Sessão 23
Viajante 29, 11 4e
Diário,
Fomos
bem vindos a Hamask, e as pessoas nos esperavam. Não só Urian e seus
cavaleiros, mas toda a cidade, nos recebendo como se fossemos heróis depois de
uma longa cruzada. Gritavam meu nome, acenavam, apontavam para mim como se eu
carregasse todas as esperanças deles.
Não
vou mentir: Eu gosto de ser reconhecida pelo que faço. Nunca exigi dinheiro,
posses, riquezas, nunca pedi a ninguém uma contrapartida, a não ser o
reconhecimento, a lembrança.
Mas,
por outro lado, eu sei que isto não foi obra minha, pois pouco fiz por Hamask e
menos ainda fiz por eles nesta viagem. Sei que a Ordem dos Arautos tem
trabalhado muito duro para fazer este povo me amar, e embora seus esforços
sejam louváveis, o resultado é constrangedor.
Urian
e seus cavaleiros estavam lá para nos receber, ao igual que sua majestade Xeloksar.
Ele está diferente, mais altivo e mais duro. Até que ponto ele ainda é o thaar
que conheço eu não sei. Hamask continua devastada, mas o povo está seguro, está
alimentado, tem trabalho e certeza. Este novo Xeloksar, seja quem ele for,
permitiu isto e por isso lhe sou grata.
Mas
o destino de Hamask não era a única coisa que tínhamos em mãos. Sem perda de
tempo, fomos até o Patriarca, que estava desejoso de escutar nossas andanças.
Ser Helgraf se separou de nos pois tudo o que ele tinha a dizer seria escrito
em relatórios, e não havia necessidade de sua presença. Soube depois que a
primeira coisa que fez foi visitar sua amada esposa.
Sentei-me
na sala de reuniões do palácio de Hamask. O fato de que é o meu marido e não
rei Xeloksar que vive no palácio deixa claro para os olhos mais atentos a
relação que a ordem do dragão tem para com o novo governo da cidade.
Urian,
acompanhado de seus conselheiros, perguntaram a mim e a Lavínia sobre nossa
viagem. Basicamente só eu respondi. Não tenho mais motivos para ocultar nada da
ordem do dragão.
É
verdade que ainda pairam muitas suspeitas sobre a natureza de Urian, mas o
dragão sem escamas deixou claro que ele é a chave para salvar o mundo. Pelo
menos deixou claro para mim. O plano de Urian vai funcionar, independente quem
ele é. Eu sei, eu vi o futuro.
Contei
a ele da nossa viagem em voltar e a dificuldade em fazer diplomacia com os orokul.
Contei a ele como encontramos os Sangue de Fogo, contei sobre a senhora do
fogo, sua natureza e sua origem. Contei como lutamos sua guerra e como estavam
agradecidos a nos, e como isso poderia nos trazer grandes aliados.
Contei
a ele sobre os Portais Sombrios e a magia que curou o braço de Lavínia. Contei
a ele sobre nossa viagem ao templo perdido, e dos draconatos que enfrentamos, e
também sobre a natureza do local.
Contei
sobre o sacerdote, sobre a viagem no tempo e o lugar estranho em um futuro
perdido que fomos parar. Contei a ele sobre o sem escamas e os segredos que ele
nos revelou, pelo menos os que consegui lembrar.
Contei
sobre nossa viagem a Lagoa D’Ouro e nosso encontro com o mestre da Mirani.
Contei sobre a volta pelas terras desesperadas de Dolgol.
E
Urian e os seus ficaram maravilhados com cada passo. Cada um a sua maneira.
Estou certa que contei muitas coisas que ele, mesmo tendo as memorias de um
dragão, sequer imaginava ser possível. E ele se alegrou quando lhe contei que
os Sangue de Fogo estão dispostos a tecer uma aliança.
Então
entregamos a ele a gema azul.
Nunca
tinha visto o patriarca tão feliz. Na verdade nunca tinha visto ele emocional,
sempre distante e frio. Ele pareceu orgulhoso e maravilhado, e isso me deixou
feliz. Uma sensação de dever cumprido, mesmo que momentânea.
Ele
me perguntou então o quanto confiava na Lavínia. Ele dizia isso porque entendeu
que eu tinha sido completamente sincera, não lhe escondi nada e ele entendeu
que poderia ser sincero também comigo. Ele não sabia se esta confiança se
estendia a Lavínia, e deixou a minha escolha.
Lamentavelmente,
não confio. Digo, eu gosto dela, apesar do negativismo e da apatia. Ela é uma
garota corajosa e com bom coração, as vezes. Mas ela não esconde seu desagrado
com a ordem do dragão.
Eu
sou a matriarca da Ordem. Sou, para muitos, tanto a ordem quanto o é Urian, e
por isso não confiar nela é não confiar em mim. Lavínia tem meu carinho, mas
não minha confiança. Não toda.
Xeloksar
a retirou do quarto e Urian me confiou o maior dos segredos dele: o seu plano
para salvar o mundo.
Urian
me conta que Ashardalon está inexoravelmente corrompido por Ekaria. Não há
volta para ele, pelo menos não uma que ele tenha descoberto. Mesmo com o poder
das gemas, Urian acredita que a influência de ekaria foi tão longe que é
impossível limpa-la. E pior, esta corrupção se alastrou por todos os dragões
que seguem Ashardalon.
Ele
explica que a ligação de Ashardalon com os seus seguidores é similar àquela que
ele possui com os paladinos: as mentes deles se tocam comunicando emoção,
memória e pensamento. Foi através desta conexão que os sussurros de Ekaria
corromperam a todos os dragões.
Ele
explica que a antiga profecia dizia de um filho do mundo que iria limpar a
corrupção, e que este filho carregaria a benção de todas as cores. Dragdar
lutou muito para se tornar este ser abençoado. E nesta Ubris, Ekaria o enganou
e utiliza-o para destruir os humanoides. E através de Ashardalon também enganou
os seguidores.
Estes
dragões não pararão até que todos os humanoides sejam destruídos, por isso é
necessário acabar com eles antes. Urian acredita que com as gemas e o ritual
certo, poderá usar a conexão que Ashardalon tem com os dragões para afetar a
todos os seus seguidores.
Urian
é claro: Para salvar os humanoides, ele terá que exterminar os dragões.
Não
estou confortável com este plano. A morte de uma raça inteira para salvar
outra, um genocídio necessário. Deve haver outra saída, deve haver outro modo
de limpar a corrupção de Ekaria dos dragões, faze-los ver e entender o que se
passa.
Talvez
as gemas nos permitam ver. Me permitam ver esta alternativa. O Sem Escamas nos
falou que nada é impossível...
Urian
continua, e diz que embora isso ajude a evitar a hecatombe que se acomete sobre
os humanoides sob as garras dos exércitos draconianos, isto não resolverá o
problema mais grave: as crianças.
Ele
não sabe como solucionar esta castração, e dúvida se isso é sequer possível.
Ele diz que o mundo foi feito perfeito, como o sem escamas comenta, mas não foi
somente Ekaria que corrompeu esta perfeição. Seres como o Sem Escamas, como ele
mesmo, não deveriam existir. Seres cuja mera existência já é uma violação às
leis do mundo.
Estas
violações enfraquecem o mundo, e permitem que Ekaria exerça sua vontade sobre o
mundo, como o fez com a castração dos humanoides. Para proteger o mundo e
evitar novas incursões do mundo dos monstros, será necessário acabar com estes
seres, como o sem escamas ou ele.
Ele
afirma que esta será a nossa missão: Limpar o mundo, ajudar o mundo a se
proteger, para que indivíduos excepcionais não permitam a corrupção de ekaria.
Mas
isso será um passo após. Agora, ele não tem como ajudar aqueles que não tem
filhos. Talvez haja, mas ele não sabe.
De
novo penso nas gemas. Talvez a gema verde ajude, a gema da vida e da
continuidade. Sim... É por ela que poderemos saber como Ekaria fez o que fez e
como poderemos desfazer este mal.
Em
todo caso, eu agradeço a confiança do Urian e fico feliz que ele tenha
estendido esta honestidade para mim. Agora entendo o porquê ele não poderia me
falar: O plano dele é difícil e cai numa desconfortável área cinza da moral, e
mesmo se sentindo inquieta com os planos futuros, eles são o que temos. São
nossa fuga desesperada da beira do abismo.
Lamentavelmente
estamos sozinhos nisto. Talvez as igrejas, organizações e nações tenham outras
ideias, ou estariam dispostas a nos ajudar, ou não. Talvez nossos caminho não
seja o único, nem o melhor, ou talvez eles sejam tão atrozes para alguns que
preferiam a extinção do mundo como o conhecemos a violar seus valores.
Eu
adoraria que os humanoides se unissem. Somos tão egoístas, e o desespero
exacerba este sentimento. Em meio ao caos ainda arranjamos forças para brigar
entre nós, mas acho que isto jamais irá mudar. É o lado negro da liberdade que
o Sem Escamas tanto adorava: Somos livres para escolher nosso caminho, mesmo
que este caminho não for o melhor.
Não
estou dizendo que o da Ordem do Dragão o seja, mas é por esta liberdade que nos
impedimos de harmonizar nossas ideais: Preferimos seguir nossos próprios
caminhos individuais, cada um com sua própria ideia de como seguir e o que
salvar. Gostaria de poder fazer algo que seja superior a isto, de faze-los
entender que as vezes, é preciso nos unir.
***
Aprendiz
21, 11 4e
Diário,
Diversas
semanas tem se passado desde a última vez que escrevi. Não tem acontecido muita
coisa para mim, mas para o mundo, as coisas estão cada vez mais negras. Guerras
e monstros infestam as notícias que vem de todos os lados: As batalhas com Irritaria
estão piorando, mas não porque elas se tornem maiores e mais importantes, mas
porque os recursos são poucos. Hamask ainda resiste, e graças aos paladinos da
ordem do dragão, os campos que alimentam a cidade estão tão férteis quanto
sempre foram.
Mas
sei que em outros lugares não é assim. A quantidade de pessoas esfomeadas que
chegam dia após dia aos portões da cidade é aterradora. Muitas delas feridas e
outras contaminadas pela corrupção.
Diversas
cidades das regiões de Dogol sumiram do mapa, vítimas de uma grande força de
corrompidos que surgiu no lugar. Dezenas de vilas morreram e as notícias são
ainda piores.
Os
cavaleiros do corno que ainda eram fieis a irritaria agora tem que se dividir
entre as escaramuças contra a ordem do dragão e enfrentar os corrompidos, dando
mais espaço para que nossos homens conseguissem agir e segurar passos e regiões
de importância. Os corrompidos são poderosos mas eles não tem muito a fazer
contra nossos dragonetes. Não em pequeno número pelo menos. O que não é o caso.
Diversas
das cruzadas que estavam nas terras centrais agora lutam uma desesperada
campanha para salvar o pouco que ficou. Eu insisti para Urian dar passagem a
eles e abrigo se precisarem. Igrejas mais pragmáticas, como a do campeão e do
solar tem aceitado de bom grau esta proteção, ao final, a Ordem do Dragão não
tem religião oficial, nem planeja ter. Mas outras igrejas, em especial do cavaleiro,
da mãe amorosa e do criador negam-se a aceitar nossa oferta de porto seguro.
A
religião do cavaleiro tem tido um lugar especial para mim nestas semanas. Todos
aqueles sacerdotes que nunca vi quando precisava agora fazem questão de vir
para me excomungar. Eu tento tratar eles com respeito e faze-los entender minha
posição, mas em vão. Alguns simplesmente aceitam e se retiram, mas a maioria
gosta de fazer público o fato de que eu não sou mais da religião.
Eu
fingiria em dizer que não me importo. Não me interessa mais se eles me
consideram uma irmã ou não, o que me chateia é que só agora que eles aparecem?
Depois de tudo o que passei e as coisas que fiz e a ajuda que precisei, agora
estes cretinos decidem sair das suas fortalezas bem guardadas para fazer algo
por mim?
Os
cavaleiros do grande lobo eram de dois tipos: Aqueles que saiam pelo mundo
defendendo os inocentes e enfrentando o mal, e aqueles que se escondiam em suas
belas abadias fortificadas esperando pelo pior. Dos primeiros, a grande maioria
morreu durante as chuvas, faz 10 anos. Dezenas de ordens foram dizimas, e
muitos corajosos heróis pereceram para que muitos fossem salvos.
Os
que sobraram são estes cretinos que agora vem a minha porta para cuspir a meus pês.
Acreditam que afazem muita coisa guardando seus portos seguros e esperando que
o pior passe.
O
grande lobo, o cavaleiro, a mãe amorosa, todos os deuses, eles não existem.
Eles são espíritos, demônios sadistas que se escondem atrás do véu, espiando
nossos movimentos e agindo de acordo com seu capricho. Os deuses que existem,
estes espíritos do mundo, eles são inumanos, eles não se importam comigo, ou
com os meus, ou com qualquer um de nos. No grande esquema, somos todos somente
gotas de chuva em uma tempestade: Só porque algumas gotas caem não quer dizer
que a tempestade parou.
Urian
se ofereceu a impedir sua entrada. Deixa eles. Deixa que saboreiem o momento
das suas vidas, e voltem para suas abadias. Eu sou, eu fui, muito mais o lobo
branco que eles jamais sonharam em ser.
**
Amante
15, 11 4e
Diário,
Meu
ventre está começando a ficar grande e redondo, estou inchada e dolorida. Mas
eu nunca estive tão feliz, devo dizer. Agora não tem como negar: Estou gravida.
Isso
traz coisas boas, meus pesadelos parecem ter diminuído e algumas noites até
consigo dormir sem acordar com medo. Acordar sozinha, só com os cantos dos
pássaros, e ficar assim durante algum tempo, este simples gesto, agora me
parece algo tão precioso...
Urian
me ordenou a não fazer nada. Não podemos arriscar os nossos filhos em aventuras
minhas. Parece que ele me conhece demais e colocou alguns cavaleiros de olho em
mim todo o tempo. Eles não me deixam fazer nada até o ponto do tedio...
A
Cavaleira Guardiã Medeia foi destacada para ser minha guarda costas. É uma
bonita e jovem thaar, mas hábil com a espada e determinada.
Estou
aproveitando para estudar heráldica, etiqueta e guerra. As duas primeiras são
muito chatas. A última é mais legal, tenho mais pratica, já que Annika
costumava me ensinar um pouco nos tempos vagos.
Fora
do castelo eu sei que as coisas não estão indo bem. Soube que os exércitos dos
selvagens das terras altas tem se movido cada vez mais perto de irritaria,
expulsos pelas forças dos corrompidos e de corvo branco. Agora eles estão entre
irritaria e Brzzengard, atacando os dois reinos sob o comando da rainha barbara
deles.
Gostaria
de ir lá e recuperar aquela espada. Foi um erro manda-los atrás disso. Deveria
ter sabido que a Emil era idiota o suficiente para se deixar controlar por
Karmassal. Mas agora não posso fazer nada.
As
forças da ordem do dragão tem sofrido também. Embora Khain tenha nos
proporcionado proteção marítima, as batalhas contra irritaria tem clamado a vida
de bons homens. Urian só os diverte com a guerra e guarda o grosso das nossas
forças em Hamask.
Em
uma Hamask cada vez mais distante da realidade. Eles sabem que o tempo mundo está
se esgotando, e mesmo com a quantidade de refugiados que vem chegando cada
semana, a cidade ainda consegue florescer. Há racionamento de comida, mas em
geral não há fome. Os crimes violentos caíram graças a ação de Xeloksar e as
pessoas se sentem seguras.
Mas
é uma ilusão. Gostaria que o tempo de espera passasse mais rápido. Quero agir!
--
Amante
23, 11 4e
Diário,
Lanternas
Negras do Rei me atacaram hoje a noite. Tentaram me assassinar mas falharam, os
cavaleiros da ordem do dragão conseguiram intercepta-los. Um dos assassinos
morreu no ato e o outro fugiu.
Urian
está irritado com isto. Ele sabe que o crime organizado da cidade está
facilitando a entrada de espiões e assassinos de irritaria, mas ele não possui
os meios para fazer algo a respeito.
--
Princesa
2, 11 4e
Diário,
Recebi
os mensageiros de Silverar hoje. Eles me disseram que me consideram culpada
pela morte de Annika, e que já não sou bem vinda aquele reino. Annika era muito
querida por lá, e a morte dela causou muita dor, consigo entender.
Me
entristece que eles achem isso, e não consigo entender o porquê o fazem.
Dakhanis sabem que a morte aguarda a cada um de nos, e uma morte em batalha é a
mais desejada. Annika, pelo que ela fez, deveria ser celebrada.
Mas
eles não fazem isso. Guardam o rancor e me vitimizam. Eu sei que sou humana, e
que sou estrangeira, mas eu também já prestei grandes serviços aquele reino,
acreditava que teriam mais consideração.
Não
sei o que acreditar, e fico triste com a reação deles, especialmente porque a
morte dela ainda me pesa. Mas não há nada que possa fazer.
--
Princesa
13, 11 4e
Diário,
A
Ordem do Dragão formalizou sua aliança com os Sangue de Fogo. As tratativas
foram rápidas: Eles desejam aliados tão rápido quanto nós precisamos deles e da
senhora do fogo. Fico feliz, agora com Urian e a Senhora do Fogo a nosso lado,
nossas chances de sucesso melhoram muito.
Embora
sim, eu não tenha tanto amor pela forma em que estes Alaranis agem, seus
recursos são inegáveis, especialmente os conhecimentos em magia da Senhora do
Fogo e de seus discípulos. Prefiro ter eles a meu lado, lutando a mesma luta
que a minha.
Eles
enviaram a feiticeira Iliziarelli para ser a representante destes Alaranis. É a
mesma feiticeira que auxiliamos na a batalha com os Orokul. Lembro-me dela como
sendo bastante dura e direta, mas compreendo a situação em que estavam.
Lhe
pedi desculpas pela posição que tive naquele dia, e ela foi rápida em dispensar
a necessidade delas, ao final, mesmo me opondo algumas táticas mais brutais que
ela dirigiu, continuei a fazer o que foi pedido, o que resultou na tão desejada
vitória. Segundo ela, não tinha nada a me desculpar.
Mas,
do mesmo jeito, ela se mantem distante e quase hostil, algo similar à atitude
do Volksar, penso eu. Não consigo entender muito bem o comportamento deste
povo, dos Alaranis, ou pelo menos este tipo de comportamento. Digo, entendo que
ela é uma conjuradora, e magos geralmente não são as pessoas mais agradáveis
que há. Digo isto por experiência própria, pensando no Izack e na Brianna.
Mas
a hostilidade deles é maior. Enfim, não devo me preocupar por isto. O que
interessa e que eles estão do nosso lado.
Devo
comentar que é muito difícil olhar para os olhos da Iliziarelli. Os Alaranis
gostam de usar essas roupas reveladoras, e o decote dela é especialmente
avantajado.
...Alaranis... |
--
Princesa
15, 11 4e
Diário,
Lavinea
veio para me pedir um favor hoje: Ela decidiu aceitar meu convite e transformar
Hamask em um porto seguro para os sacerdotes de Nayurai. Não sei quais caminhos
ela deseja para a religião dela, mas parece estar determinada em não deixa-la
morrer.
Admiro
a persistência da sua fé, mas ela sabe tanto quanto eu do que o Sem Escamas
falou, e mesmo assim insiste em se dedicar à ideia de uma metafisica maior? Não
irei julgá-la por isso. Eu já tive uma fé que persistia a todas as angustias e
demandas que eu passava, consigo entender.
Tentei
conseguir um bom lugar para sua nova igreja, lamentavelmente Xeloksar não
possui muito espaço no primeiro círculo, e só consegui uma velha casa no
segundo. É melhor que nada. Quando as coisas se estabilizarem vou tentar
arranjar um espaço melhor para a igreja de Nayurai em Hamask.
Não
sei como Lavínia irá atrair os seguidores da sua fé, mas sei que isso não pode
ser feito “em aberto”. Ainda há muitos cultistas de Ekaria que adorariam acabar
com os últimos seguidores de Nayurai...
O
que me levanta a questão: Porque justamente Nayurai? Será que eles desejavam
impedir que a gema azul caísse nas mãos do inimigo, ou há outro motivo, algo
que desconhecemos?
Em
todo caso, desejo sorte a Lavínia.
--
Rei
7, 12 4e
Diário,
Uma
dragonesa veio até a Ordem do Dragão hoje. Foi bem depois de que nossos
paladinos derrubarem o dragão Brithetkiir dos céus, perto da fronteira norte de
Hamaks. Esta dragonesa, de nome Valaria, se apresentou a Urian e pediu refúgio.
Ao
que me foi explicado, ainda há dragões que opõem-se a Ashardalon e suas forças.
Muitos deles foram de fato bestializados, e outros mortos, mas alguns
sobrevivem escondidos em lares secretos e distantes ou, aqueles que possuem a
habilidade, escondidos entre os humanoides.
Esta
dragonesa percebeu a ordem do dragão como aliados poderosos contra as forças de
Ashardalon, e veio até nos oferecer sua ajuda e pedir por refúgio.
Confesso
que ao começo senti que era uma armadilha, e sei que Urian também o fez, mas o
patriarca aceitou ela, e me afirmou que se a Ordem do Dragão conseguir aliados
draconicos, estaremos mais perto de derrotar Ashardalon.
Ele
passa muito tempo com a dragonesa, ensinando-lhe magia antiga draconiana. Urian
não possui a capacidade de conjurar este tipo de magia, mas conhece muito bem a
teoria, e em troca do apoio da dragonesa, ele tem se prestado como mestre para
ela, mostrando-lhe segredos que os dragões anciões não costumam mostrar aos
mais jovens.
Espero
que Urian saiba o que está fazendo. Não consigo confiar nesta dragonessa com a
mesma facilidade que Urian, mas o patriarca não me dá ouvidos. Em todo caso, se
for verdade suas palavras, talvez os dragões dissidentes consigam nos auxiliar
contra o grande tirano.
--
Rei
20, 12 4e
Diário,
Urian
me contou que para descobrir onde a gema está ele precisa de sangue de um
antigo. Eu não entendi até que ele me contou sobre o ritual e como o antigo que
precisavam era o Lucian.
Eu
me opus, é claro. Eu lembro muito bem o que os Sangue de Fogo fazem com os
“doadores” dos seus rituais de sangue, mas Urian me explicou que era diferente.
Eles precisavam que da sangue do Lucian, mas seria ele a sonhar com a
localização.
Para
tal, eles precisariam acorda-lo eventualmente, para que nos conte os sonhos
dele.
Lucian
está em coma faz meses, muitos meses. E não tem previsão de acordar. A maioria
das pessoas que passam pelo que ele passou sequer acordam, passando a vida em
um sonho eterno enquanto o mundo afora avança sem eles.
Eu
sei que o ritual de Urian, ou melhor, da Senhora do Fogo, terá repercussões sobre
a mente, o corpo e o espirito de meu amigo. Mas sinceramente prefiro que ele
lide com as cicatrizes acordado que viva este plácido e ausente sonho para
sempre.
Fomos
procurar Lucian e não demorou muito em convencer Luna e Lindriel da necessidade
de leva-lo para Hamask. Elas, é claro, não ficaram muito felizes, mas não
falamos nada sobre o ritual de adivinhação. Somente dissemos que tínhamos meios
para fazê-lo acordar do coma. Em todo caso, isto foi protocolar. Não realmente
precisamos da aprovação das duas para levar o Lucian para Hamask; elas não são
responsáveis por ele afinal.
Espero
que ele acorde bem, e logo. Uma pessoa boa como ele não pode ficar assim,
congelado para o mundo. O mundo precisa demais de gente como ele.
Realmente
agradeci o fato do Urian vier pedir minha permissão primeiro.
--
Escudeiro
7, 12 4e
Diário,
Ventre
está redondo e grande, e pouco consigo fazer além de me sentar, ler e escutar.
Nunca fui uma leitora ávida, mas nestes meses, estou me obrigando a isso. Urian
insiste em me fazer estudar etiqueta e heráldica. Eu estou mais interessada em
guerra e demonologia. Em todo caso, só isso tenho feito.
Sinto
meu filho chutar e se mover, e ainda não consigo acreditar que estou nesta
situação. É estranho, mas também é maravilhoso. Eu sequer vi esta criança e já
a amo mais que qualquer outra coisa. Ela sequer saiu de mim ainda e já sinto
ciúmes dela.
Sinto
como se tivesse a força para enfrentar qualquer inimigo por esta criança. Meu
filho.
Em
todo caso, escutei que Helgraf tem trabalhado duramente para repartir seu dom
entre as moças de Hamask. Sua própria esposa o tem incentivado a isto, e embora
imagine que muitos rapazes adorariam estar em sua pele, sendo “obrigados” a
fazerem sexo com estranhos, seu que o ser Helgraf não se está contente com a
situação.
Ele
é um homem religioso, de fé, e o criador condena a libertinagem. Ou acho que o
faz. Em todo caso, Helgraf não parece muito contente, como se esperaria.
--
Escudeiro
10, 12 4e
Diário,
Mais
uma vez tentaram me assassinar. A Cibele desta vez.
Urian
ficou comigo até tarde hoje, e, surgida das sombras, apareceu ela, com uma
afiada adaga em mãos. Meu marido não lhe deixou oportunidade, e rapidamente a
fulminou com um raio de luz branca vinda da esfera branca.
Ela
fugiu.
Eu
fiquei perplexa, não consegui reagir. Esta gravides e meses sem fazer nada
estão me deixando lenta.
Mas
Urian sabia, ele adivinhou. E a vingança dele foi terrível.
Não
sei o que se acometeu sobre Cibele com este raio de luz branca, mas pelo grito
dela, deve ter sido terrível, mas não consigo criar o mínimo de empatia para
ter pena dela.
Ela,
esta coisa, já é muito distante do que fora minha amiga. Ela se rendeu as
sombras e agora é mais um espectro que usa o corpo e o nome da Cibele que uma
pessoa. Os seus olhos, a expressão em seu rosto, isto não é ela. Isto jamais
seria Cibele.
Não
ela, que era justamente aquela mais disposta a amar, mais disposta a se
entregar a suas emoções. Não, esta coisa que me atacou é um demônio, algo além
do véu que Brianna trouxe ao mundo.
Concordo
com Urian: Brianna falhou, e em sua ubris, não consegue entender que ela não
conseguiu salvar Cibele. Cibele morreu. O que isso é agora é um espectro, talvez até um espirito manifestado que
acredita ser Cibele, qualquer coisa mas menos quem ela era. Isto não é uma
vida. Existir não é viver.
Brianna
falhou. Cibele morreu muitos anos atrás, quando ela e a Elizabeth, de forma
idiota, tentaram enfrentar o Senhor das Moscas.
Me
amarga o coração saber disso, de ver esta forma anteriormente familiar, agora
atentando contra mim e contra meus filhos. Eu sei que a Cibele que eu amava
jamais tentaria assassinar uma mulher gravida. Ela amava Dheia demais para
isso. Agora, está coisa que Irritaria usa como seu executor, isto não é a
Cibele. Jamais será.
Ela
morreu.
--
Escudeiro
12, 12 4e
Diário,
Descobri
que irei ter gêmeos!
Gêmeos!
São duas crianças! Não sei se poderia estar mais feliz. Tenho tanto orgulho
disso, mesmo sabendo que não há porque se orgulhar.
Eu
sei que o muitas mães lá fora tem seus filhos natimortos pela maldição de
Ekaria. Sei que muitas outras os perderam pelas guerras e monstros que a cada
dia avançam mais sobre o mundo.
Mas
mesmo assim, sinto orgulho. Terei gêmeos!
Urian
ficou surpreendido com isto, sequer os gêmeos thaar conseguiram divisar isto. Realmente,
como o dragão sem escamas falou: O acaso existe!
--
Escudeiro
20, 12 4e
Diário,
Sou
mãe.
A
dor foi terrível, mas não de uma forma ruim. Não era uma dor como já senti, de
fora para dentro, mas era diferente.
Meus
filhos nasceram bem. Uma menina e um menino. Lindos e saudáveis. É a coisa mais
maravilhosa que já passei.
Urian
estava do meu lado sempre. Eu sei que essas coisas... de humanoides, são estranhas
e até desagradáveis para ele, mas ele esteve lá. Segurou minha mão.
Estou
cansada. Mas estou feliz. Esta noite sei que não terei pesadelos.
Izack
e Raquel são seus nomes. Eu sei que os dois não se gostavam, mas são os nomes
de duas pessoas que mais amei e admirei, e que mais influenciaram para eu ser
quem sou agora.
Estou
feliz.
--
Guerreiro
13, 12 4e
Diário,
Lucian
acordou hoje!
A
dragonesa Valaris me chamou enquanto brincava com Izack. Ele acordara e passava
bem.
Corri
para vê-lo e fiquei feliz em ver que ele se movia, falava e olhava depois de
tantos meses desacordado. Tantos meses nesse sonho negro do coma.
Lucian
está longe de ser o homem que era, está fraco, frágil. Os muitos dias sem exercício
lhe sugaram a vitalidade que tanto se vangloriava, e mesmo não sendo um homem
feito esqueleto, ele é quase.
Mas
não faz mal. Ele está acordado! Eventualmente irá recuperar suas forças e
voltar a ser o poderoso e orgulhoso guerreiro que ele fora.
Eu
sei que a magia dos Alaranis e talvez os feitiços dos gêmeos eventualmente irão
mostrar as consequências que carregam. Mas, sejam quais foram, valeu a pena.
Sei
que Lucian concorda comigo!
Ele
me fala que descobriu onde a pedra está: Em um lugar onde o céu toca a terra,
atrás de uma Porta do Dragão.
Não
sei onde isso é, mas certamente a Ordem do Dragão poderá descobrir. Por
enquanto fico feliz.
**
Guerreiro
18, 12 4e
Diário,
Lucian
parece abatido e perdido. Ele quase não acredita o quanto as coisas tem mudado
nesse ano que ele passou desacordado, e me pergunta porque eu fiz o que fiz.
Digo, em relação à ordem do dragão.
Ele
pareceu entender quando lhe contei de Hamask e do Raagras. Eu sei, e ele me
lembra, que Izack detestava a ordem do dragão e que a Cabala também foi criada
para se opor aos métodos do Urian. Lamentavelmente, eu não sou izack.
Em
todo caso, ele entende. Mesmo não gostando.
**
Guerreiro
23, 12 4e
Diário,
Meu
marido conseguiu descobrir onde está a gema vermelha.
Ele
convocou o Grande Conselho hoje, formado por ele, por mim e os três gêmeos
thaar, pela dragonesa Valaris, e a feiticeira Iliziarelli, dos Sangue de Fogo.
Ademais, estavam os representantes das três ordens da Ordem do Dragão: pela
Ordem dos Paladinos, a cavaleira Catherin, que é a nova líder no lugar do falecido
ser Frans da Cicatriz, e seus conselheiros Andreia e Cormac. Também estavam os
representantes da ordem dos protetores, Linnet Coração de Leão, a líder deles,
seus dois conselheiros, o Tenente Cavaleiro Anraris, a Cavaleira Guardiã
Medeia, e também o mestre Pranar, que é o Mestre em Armas da ordem do dragão. Por
fim, também estavam os representantes da Ordem dos Arautos, o líder, o mestre
Elithiren, o Mestre Burgolan, e agora o promovido Arauto Helgraf.
Patriarca Urian Coração de Dragão |
Matriarca Erika Sol da Meia-Noite |
Um dos trigêmeos cegos e sem nome |
Illiziarelli, dos Sangue de Fogo |
Paladina Comandante Katherin |
Paladina Andrea |
Grã-Cavaleira Linnet Coração de Leão |
Mestre em Armas Pranar |
Guarda-Costas Medea |
Arauto-Maior Ellitinen |
Mestre Burgolan, dos Arautos |
Diplomata Helgraf, dos Arautos |
Urian
contou que a gema vermelha poderá ser encontrada através de um Lanssin Annar, a
Porta do Dragão que se encontra em Sylkarias, no norte gelado.
Seguiu-se
uma discussão sobre quem deveria ir e quem não.
Uma
coisa ficou clara: Eu vou. Tanto por minhas habilidades, pelos meus contatos no
norte e pelo meu conhecimento da região, mas além disso, é porque isso que eu
faço. Eu não sou uma princesa ou uma diplomata, não vou ficar para traz vendo o
mundo sendo despedaçado enquanto outros se esforçam para salva-lo. Urian sabe
disso.
E
foi por isso que eu fui chamada em primeiro lugar para a Ordem do Dragão.
A
discussão sobre quem ia e quem não foi longa, especialmente devido a natureza
da missão e do local: os qesires de Sylkranias são conhecidos por serem
supremacistas, e a terra ao norte é dura e perigosa, em especial sabendo que
Sahloknir está lá com uma grande força de draconatos. Nossa sobrevivência
dependerá em muito de um bom guia e um bom caçador.
Aliem
do mais, supomos que por estar em terras de qesires, a gema vermelha provavelmente
deverá estar guardada por magias ou artefatos feéricos, e para retira-los de lá
precisaríamos provavelmente de um sábio e feiticeiros.
Portanto,
precisaríamos de um diplomata que seja Qesir, que possa falar de igual a igual
com os habitantes de Sylkranias. Precisaríamos também de um caçador e um guia,
que seja capaz de encontrar abrigo no duro clima do norte e nos guiar por entre
as montanhas sem nos perder.
Precisaríamos
também de um sábio que seja conhecedor dos artefatos qesires, e de um feiticeiro
que nos ajudasse a obter a gema. Dos demais, precisaríamos de guerreiros bons
para poder sobreviver às feras, draconatos ou, quem sabe, aos mesmos qesires de
Sylkranias.
Estávamos
sem muito tempo, pois cada dia que se passava sem a gema, mais pessoas morriam
e sofriam.
E,
não tínhamos como avançar ao norte a pé de forma seguira e rápida.
Primeiramente porque a distância era muito longa, e passaríamos por territórios
tomados por Corrompidos, pelas hordas dos selvagens e pelas terras controladas
pelos cavaleiros do corvo branco, isso sem contar os exércitos de irritaria, as
forças draconicas e as cruzadas que poderíamos terminar encontrando.
Para
tanto, decidimos que o sábio seria usar os portais sombrios dos Sangue de Fogo
para nos transportar rapidamente. Para o norte, recuperar a gema, e viajar ao
sul tentando evitar o máximo de confrontos.
Iliziarelli
comenta que era possível encontrar um portal feérico que servisse ao norte, a
Senhora do Fogo poderia fazer isso. Mas haveria um problema: o primeiro era que
os portais sombrios só poderiam levar um pequeno número de pessoas não Alaranis,
não mais que dez.
Assim,
devíamos escolher bem os representantes.
Eu
iria, como foi decidido. Além de mim, pensamos no diplomata qesir, se fosse
possível que seja também um feiticeiro: Isso nos deixava com três opções
validas: O mestre Elithiren, porém não era aconselhado devido a que teria que abandonar
suas funções na Ordem do Dragão; Mestre Ilidion, o criador da Mirani, que além
de ser um reconhecido sábio, é um feiticeiro excepcional, o problema era que
não tínhamos todo o contato que desejávamos com ele. Mas chama-lo seria contar
de forma gratuita com a Mirani também; finalmente, tínhamos Lindriel, que era
uma opção mais viável, e sendo ela quesir e feiticeira, serviria para ambos os
postos. Todavia, a Lindriel certamente exigiria a Luna junto, que não tem muita
utilidade para nossa empreitada.
Ou
não. Talvez precisemos nos infiltrar entre os qesires e ela poderia nos ajudar.
No
caso do nosso guia, concordamos em levar a Lavínia. Eu gostaria de poder contar
com o Van, mas o Fantasma da Neve está inacessível para nos agora. A
sacerdotisa de Nayurai tem se mostrado uma caçadora e uma guia muito
competente, e mesmo com as criticas de que ela não conheceria as terras do
norte, apoiei o nome dela.
Precisávamos
também de um sábio em artefatos qesires, o que Lindriel nem Elithrien eram.
Após muita discussão, optamos por chamar o conhecido da Lavínia, o lemuriano
Xoralaath. Nossa outra opção era o Karlanar, mas eu não confio nele, e em
geral, entre os membros da ordem do dragão, tem a opinião comum que qualquer
coisa que vier da Rosalia não pode ser confiável.
Não
que Lavínia tenha ficado feliz. Ela tem uma história inacabada com o Xoralaath,
mas não isso que nos interessa.
Finalmente,
decidimos levar o ser Helgraf, que é um bom combatente e poderia auxiliar na
diplomacia, por ser fluente no idioma dos Qesires, e a Cavaleira Guardiã
Medeia, que por ser minha guarda-costas, estava obrigada a me acompanhar.
Assim,
ficou a meu cargo e dos arautos convencermos os nossos possíveis companheiros.
--
Mago
14, 12 4e
Diário,
Chegamos
hoje para o monastério. Este lugar parece existir em outro mundo, em um lugar a
parte onde os problemas de fora são mundanos, fáceis e banais. Aqui para uma
tranquilidade quase tátil, e todos os monges parecem ser figuras dos sonhos.
Lembro
do Sem Escamas falando das terras do outro lado do grande mar salgado, de onde
Kul o Conquistador e seus exércitos vieram. Este lugar de disciplina e
contemplação metafisica não parece com nada do que eu tenha visto até então.
O
monge local que nos atendeu, parecia como feito de pedra. Suas forças eram
esculpidas à perfeição, e mesmo no frio cortante do alto da montanha, ele
andava sem casaco e com roupas leves.
Ele
é gentil, e nos aponta onde Xoralaath, ou melhor, Salamandra, está. Ele explica
que aqueles que chegam a este monastério normalmente desejam se afastar e
esquecer uma vida passada, como foi no caso de Xoralaath. Para deixar esse tudo
atrás, eles abandonam também seus nomes passados, adquirindo novos.
Neste
caso, Xoralaath era Salamandra.
Quando
chegamos a ele, estava meditando em uma rocha. Este lemuriano enorme, e
musculoso, com a pele dourada e cabelos loiros comuns deste povo, sentado de
costas a nos. A tatuagem o denunciava, um sol negro nas suas costas.
Eu
vi muito poucos lemurianos nas minhas andanças. Ele sempre foram aquele povo
estranho e quase sobrenatural do outro lado do mar. Eu estava longe quando a princesa
de Irritaria foi morta por um grupo terrorista deles, a Lança de Sangue. Soube
que isso que incentivou a Cibele a assumir o papel de chefa da inteligência da
nação.
Salamandra
se mostrou sábio e percebeu que estávamos lá por ele, para pedir ajuda. Ele,
sem rodeios, recolheu suas poucas coisas e veio conosco.
Lavínia
não pareceu feliz. Acho que ela esperava outra coisa, ou uma outra pessoa. Não
este monge cego que viaja conosco. Ela resmungou algo sobre uma Samira, mas,
como de costume, ninguém ousou perguntar nada, sob risco de ser respondido com
grosseria.
O
fato de Salamandra ser cego me preocupa, mas ele move-se com tanta agilidade
entre as coisas que nem parece que sua visão é enegrecida. Lavínia assegura que
isto não o limita de qualquer forma importante. Espero que sim.
--
Mago
27, 12 4e
Diário,
O
mestre Ilidion nos deu uma má noticia: Ele não vai vir. Ao que parece, está
muito ocupado com suas ocupações sociais.
Essas
fadas parecem não entender que o mundo está acabando para os mortais!!!
Mas
ele vai mandar Mirani. É melhor que nada, suponho. Acho que por ser o que ela é
ainda nos serve na nossa empreitada.
--
Mago
30, 12 4e
Diário,
Viajamos
hoje a Rosa Purpura. Não foi nem perto do que eu pensei que seria.
A
Luna e a Lindriel me receberam, mas sempre com aquela hostilidade passiva que não
faço ideia de onde saiu. A Lindriel, por algum motivo, não gosta de mim. Não
que me preocupe muito, mas isso faz diferença agora, quando preciso dela.
As
duas pareceram não entender a urgência da minha empreitada. Ou pior, não
ligaram. Ou pior ainda, sabem a importância e é exatamente por isso que desejam
se aproveitar. Em todo caso é péssimo.
Elas
me receberam, mas ao escutar meu pedido de ajudas, já colocaram condições. Duas
na verdade. A primeira é um dossiê com diversas exigências como receber terras,
títulos de nobreza, terras e essas coisas. Elas dizem que, se o mundo for
salvo, querem ficar na melhor posição possível.
A
outra, mais desagradável, foi a exigência de que eu capture este Raziel para
elas. Elas dizem que já tentaram por seus meios, em vão, e estando Raziel em
Hamask, agora é meu problema.
Eu
tenho total noção de que capturar este Raziel será terrivelmente lento, e não
existiria segurança. Mas elas exigem isto.
Sinceramente,
eu me senti assaltada. Estas duas mulheres, mesmo no fim do mundo, colocam suas
próprias necessidades sobre aquela dos outros. Mesmo com todo o desespero e dor
de tantas pessoas, elas querem lucrar. Querem suas maldita pequena vingança.
Eu
farei. Preciso de Lindriel. Mas não de bom grado. Não porque é difícil, ou
custoso, mas porque odeio ter que me associar em pessoas tão sujas que, mesmo
no fim do mundo, só conseguem pensar em si mesmas.
--
Cavaleiro
05, 12 4e
Diário,
Agora,
as vésperas de poder viajar, espero, estou me obrigando a entrar de forma
novamente. Lamentavelmente, muitos meses sem atividade física me deixaram
lenta.
O
mestre Pranar não deixa fácil e me faz apanhar e lutar com gente com ritmo
muito melhor. Agradeço a ele, especialmente porque, por ser um mestre de armas
Dakhani, ele percebe a forma como luto e me faz afinar detalhes que estão
enferrujados.
Em
pouco tempo estarei bem! Mesmo com o Helgraf quase ter quebrado meu braço!
Tive
a triste missão de informar ao Lucian que ele não poderá me acompanhar na
viagem ao norte. Ele não está em condições para tal, tanto fisicamente quando
mentalmente. Ele precisa ficar bem.
Ele
irá ficar bem.
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on quinta-feira, março 10, 2016
at 11:46
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