragdar e sua hubris. E ele fora
convencido que eram os humanoides maculados que eram os culpados pela presença
de Ekaria.
E
ele iniciou seu plano, desejando limpar o mundo desta macula. E assim, no
final, ele assumiu o manto, mas não da forma correta: Ele tornou-se Ashardalon,
o portador de todas as cores e figura venerada por dragões. E iniciou sua
empreitada genocida sem entender que estava fazendo justo o trabalho de Ekaria.
Ele
chamara para si aqueles que desejavam o fim dos humanoides, que pensavam como
ele. E os que não, perseguiu-os em ódio e os exterminou, ou transformou em
bestas muito distantes daquilo que eles deveriam ser, corrompidos.
Ekaria,
através de Ashardalon, sussurra nos ouvidos de seus seguidores, e o Sem Escamas
teme que eles estejam perdidos.
Todos
nós fizemos perguntas. Eu sei que o Sem Escamas nos contou muita coisa, e
fizemos muitas perguntas sobre o mundo e sobre aqueles que conhecemos, mas é
como se eu não conseguisse lembrar de tudo. Às vezes, as perguntas e respostas
aparecem e desaparecem na minha cabeça de forma súbita, como estivessem
enterradas em algum lugar.
Escreverei
algumas que eu lembro, mas sei que foram somente poucas, poucas de muitas
respostas dadas.
Perguntamos
sobre os Draconatos, e o Sem Escamas nos contou sobre como eles surgiram: as
"crias dracônicas" como chamamos, são algo que nasce espontaneamente
do sangue dos dragões, eles não possuem real liberdade ou consciência, somente
nascendo e existindo para servir seus mestres. Mas alguns desses seres foram
guiados para criar algo diferente: seres vindos dos dragões, mas com um
semblante de vontade própria.
Ashardalon
sabia que precisariam de soldados, de guerreiros para limpar o mundo da macula,
e os construtos criados de sangue não eram suficientes, pois sem vontade, eram
limitados. Por isso os draconatos nasceram: um Guerrero livre o suficiente para
lutar, mas preso o suficiente para faze-lo por uma causa que não é sua.
Perguntamos
também sobre Savith e Aveshai, como os humanoides de outrora pareciam ser mais
poderosos, maiores e melhores que os nossos. Perguntamos porque parecemos estar
em uma era de decadência, em que nada do que criamos chega perto das maravilhas
que uma vez foram.
E
o Sem Escamas nos explicou que eles eram mais poderosos, mas eram menos livres.
E isto em último momento os tornava menos do que nós somos agora. Ele explicou
que é nossa liberdade de escolha que nos afasta de Ekaria. Nós tínhamos
possibilidades que eles jamais sonhariam e nem conseguiriam sonhar. Se era
poder o que queríamos, poderíamos trocar mentes com mamutes, que são poderosos,
mas não conseguem fazer muito com aquela força.
Ele
ainda nos explicou que não estávamos em decadência, que isso era uma percepção
que todos os povos em todas as eras tem: o passado é sempre melhor e mais
grandioso. Mas não era verdade. Embora sim, não tenhamos mais os conhecimentos
e poderes para criarmos algo como os Behemoths de Suel, agora tínhamos barcos a
vela, que nos permitiam cruzar os grandes mares salgados, algo que os antigos
jamais conseguiram criar. E isto, na visão dele, era melhor.
Perguntamos-lhe
sobre os deuses, sobre quem foi Nayurai.
Ele
explicou que um dos elementos mais poderosos dos mortais era justamente a fé. E
através da fé, o mundo operava de forma especial, diferente. Alguns mais
poderosos espíritos de além do véu eram atraídos por façanhas de fé. Se isto
eram os deuses, anjos ou somente espíritos, ele não saberia dizer.
Para
todos os sentidos, ele e os seus irmãos eram deuses, mas não como os que nos
procurávamos. Ao final, eles não influenciavam o destino dos mortais. Somente
ele, o azul, o fez, faz muito tempo, e sob pesada censura de seus irmãos.
Nayurai
fora uma portadora da gema azul. Ela e seus companheiros lutaram contra Ekaria
faz muito tempo atrás, e ela permanecera com a gema e estudara o azul com muita
atenção, desvelando muitos segredos e verdades com ela. Nayurai, como nós a
chamamos, foi uma favorita dele. E quando morreu, ele a chamou para si, e ele é
Nayurai, assim como é o Sem Escamas.
Perguntamos
a ele sobre Karmassal, levantamos a dúvida sobre quem tinha ganhado: Dragdar ou
Karmassal, no fatídico dia no mar interior. O que era Karmassal e porque ele
não poderia morrer.
O
Sem Escamas respondeu que Karmassal tinha sido um escolhido do Preto. Ele deixa
a entender que dragões possuem maior conexão com as cores e as gemas que nos
mortais. A ligação deles é maior e eles conseguem assumir os mantos das cores
de uma forma mais completa.
Karmassal
fora um dragão que assumira o manto do preto, da entropia. E sendo assim, não
poderia ser completamente destruído, e procuraria a destruição de outros. Se
fora ele quem vencera sobre Dragdar, fugia ao que o Sem Escamas entendia, mas
não fazia diferença. Ashardalon existia.
Karmassal
fora como foi o Dragão do Fogo Infernal, que assumira o manto destrutivo do Vermelho.
Nos conseguiríamos entender como “avatares” de aspectos das cores.
Perguntamos
a ele sobre si mesmo, sobre o Sem Escamas. Era ele um avatar das cores como ele
tinha comentado?
Ele
confessou que talvez. Quanto dele era o sem escamas ou se era o sem escamas uma
mera manifestação para nos conseguirmos entender, isso era irrelevante. O
Dragão Sem Escamas existira, ele fora real e arrancara suas escamas,
independente de ter nascido de um ovo ou da vontade divina.
E
fora ele quem ensinara a magia aos mortais, para dá-lhes armas contra as força
de Ekaria. Fora ele quem ensinara os qesires a forjarem armas de aurum, o
sangue do mundo, para que protegessem os filhos livres de Ekaria da fúria de
sua mãe monstruosa. Sim, o sem escamas existira, e ele ligou-se profundamente
ao Azul, ao aspecto da escolha.
Então,
sim, da forma que entendemos, o dragão Sem Escamas exerceu um papel similar a
Karmassal e ao dragão do fogo infernal, mas recomendou-nos abrir a mente, pois
não existe um padrão para tal manifestação: cada um é diferente e único, como o
são os dragões e os aspectos que eles representam.
Perguntamos
a ele porque Ekaria não conseguia corromper dragões, e como os thaar tinham
surgido.
Ele
nos explica que os dragões não possuíam a mácula dos mortais, e eles não eram
ligado a Ekaria, como os mortais o eram. Da mesma forma que os Qesires não o
são, pois não foram criados da carne dela, mas sim do mundo, que não é dela.
Porém,
algumas vezes Ekaria tinha conseguido certa influência sobre dragões: Ele
explica que não é preciso ser influenciado por sua loucura para se devotar a
ela. Alguns o fazem naturalmente, e ele entendia o porquê. Mesmo sendo um ser
aberrante em todos os sentidos da palavra, Ekaria exercia fascínio e mistério,
que poderia desenvolver-se em devoção.
Ele
explica que o Dragão do Fogo Infernal fora um avatar do vermelho, que assumira
o manto da destruição, e fora através desta conexão com as cores que Ekaria
conseguira influencia-lo, nem que seja um pouco. Quando este dragão caiu, o seu
sangue foi misturado com o bile de Ekaria, e isto serviu de argamassa para a
criação de corrompidos que poderiam fazer magia draconica, e eram mais livres
que suas criações, porém não o suficiente para escapar, como o fizeram outros.
Ou ela achava.
Ekaria,
ele nos diz, não compreende o que a magia do mundo é. Ela não consegue
controla-la, não consegue entende-la, e isso é sua falha e seu ódio. Por isso
não consegue controlar nem corromper espíritos, como qesires, e foi através da
conexão com a magia que os Thaar e os Valaryn se libertaram.
Perguntamos
a eles sobre os Filhos de Ekaria, quantos eram, o que eram.
Ele
nos explicou que foram os primeiros filhos de Ekaria, e não eram somente cinco,
como contavam, mas centenas. Alguns mais poderosos que outros, alguns mais
influentes que outros, mas todos aberrantes.
Eles
carregavam a qualidade de sua mãe de não poder ser verdadeiramente mortos, pois
coisas como eles não conhecem a morte. Mas nenhum deles jamais conseguiria
agradar sua mãe monstruosa, pois eram como ela, nada mais. Ekaria somente
deseja aquilo que ela não é.
Os
seus filhos conseguiam repartir seu dom entre criações próprias, como o eram os
Sarrukh ou os Dhraaxir, que moldavam da carne povos para se devotarem a Ekaria.
Mas, eventualmente, alguns destes povos, filhos ou filhos dos filhos, escapava
e se tornavam livres, mais um tormento para sua mãe monstruosa. Assim fora com
os mortais, e assim fora com os humanos e inclusive com os serpentideos, como
aquele que eu conhecia.
Nos
perguntamos a ele sobre o mundo. Ele comentara sobre o grande mar de sal, e
desejávamos saber sobre as terras que haviam além.
Ele
explicou-nos que além do mar existiam sim outras terras, como nos já sabíamos,
mas eram terras diferentes. Os espíritos e os mortais eram diferentes lá, e
apesar de seguir os mesmos princípios, eles assumiam formas e comportamentos
distintos daqueles das regiões que conhecíamos.
Ele
nos contou que existem muitas maravilhas ao além mar, para ambos os povos, e
contentava-se enormemente que os dhakaani tivessem inventado os barcos a vela,
pois esta troca de experiências e culturas iria levar a uma centena de novas
possibilidades que ninguém jamais teria sonhado.
Perguntamos
também sobre Lemuria, e eles nos disse que os Lemurianos eram um caso
diferente: Eles eram controlados não por Ekaria, mas por algo diferente, que
tinha vindo de além das estrelas. Ele não saberia dizer o que estas coisas
alienígenas queriam, mas sabia que eles possuíam possibilidades que nem mesmo
eles, os espíritos do mundo, tinham previsto.
De
fato, os lemurianos criaram seus próprios dragões feitos de cristal e seu
próprio entendimento da magia do mundo, algo que sequer Ekaria conseguira em
sua loucura. Porém, o que estes seres desejavam com estes dragões e com este
mundo, eles desconheciam.
Nos
perguntamos a ele Sobre Raagras e sobre estes seres que controlam Lemuria. O
Sem escamas nos explicou que eles são como nos, mas vem de outros lugares que
eles, os espíritos deste mundo, desconhecem. Ele deixa claro que eles somente
tem conhecimento sobre o que se passa no nosso mundo.
Eles
acreditam que sim, exista outros mundos com outro tipo de vida e outro tipo de
magia, como raagras e estes que controlam Lemuria, criados de outra forma, por
outras entidades, diferentes deles. O universo, diz ele, é grande demais para
acreditar que só o que existe aqui é tudo o que pode existir.
Nos
perguntamos a ele sobre os forjados e sobre os Urdur, uma vez que os primeiros
tinham sido criados, e os segundos tinham aparecido de algum lugar, como nos
foi revelado pela senhora do fogo.
Ele
ficou contente em lembrar-se dos Urdur, que disse ser uns dos seus mais
queridos. Mas ao mesmo tempo revelou tristeza, pois segundo ele, os urdrus não
tem salvação. Ele explicou que os urdurs são diferentes de outras raças em sua
nascença, pois foram criados do sangue de Ekaria jorrada na pedra e terra, que
lhes deu forma e vontade.
Os
Urdur são algo mais próximo de golems, segundo ele. É uma civilização de seres
vindos da pedra, não da carne, mas não por isso menos sensíveis ou menos
importante. Ele se maravilha com esta possibilidade. Mas lamentavelmente, os
Urdurs são muito mais cruelmente tratados por Ekaria.
Ele
explica que isto não se deve somente ao fato que eles moram no subterrâneo,
perto de onde os corrompidos infestam, mas deve-se também ao fato que enquanto
Ekaria deseja recuperar suas criações mortais, ela não tem nenhum amor, apreço
ou obsessão pelos urdur, e os vê mais como “coisas” que como seres vivos.
Portanto,
a crueldade dos corrompidos é redobrada contra eles, que sofrem mais penúrias
que qualquer outra raça que enfrenta Ekaria.
Já
os forjados, eles foram criados por um povo antigo, que não os qesires nem os
dakhaani. Os forjados são vivos, são livres e ele pode escutar seus
pensamentos. E ele se maravilha também com eles, um povo livre, criado não da
carne, do sangue nem dos espíritos, mas sim pela pura magia e invenção dos
mortais.
Perguntamos
ao sem escamas sobre a Montanha Prateada, o que ela era e se ela existia.
Ele
explica que a montanha prateada era algo similar aquilo que trouxe raagras a
nosso mundo, porém muito maior e diferente. Ela é feita de materiais que não
vem de nossos mundo, o metal estelar, que espalhou-se pelo mundo quando a montanha
prateada caíra.
Ele
explica que os dragões foram feitos perfeitos, e foi o propósito dos espíritos
do mundo não criar nada neste mundo que pudesse os ferir. Mas não contavam com
o metal de outro mundo. Como é algo diferente a tudo que há neste mundo, é algo
distante e alienígena, o metal das estrelas é aquilo que pode cortar as escamas
dos dragões, e a montanha prateada é a principal fonte deste material.
Ele
não soube nos explicar o que foi feito do povo que vivia na montanha prateada
antes de sua queda.
Nos
perguntamos sobre ele das Gemas, o que elas eram e como funcionavam. Ele
explicou que, quando ekaria viera ao mundo, os espíritos das cores entenderam
que deviam criar uma forma dos seus filhos, dragões, fadas, e inclusive dos
mortais fugidos de sua mãe, de acessar o poder dos alicerces do mundo.
Como
uma salvaguardas, uma arma, um escudo, eles colocaram as gemas no mundo, para
quando ele estivesse em perigo, pudessem ser usadas. As gemas, ele explica,
possuem o caminho para o poder do mundo, e todas as possibilidades que nele
existe podem ser encontradas através das gemas.
Ele
explicou que todas as criaturas do mundo possuem harmonia com um ou mais
aspectos da existência, e é através desta harmonia que era possível encontrar
os caminhos nas gemas. Todavia, apesar de que todos poderiam ter esta relação
com uma ou outra pedra, não eram todos que tinham em si a capacidade de tocar
os poderes que as gemas representam.
Perguntamos
a eles obre o Destino, e eles nos explicou que ele não existe. Ele, como
manifestação do azul, consegue ver todos os caminhos, e a miríade de
possibilidades que se criam com cada escolha. E embora era possível afirmar que
coincidências não existiam, isso era uma inverdade: coincidências e a sorte
existiam. Eram raras, mas existiam. As poucas vezes em que as coisas
simplesmente acontecem, sem uma explicação maior são, para ele, fascinantes,
uma das coisas que torna a vida digna de viver.
Ele
diz que embora sejamos livres para escolher o caminho que desejamos, existiam
certos pontos, certas curvas no caminho que eram predeterminadas. Alguém, em
algum momento, iria chegar a elas e tomar o caminho pré-determinado.
Ele
chamou estas curvas determinadas de profecias. Não diziam respeito a alguém,
mas sim um evento. Cada profecia traz um manto, uma responsabilidade daquele
que o persegue e fazer cumprir a profecia, como Dragdar o tinha feito assumindo
o manto daquele que salvará o mundo de Ekaria, ou nos, que assumimos o manto
daqueles que encontrarão a gema azul.
Perguntamos
também ao sem escamas sobre os Filhos da Guerra. Ele nos contou que anos atrás,
um homem tinha conhecido a verdadeira faceta de Ekaria, e sua influência sobre
os mortais. Ele, sabendo que eventualmente o mundo precisaria de pessoas que
agissem sem a influência da Mãe dos Monstros, elaborou um plano, que através de
muita dor e muito tempo, deu fruto aos “filhos da guerra”.
Estas
crianças nasceram sem a macula de Ekaria. Isto era o que deveríamos todos ser
sem a influencia da mãe dos monstros.
Nos
perguntamos sobre Urian: Se ele era mesmo o que ele clamava ser ou era Dragdar
nos enganando.
O
Sem Escamas nos explicou que ele não poderia ser Dragdar, uma vez que ele tem
experiências diferentes, visões diferente. Ele poderia sim ter as memorias de
Dragdar, mas também possui diversas que não pertencem ao dragão, mas a si
mesmo.
O
plano de Urian pode dar certo, confirmou o Sem Escamas. O plano dele pode levar
a criação de um futuro para todos, livres do açoite de Ashardalon.
Lembro
de lavinia ter perguntado se havia uma forma de ressuscitar os mortos. E o sem
escamas apontou que sim, diversos conjuradores ao longo das eras tinham vindo
até ele para saber deste segredo, e alguns até tinham desenvolvido formas de fazê-lo.
Todavia,
o preço era sempre grande, mas se ela estivesse disposto a paga-lo, era sim,
possível, trazer alguém a vida.
Por
fim, eu perguntei sobre Lucian e sobre Mirani. Sobre a última, ele me falou que
sim, ela existia e estava junto a seu mestre. E sobre o último, me disse que
ele não possuía o poder nem o conhecimento para dizer se havia uma forma de
acorda-lo, mas a gema verde, cujo domínio é a vida, poderia me ajudar nisto.
Por
fim, perguntamos a ele sobre o aviso dado por Damon, a visão de que tinha um
amigo nosso em perigo. O Sem Escamas disse que não poderia nos dar a resposta,
mas poderia ajudar o Damon a vê-la de forma melhor, e poderíamos perguntar a
ele.
Lembro-me
esparsamente de diversas outras perguntas e respostas sobre muitas coisas, e
sinto que aqui escrevi muito pouco, tão pouco que não faz jus ao verdadeiro
significado de tudo o que soubemos. Havia coisas, ainda, que ele me advertiu
que não poderia me contar, por medo a causar um impacto grande demais em mim.
Não
sei o que pensar. Não sei o que achar do Sem Escamas, do que ele representa e o
que ele é. Tantas coisas que ele nos explicou que minha cabeça da volta. Talvez
com o tempo vá entendendo de verdade os mistérios por ele revelados.
Por
ora, ele se despediu de nos, e disse que acreditava ser a última vez que nos
veria, apesar de que sempre existia a possibilidade de que não.
Quando
voltamos a nos, não sabíamos quanto tempo tinha se passado. Uma hora, um dia,
um mês? O tempo não era algo que poderia ser contado onde estávamos.
O
sacerdote estava em nossa frente, com a gema azul em mãos e com a expressão de
paz. Ele sabia que seu destino tinha sido cumprido. O custo de ser nosso canal
com o Sem Escamas era alto demais, e o preço pago foi sua vida.
Então,
a partir dos olhos e das mãos, chamas azuis engolfaram-no, chamas quentes e
brilhantes que logo lhe tomaram o corpo. Mas ele não gritou, não se queixou.
Eu
não sei se fui a única a ver isto, mas entre as chamas eu pude ver a figura de
uma mulher que se aproximou dele e o tocou.
Em
pouco tempo, ele tinha se tornado uma figura enegrecida e quente. Lavínia
recobrou a gema das mãos de seu mestre, como guiada pela certeza, assoprou as
cinzas dele: Para nossa surpresa, o homem tinha sido transformado em uma
estátua de prata, postada em posição de oração...
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on sábado, fevereiro 27, 2016
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